Folha do Norte: Suplemento, Arte, Literatura - 1947

Domingo, 5 de janeiro de 19'7 Movimento Literário FOLHA DO NORTE com prefácio e estudo biogr!– fico de Oliveira Lima por Sil– vio Romero; Aspectos da lite– ratura colonial; Polêmica, com prefácio e notas de Anibal 14rnandes; Correspondência, com prefácio e notas de um velho amigo de Oliveira Lima, e, finalmente, Reconhecimento do lmpério. 1 RIO - via aérea <A. U.> - grandes figuras da cultura OLTlMAS EDIÇõES brasileira. cujas obtas na sua O Vagabundo Evan Jones, maiorla permanecem ignora, romance de Margaret Kenne• das, quando não pouco conhe– dy, em tradução de Caio de cidas das gerações modernas. Freitas. na Coleção Fogos Cru- vai ser reeditado. Algumas das zados: Rubilivat, de Omar suas obras, publicadas em pe, Khayyam, 6." edição. Tradução quenas tiragens, rapidamentP. de Octavio Tarquinio de Sousa se esgotaram, sem que nln- "10 ROl\lANCISTAS FALAM e posfacio de Tristão de Atai• guem mais pensasse em lançá- DE SEUS PERSONAGENS" d e. Uma h.istórla em duas cl• las de novo no mercado. Além Edições Condé lançará por da.des. um dos mais comoven- disso, o historiador pernambu- êstes dias "10 Romancistas Fa• tes romances de Charles cano, espírito operosíssimo. 1am De Seus Personagens", Dickens. onde se conta a bis- realizou por toda a parte D<I• que constituirá sem dúvida um tória de uma dedicação e de tavels conferências - no Bra- dos mais relevantes aconteci– llro amor que chegou ao sacri• sil, na Europa, nos Estados mentos- llterãrios dos 61tlmos fício da própria vida. Tradu- Unidos e no Jâpão - sem que tempos. Trata-se de um origi• ção de Berenice Xavier para êsse vasto material fosse até nal empreendimento artlstico, a Coleção Fogos Cruzados. boje compilado, para a dlvul• que abrigará em suas páginas Memórias sôbre l\lme. de Pom- gação que, sob todos os aspec• a chave explicativa da moderna padnur, tradução de Edith Bar• tos, merece. Apre!lentar em ficção brasile,ira. Pela primei• ragat. para a Coleção Memó• edições selecionadas os traba- ra vez em 1l11gua portuguesa, rias-Diários-Comissões. Memó- lhos lnéditos, dispersos: e es• 10 dos maiores ,omancistas do rias, <l-e Rablndranath Tagore, gotados de Oliveira Lima, de B1'asil se reunem em ,wn único tradução de Gulnarã Lobáto interêsse para o público atual, livro, com a finalidade de fa– de Morais Pereira, pars a Co- será uma fn1elativa beneméri- lar sôbre o processo de sua leção Memórias-Diãrios-Con- ta e digna de aplausos. Pois é - criação artistlca. Afim de ~ar aos leitores uma idéia marcan• te do seu trabalho cotid.lano no mundo da l.mafinação, os ro– mancistas Amando Fontes, Eri– co Verissimo, Graclliano Ra• mos, Jorge Amado, Raquel de Queiroz e outros famosos auto– res da literatura braaileira, desfil am neste livro, cada um depondo 3ôbre o mais curioso ou fascinante personagem de sua galeria romanesca. "10 Ro– mancistas Falam de Seus Pnr• sonagens", foi prefaciado pelo emlner.tf critico Tristão de .\1 :'lrd.e .iue em páginas lm• prl'ssionantes pela sua lucidez e pela grata compreensão da atividade estética, fundamenta a importante tarefa de elucida– ção dêste livro. Não obstante isso, os cuidados de que se cercou a presente edição, co– locam-na em um plano dos mais altos e honrosos e si– tuam-na como uma realização art!stica. A edição é apenas de :WO exemplares. fissões; Bur,uezia, Ubera.lismo, isso, precisamente, o que vai V B ' !Capitalismo, ensaios políticos realizar a Livraria J osé Olym- ou anhar me Nas Aguas •d~Heitor Moniz <Edições José pio Editora, num empreendi- _ • Ozympio). mento monumental A publi- PRóXIMOS LANÇAMENTOS cação será feita de maneira D G Aventura.s de Mark Twain, metódica, sob a direção geral - o anges autobiografia do famoso cria- de Gilberto Freyre - amigo ••• Vou banhar-me nas vou banhar-me nas e sagradas águas do águas do límpidas Ganges. Quando eu reaparecer Ganges - dor de Tom Sawyer, em tradu• de Oliveira Lima - e com a ção de Oswaldlno Marques, colaboração de vários especla• p ara a Coleção Mem.órias- Ojá- listas de acôrdo com o plano d ios-Confissões. His tória da elaborado, e que constar, de ()iência, de David Dietz. 2.• doze obras. A primeira, D. edição, tradução de Azevedo João VI no Brasil, já foi pu– '.Amaral. l\lemôrlas sôbre J>'oll• blicada pela referlda editora. ehé, empolgante relato da com prefácio de Oclavlo Tar– ,v ida do famoso ministro da quinio de Sousa e ilustrações de policia de Napoleão Bonapar• Luiz J ardim. Virão em segui. e. Tradução de Edith B:i.rra- da: P ernambuco e seu desen– at, para a Coleção Memórias- volvimento, atualizado, anota– iários-Confissões. Memórias do e prefaciado por Gilberto após a purificação nas águas santas estarei ápto a sentir mais fortemente a beleza das cousas que me cercam pois meu corpo ~tará tomado de certo gráu de divindade. ' Quando eu reaparecer ap6s a purificação nas águas santas tudo terá caráter novo aos meus 1entidos. Meus olhos atravessarão os corpos . . . . - - . . . . e as cousas 1nv1s1ve1s nao serao mats 1nvisive.111. Dos meus lábios sairão palavras sábias. Meu corpo inteiro cobrir-se-á de luz. Vc111 sentar-me en tão na relva e meditar d e Casanova, 4.º volume, em Freyre, com ilustrações de tratiuçâo de Al'varo Gonçal• Jardim; Coisas Diplomáticaa. v es, para a Coleção Memórias- no Japão e noutros países - Di~ios-Confissões. Agua de seleções de Impressões de vfa– Espanba., romance de aventu- gens pelo estrangeiro, extrai– ras de C. S. Forester, na Cole- das dos livros No Japão, No, Cão Fogos Cruzados. Granford, Estados Unidos e Na Argentl– romance inglês de Elisabeth na, da série de a rtigos Canas G askell. tradução de Rachel .de Estocolmo, de outros artigos de Queiroz, prefácio de Luc:ia- de jornal e conferências; Ques– M iguel P ereira notas de Olivia &óes Soeiais; Critit:a - sele– acêrca dos mistél'ios que mais profundan1ente me im– [pressionaram. l{.rahenbul, 0 .;. Coleção Fogos ções de artigos (lnclusivé 01 Vou compreend<!I: a Morte e a Vida. C ruzados. (Novidades dii Li• em francês de La Revue) e vraria José Olympio Editora). conferências de crítica !iterá- Pois vou banbar-·me na& l\guas do Ganges · r ia, com prefácio e estudo cri• vou banhar-me nas límpidas GBANDE EMPREENDIMEN• t'ico de Ollvio Montenegro; e sagradas águas cio G·anges. TO EDITOBIAL América Latina e América 1 Oliveira Lima, uma dai, lng-l esa; Evoca9óu • Perfhl, CAUBY CRUZ Rapaz-· ftllpa:r; - _, Jamea WELDOH~JOHNSON 4 o.m doe meiore, po4tu negr.,. dot E■tado■ UnldoL A.llando l slm– pllcldade du iruu lmageaa e do■ Nu.■ temu po4tl• coe uma rique■a ._.rbal ~•inda do contacto com a BlbU■, aem coAtudo perder as rahe■ • as c■rac:terl•• S1c:u doe bomena d.a sua raç-, alc&ftça em MU■ p.,.. mu um■ s,rand.loald.ade e uma eloqulBd■ dignas do• prlmeiroa vatõe.. O poema que ora traducimos faa parte da Nrl41 tntUul■da OITO SER.MOES NEGROS, qu.e N -– contra enfeixada no llyro aoo·s TROMBONES . O\l■N tOdo■ o■ poemu da ■'ria referida ftlrosn °'"" quelllradoe e caatadoe pelo ORFEOJI DA LIGA DE COMPOSITORES AMERtCAJl'OS pua um pande públloo em TOWK HALL . Teoa os braços m~ro ""'"L"" paca ooxear com DEUS. P orém Jesµs disse uma parábola: Um certo homem t inha dols tllhoa e .Tesus não nos deu o nome deste homem f:DU ê.le se chama De\.1$ Todo Poderoso. J!: Je6us não chamou a estes tilh05 por nome aurwn Jnas, todo rapaz, ' lem qualquer lugar, 6 um destes dois filhos . E o ma1s novo diz a seu pai : ..Divida nosso patrimônio e · dê-me, Imediatamente, e. parte que me toca". E o pai com lágrimas nos olhos lhe dh.:: ..Meu filho, não abandona a casa do teu Mas .este tilho eslava cheio de orgui'ho pai 1• e de vontade, e tomando sua p;irte, dos bel)s do seu pai, p artiu para longínquos paísea. James WELDON-JOHNSON Tradução de Ruy Guilherme Barata nada, a não ser llvançar, flutuar e deslisar a~é ao momento em que os pés fazem ""-"-"'" com um choque apavorantQ,, as portu do Inferno. E o filho pródigo continuou o seu caminho. E num crepúsc-Jlo "êle chegou à uma cidade imer\il rebrilhante de tantas luze3 q ue aU a noite parecia ao dia. ~ ruas estavam cheias de gente. Ouvia-se por todos os lados os metais e as cordas de mil orquestras. Em todas as ruas dançava-se, ria-se e can tava-a&. E o filho pródigo perguntou a Um transeunte: ..Q,ual é o nome desta cidade ?" E o transeunt~ se pôs a rir e l he disse: "Esta é Babilonia, Babilonia 1 A grande cidade de Babilon!a 1 Venha mêu amigo, venha conosco". E o filh" pródigo se jogou na muilidão. ~apaz - Rapaz - Nunca ae póde estar sozinho em Babilonl11 Encontrarás sempre amigos 11m Bahilonia 1 Rapaz - Existe unta nora, eJCisle sempre uma hora. na qual todo rapaz Rapaz - . J'arnais se está soúnâéi em Babilonla 1 J amais poderás encontrar um lugar deserto, do alto da casa paterna olha o horizonte e sonha com longínquas ' viageM. E .o {ilt,_o I;)ródigo !!amilJllou por eetr~~as desCQ11ttecidaJ1:. • caminhando pensava: "Eis-me sôbre uma estrada tácU e dôce, e 1isa, bem longe dos incomodos valada& a trás das charrúas do meu pai. Rapaz - Rapaz - * bem fácil seguir a estrada que oondu% a.o Inferno. um lugar tranquilo. para pousar os dois joêlhos e falar com o vosso Deus em Babilonla. l!l ô filho pródig,o seguiu seu novo amigo, Cqmprou bonita,s roupas novas e pasaava os dias nas tavernas a beber todos os fogos do Inferno. P assava todas llS noites nos cabarés jogando nos dados a sua alma com o Diabo. i;:1e enconlrou finalmente as mulheres de Babilonla ó ó ó estas mulheres de Babilonia 1 V eslidas de amarelo. de púrpura e de escarlate,, carrega~s de aneis, de brinc-0s e de braceletes, dos seus lé:bios escorrem um mel saboroso • f;la sel:t,le sempre em declive e quanto mai.s avançamos, mais vaw.ol ,, cte»r;essa. llfela ~o ~ na,~ que nos ,tava cansar; suar e , em~urtar, que réscende a jasmim. E ."eitl¼ o"ltor 1 de 'jutnhn. das mulh'1'ei !de 'Biblloitz.ll 'i~ ';· • 1 1 1 ' . . $. 11 Página ~ Conclll$âo da 1.a págifla Suite Barbacenense N.º - 1 - 1942 - Todos nos temos os nossos mortos. Lá vou eu com meu ramo de flôres enfeitar os túmulos queridos, no cenu• tério da Bôa Morte, cemité– rio em que já sonhei dormir. Deposito as minhas flôres e. co,no não sei -rezar, peço hu– mildemente a paz eterna para os meus mortos. Os cl• pres tes compactos, ª! ca• suarinas gemedoras sao os mesmos. Não creio que ti• vessem crescido um dedo sequer na longa ausência. apesar da riqueza da terra onde suas raízes se afundam. 1'asseio por entre amigos: o b<'m João Brasil, alto e ma– gro con10 uma cegonha, a suave dona P epita, que o se– guiu depressa. o velho Ede, o Totônio Pinto, que me vendia sêlos. que tinha mi– lhares de olhos-de-boi cola• dos num velho catálogo das Galerias Lafaiete. a ino• cente Virgínia que o tifo le• vou - muitos. Dou por falta de um túmulo que vem dos tempos da gripe - um co• ração maior e quatro cora– ções pequeninos gravados no mármore e chorando a eter– na ausência de I saura. Mas lá estão os dois monumen– tais e anônimos túmulos de tijolo, os primeiros que se plantaram no cemitério, por certo. Lá estã a surpresa do São Jorge matando o dra– gão, rium só corpo dourado, encimando o jazigo da famí– lia Freire de Aguiar e que antes ornamentara a farmá– cia do falecido farmacêuti– co, cuja Agua Inglesa era, na voz unânime, muito superior às estrangeir&s. A sombra que a igreja lança sôbre os túmulos tem a mesma frial• dade, mas a igreja, tão bela. tão bela, com suas torres re– dondas, seu relógio de sol na f rente, está desgraçadamen– te outra. pintada de azul, a zul côr do céu, quando era tão branca, pintada de óleo azul atê nas pedras de seu~ ornamentos. ••• Estranham o forasteir o, criticam, 6 eternos bar bace– nenses I a boina parda, o ca– saco esporte, o cabelo tão exq1Jisito, os sapatos silen– ciosos . . . Mas vou seguindo feliz - ninguem me reco– nhece. Aqui foi Isto, ali foi aqui– lo, onde andará seu Gelásio, da loja de ferragens ? Ando, paro, ando, paro... De re– pente. estaco com a per– gunta: - Você não é Fulano? (a voz é grossa). - Sou, respondo. - E' a cara de seu pai - Sim, bem parecido. -Você sabe quem eu sou ! - SeL Nenem Gonçalves. Nenem Gonçalves foi pou– pado pelo tempo. Ainda co• leciona sêlos. Nos enten– demos. ••• Fui ver os jardins suspen• sos, um orgulho local. Não são muito suspensos, trê! palmos, se t anto, para o lado da Bôa Morte. Mai também Barbacena não é ne.nhuma Babilônia. ------------- AS TRÊS F E I· ÇõES DA ARTE CONTEMPORANEA ~ Conclusão da últlma página A ..rdadelza novldad• alnda ser,. ffffl dúvida, uma provoca– ção, mu 110b que forma ? Talvez pela voua a wna arte realista na apari:ncia, mas que lefll em con• slderaçio aflnnaçio dot cublstaa • d.041 '"'tauve•"'. lato seria tamb6m uma ainteae, a mais completa sl.nJeae. a mai■ dl!ícll, na eperincla. P■rece ex•• ' temem• que o tempo deua arta consumada não aer, o n01110: , ■rte contemporànea, com suei múlllplas e,cperl.Anda■, p.ro• •· DOI que, em r-1açio lquela, esta. mo■ ainda no e■t,dlo prellml.n■r, o de anállH. en trou pelas suas narinas e trespassou sua Alma. ille dissipou então a essencia da sua vidi nos deboches e nas orglas com as mulheres de Babi1on1a. com estas rnulheres nas quais os pecados têm a doçura do xarope. Elas roubaram seu dinheiro, elas roubaram auas roupas e o deixaram sem um tostão, em far..rapos, nas ruas de Babilonia. Então o .filho pródigo misturou-se a uma outra multidão: Àquela dos mendigos e leprosos de Babilonla. :tle deve dar de comer aos porcos porém•êle tinha 1nais fome do que os porcos e êle leve de deitar para dormir ' n o chiqueiro e na lmundice. ~e comeu os r estos dos porco■ p orque nem mesmo um porco era tão vil para torcer o f ocinho ao homem que se arrastava na lama de Babllonla. Um dia o filho pródigo se pôs a refletir: "Na casa de meu pai existem quartos e q uartos; t odos os servos matam a fome deles e todos têm um leito para dormir 1 Eu vou n1e corrigir e voltar para a casa do meu par-. E o pai o avistou de longe e correu ao seu encontro. Cobriu-o de vestes limpas t pendurou un1a corrente de ouro em seu pescoço. Mandou preparar um grande testir:n. matou a vaca gorda & convidou lodos os villinhoa. õ pe.cador-1 Quando te misturas às multidões de Babilonla, quándo bebes o vinho de Babilonia, quando andas atrás das mulheres de Babilonia, ris na cara de Deus e esqueces a n1orte. Hoje, rapaz, t..ens no teu braço a fôrça de um urso e no pescoço a fôrça de um touro • mas. num destes dias, será preciso que tu br1gue. com a Mo.rlf e é :1 1\llorle quero vencerá. ~apaz - Rapa-z - N"ão te ap1;oxi,ma de Babilonia ! 8 abilon.i,a ~stá nas . bõcas do loten,- . Rapaz. abandona as danças. a ar orgias, e o vinho. e o wb isk:,, ~ a bóca ardente das mulheres de Babilonla f Cai• de •j-oêihos e du no teu coração: 1 'Etl· "f'ou •1ne corrigir e voltar para a casa <lo méu _pai". · .. .. ,,

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