Folha do Norte: Suplemento, Arte, Literatura - 1947

• • Cléo BERNARDO (Especial pan a FOLHA DO NORTE) Pela lutdade e pela Juci– iez d:i.s suas g-randes ideias e pelo imenso exemplo do seu destino - 6 um contem– poràneo do futuro. O aeu corpo está no Pantheou, em Paris, repousando tranquila– me:nte oo chão da sua que– rida França - como se es. tivesse na t.e•a 1imida e hu– mana. de todos os lugares que tanto amou, entre os Povoe, sem distinguir qualquer Ra– ça 011 Naeloualidade. Rom.a.ncist.a, músico, en– l&ista, historiador, drama– turgo, critico de arte, mora– lista, penc:ador político, poé• ta. l1erói, protéta, chefe, amJ. g-o, esposo, patriota do mun– do, semeador - tudo isto foi admi,-,.velmente R 0- MACN ROLLAND ! dêste lutador solitário como GJde e Berna.nos, tão eim– ptes, patenr.úa e parecidas à.s suaa admirivela e famo- sas conversas, vivem em to. dos oe Continentes como um formidável poema de ami- 1:ade, advertencb e compre- ensão pelo mundo s6 e me– lhor Roosevelt, WilJkle e Lenine. Odiou • perra de 1914 e eoslnho oontra todos - com o seu CLERAMBAlJLT - conservou-se acima da ma.– tança, da raiva, do uõjo 1 "°' delitos pdhllcoa - pelJ Paz e pela União, reneg-andt os erros dos seus irmãos ho– mens. Mas - a noosa g-uer– ra dll'erenl.e de 1939 - foi encontrá-lo. já há mniw te!11po• absolutamente eon– clent.e de que o fuclsmo en a guerra, esa super contra– dição capltallllta. Que precl– s:ava ~r vencido miJlt.ar, po– litlco. moral. social e eeono– micament.e - para todo • sempre. Somente desta for– ma a 1n.nquilidade e a .seg,,. n.nça poderiam voltar e per– tencer a todos os Pai5es e • Pa.cllismo deixar de ser m6- n · e trls~ atitudt> inleJeo– tual. Dos seus livros nos faltam as MEMORIAS que chegam somente a 190'1 e o DIARIO, escrito com Canta paciência e dedlcaçã.o, désde a Juven– tude até a morte. Estas obras Inéditas qulldldo forem pu– bllca<la.s - pa-ecis:un ser bem lld, e meditadas por todos nós - porque êle é uma for– ça lnesgotá:vel, ensina e re– vélu, nos tucndo aeredil.ar que, a.pezar de tudo ne.,ta l1orn a.marga e díficil, a fe– licidade e o entendimento ainda são possíveis na tace da terra - sem a lnfellci– dade dos outros e essi\ lo– tolerãncia (lne anima:liJl!l, Uma velbu divida nossa falar sob.r,e quem - tanto devemos pelo que de verdJule e beleza trouxe parn nós mesmos. n1'aroãP. nos orientou a.tê a adoJesceoolA. De1>ois - veiu ROMAJN ROLLA?l.'D rwando os nossos passos, a blóStrar o caminho como um lrlmio mais velho, melhor experlmeniado e intlnita- 1nente lúcido diante de tudo. J<~nslnou-nos a respeitar o viver e o Ideal com essa li– berdade de l.er esperança, conoiêneia e alegria, dan– do um lastro de unidade e aercnida.de à nossa lnq~ iagão, a êsse lado lmposst• vel e demoniaeo que existe em todo o homeni. l'o.rlsso ê com profunda slu:u,a.tla que falamos ~ rioriosa crlat11ra de olhea muilo uu'8. miM tlellellde&, fortes e !arl:'.\S - que pa.. recia estar a.cariciando ca– beças êle odançll$ rn,ando tocava pia.DO e se-mp.re per– maneceu ao lado dos pobres e dqs oprimidos, dos simples de coração e dos necessi~– dos de alguma coisa. Ja– mais ficou ingênuo on aeo– vardou-se perante a intell– g-ênoia, a exisitência e oe ven– cedores! Pacientemen-te apelou às Nações que se amassem, pregando colllAI um novo apost-010 cristão - essa so– Hda.riedade irmã e pOl!ISivel - mais pela justiça e pelo trabalho que pela earldade ' No n06S0 secu.lo ningul'JD nos deu mais - naturalmen• te - a presença do heroJs– mo, nao do heroismo c-hela de sbnl!olos como o de Car– Jyle e sbn dêste calmo he– rolsmo que é uma espedP. de afirmação m6.scuta: de Bl• lenclo fecundo que quer di– zer Cl)nflanoa em nós pró- • prfos; de vontade. padên• ela e cor agem de melhorar todos os dias - do que RO– MAIN ROLLAND. desas– sombrndo, lndependieote e generoso. Ai a. sua bumani• d ade - procurando Dens Vivo através do homem e da n.a.tureza, a.mando mais o mundo pelo que tem de ~eabado e misero, a odiar o idealismo pusilânime e e mentira heroica. Parect' que ROMAIN ROLLAND estava sempre n ~ordar Ren an, 60 21 d e fevereiro d e 1877, no 200. 0 aniversirio da mor- te de Splnoza: " Deus viverá em nós. Deus estâ. a Inda em 06s, senhores" RO~IAJN ROLLAND: nm homem que soube compre– ender e por ter sabido CO'lll• preender tão lúcida e huma,. namente - é que a sua pa., lavra pertene-e w:ils ao (a– turo. Ao porvir pelo Soeia. , • Usmo e pelo Progre!OSO, con– tra os. tabús, tral~ão. a mJ. lá,., en mz.s_,.a. os prt'conN:t,; toa e a t'Sl)loracão do kme– lha.nt.e - numa memagem ele Fratoenddadc Jlvmana • .JuU~ SMIAJ - 41ae w lembra Eldh; ZOIL N1111ti1 clclxou de éltl'mlr - sen:: vergonha e aem rcsaent.imen-– to - a decadência e o quasl desespero do homem t da 1ooleda~e burguezes - nês– ae eomêço ela Nova ETa t. pessoa em si mesma. i. e.ui• tura e à civilisaçào. Achamos que podemos dar a esS3 deca«ência e a ês.,e quasi deStspero um estado a.gônioo, à maneira de Una– mono sobre o Cristianismo. O homen1 bnrgne,; ainda po– ilc se salvar dêsde que a jude e coopere, aoelt.ando e eom• preendendo sinceramente • RnmanliJadt- Trabalhador& 411e ultrapassou historica– m ente a sua e criou nov as (Oontinúa. na 2.ª pág. ) e pela imaginação. As car– tas das letras apressadas ROMAIN ROLLAND - cabeça de PorliAarl - 1936 --- -------------·---------------- ------=------------------:-:~------:--::----:-~ - ---· Mas pa,reoe qu,e ainda nos :taJ.ta o oon ,t.u.ta . A Os poemas da "Rosa do Povo". perten– cendo a wna segunda fase da vid-a liberária die Carlos Drummond de Andrade, dão uma ainpla visão d~ como o grande poeta 9Jtingiu uma altitude e intensidadle nos temas, n.o rit– mo e na estrutura poetica, ccm.&truindo uma das obras mais consistentes e originais da poesi• brasileira. A contemplação de um poe,ta tão excep– ai-OtliaJ. e marcante como êsse, na serena r ea– lliiação do seu destino literário, tnmm="te– me uma estranha sensação die bnrnilda.dle, em faice de wna poesia que em qualquer outra literatura ocu,~ria a mesma posição singular e detinitiva. Juan Ramón Jiménez !ala-noo desse estado verdacl~nmente ideal e mdefinivel quase: ser poesia. Viver as apaixona.nties emoções de um poema que se e.apta e não se transmite; que é espírito, esse.ncia, e não tomai·á corpo nunca. Em suma: não escrever, não extei:io– ri= o poema: criar um esbado inlterior: ser poesia. C reio que jã é tempo de situ.armoo Crur– los Gmn(!S Il'8 sua posição históri<:a dlefiniti'V8. em fa,ce da nossa cultura, dienl.ro dias reaes proporções que só o volver dos jj/11,0S e a visão desapaix-onada e distante poderão obter. E ' preciso acabar. de uma vez, com êsse nacio– oalísmo veroe-ama1-.elo. que por fôz,ça quer Cazer do maesLro oamplneuse uma cerebração :ie alcance universal. Não obstante, é sob um critério universal que deve ser fixado qual– quer julw crllioo em tomo ~sse europeu l'llBScid"<> no Brasil, rrum permanente oonkonto c:om o meio em que se formou, atmvé6. sem– pre, da ouLtw,a italien,a, que .toi por assim lirer: "l sua própria cultura. .,.•--------- •-"'•••-••••.,•IM--•----,•••• "'"--•- ..,••--o --•""••■><•----••••-1: --,,.--••--• •-"'•""•••M•..,--••--" •-•,.--••••-• •-••,.•• DE .UM CADERNO DE NOTAS Haroldo MARANHÃO -•-o-o-~~-a-o_o_Q4to 1 ·--------------- (Especial piwa a FOLHA DO NORTE) Longe de mim, porém, o propósito de fa– zer essa t'<?verificação de valor, que se torna necessária, sem dúvida, para uma situação justa e verdadeira dJesse graru:re melodista, eu j a importancia, na hierarquia e.rtística, taço q u e s t ã o de não discutitr. Anteci– parei, todavia, doesde logo, uma cooclusão, que não é arbltra,rja nem absurda: Ca!I'los Gomes não é brasileiro; é, antes, um italiano, pela formação, pelas tendêa-cias e pela obra, niti– dam~ européia. ---- De Murllo Mendes: ºO maior dom do Pai etemo, diepo:is de J,esus Cristo, Mnslste em ter e-nvia.do à terra eSlbes dois gra'lldES con– ooladores dlo homem: João Sebaetião Bach e Wolfaing Amadeu Momrl". D esccmtado o exagero do cat~li<lO, perma– nece a grande venen•ação do poeta, de que eu tam~m participo, mas só pelo lado profaJDo. cance e do prestígio die Erit:0 Veríssimo p06sa iDIC()llTI!lr aind,a num dos mais dlêltestâveis vi– cios da ficção: o airilllcio do diálogo, na soo l!onna ma.is primairia e ant1-nartrura.l. Veri– fico isso oo seu últin10 livro, o segundo de impressões de viagens a06 Esta.doo Un.ióos. Procurando explicar ao leitor brasi1eiTo fatos da vida social norle-americana, como o pro– blema negro, a questão religiosa, o amôr l'l06 séus vários aspéctos. etc.. recorre como forma de expressão ao diâlogo, com o objetivo evi– dente de to1,na:r-se menos professoral, o que nem sempre cOII\Segue. e de traduz.ir talvez mais cla1ianne,ntJe 85 suas conclusões ~es. Realmen,te são lastimáveis os resultados des– sa experiên,c!•a, sac.ruficarn,do a prosa intelú,gênte e sadia, que se encotttra nêsse com-0 nos ou– tros livros do lúcido escritor gaúcho. A llJQVa geratão brasilei,ra jâ deu o seu poeta: Lêdo Ivo; a sua romancista, Ruth Gui– mairães; a sua novelista, Ma-ri.a Juli,em Drum– m<>nd die Andrade e o seu crlt!,co literário, Antonio Camdd.do. Isso falando de U!!!l modo gem1.. se,m aJud!rr a owtros DOmeS mmbém reprege,nrt;a~vos. carno Arrtcmilo Rain,gel B an- A mela,n,oolia cia17180ta de não se saber 3itllado ! Ainda é Mozart que ampara e recOll– forta, oond'uzindo..noo a um estadJo de v,aga beatitude, em que o amôr é uma cousa lon– glnqua e sem contõmoo. dE'im, Oswaldiru:> Marques, Clmioce Llu:isp,e,coor, 8Jl- Wil.son Ma.rit~ns e OU'U006 noV'Oli de baJ.en-to. Cu.sba a crêr que um romoocista do • grande estireia no gênero 3!llO passado foi de um velho neta?óaltário: Guimar~ Rosa. com "Sa.ganma", cujos cantos regi()tJtllístas vêm oolooalr-m na mesma categoria de prestigio dos con.1:oo de Marques Rebêlo e Graciliano Ramos. Com:preendb e até certo ponl-0 justifico mesmo a p resença de um autor vigoroso n,as inclinações e n.a ob1,a de um escritOlr novo. Essas in.fluênei-as são sempre impossi– veis de ser evitadas, por isso que decorrem. da pl'Ópria fo=ção natural de um nucleo literârio, nebuloso e lnforme, a princípio. sujeito às mter:!:erên,ci,as de l eilures, más e bôas, não importa. Um grande crltlco Jlte-– ráriJO, o ma.ior s,em dúvl.<l~ dos n=os dias. oonllessava-me outro dia erri carta que 06 seus prime.ifroo artig06, escritos ainda na provincia,. eram deoa.lca.clos 006 de Tristão de Atayd~ pelo espirito ~ pela íorina. Repito, oompre– end() essa assimilação in VO]Ullltária, DQSCi<la quase sempre do eniusiasmo pela obra rea– li:r.ada e em estado de modêl-0. O qu,e me preo– cupa é a procura deliberada e dirigida para um poruto de apoio, como o que verifi,co ago– ra mesmo num pOOta jovem e esclarecido da m:lnrul geração, obceca<io pela seiva e pelo r .Ltmo withmroúanos, a ponrto dle toni.a,r-!il~, pela msistênaia, uma versão pouoo recomendável do granci,e can•tor da América. Alvélíl'O Llns aconselhou prudêni~i,a na J:et..– tura do "DiâTio" de Ami-el, envo!Jven.te e trai. çoe!Jm. Creio qule se pod:erla advertir também do grande perigo dos poetas-chave como Wlu'bmain, exuberai!l,tes e pletóricos. trainsboro.aindo permanieutement.e ideias e rit– mos OOVOI$. - •

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