Folha do Norte: Suplemento, Arte, Literatura - 1947

• Pomlngo, 25 de maio de 1947 FOLHA DO NORTE S. 8 página .. · que o disco se tornou J t• :na,s prá.tica e rápida_ ~ MUSICA • ·ormo de divulg(lÇÕO da rnúsica, principalmente numa cidade como o Rio ile Ja- 11eiro, onde os bons concêr– tos são raros, o formação de umo discoteca não é assunto que ■e possa desde– ahor numa secção de jornoi dedicado o m.ísica. .,._, ormacao ......... ~e - iscoteê:o nascera1n ontes de Bach, se impõem à nossa atenção, não po"dendo deixar de ser repre- 1entados numa discoteca por menor q11e seja os italianos Polestrino e Monteverdi, o ale.mão Hen_rique Schütz e o espanhol Victória. J Não me refiro II discote– cas de instituições; no me,.. mento só quero mencionar as possibilidades de discote– cas para amadores, 'JV\urilo I 'lV\endes Com relativa facilidade poderão ser encontrados dis– cos gravando hinos religiosos e madrigais profanos de Po– lestrina . De Monteverdi, além de outros, são dignos de menção os discos do cele– bre m a d r i g a 1 "Lagrima d'ama11te ai sepolero, deli' amata", composto em me• mória de sua amiga, a can– tora Caterinuccia Martinelli - um dos mais prodigiosos cantos de amor, e morte que a história do música regista. Quem não ouvia êsse madri– gal não é musicalmente ba• tisado ... 1 E' claro que não ,e póde, nem se deve, obedecer a um critério fixo. Aqui só pode– rão falar as preferincias pes– toais, se bem que 1e preten– da obter uma sintese d,, bom 9ôsto e de interesse geral. ~lusiviclade da FOLHA DO NORTE, neste Estado) ,doze discos; mas o amador que não possuir algum espi– rito místico, dificilmente os aceitará, pois as combino9õe1 do gregoriano s~ as majs simples e pobres que se po• dem imaginar, sendo os sons sempre iguais como duração e como intensidade . Quem pretender se divertir ou ''pas– sar o tempo" ~m a audição do gregoriano está frito, pois nele o tempo nélo passa. Estou certo de que alguns incautos me agradecerão o aviso ... Tomemos o caso de um tmodor que não disponha de ,,andes recursos financeiros, mas que deseja formar uma discoteca pequena e bem 1elecionada. Admitamos que êle cultive o musica clossica, rom&ntica e moderna. Seria necess6rio uma orientação, principol– tnente se reside no Interior e não tem muitas facilidades de iitformação com os enten– didos. Se êle dispõe de uma mar– ,iem financeira pcsra adquirir, tligamos, trezentos discos, precisa antes pensar e seguir um certo plano, a fim de que 1ua discoteca se torne um Instrumento harmonioso de cultura, e não unt simples passatempo para auxiliar a digestio. Como é natural, a preo– npoção com os clássico■ impõe-se Ioga de saiila. No■ ultimos anos antes da guer– ra intensificou-se na Europa e nos Est-ados Unidos a pro-- •dução de discos de música clássica. Não aludimos s~ mente a música do 1éculo XVIII, que marca o apoge11 da classicismo. Não quere– mos nos apegar ao conceito muito espalhado de que Bach é o "pai do música•. Poderiamas dizer o mesmo de Palestrlna, de Henrique Schütx, de Victória, ou dos monges que fixaram as for– mas do gregoriano. Esta par– te da música a que podere– mos chamar, por comodida– de, de "música antiga", deve figurar, necessáriamente em 1intese, na formação de uma discoteca, mesmo pequena. Antigos canto, religiosos, ou profanos, cantos populares, cantos de trabalhadores, de peregrinos, de remadores, estão hoje . fixados em dis– cot. Por enquanto quero me referir sómente a discos que se possam encontrar no mer– cado, ou mandor vir do es– trangeiro, Porque há discos da maior importância cultu– ral, mas inf,.lizmente esgota– dos. Duas coleções da "Coluqi– bia.., intituladas "2 . 000 Anos de Música", e a "Hia– t6ria da Música, pelos ouvi– dos e pelos olhos-" oferecem um panorama rápido, mas de grande interêsse; trato-se de discos representativos cui– dadosamente escolhidos, com ótimos conjuntos.; possuindo o defeito de em geral apre– senta, só trechos de cada camposiçio. Através dêstes discos tra– va◄e conhecimento com o antiga músico grega, a anti– ga música judia, o grego- rituto, a polifonia. as escolar flamenga, italiana e alemã da Renoscen5a. Na co.leção "2.000 anos de música", é digno de nota um disco de oi,nto de peregrinos o San– tiago de Compostela (Século Xlll. Do século XIV é indispen– s6vel o conhecimento da mo– ravilhosa "Missa da Coroa– ~lio", de Guilloume de Ma– chauth" (xl; e do século XVI, a não menos maravi– lhosa "Missa do Papa Mar– celo", de Palestrina, da qual estão gravados pelo menos os trêchos mais significati– vos. ·--- A iniciação ao canto gre– goriano pode ser feita atra– vés élos discos gravados na Abadia de Solesmes. Ainda a versão mais autoriza«:fa, se bem, que, na ·opônião dos especialistas, precise de cer– tos expurgos. Poderão ser en– contro<fos clois olbuns com Mos os de b&a vontade não se arrependeriio, já que o gregoriano representa, na opiniã·o de musicólogos cate– gorizados, a solução mais perfeito até hoje encontrada pela m_úsica européia, solu– ção do famoso problema da união, da palavra e do som. Quatro grandes músicos, quatro grandes eriodores que De Victória e não Vittoria, como aparece por ai, com o nome italionizado, aconse– lha a audição, entre outros peças, dos "Responsorios da Semana Sant.1". Quanto o Henrique Schütz, criador da ópera alemã, fixa– dor, com Corissimi, da for– ma do oratório, e precutsod da.s ,.Paixões" de João Se– bastião Bach, podemo.s m,.n– cionor alguns discos de sua Missa Aleméi, e de mo'tetbs religiosos. Como o espaço não d6 mais, prometo voltar ao os– s.un.to em outras crônicas. --- ULTIMAS EDIÇõES 'Vivos e mortos", 1. 0 volu– cne dias Obras Completas de AgrippLno Grieco, onde o co– nhecido critico estuda e ana– lisa esr ri• ção vai conquistando llOVl!S e fervorosas admirações dos lei– tores de- todo o mundo. '.l'ir6- dução de Raquel de Queiroz, para a Coleção Fogos Cruza– dos. "Interpretação do Brasil". de Gilberto Freyre, obra es~ crita originalmente em Inglês, e agora traduzida e prefaciá– & pelo cri-tico Olivio Monte– negro, a aparecer na Coleção Docu,1nentos Brasileiros. MOVIM~ENTO t>rasileiro; "An-0e de Tel'nura", romance de Cron.m, rendeu ao aútor, pelos direitos de filma~ geme de p-ubl~ão numa re– vista, em folhetins, a bagatela de 4 n:ulhões de cruzeiros; "0 Morro dQ vento uivante", ro– mance de Emily Bront,e, que a Livraria José Ol~pi-0 Edito– ra vai publicar em tradução de Raquel de Queiroz, com– pletará em Dezembro deste ano o 1. 0 centenário do seu apa.recimai,to na Inglaterra; "Angustia", romance· de Gracl– liano Ramos, que faz parte das 3uas "Obras Completas" publi– cadas pe1a•Lívra-ri.a José Olym– P,i<> Edi ,w.ra ,, f<>:i~ api:-esentad;o em agosito ae 1006, · quando o escritor ainda se encontrava gosa de todos os favores e pro– teção do governo, em atenção ao seu carater eminentemen.te ,::ultu,ral. Sabe-se, no entanto, qu-e ess-a isenção solicitada pe– la novel e dinâmica Câmara do Livro Brasileiro já faz par– te d-0 J.>rojetQ da Constituição do Estad-0 de São Paulo, e q.ue pr-ova,veln\ente será bomoto~a– da pelos cofflrtituintes paulis-' tas. Diz o art. 77, l~a b, do Projeto: Ficam isentos de to• dos os impostos e taXias o co– mércio e a industria d-o livro em t-Odas as suas modalidades. Tão importante medida - a-crescida, aliás, de outras faci– lidades de ordem ge,ral -,,.. _(li}; veri-à estender-se a tódo. c{llêf. rttório brasile:m>. n que sem duvi~ rêpresen.f!aria um ver– dadeiro serviço prestado l cacusa da ~ultura nacional. Não igno.ra ninguém acS enOfflles d4!í-culdades com que lutam a industria e o comércio do li• vro no Brasil. onde o baixo p.adrlío de vida e o alto indice de analfabetismo, alJ·ad<Js ao fato de sermos aind,a pouco d'ados ao. hábito da Ieiiro.ra, crla:m obsta-C1.1los se,rios à di– fusão da cultura, Si,m, •livros, livros, às mancheias, como queria o n-osso grande poeta, mas para isso urge criarem~ fa,cilid-ades e nã-o entraves a comé:r,cio de t.ão funda- signi– ficação para o futUTO ·de noS&a terra presente. "Antes c?1l por do sol", romance de _Elizabe<th Howard, que obteve um gran– de prêmio oferecido pela Me– tro Goldwin Mayer, no valor de 3 milhões de cruzeiros, e está send~ considerado nos Es– tados Unidos um dos maiores Btlcessos de livraria dos ulti- 1;110s t~. "A Familia Bro– die'', 4.& eqição do pàpularis– sµno romance da A. J. Cro– S)in, talvez o novelista estran.– geirQ mais lido. e conhecid<> 110 Brasil. "Nietotoh.k:a Niez– vanova", romance de Dostoie– ,wsky, com que a Livraria Jo– sé Olympio prossegue a publL ca,çã-0· das Obras Completas do genial escritor russo. Ilustra– tões d,a artista mosc-0vi,ta Mar– 'bha Shidro;vitz e prefacio do critico· Wilson Martins. "O Morro do vento uivante", uma tTad'Ução do im.ortal romance de Emily Bron.te, a _grande e enigmática escritora inglesa do século passado, e que em dezembro dieste amo completa exa,tamente lOQ anos de publi– cação, pois foi em 1847 que &Pareoe'll- na Ingl9Jtema a 1• ., edição desse ex-traordinário li– vro, que de geraçã-0 em gera- LI TER RI O "Poesia- a:té agora"; volume que abran,ge toda a obra poé– tica, inclusive muitos inéditos, do grande escritor Carlos Drummond de Andrade. . "Raízes do Brasil", 2.• edi– ção do notável ·e,isaio de Ser· gio Bu-arq~ ·de Holanda, re– vista pelo autOl'. ~ livro, que inaugurou a Coleção Do– oomentos Brasileiros, desper– tou quando do seu apareci– mento os maiores elogios da critica e há muiitos anos já se -achava com.pletamente esgo– tado. CEd'ições da Livraria :Tosé Olympio) ESCRITORES LATINO• AMERICANOS NA U. R. s. s. Telegramas de Moscou in– formam qu-e é bastante apre– ci.ada na U. R. S. S. a litera– tura latino-americana, princl– pa,lmente atravé.s de romancee, novelas . e contos que podem dar ao leitor estrangeiro uma autentica Imagem da vida nos p:µses sul-americanos. A pri- meira obra literári.a sul-ame– ricana traduzida para o russo, foi a novela "A gloria de Don Ramiro", de Enrique La.rreta, aparecida na Rússia em 1922, e reeditada em 1928 e 1936. Posteriormente, foram tra,du– zidcs diversos outros escrito– res de categoria, como sejam V~iura Garcia Caldeiron, Ma– riano Azuela, C~ Valejo, Jorge Icaza, José Eustasio Ri– vera e o notável livro do ro– mancista peruano CiTo Ale– gria - "~rande e i!Stranho é o mundo" - que a Livl'aria José Olympio Editora apresen– tou no Brasil em tradução_de Amadeu Amaral Junior. Além disso, as princi,pais revistas li– terárias russas sempre apre– sentam estudos criticos, notas e informações sôbre a li,tera– turra SU:1-am-ericarua, além de traduções d'e contos, etc.. Aos brasiileia-os interessará saber, por exemplo, que ao lado de outros grandes nomes la-tino– amerieanoe - no romaJl!Ce, no conto, na novela - tamb-ém um escr1tor nacional j,á ~i traduzido para o russo. Refe– rimo-nos a José Lins do Rego, cujo romance "Moleque Ri· cardo" foi ecti,tado naquele pais em 1~37, despertaJ}.(l'o enorme interesse do publico é da critica, cuja atenç_ão logo .se voltou para o realismo com, que o conhecido escritor des,. creveu a vida e- os · costumes de um-a parte, do Brasil. VOCÊ SABIA QUE • . • José Antonio Gonçalves de Melo Neto, a,utor d.e "Tempo dos Flamengos", é gerente do I.P.A.S.E. em Recid;e; . Agrippi– no G.rie<:o, cujas Obras· Coin• pletas ei,tão séndo publieadas pela Liivraria José Olympio, é :funcionário aposentado da Centrai! do Brasil; A . J. Cro– nin estreiou aos 34 anos de idade, em 1930, com o. roman– ce "A Familia Brodie", boje em 4. ª edição no Brasil; Enéas Fe.rraz, o autor de "Crianças mortas". está servindo atual• mente em Paris. no €onsula_do . . ~ na prisao ? ISENÇAO DE .IMPOSTO PARA A INDúSTR:lA DO LIVR,O Segundo telegrama de São Paulo, a Câmara do Livro Br~eiro, , oi-ganlza_ção que tem .sede naqu_ela ÇaP.ital, e que reune em seus quadros li– vreµ,os, edito~.-, t,l:pografos e escritores, pleiteou junto à Assembléia Constitumité Esta– dual ·a isenção de impostos e taxas que recaem sôbr.e seus ass-ociados, a e,x-emplo do que já se prática em· numerosos países, àos quais o meJhcr exemplo é a República do Mé– xico. onde a l.iJ.dustria do livro ------·--------~------~-------·-r--:;;:--;---------....:.....-------------- DEP O I .M E N T o s ºA· BRE do: Tomava de um pequenino mapa do Esta• RIO - "De sífilis terciária um c1!ia, enfim, [morreu. 'f'sle de alooice imundo ignóbil tfllho espúrio, E a. terra qoe o comeu 7t:ntron logo a tomar injeções de [metreúrió". • Clazo que isto não é um espi,tá:tio no tún1ulo de Graci1iano Ramos, que está be,m • vivo e nada tem de sifilitico. - "Mas de quem ê a sátira?" - perguntarão. De Graciliano Ramos. Pois não sabem que também foi poeta? Poeta, sim senhores: cantou a civilização tgi,pcí;l, as galeras gregas, CleópatTa, alguns áeuses mitolôgicos, provávelm,ente a saudade e o amor, o diabo a quatro. Espinafrou in,i,mi– ros em quadras como aquela. Sempre diz que • conhecimento da metrificação, educando-lhe , ouvido, lhe foi d.e grande utilidade para a prosa. - "Para ser bom prosador é preciso ,aber fazer versos" - é opin-ião sua. "Onde tigura a · produção poética do escritor?" - J)ão de querer saber. Dispersa em jornais do Interior de Ala.gôas, em publicações de Maceió e do Rio. Tudo, porém, com pseudônimo. Tanto o verso como a prosa. Algumas vezes, com as iniciais. Em expo- , !lição feita no centenário da imprensa alagoo– sia, vi n,um semanáriozinho de Viçosa um t'ra• balho assina<l(> "G. R.". Çbamava--se de PE· QUENO PEDINTE e era de Graciliano Ramos. Por4ns cálculos meus, o autor andaria bei– tando os quinze anos quando esareveu aquilo; ile, porém, me assegura que não passava dos im.ze : -- Vá para o inferno! Publicar uma peste laquelas com quinze anos! Um tumo! A'tlra coisas assim, e piores, irreproduzl– veis, sempre que insisto no caso. Porque é meio desbocado, o homem, diga-se de passR• 1.1.Q4uel_ À QV,elrOIZ #- ' 'li • ' -- Está vendo? - pergun>tav-a apontando Quebr&ngulo eo-m um dedo e Ja-caré dos Ho– •mens com outro. - E' perto, não é ru;sim? G.RAC ILIANO RAMOS _Muito perto. A senhora exagera. . não 1;:ªi:~::.~~ tragada. No mapa, realmente, Aí por fins de 19S4 - era eu secretário Aurélio Buarque de Hollanda (CopyrJgtb E. B. I. eom exelusividade para a FOLHA DO NORTE neste Esta~o). vêzes "o velho", como nós dizemos, fica sozi– nho, se:ntado, nos fundos da Livraria José Olym.pio, a murmurai° entre dentes, na sua maneira incisiva de pronunciar tais coisas, a,s palavras mais cabell11daa. - "Tudo" - acrescenta Raquel - "só para se distrair". Não é, aliás, um bôca suja por simples depra– w,ção. Em parte será o trato dos cláss:icoo, a– c-OnSCiência dos valores. antigos de certas pa– lavras, da sua perdi-da pureza, que o leva a preferi-las a outras, mesmo em conversas um tmi.to oerimooiosas. Curioso, a tal l'E5l)eito, o seu gôsto de tJSar o expressivo verbo -hoje substl,tuido geral.mente por "dar à lU2-". Diretor da Instrução Pública em Alagôas, eostwnava dizer, falando a prO<fessoras que lhe iam pedir licença para fins menos justificáveis: -- Não pode ser. A lei não lhe dá direito, não é assim? AgOI'a se a senhora precisax de parir, é possivel E ' que o romancista bem sabe quanto era f:requen,te o verbo entre os velhos clássicos mais puros - puros na língua . e na moral. Que culpa lhe ca,be de a palavra se haver sujado com o correr do tempo? Conversa puix,a •conversa - vai aqui outTo fa<to dos seus tempos di! d1retor da lnstJ.-u~ão entre 1932 e 1936. lJml .profeiisorM do interiw- solicitar-lhe Que não esta'VilJll sM.isteitas lá no .,. ·tpio: Jl,'boffllcim@i'tos _com o juiz de direito, por causa do filho dêle, menino im• possível da escola - uma coisa era ouvir, outra contar; desarmonia com o presidente da jUillta escolar, que parecia ter o rei , na ban-i-ga; indi;,posiçã-0 com vizinhos, fuxica– dias. . • o d,iretor bem sabia o que era lugar pequeno - um inferno! Queria remoção. Sem paletó, camisa arregaçada, coçando no coto– vêlo u-ma perebinha quase vitalícia, meio ca– bisbaixo, ouvia a leoga-1en,ga, pontuando~a, aqui e ali, com um oeutro balançar de cabeça. Afinal: Está bem. A senhor,. não e.sitá satis– feiita em Quebran.,"'Ulo, pode-se dar um geito, não é assim? A senhora vai para Ja~.Fé dos Homens. A profe5-SÕra arre.galava, os olhos: --Mas pelo amor de Deus, seu diretor! Um fim de mundo! E' sair do purgatório para cair n-0 inferno. E arriscava , receosa quanto ao efeito da expressão p opular n~ ouvidos do diretor, homem de tanto saber: -- Um calcanhar-de-judas! O di.retor, grave, num jeito mu,i,to seu, tirava um cigarro da ca.rtei.a-a, PQtia--0 na m~a devagQr, arrancava-IM minuciosamente todo" o fumo· da p<W,,ta de cortiça, aoen<iia-o, pu:x.a.v:a uma tragada: • A senhor.a, exa ,ge.ra . do então prefeito deMaceió, meu. amigo Ed-gal'd de- Géis Monteiro - chegou-me um dia, man.– dada por êste, uma senhora já idosa, que dese– java uma a,presenta~ão- de Edgarõ para o dire– tor da Instrução Públi-ca; candidatava-se a um lugar de florista da. Escola Profissional F-eminina. Dati.Iogi'afei uma carta a ~acilia• no, o prefeito ·assinou-a, e lá se foi a mulher. Momentos depois volvia à minha presença com wri cartão de Graciliano à diretôra da Escola: Olhe, s-eu secretário: eu não posso levar êS'te cartão. Já não sou menina, mas nunca na mislha vida sofri uma desfeita. Aquêle homem quis fazer pouco de mim. Li o ca-rtão. Mais ou menos assim: ''D. Cármen. - A portadora. p,retende um lugar de florista nessa Escola. H-ã disso po.r aí? Diz Ed,a que sabe f azer flores tão perfeitas ~e enganam as abe:}has. «:riado d-e -:V. E:k'Cia,. . ' - Gracilia.no Ra.mios". :Fodos em Portugal somoo excelências - dÍ.11 o Eça, como se sabe, pela bôca de Fradique Mendes, criticando o abuso de "vossa exce– lência" en,tre os seus patrieios. Para Graciliano Ramos quase tôdl:16 as senhoras eram exce– lências. Vê-se o tratáme-n~o sol~ne :no bUhete ' à diretora da ES1cola Profissional; "o velho" utJ:1.izava -o a cada passo - a,té ao tr.atar com senhoras amigas. Jogando pôquer em casa de José Li.ns do Rêgo, com êste e outras pessôas, entl'e as quais Gilberto Freyre e Olí:vio Mon-- Continúa Da 6.ª pag. '

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