Folha do Norte: Suplemento, Arte, Literatura - 1947
• 6. 8 Pagtnã FOLHA DO NORTE Domingo, 18 de mato de 194'1 -=====• a;a;;;= Rlu .~ u 1' relacio as C-iu:- ta.; ! ·ersas" (Variété, 11, 28 ec.. 19291 Paul Valery esere– ,i,eu palavras sib ilinas. qu e t anõó podem con ter uma alu– lã•o prof~tica à bomb a atômi– ca, comó indicar as últimas con:;;equências da líberdade e d a razão. instauradas no mun– d o A-ssim, por um desvio das idéias e no turb!JJ1ão de seu movimento, diz V a 1 e r y - cujas p alavras tenho acom– panhado - a diesordern e o estado de fato devem r eaipa– recer e r enascer às expensas da ordem. • FOLHAS S01TAS - Cyro dos Anjos • Copyright E.S.L, com exclnsividade para a FOI.HA DO NORTE, neste Estado E Valery pergunta: "Poderia subsistir uma so– ciedade que el imina~se tudo que é vago ou irracional para se 11'.JUvar no me1'suráve1 e no verificável ?" -x- 0 problema do artigo sema– nal I Temos de enlTegâ-lo, ir- \.utes de chf ga:r a conclu– sõe, que leriam. ares de para– doxo para o leitor desp:reveni– d o, Valery, como bom carte– siano. procura acompanhar e analisar a. trajetória que a.s s oci edades p ercorrem ao se elevarem da brutalidade prl– Ini '.iva ao dom(nio da ordem. E · o retôrno ao estado de f ato p6de operar-se, às vezes, por c a m 1 n b, os inesperados, vindo o homem a conhecer tllila barbaria de nova espé. cle, a que o conduziram as suas roaJs profundas medita– ções . b modalidade dtterenle. E justamente por ser mais exa– ta, mais uniforme e infinita– mente mais poderosa, ela se toma mais temível que as an– tigas. Volta:remos à era do fat.o - conqui..~ do "fato cl entffi.co " . nos até aqui, alicercaram-se com entidade• e noçõ!S sufi. ctentemente misteriosas, para que a. alma re-belde nunca es– teja certa de estar livre de– las e venha a recear somen– te aquilo que vê. Certo 11l'8· no de Atene.s, homem profun• do, dizia que foi para punir c.rl.mes se<:re1os que se Inven– taram os de.uses". recorrive~nte, a<>& sAllados. Desde quinta-feira, à tarde, vêm sina.is de inquietação, que às vezes contundem com sln· tomas de gripe: depressão, mal-estar, irritift.bilidade, cefa– lalgia. Da circun.stãn-cia de ur a b arbaria a era do fato, decor– r e:. naturalmente, - diz ê.le - que a era da oroem se ca– r acteriza pelo Império das fio– çól!!I, pois nãQ bé poder ca.pa.z d e fundar a ordem na slm;ples 8Ujeição dos corpos, pelos cor– p o;. São necessârias !ô~ fie• lei as. .o\.ssim, a ordem na,ce da aç:10 de -pl'f:Sença de fôrças ausentes, emanando de um sistema fiduciãrio ou conven– cl~al, qu e introduz, entre os h ens, ligações e obstàculos i!l'Il aginários cujos efeitoo são, 'bodll.via, basitante ,:,eais e ne– cessários. O "sagrado», "o j u.,.. to". "o l egal", "o decente", o "louvável" e seus contrários se esboça:m nos espfritos e se cristalizam. A su;pre:rna civilização, que é e, reino da ordem, repousa dêsse modo, em simbolos e sinais (uma álgebra pOJ.itica. p od e-r-se-ia dizer) e se nos afigura como um edifício má– gico - obra da feitiçatia - all~o em escrituras, pa,. lavr:i~ obedecid as. pro- ,sas cumpridas, imagens efica-zea, hábitos e con vençõ~~ ob! er– vados . Então, o homen se cr e es– pírito, e o espirita se em• bria,ga nas suas puras espe– eulaçõee. Esquec61ll•Se as cau– sas de que provieram os pac– t.os . Pl?rde-se a memória d-as becessidad'eS que inspiraram os ricos. Tiramos o chapéu. prestamos juramento, fazemos Jnil coisas estranhas, cujas origell$ são pa.ra nós tão mis– tm-Josas como as do fenôme– nos da nattllreza. õ homem se afoga numa inextrlcável tra– ma de prescrições e relaçõe,. E tanto mais de!ligado das exigências profundas da ar– dem, quanto mais eficazmente a tuaram êles para o llberta– r e~ de suas necessidades pri– mitivas - o espirita a.caba PG;r Zl?JI>bar do mundo que êle pr6pn o engordou. Serla o ca– so de Montesquieu. E os ins– tintos de conserv~ão e de perpeh.Lai;ão se extenuam ou ee pe:rvenem. O CATôLICO JOA– OUIM NABUCO (Con0lusão d.a a.• pag,) l m.em de socledade, nos sa– lões; lnteleclual. nas uni– versidades; politfoo, n06 ga– binetes. Obra sua, da sua in– fluência, foi a reálli.ação aq~I. em 1')06, da Terceira Conferência Pen-Americana. E le veio ao Rio, ne!;Sa oca– sião, e a visita sei:á como que a sua despedida do Brasil. No Recife. recebe grandes hôJnenagens, e pronuncia no T eahro Santa lzabel a frase ! amose que lá se eru!OOtra hoje numa placa comemora– tiva: "A verdadie bist6rica ,erá esta: aqui nós ga1t1hamos a causa da aboliçãâ"'. Será o Recl.te, aliãs, a cida de brasi– leira que e-le con'1iemp]ará pe– l a fil+bna vez. Quando re– gr~sava a-os Estados Unidos, o navio chega lá -0e noite, em hora que torna impossí~l o d~b!irque. Rece-be a bor– do os amigos, os estudantes, OIS conbecldoo e escreve d~ pois no seu diário: "E assim me despeço d~ Recife, tal-: vez para sempre" Para remessa de livros: - P ral.a de Botafogo. 48. Ai, o a.parente pa,radoxo de Valery. Hoje em dia, há quem pen– se - <11%-êle - que a conquis– ta das coisas, pela ciência po– s111va, nos vai condurlndo à ba rba.tia, embora e· sa. b arba– ria, laboriosa e r igorosa, r 8'\l'is• "Ora, diz o pensa.de. : fran– cês, as sociedades repousam é sôbre Colsa6 Vagas. Pelo me- s.- nos libertamos dele na manhã de sexta, que al?vio ! Desaparecem como por encan– tio, as causas secretas da ln– tmd.cação do tigado. Ficamos lépidos, bem hu- o ecôncavo ca1·los Eduardo não é um nome d esconhecldo em Belém. Pertence à gera• ção de Sllvio Braga, Rui Barata, Ritacinio Pereira, Clovls Ferro Costa, Otávio Mendonça e tantos outros. Foi um dos redatores.fundadores de TERRA IMATU· RA. ,a grande revi$ta que Cléo Bernardo d.lrigiu, num movimento de inteligência e posição politj.ca na Amazônia. carlos Eduardo estudou aqul o curso complementar no então Ginásio Pa• raense Paes de Carvalho. Depois fez os prime~ anos jurld1-0os na nossa Fa– culdade de Direito, acabando de dlplom ar-se, brllhantemente, em bacharel pela Faculdade de Direito da Baia. Hoje, na capital ba.iána, Carlos Eduardo mUita como bom advogado, muit o de. dica.do às questões trabalhistas. Intellge nte, digno e lutador sempre. Contudo, a sua sensibilidade prossegue em outros e admiráveis caminhos. :e poéta. Já publicou vários livros de versos, sôbre os quais a Cr1 ttca tem se manifestado favoravelmente. -este poema que publicamos, eapectalmente, trás a marca da autêntica poe– sia de fundo social e humano, 1n1m1,a d aquela atualidade estéril, dêsse exagêro e da imitação. O verdadeiro poéta é um descobridor, sabe enstnar e revéla sem• pre. E as palavras de Carlos Eduardo d1 zem que é preciso descobrir e libertar o mundo e o homem - pelo ensinamento ,pela Justiç.a e pela fraternidade. Whit– man e Pablo Neruda mostram que a poesia é um áto de libertação e experiência de toda a criatura de Deus. • Sentimos •que Carlos Eduardo, .atl' avés da sua poesia, se identifica com o povo, a liberdade e a ju:vei'\tude de tudo, procurando sempre aprender a criar A sua linguagem poética tem melhorado e evoluldo - em função da beleza e da verdade. O seu canto póde ser doloroso, sangrento e felo, mas é verdadeiro, livre, natural e expontâneo como a própria e '6nica poesia. Que Carlos Eduardo procure filtrar mats ainda as suas belas emoções, engrandecendo essa santidade poética. - pela sua compreensão e sincera vidê nela de todas as coisas humanas e ruvinas. Escuto a lama caindo A terra se derramando Com toda a minha tristeza. Nêsse pesadêlo, assustado No caminho diferente Pela quéda dos cavalos Pela morte de repente. A lama cobrindo tudo Afundando nos pés Móvel, lisa e pegajósa, Escorrendo, atolando o gado Os carros e os meninos. Sujando o rôsto Cobrindo a pele Escondendo as fêridas. Escuto a lama caindo Dentro dos corações. A terra se derramando A lama envolvente Neutralizando tudo: Os sons do campo As côres da paisagem E a dôr dos homens. A lama parda e lisa Doce e prodigiosa • Para o canavial que flutúa E sobrenada na sombra da Usina Nas mãos do capatáz. A terra se derramando No mel fluindo em doçuras De caldo e de açúcar. · - Carlos Amargura na bôca dos camaradas Na bôca da mulher Na bôca do povo sem doçura. A lama cobrindo tudo Disfarçando a nudez Escondendo a miséria. Só o canavial aparece • Verde e tranquilo Ondulante ao vento Limpo e cuidado como um jardim. E' a paisagem única E a única razão. E' o calôr e o frio E' o trabalho a fome e o suor. E música e dança. E' a canção do negro E' a cachaça e o esquecimento. O sono na terra mole Mistério da casa grande Loucura dos brancos Tanta história mal contada. Escravidão de ôntem e de hoje Epopéia, sonho e r omance. Brazões enlameádos Solares em ruínas Memória dos Barões Mobiliário, louças e alfáias Tudo afundando na lama Da terra que fóge E se derrama com toda R mlnha tristeza•. Candeias, 1946. Eduardo- • (Conclusão da primeira página) morados, a vida parece bela, o mar do Leblon, mais azul.. Ent,retanto, o domingo cos– tw:(lll. tra z e r morl.iticações . Relemo-nos. já em caracteres ti-pográilcos. As tolices que fôram escritas nos dóem como punhais. E , al de nós, j-á cor– rem por todo o país, não bá meio de as recolhermos. Outras vezes, é inevitãvel qUe confrontemos nosso mo– flno produto com os de outros berois do artigo semanaL E quase s ~ m p r e encon tramas com que nó:. deprimirmos: Raquel escre-ve lôda semam e nunca de-bc.a de ser 1n t~res– sante. Póde-!;e guardar sem– pre o que Drummond publi– ca. Fulano é mais sólido, Bel– trano tem mais graça, Cicrano ~ insuperável. Insaciável Moloch de Unt~ • de papel que nos devora o pensament~ ainda n ascente, a idéia que mal desabroclla, o concei1o não complel.amenle tormulado l -x- Ent.ret.anto, devia.mos consi– derar que não se deve dar ao artigo o e,;1:ôrço que se devo~a ao livro. O leitor de um nao tem as exigên cias do leitor qe outro. A im;pr etisa dev~ al:• mentar-se de matéria própria para :ser digel'ida pelas gra~– des m.llS&aS. ~ lbe da.mos o.11- mento muit o conoe.nrnido, existe o ri6co de não haver assiro ilação. O tubo digestivo da mu,lti.– d ão d.e$preza primores de co– tinha. M as - póde--se objetar, com razão - d.lluidos na gr ande m.assa h á leitores que nos ob· servam com rnallcm. São ca– v alheir<H sotlsti.cad06, que fre– quentam o livro e o jornal. e e=ttão sempre à espreita, pa– :ra nos apanhar em !11.lso. Es– n pe<1,uena minoria policia o ~ itor e o tlranlza. A ARTE LITERÃ.RIA DE JEAN PAUL SARTRE fins t6fil!sticos, mas psico16- gioos. Se o cln~togra.fista ae {l!'eocupa com elebo.rar seus temas em !or1na tal que, ao fim de contas, oo mistetlo6 se resolvam. e as in trigas tenham eeu d esenlace, Sartre ;;e abs– \em a meúdo de esgotá-los. Ante.;, gosta. de dl\T amplos pormenores de algum aspecto parcial de uma aventura. sem precisar as circunstâncias. nem ~ lugar, nem a ide nt idade dos personagens, e nem sequer chegar a uma conclusão. Esses desenvolvimentos indefinidos e in1iet.erm.inados - enwora não seja.m incolores! - são introduzido.! e rowtldos me– diante pal avras também inde-– flnidas, ta.is cmno "UIIIl", " êsse" . "aquele". Leremos. por ex emplo: "aquilo. se pôs a cl).lar, depola êle se.o tiu um oJbar que o dividiu em d.oisn, Mos não se cabe tmed.iR.ta.– mente e às vezei. n ão se sa– berá nunca., que coisa é "a.quilo", nem que homem é "êle". l! :s.se processo, tomado de Rilke <quantas ihspira.ções mOdemas n&o r emontam a Rilke), êsse processo e todo o impre.. ,Jon.:smo literário q ue arrasta consigo, todos ~ es f ogw de imag1llls, todos êsses tulg.ores verpai,9 permitem tirar um rendimento maior do grão ('te um lneid~te, operai melhor a vi visecção de um in!rlinto, centrali~r meJhor a a.tenção sõbre êsses fatôres e~tenciais nos qmis era na– ~ nu~ Sartre visse o objéto prJmo.rdial da literatura. O l .º artigo desta sérre fol p ubllC !l.do neste Suplemento n a ~ção de 13 <le a,bril. ' Não é qualquer moça que serve para [êsse !mn. Amarguro De Koestner Não quero te iiizer como víio as coisas. Quer9 t e mostrar como a coisa é. Pois a razão só pode v encer por si [mesma. H.á longos anos eu a estou procurando. A felici c!àde é mais r ara do que os fe- - . [:riad06, E tua mae na.da sabe ainda de nós, meu [ filho. Mas um belo dia começarás a existir E já me alegro por isso. ' Aprendes a corret, api-endes a viver, E o que dai resulta chama-se: uma exis– [tência. A priucípio, aipenas gritas e gesUculas, Até passares a outros atoo, lt A 1.é que t eu corpo e teus olhos cresçam E oompreoodas tudo que é precioso [com-preend-e:r. Quem começa a compreender já não [entende mais n.ada E olha estarrecido para o t~tro do [muniio. No com~ . e:r1ança n ee.esslta m\l:ito de ,.., [mãe. - ~ quando tJicarea ma.Lor. precisarás [-0e teu pa.1. Quero ir contigo até às mm.is d.e carvão. Quero mostrar-te os parques com palá– [cios de mármore. Tu me f itarás, sem comp reend,ar. Mas eu vou te escla1·ecer , crian ça. e íme calarei, Quero h' contigo a Vaux e Ypres E , lâ olhar o mar de cruze.a brancas. F1carel quieto, nada ins.im.laooo. Mas quando choraNe, meu filho, eu es– Cta.rei de acôl'ldo. Quero sier teu pai, e n&o um p rofeta. Se entretanto fores um bom.em como ra maioria, J\pesar de tudo isso que eu te fiz ver Um homem como qualquer outro. f a~ _ [brJcado em série, Então jam,aJs serás o que deves ser: Os jov-ens all.emães [)ão aprendera1n a llçã~ desta carta.. E Etich Ka.csíner leve dia &egua.r .Pl)XQ o exilio.
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