Folha do Norte: Suplemento, Arte, Literatura - 1947
• r • !!1111111lll l li II IJll 111111111111 Ili 111111111111!li111 l 11111 li l l)fll111l li l lll llll lõ "Ili111111111111111111111I li l 1•1• 1111111111 1 l llrtlllll!l1111111 lf ll11' l '1 J 11111 l!!J! ~ - • a ~ ~ i; ~ -- ;i !! Ê i; "' ~ 11111 I liI li 11111111111 IIJlllll ll l ill lll ll l li l i l l llllll l li llll l l ll l llJ I1111111111 I iõ • • Ressurreicõo ., 1 Póginàs De Um Diário 1 1 1 1 A FOLHA DO NORTE pu• blica. a sepir a apresentaQão que o nosso oolaborador F. Panlo Mendes escreveu para o último livro ele Oecll Melra - ••RessurreJgã~ e Vida" - recente lançame.nto da Livra– ria Editora Zello Valverde, e :ioe dent"ro de breves dias es– !arâ em todas as liwarla.s de Btlém. tlste nov-0 ll vro do sr. Cécil Melra, OOl1ltiln1.mndo o gêrullro gae o escrit.or paraensoe inieia.. ra com "Im,agern dias Horas", apresenlia ae mesmas carac– tierlst-ica6 estéticas e as mes– mas preocupações filosófico- 1,>0éticas que aquele ou.tro pu• bllca,dlo há mais de ano. o sr. Cécil •Meiira é "um homem para quem o coração oão menl1ie''. Por isso é que 11eu livro, pretendendo ser ''uma peqoooo. mensagem de môr e Alegria", ac\JSQ tam– m. quase sempre, disfairça- do nUltna ap;rrent~ ser,en.Wade, um espfri-to cheio dle mquie– tações e amargull'as. O autor F. Paulo MENDES QU3.QJ.do criailJça e que, talvez, somentbe re<:UJP~ dlepois da Morte. Através das págioos de "Res– surreioã,o e Vida" adivinha -se o homem que as escr-eveu. O livro é, assim como já disse, u.ma auto-biografia Poética. Poética porque o eec:ritor é wn poétia, pois é intensamt'!!tlte lirioo ru> que escreveu. Ltrioo, o livro do sr. Cécil Melra ad– quire a sinceridade ~ uma autêntica e espontânea c<>nfis– são dle uma :rdea vi® lnwtar. E só podleria ser essim. Como êle m,esmo declarou 9 seu co– ração não mente. E não men– te porque "o coraoã,o do Poé– ta nio se confunde com os outros eol'lLÇÕeS". RIO - Dm gnipo de des– miolados, entre eles o desval– raao a11tor desta -página, no• ma tarde panieubu-ment.e ln– feUz.. lembrou-se de 3$Slnar um doc11mento pelo qual &e. comprometia a jamais deixar. se tentar 11ela glória acadê– mica e, neste belo país de palmeiras, está nbentendldo que se fala da glória d a Aca– demia Bra:stlei.ra de Leb115. Tratava--se duma brlncadei• ra de intelecluals desocupado!! e certa.mente de segnnclo pia• no, que encontravam no seu colega AUJ'éUo Buarque de IIolanda a pinta de um futu– ro 111embro do Petlt Trlanon Porque ning-uem de bom senso - ----· --------------:~-------:- - - _____...,.._..-'ov_ - ...... · Domingo, 30 de março de 194'1 J>lretor: PAtl LO MARANHAO NUM. 23 '" ___________________________ •••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••• ' pode imarinnr que· um &'MJPo de escritores possa fazer a sério um Juramento dessa or• dem. Todos os escritores bra,. melros desejam emrar para a Academia Brasiletn de Le• t.ra.s. Que hODnL poélerá lulver maior para um escritor do que o;entu--se ao lado dum varão ' como Ataul.to de Paiva, do que respirar o ar q11e um CeJso Vieira resplJ'l, do que co~ versar com o senhor Barbosa Lima Sobrinho 96bre a alia e a baixa do açu-car . do que ouvir os primorosos sermões de D. Aquino Correia, do que. nos chás das quintas-felras da Avenida Presidente Wilson, ganhar um bilhete ,rntuJto do Sf. Viriato Correta para assfs– lir a uma Pt!94 do sr. VJriato Correia? Que honra poderá haver maior do que poder cumprimentar, de fg11a.l para IKnal, uma figura do porte in– teJe()tual de Cla udio de Souza? Esta E a glória q11e eleva, hon– ra e consola., como dl:d11 o fttnda;cJ or da ~ (E como se não bastasse, ainda pn1-a.ndo, inacreditavelmente. cinquenta cmzefros por semana!) de Ressol'relção e Vl,da, que tem quitaquer coisa tte uma auto-b~tie poétl.oo é um t hwnem ávido de amor e de 1 =~ ::=~,,; ª ~ l........................ ~ ••••••••••• Mas não o entenderam co– j mo btln,()adelra, nm 011 dois ••••••••••••••••••••••••••••••• cronistas cllarlos das n086U de viver, por UIID8 mvenc1v= -- __ _ _ xnelM!iCOlia, que parece ter st.WS .mizel! num forte senti• mento de PUNIZª e n\ana pe,r– turbad<ml aversão ao pecad'O. Da1 o tom pat&ti~ l)QfllC8,li!lho, -OOrn q1,1e a1lnne ~e oou co– :r-..-·lo é uma ' 'p~ 00\l-padil ~1JS vfetos". Cl."Jstã<> no ma4s profundo de seu ser, a eoos– ir-lênch da queda não o su,an– dopa. o sr. Cécll aspil'G a uma espé,cie de nat~ IIJl)gélica, em que JI06Sl'I, gomndo o amor e a v:idia, conserva,r-se imune d'as torpezas dêste ml.lMO. Anjo exilado num outro pa,– raiso de caJ1'l'lle, mas prêso à lembrança da inocêncie per– dida e do céu a,l:)andonado. . mais im))orta.ntes folhas. E de- As páginas do capitulo ..PartiT" podffl'I ficar como a expressão simbólica d,o pró– prio autor. Aquela remlnis– cêr)cja tnf-an,til, guie êle tão adroiravelmen,te ciie6'creve, é na varo~ a p81rtida do Homem dils beITaB puras e sagradBs da in!ânc,ia para oo: rt.os e "in– tnam.sLtáv-eis oammhos do mun– do", intrarlsitáveis pao:a quem gt.ta1"ÕB a noot,a,Igi,a dia infân. eia e procu.ra , angustiado, um impoosi V'el estado a n g é 11 c o, que o homem experimenta L=bro-me bem de que hâ trés ou quatro anos o meu 7JU!'Str-e Tristão de Athayde, n'1m encontro ocasional, me disse com um entusiasmo f(l(l'a do oo:mum: - "Você preccisa lêr e OOlihecer o Gustavo Cor– ção. E' um caso como o de Paw Valéry". Creio qu,e o no– me de Valéry era ai empre– gado l)Or Alceu Amoroso Lf. ma não para com,pa.TQl" pes– soalmente os dois escritores, mas p~ me transmitir de modo ao mesmo tempo rápido e oon-creto uma im'Pressão do "caso" lilerárro e cul tura1 cio sir. Gustavo C-Ot'çáo, q1te co– meçava a escrever aos qua~ irenta anos, que ficara tanto :tempo, .sem calculo ou elltra-– tégi,a neste sentldo, n;o silên– cio de outros afazeres pa;ra só aparecer ao público na matu– r idade, tornando-se desde logo uma das mais significativas figuras do pensamento e da lL. t -eratux,a do Brasil. E dianlte de uma afirmação cilessa es– pécie, -nada de credulidade ce– ga ou dúvida displicente poc parte do leitor: serâ preciso lê-lo para obter ceda um por si mesmo a cert-eza de que ele é um gm;nde escritor. Ali.ás, o primeiro inter-esse q ue provoca o Ef't. Gustaovo Cotção não está J.oealizaxi.'o na esfera Jite!rári.a, mas na ordem humana,: ele vmu uma gran- Bela esta manhã sem carência de mito. e mel sorvido sem blasfêmia. Bela esta manhã ou outra possível, esta vida ou outra invenção, sem, na sombra, fantasmas. Umidade de areia adere ao pé. Engulo o mar que me engole. • Valvas 1 çyryçs pensamentos 1 azul completa sôbre for1nas constituidas. Bela matizes [da luz a passagem do corpo, sua fusão no cor.po geral do mundo. Vontade de contar. Mas tão ab.,oluta que me calo, repleto. • .. CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE __ • ---- ,------ • --"4:f~ 0½7T<1>t __ ......._ NL•-,: ~- ... ·~- w-...1"f')O'u ~=-...~=---n~• ....., ...... sftl,CllluZW..G( 4,>fiALUWJ...VVW ....- ...... .;.L¾bál ...... JORNAL DE CRITICA • UmCompanheiro EUm Adversário Alvaro LINS .. .dYFzfl..1tAt 7'&R.O........ IICI Pu.r..J)t»t CExclusivioodoe da FOLHA DO NORTE neste Estooo> de experiência, real, intensa e proíunda. Em seguida, o in– teresse se torna literário, fica mesmo independente do ou– tro e pode até aesumir o logar prin.ci_pal pll!l'8 muitoo obser– vador-es, porque o escritor eonseguã-u revelar a experiên– cia do homem numa forma ar– tistica, particularizando-a pela arte de pensar e escrever num livro inconfundlvel. Não foi. assim, por acaso que o sr. Gustaivo Corção só apareceu na vi.da literária depois d'oe quarenta anos. Até então ele estava realizando uma espéci~ de avenWII'a, uma viagem lon– ga e tormentollcl sem sair do seu pais e da sua casa. Era uma aventura mental, ·moral, sentimental, a que ele estava vivendo silenciosamente e que podemos acompanhar, hoje, com o interesse, o gosto e a emoção com que se lê um au– têntico romance, através de A descoberta do outro, apare– cido em 1944 como sua obra de estréia (1). Afilstado da ativiQ!alde jornalfstica não me foi dado fmr naquele momen– to desse llvro excepclona'l, tão diferente do que se edita ha– bituailmente DO BUl$ll; A d.es – coberta do outro, porém, ain– da fica maJs valorl:lllldo nlµlla segunda leitura, como a que fiz agora antes de abrir o se– gunÕIO li'V'l'O do mesmo autor, Três alquelres e wna, vaca. publicado recen,11emente (2). Não se cara<;teriza a aven– tura do sr. Gustavo Corção, ou a sua experiência humana, n,em pelo fantástico nos episó– dios, 1118m pelo meloclramátlC'O nas cenas. O próprio autor lá pela página oem de A de;seo• berta do outro adverte o lei• tor a este respeito: "Os pe– quenos episódios truncados e wignificantes, que contei nas páginas anteriores, nada têm de extraordi.nár:io; qualquer vi'da contém experiências aná– logas; qualquer individuo viu dezenas de vezes uµia pessoa C!ldr no meio ('la rua, um su– jeito mostrar um dente do– lorido, um casal discutir .P0'1' causa de um.a ninharia, e tam– bém já viu um rosto querido cobrir-se com a lividez da morte. Variam as cl:rcunstân– cias, o modo de sentir, segun– do o temperamento, mas al– guma coisa é coIJ1um; debaixo das diferenÇ-as super.flclais existe uma constância essen– cial". Começa-se por a! a eom– preender qual o s~tid-o intimo do ~.m.ento e da literatura do sr. GustGivo Corção: é o ele sentir compleixam,en,te as coisas simples, o de valorizá– las, o dXl recolocá-~ no pri– ~,etro plano por efei,t,o c:fe ume luz ~a. que, no caso, jorra da inteUgência e da sensibilidade. Isto signif i– ca que está em jogo a agu- deza de um homem de idéias, mas sobretudo a visão de um poeta. A$ C'Oisas simples, ordi– nál'.iias, ootkí-ianas sã.o • que t~m na verdade maior vitali– dade hlterior e mais riqueza secreta. Mas é pr.eciso ven– cer muitos obstácul08 e mui• taB etapas para saber em cheio estas coise.s simples, que es– tão, n,o entanto, tão próximas de nós.. De tanto vê-las obje– tivamente e de tanto tê-las áo a1oa.noe das mãos, oo homens pa.'l63m geralmente por ela6, ~ten•too, pa,ra PrQCU.ral" mui– to longe, nes coisas extraordi– nárias, aquelas im_pr-essões e se~çõee que só poderiam en– contrar nas coisas simp1es e oomUllS. Se o sr. Gustavo Cor• ção, que é wn afumatiV'o e ~ polemista, fos.s-e também um des.ses escrit-ores que jo– gam com as palavras em for– ma de teses e fórmutas doutri– nárias, podier-se--ia dize:r que uma das suas teses e fónmt– Las mais ca,racterísticas esta– rJa nesta _frase de A descober– ta do outro: "O verdadeiro romântico é o cotidiano, o triste cotidmo, a triste nor– malidade sem aplicação, é em suma o ordinário da pessoa humana". Foi assim qu,e lhe aconteceu uma aventura como a de Cbesterton, por ele mes– ~"E> citado naqu-ele trecho de = dos ensal?06 de Ortodoxia: a de ter partido para wn.a lMga viagem e chegado como etapa finaJ ao descobrimento da vida natural na SIUa ve– lha Inglaterra. Uma nota oor,stante em A descoberta do outro é o a.n- 9Edo de liberdade interilor, de gratuidade, de alegria, de :te1i– cídade que anima o seu autor, que o coloca deslumbrado ante a vida livre como &e ele foose um antigo prisioneiro restitui– do recentemente ao oonvivio d011 seus 9emelhanbes. E aqui oomeç,a preci.9amente a hlstó– rf.a d'a aventura espiTLtual do sr. Gustavo Corção: a de um prisiOllleiro que se libertou, ou julgou liberta.T-se por lliltier– médio da conversão ao cato– licismo. Durante quln:r.e aru>s, ele viveu ligado à técnica, pre– so aos seus limites como numa vertigem, sem ver wn palmo adiante do seu laboratório e do seu aparelho de trabalho "cinoo entre teodolitos e outros dez, os últimos, fi– tando ponteiros d"!! galvano– metros". Qualquer pessoa pode ~ginar o que seja fitar du– rante dez a.nos ponteiros de galvano:metros, com todrui as con&!quêneias dessa prática em forma de obstinação, oo– n10 se medir a intensidade das correntes elétri<l36 :tosse a pró– pria tliQaJddad.e dll existência. As ClOl!llSe,quêndas, aliás, não chegavam. a existir die wn :pontio de vista razoável. pois senrolaram a soa prosa ao pá- - -- - bitoo, acmando aeerb:l.mfflte oe algnatárl0t1 da tr~a. ta.- xando-oe, entre 011tru mal• dadn. de namoraaee Inrell– t:H. E 11m slmpitlco vesptrll• no mesmo, a "Folha Carlo– c,a". tranalormo11 a oolsa llll• ma ampla reporiaffllà que se– ,cundo ela, em letns tf:l"r:lveJ. mente nerrttu, ''alvoroçava os meios U:teri.rloa do Rio". Nio houve alvor090 alpm, a não ser o ela ptóptla "Folha Carioca", que saiu a inquerir uma te1'le de noma Ilustres• propósito deste paeto anti– acaclêmlco. Felhmente as res– postas vieram mostnr maia uma ve1 o presH&lo da Aeade– mla, e aeentaar q11e o pacto não passava d-e uma brinca,. deir.i. de desoe11pados. E como não podia deixu de ser, foi ouvida também a voz da ACAclemia. p,e]a bo~ de um dos seus mais nobres ornamentos, o doutor Antonio AostregésUo que se expres– sou em palavras de uma taJ tolel'ancia e oompreensáo cris– tãs, que poderiam servir de modêll' pa.ra o seu colega, o (Oontlnua na 2.' p~.) num caso destes o técnico se enrola cada vez mais dentr,, de um pequeno circulo, aper– tando-.se até o su!ocamento ou a extinção da wa n.aitureza tiu– man.a, se não consegue eivadir– se para o ar livre, para um plano de resba-belecimep,to das suas faculdarl"es n a t u r a i s. Qualqu~r leitor pode iJnagi– nar o que isto seja, mas será melhor sabê-lo no depoimento direlio do sr. Gustavo Corção: "No fim da noite, exllenuado. filOava diante dos aparelhos, sem jeito de largar, a remoer os resultados. Não havia gran– de lucro nessa demora, mas uma espécie de obcessão me iJnpeàia de delxair o galvano– metro. Os dado& do problema ficavam-me na cabeça, rodan– do, girando, indo e vindo. co– mo wna melodia obstinada que a gente começa a assobiar e depois não consegue J,argar porque o fim emenda oo p rin– cipio. E assim quase tôdas as noites eu ficava preso nesse assobiar mental, cotn quatro ou cinco pequenois resultaóbs expe\"imentais a me dançarem monotonamente na ·memória f.atiga,da. Quando fechava a sala e ia apagar a Juz a.inda me demorava no hlterrup.tor a olhair a mesa cheia de fios e válvulas; não olhava P.Orque me a.cudisse alguma ideia no- (donttnúa na, 2,"' ~:íg.)
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