Folha do Norte: Suplemento, Arte, Literatura - 1947

Conceição (assim se cha- ma.vam &$ moças naquele tempoi sentia-se diviqjda en– tre a missa do galo e o pre. BépiÓ. Se f o.sse à ig,reja, o presépio não ficaria armado án tes de meia- noite, e se St" ded,icasse ao segundo nã~ ve~ r ia o n.:.limoraç.o. 1 ' •E ' difícil ver na.morado. na rua, pois moça não dev.e sair _ d e e.asa. salvo pa.ra rezar ou . . • _,_ v isi.tar p ar entes. Festas são Quinf41,- fel ra. 25 d,e dezembro de 1947 Dirétor: P'AULO MARANIIA.O , NUM. 58 :r-a-ras: O cinema a,inda "nã i> • - -"'----'-"'-~------------~----------------- f'oi inventado, oú. se o foi, n ão chegou a esta ·noosa ci – dade. qu e é antes unia ta– '%e.nda cr escida.. Bois pas$eiam n as ruas, galinhas ciscam 11a igreja. E viuvas espiam de j anelas, que se di>riam j au– la~. · 'ton-ceição e suas numer osas obi;igações: cu·ida r doo ir– m ãos, vela:r pelos doces -d e caJ.<da. pela~ conservas, mane– jar agu lha e bilr-o. escrever as cartas de · todoo. Os p 'lis ~i•ç:em-lhe o máx imo, 11âo porque a ca.sa seja pobr'e, mas po.tque o p rimeko man– Qamento da .edu cação 'teml· f;lina é: t'rabalb.arãs dia e . n,o.i. te. Se não t r a.bà] Jlar s.ernpr-e, se não OCUPll<T tódos ds minu– tns. qu~ sabe de q'u.e nã-o 1re:rá capaz a. mulher ? Quem 11od-e vigiar os sonhos da mo-– ca? E les são contus.os e- pe• rigoso_s: Porla·nto~ é, impedir q l;e se fO<t'Mem. A total ocu– p ~ ão v11rre o e!Wkito. eon. . - . C('.l~ao nunca tem tempo p i ra tta-dà. Seu bel o .n ome resso~. r edondo, pela e as a toda. "C<»iceii:i0. as dái}ias jâ fu- . raro r egadas hoje ?" .. Voo& vi-u. Conceição, q uem d ei1eou ,.. diabo ~ g~to furtitr a carn:e ?" "A.h,. Conce:içã!), meu bem. p rega. ~ b otão t>' ra stta mãe2:inha" . Coneeição m\Jlti;t>lica.-se, corre, deliBera e ptGvidencia ,p:i;,1: coisas. Mas ê UiR). engano supor· que, se , deix-ou • isionar pelas obr!– ~ eJ.\!Írdonha& Em seu. c~ ção e.la . v oa para o. so. b i:11do da outr a .r-ua em q~e. lwnando ou ális.àindo o ca,.. belo oom b.rilhantina, estã '.Abel-a.roo,. Das. m u maneiras de amar, 6 pa~ a secFeta é a. mais âr• fülosa. e e.is a que ocorre na espécie. ConceiçãG s-ente-se livre em meio à! tarefas, e .té mesmo extrai delas al◄ aum }>fazei'. <Dir-se-ia q,ue as mulheres f 01ram ,feitas pa. u ·o traoa.lho. •• Al!fUJl)la cot . sa niais do q ue i'.esignaçã.o sustenta as donas de casa). Conce~ão sàbe c.om, bmar o movimento dos b raços com a. at iví dad~ intel'ior - é uma ooosp.ira:doTa - e sempre a.eha folga ti.ara pens ar ein '.Abelardo. Esta '\"é!Wera d-e Natat p oré-Jn, veto. encontl'ã• !la com,pletamente de~eve– nid:a. O pi:esépio está por ar– mar, a noite caminha, lenta eóm<> costuma fazê-lo no in· térior, mas Conce.i!tão é ipti• ma ~o relógio gran<le d.a sala de j antar . q ue não perdoa , e mesmç rio mais calmo povoa– elo o tempo 'dá uqi sallto re– pentino, &!,sa,fia o incauto: "'Agarrá-Ble ! " Sucede que ,ni:ng1'ém· mais, salvo esta moca. p ode dispor o presépio, Mie tran.smitida p or uma t ia iá morta. E s6 Concei~ão co• nhece o lugar de cada p~ça, d etermtna.ndo h á quase dois mil anos, ttorque cada b':icho, cad!l musgo tem o seu pa--pel no nascimento d o menino. e aí do presépio que cede às novidades . ' As cai.x:as estão depooi.t;t– âas no cnâo ou sobre a me-- 31\, e d esembr~á-las é a p rimeira. sàtisfaçáo entre 39 q ue estão infusas na prá tica ritual da atmatão do presé– p io. Todos os i rmãos qu-eirem eola.bor ar, mas anites a1lrapa,.. ' lham, e Conceição preíere ver-se mo1'l-a. a ceder-lhes a 1r&sponsab ili<iade pl e-na d:a d i– :reção-, J ~a,is lhe ser á dado . ..------- ...- .... , .... 0: ___,. __ l, ___"'" .. ~ p li (1 - 0 ■ lt'I_O_ ct _ o_ o, ■ o•• ff: - , _ _ ct-~~. ,11 - 0-•-0-l) _O_ OII _0-_.11..,__..... , .. ,.. 11:___ • t ocar,. por exem.p10, no me- • que nio pode absoh1 ,tamen.te n ino J es'U.$,. na Vi,;gem e em $er adiado - se êsse al guém Sãó José. N~ pastor.e$, sim, (Conto de Carlos Drummond de. Andrade), é nervoso;' sua v<>:n~de se e nas gr utas subsidiá:rias. O concentra, num~ e.kc f.t ação melhor seria que n ão amolas. 1'1liúd0is, não guardam p ro. sente neles a maciez.a d• agµd11,, e o tirabalho começa a. s~m, e Con~eiçiio passa.ria o porção COIIXl 0\'J cameleiroo :qráo de Abelal'd..o. sUl'gir, per.feito, em ei,rouns. dia , intef.ro compondo sozinlia q ue os tangem; m as, são p re- Alguém bate p,a1mM na tâncias adversas. Conceiçi1:1 11 paisa.gern de água e _ped-r as, sestes da tia mor!Ja, pa.rti- e$cada; amigas qu e \!êm· n ão perte-nce a essa ra-ça ' tor– relva, .cães e pinheiros, que ct)?am da .n a,tureza d-06 an i- oombin-a.r a hor a de ir pa't'a ·t(lr~ e eriadwa; f-igÜlra no há de en.volvér a mangedou- mais dômést icos, .a qual Pol' a igreja. ~ nbram e acha'.m º~ l.'Ml'.\O ta.rnibém· delicado, mas r a.. N~ too.os os animais es- sua vez, participa.-Obscllt'ame~ - presépio desa.nanj'ado, na ~nente, (lOI; fantasis tas. tão per-f ei<tos: ê&te carnei r.inho te d.a n a tureza da famtlu . A- s ala e.m desordem. Esta vi. Vão..se at; amigas, para vot.~" tem u.ma - pern a qu ebrllda. t-ravés de um sen ,timei.fu n e- sit.a oome mais tempo, ma- !luas horas depois, e Concei 7 _q u.e se podeJ'\a consertar , b uloso, a~ a-se•lhe -q~e tu- teria preei068. ("4garra-me! ção, int~n:ogando, o r el6mo, mas parece a Conceição qu e do é uma coisa só, e não há Agarra-me!~' ) . Quando a.i. nele vf apenas o roa-to de A– assim mutilado e dolorido o l imites pa,ra o humano. Coo· guém d is.Põe- apenas de uru; belarê.o, como ta-mbém per– Menino d e v é • qµ&er-lhe c'êi~o piaa . os de.d.os, C0pl potllQoS m.inu.tos pa.ra faze't' , cebe êsse r'6'5to de big-Ode, ,e mai.,, Os camelos, bas:tante , te.rnuta-, petos camelinhos; ._1go de mwt.o importante o caQelewa l~ a.. e os. olh os ' \ 1 • rês -- "tradução de Maatlêl Bandeira -- "' 17-·· Teu-s olhos Juntam os mãos Como 05 madonas De Le,,nordo . \ 8s fiosques. do ocaso, As #rondes amo,odos 0ft um renascimento. O· rebanho cio mar Bale para o gruta son,or,o. · • Do céu cheio de anjos. Deus en.c.Mna-se Hum menino que busc:a,os bri1t4uedos De tuas mãos . 1eus lábios Dão o calor que negam" Â vaca e- o &urro . E na ,,enumb,a Tua c~beleira alola as palhas Para o Deus-me nino . RAFAEi. DEI.A FUENTE • -Ol - t:to ■■ U ti Cristo, o Cristo menino, Piso, com pé desnudo, A rosa: proibid•, Pisa o áspe,o c,avo . Para Jesus menino Nardo é o espink t1guclo-•. Alvas vermelhas, céus De ~lgum entard~ Teu destino anunciaram Sangrento, Emanuel . Em lágrimas o ad-.,ertlam · A Virgem e José . Tu nodo mais olhavas_: O pássaro caindo, A nuvem latigada, A estrela de Israel . '·--------- ... · --·----------- 111 · A Estr-ela D' Alvo- cintil«, São Nicolau vai chegar! - Me leva, minha mãe, me leva a Galipàn( .. ./. ·7 ..,_ , • ; . . • . • - . - • • G O ■ ll ü b l o.: • • "" Mãe, a l,u,, de tõo tonta, Passo ,oçando a montanha E não para a descansar! Me le-,a, minha mõe, me leva a Cialipan.! Eu quero colher no campo A eJYa listada de prata, A erva que de m~drugada EstàYa toda verdezinha . Me lev.o, minltcr mãe, me lêva a Galipan( PABl.0 ROJAS GUARDIA \ ' 1 I 1 ; i a,cesos, d jssímu!ad o,; ~ ra– magens do. papel da pareo.e, e u:m pouco por toda parrte. A mlio continua tQCando m,aquíu a.J.men1te nas figµras d o presépio, d ispo,ndo-a·s on de convém. N·ad·a fará com q1.te erre; do passado a tía repete su.a lição profunda. E ntretan– to, o prazer de distr ibuir as figur as, de fixar a estrêla, de ~alha:r no lago de v idro os pa ti.tmos de celul6ide,. es– tá a,lt-erad o, ou subtr ai-se. Conceição nã.o o sabor~ia por inteiro. Ou nele se insinuou o praz!llr d a m issa .? Ou o mê– do de que o pr imeiro. p110. longando-se. viesse a imue– dir o segundo? Ou um sen– tímento de cwpa, ao mist1,1. .ra,r o sa.g:rado a.o -i:trofano. dando, taivez! preferêocia a êste úl timo, p ois no fund o da ea,mio,ha de palhíl suas mã0$ a_ca-ri,ciavam o meni-no. ;nas o que ç · pele quer ia sentir - sentia., Det1$ me pe,r<loe - era um calor huma.n,o, já sa– bei-s àe quem. Aqui desejaria. porque o mundo é cruel e ·a:, histó;r.ias t ambém costu.rnam sê.•lo. s,ce. lerar o ri tmo 'dli na.rra fi.va. da.r a C'once-i:çâo os 1nuito1 l;>,ra,ços de q ue ela ca:reae P!l r a cumpri,r. com a sua- ob riga– c:ão. v.estir-se violentamente sair com as am fg.as - de. pr essa. <lep.res;sa! -. i r oor• l.'endo pela ladeira acima. en– con trar . a igrej a va.zi -a, < a4'r.o Já quase dese·c{o. e ne– nhum· A: belar.do Mas serfa p reci1:;o atribuir-lhe. n ão br~– ç_os e ~erua.s. i;1:1plemen,1 ares e s im uma outr.a na tu:reza– difer-ente da que ihe coube. ( é puta placid-ez.. Correi. só, fre,gos. cOfrei l adeíJ·a acim; e chegai s'empre ou mu"V tar de ou mui to- .c.edo. 1:n !li - continua'i -a .. cor;re,:. a mat,a'T- v:os. sem pe,rs.pect.iva ae: p?, ou c.oncflia,ç~o Não assim ; ; serenos. aquel-es qu:e. rn,e$lllO -sensuf!is. s,,e ohlicíam. O d-0-rro– desta noite. deoois d.o meni. no . é o relógio. P êste vai n1as tJgando seuS: min utos. f ' • • seus c1,nco m,1.n utos. seuf quinze minutos. Se nos efí– quecerm,c,s dêl-e. talvez pule meia h.oi -a. c,omo um p.r e~ti– digitador [u:rta um. avo. m3s se. nos p\l.$ermos a con tem– plá.lo, os nllmeros gelam. o ponfei ró ilnobi liza - se . a \'Íd~ . . · p arou rigorosamen~e. Saber que a \/id.a pa:row ·serít,t ·'is;i con.forta n.te par a e cnce,1~, q '.le . .1.ss :m lograria f.ol ~li na– r a loca,liza.r condicg,namei1'le os 1frês reis na estrada, levan– ta r os n1utos tf.e .B.eléni. Co. meça a f a.zê - Io, e o tem p.ü dis– para de novo. "Ag:::rra~i;e! Agarra-to-e!" Nas cabeças q tte espi!!,m peta porta entreab. r – tá, no estouva.rn: ent.o dos 1•r · mãos que q.ue1 tn:1 se' d·ebt·u~a,r sôJ:>re o catninho de a re:a an– tes q u-e esta esteja espa !bacia, na muda inte rrcga ção da 1n&e, no sentimen to de q ue a v,– da ê va riada dema is para ca– ber em inst antes tâ;o cu'rl't,s, no calor que começa a fazel' apesa:c das janel as e.;;ca nca– ra<ias - h ã uma p.rev isão d~ ma logro mü nente. P r ont,o, êst e ano não haverá nala!. N~m nam orad o. É a noite se fundira nu·m largo pr anto so. br e o tra.vesse iro. Ma:; Conceição con tinua, calma e pre◊eupadà, 'c í·sn1:,· .renta e repa,rtfda, j un.ra1, ,~d na. ima,giriação os dois d.eu.s ,.s, colocando o.s pastores na po – s ição ,de vida· e peculia•r a adoração, d ecif rando os olbos ' de Abelar do, às mãos de A - bela.rdo, o misté rio prestrg.,o . so do ser d.e Abelardo, a au– réola t:1ue os ca.mj.nl, 1.a n t ~s descobriram em to1·l'.l.o dos c a– belos maclos de Abe1a:r«o, a pel e mol·ena de Jesus, e aque– le cigarro - q'úem botou! ardendo na a'reia do p resé– pio, e que A:belardo fumav.:a na ou-tr'I! r ua.

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