Folha do Norte: Suplemento, Arte, Literatura - 1947

• . • 2.• Página FOLHA DO NORTE Domingo. 16 de março de 194t .~'A Literatura Brasileira ,Há Muito Que Rumou Para A Esquerda',. S. PAULO, via aérea (A. U.) . ~III UI III Ul lll íll lll lll Ul lll lll ll"l tll llt lll lll !lf lll lll ill ltt lll lll lll fll 111111Ul ltl lll lll l1I III II• !l ltl lll lll lll tll UI lll ll]l!l lll !II II I Hl l11111111111 11 Ji111I HI IIIIII Hl lll Ot lll lll llllll 1!1!1I III W ~ ~ - Entrevista Com Erico Veríssimo -- O Escritor E As Academias - Holywood. O Mundo E O Brasil ... -- Outras Decl ar ações Do Romancista De "Olhai Os • Lírios Do s Campos" • _ _ De passagem por esta ca- ~ pital, o escritor Etico Verissi- ~ mo foi alvo de grandes home- ; nagens por parte d<>s lntelec- ~ tuais paulistas, tendo realiza- ~ d o. com muit~ sucesso, uma !! con(erêneia na B íbli otéca Mu- =:.1 11111111■1\Jlllllflil lll ll l tll lll lll lll fll llllll llf lll lll llllltllllll !II III IIIIII III II I III IIIIIIIII II ~ lllt1111ll JII Ul lll rtl llll! I Ul 111Hlll l llt ílt l llh l Ul fll llli!l l l,l illlll l!l llllll l!l lllll lf111!11ll ll• ~ chamar sôbre ele • atenção do jurl de Estocolmo. Aconte– ce ainda. que o português, para efeitos de divulgaçã<>, é quael uma Ungua morta. Quanto a Hollyw-ood 1 fiz a mesma per– gunta à gente dos estudios. Eles parecem achar que nos• sos romances não têm tus-t6- ría cinematográfica e dizem r,e.Speito não só a costumes como também a sentimentos que o público americano não compreende bem. E o públi– co americano é o que paga. O melhor mercad·o para os "films' ' americanoe é o inter– no. Lembre-se de que o autor húngaro que cttou :toi tradu– zido pat"a o inglês. E' um eu– ropeu. Tem a vantagem da língua, da situação geográfica, além de outras ... " to. Já ~ncíonel o Zé Gera1dt> Vl.e-tra. Bá aiada romancistas da envergadura de Otavio de Faria, que estã fazendo uma gl"ande obra de analiee social. E Lucio Cardoso, que tem a vocação do drama. Sou ledor de Gilberto Freyre, Sergio Milliet, Sergio Buarque de Hollanda, Afonso Arinos de Melo Franco, O&caT Mendes. Alva,ro Llns. Lã no sul os n1eu• ensaístas favoritos são, além. de V1anna Moog, Moisés Vel– linbo e Carlos Dante de Mo– rais. E parece-me que pouco• nesta terra escrevem de ma– neira mais llmpida e saborosa que Augusto Meyer. Sempre me considerei mais importan– te como leitor do que come» escritor. Minha capacidade die admlração cont-in1..1p intacl.a. apes!U' de todos os perigos da profissão literária .•. " nicípal. En~revistado por um joma– lis ta, o romancista de "0 resto é silêncio" tez as se:guinles Ôportunas declançÕ(tS: - Desde que tl l literatura tem sído, em todo o mundo, a precursora dos grandes acon– tecimentos sociais, que é que a tendencia atuQl da nossa li– tera lura faz prever como mo– vhnen to, como novidade, no panorama polttico social do Brasil? - "A literatura brasileira hà muito que rumou para a es– querda. Acho que a marcha do ni.w1do para o socialismo é lne– vitâf el. Quándo falo em es– querda não me r-etlro ao co– munismo que existe na Rus- romancisla que fizer isso com verdade, com penetração e ve– eme-ncia, terá prestado Uni grande serviço à causa hwna– na. Não é necessário tomar pélrt ido e r-epetir as frases que n<> tnomenlo os conutés poll– ticos põem em circulação. A Ou pior. Porque 1b criminoso nunca vai para a cadeia. Seria dificil dizer o momento exato em que me senti e.scritor. Mas serã mesmo que sou es-c:ritor ? Nesta altura da minha carrei– ra começo a a-0reditar que sim" - i ue acha das Academias de Letras ? E da Açademia Brasileira de Letras? dlal. Mas a verdade ê que gos– to de muitos esc1·lt°61-es paulis• tas. Aqui vive talvez o mais completo dos ficcionistas: José Geraldo Vieira, um dos pou• cos romancistas brasileiros que têm estatura para ser expor– tado com sucesso. Aqui viveu, escreveu e._morreu esse imen– so Mário ae Andrade. E eu seria insincero si nã.o confes– sasse o meu traco por esse im• previsivel e magnüico Oswal– do de Andt'ade. E' de São Pau– lo tamj:)ém o homem a quem de bom grado eu daria um prêmio literário especiiu por tu,do quanto a .ficção brasileira l he deve: Monteiro Lobato. Quanto à poesia. . . sou um miserável. Leio pouco poesia. Quando me sinto incliuado à poesia, ouço musica" - Qual a razão de ter via.– jado primeiro para os Estadoe Unid06 ao invés da Europa ? Íia~ ~ redito muito no ÜJ?O de socialismo que nos virá da . Fr;ioça, devidam& passado a pela sensibilissima penei.ra la– -tfba. A literatura tem represen– tado um papel importante nes– sa marcha para o sociaUsmo. Não acho que um escritor deva f az-er literatura. política com o fim de servir a um determina, do partido. Mas acho que ele pode, si quiser. O que me pa– rece capital é que ele escreva sôbre o mundo em que vive, o ~undo que existe, um mun– do 'i:ie absurdos, injustiças, de- finalidade do r o ma n c 1 s ta, com relação aos l)roblemas sociais (isso sem e s q u e c e r a sua responsJbilidade para cpm os problemas eternos do homem e, que diabo, os seus compromissos com a be– leta, pois no f4n c(e contas ele tambem é um artis ta) . a tí,nalidade do romancista é mostrar que o organismo so– cial está doente e. precisa ur– gentemen Le de ser curad.o. Para essa cura é preciso mui– to mais q ue um Uvro, que cem livros, que mil livros... " - Como se fez eecritor, isto é, em que momento se sentiu escritor? - "Acho que si as Acade– mias existem é porque há al– guma razão para Isso. Pa-re• cem-me mais uteis as associa– ções de classe que tr&tam dos interesses materiais dos escri– tores e arH~tas. Da Academia Brasileira de Li:tras não acho na-d-a. Há dentro déla ~randes escritores e escdtores peque– nos, além de re&peitaveis, me– diocridades. Posso lhe assegu– rar que nunca me passou pela cabeça a idéia de me candi– datair a essa espécie de imor– tal idade. Nem a essa nem a oulra. Para a primeira me fal– ta apetite; para a segunda me faltará qualidade". - Por que até boje neuhum autor brasileiro recebeu o Prê– mio ;Nobel ? E, si Hollywood está sempre atrás d e argumen– tos, por que nunca fora,m apro– veitados os contos e as nove-– las brasileiras? Bus Fekete Lazlo, es,critor húngaro, tem sido aproveitadlasimo pelo ci– nema americano. - Na sua opinião, quais os grand~ da literatura brasi– leira ? - "Para ser absolutamente sincero, fui só aos Estados Uni– db6 porque o Govêrno desse país ·me convi:dou duas vezea l)Qra ir até lá. Um escrit<>r. mesmo o que se pode consi– derar "best selling", dificil• mente tem recursos para em– preender viagens dlspendiosu como aquela. Como vê. a ra– zão é bastante prosaica'' . siguãldades e crueldades. O - ;.No principio achei que podia ser desenhista e pintoT. Mas ia tan1bém escrevendo coisas. Foi só em 1930 que pu– bliquei o primeiro conto. De– pois vietam outros. E o pri– me.i-ro livro, o segundo, o ter– ceiro. Dizem que o homem que mata uma vez acaba ma– tando a segunda. Com a lite– ralura a tragédia é a mesma . - Qual o eseritor e o poeta paulJsta de sua predileção? - "Quando a genle eslá em São Paulo", - responde. - ~•tem a tendencia de diier que gosta de todos. Simples dever de cortezia para naro um11 ci- •dade admirável de gente cor- .;_ "Creio sinceramente que além de Ma.chado de Assis e Euclides da Cunha, a nossa li– teratura não tem nenhum es– critor de estatura capaz de - "E' muito difícil mencio– na-r os grandes. Talvez só o tempô possa dizer is,so. Preti– ro mencionar os esc,ritores de que gooto. Considet'I) Gracilla– no Ramos uma espé;cie de elas. sico moderno. Leio com um pr.azer enorme os romances de Jorge Amado. Llns do R~go, ~ecialnlente com ''Banguê'' e "Fógo Morto" tem, na nossa llter.alw·a, um lu.gar mui1:,o al- - Qual o ambtente lite-rári-c, feminino no Rio Grande do Sul? - ''E' o mais pobre imagi– nável. Poucas mulheres se de– dicam à literatura. Dessas pou– cas, pouqulssim.as são d l gna., de menção" --~~-------- ------ ---.....:. criteres r.egiona11&tas de hoje, é a visão do in- terior com intuitos poUti-cos ou ao menos bu– m•anit-ârios. El-es parecem escrever menos com um espfrit.o a:rtfatico do que com o propósito de comover ou revoltar o leitor ante a fom~. a miséria, a d:oença, a ignorancia, a sorte dle6- gcaçada das populações rurais. Quando não trans.Cormam os seus romances regionalistas em instrumentos de uma idéia poi!tka, de uma idieologia partidária. Catem deles pelo menos a.pelos sentimentais. De qualciuer t11r– ma, a intenção extra-literoria é quase sempre um vício na literatura regionalista. A sr·a. Ruth Guimarães colocou-se, porém, fora da ten– dência do regionalismo pollUco, como tam- bém do outro extremo que consiste em poe– tlmr falsamente a vida rural, em apresentar os seus aspectos com a enjoativa côr de rosa. Do seu e.spirito, revelado em Ag112 Funda, podemos dizer que é um realismo poético. 4rua ~Uu a realidade de uma regia.o para ex– pr1tni-la sem outra intenção que não f06Se a verdade artisti.ca . E esba é a ~ principal qualidade: o espíri to poético de criação li– . terá ria. E' lamentável, por issol que a sra. Ruth Guim,arães não tenha proJetado a sua personalidade com mais firm.e-za no romance. Ela levou ao a,bsotl1to a tese d'O impessoal.ismo cio' autor na obra de tic~ão. Talvez tenha sido timidez, ou nobre pudór, mas a verdade é que o leitor nã-o tem aqui elementos pa~ sentir, mesmo indire~ente, de que es,pecie é a na– turei.a humana da escritpra. E é por isso que Agua f unda revela nitidamente wna figura lilierária, mas não a mulher que escreveu o .· livro. Fkou assim o romance marcado por ~rta indistinção, por certa fl'ieza, provi~a ·do e..xoesso de obJetivldade. A e9C.r1tora lfl• -forma. d.escneve e narra, mas se1n a oorres- pond.ent& dra;maticidade. E esta é a sua prin– cipal fraqueza: a ausêocia de um e;gpirito di'a• máliqo oo movimento do eru,edo. O enredo, alilÍl?, é. um fragil el~ento em Ag-11a Funda. A. principio, temos a impre~ão de que ele se vai óesdobrar e engrandecer .num cresoendo de intensidade. A autora, po– rém, liquida rapidamente a prime-ira história lançada, que parecia mais rica de conteúdo tl.oéifll) ista, para se COlleentrar em outros pe– t uenós episódios, com nma significação me– ftor. Quanto ao estilo da sra, Ruth Guimarã~► ele o,em é superiormente artlsli-eo, nem é co– mum, ou banal. E' uma maneira de e..'tp-ressã-0 simples e natural, direta i agradável, c-0m a g,ual, em cert06 mom.en ~os, a escritora con– segu.e atingir magnl r.icos ef,eilos poéticos. Não abusa da 1ierminologia regionalista, conise– guind-0, contudo, ajustar adequadamente a - Unguagern e o assunto. Jl,'s vezes lança mão de um _ar ingenuo de narração que se pt?"rcebe fler si.do procurado a1·lificialmente. Do con– trário, o espú·ito crítico e racionalista · não apatreceria em tantas outrai; ócasiões para es– clarecer, aliâs sem quàlquer necessidade. as superstições e crendices populares. Reprodu– zindQ muito6 proverb.i,os, sentenças e ditados àa região, a aut.ora tm sempre o cuidado de desmanchar, oom uma explicação corl1Pp1em-en– tar, o que exista neles de superstição, con-1.0 se temesse a credu1i<hlde do leitor. E aqui está um exemplo: "Foi mot'dido até de cascavel e não adiantou. Alguns diziam que ele tinha oração de fechar o corpo. O que ele tinha e.ra aan,gue füfbe, e fumo do bom para botar na ferida ." A estréia da sca. Rnlb Guimarães represen– ta. sem dúvida um. acontecimento para a fic• ção brasileira em J946; Q seu Agua F unda, eem rair na banalidade do documentá.rio, é um livro que revela ex.cel.entemenle os prin– cipais aspéclos de uma região do Interior, oorn espiribo poé,tico de criação e *guro a.pa - ~o fo.lclorico. • P:i= o tieu -romance de estréia Essa oerra ;:,arar_ .• il'a. L \llc.ta Mu1hoUand ton:M>ll como - JORNAL DE CRITICA Romances, Novelas E Contos· • .. sugestão e ponto diê partida o poema do sr, produto dessa criS'e, desse descobrime!'t,oi des– Jorge d,e Lin1a, que t-em o m-esmo titulo e sa conquista d,e si mesnta, e~b_oi,a rnd1 ~– é u1n dos nlais belos de toda a literatw·a bra- roente~ pela imaginação, exprimuld0- 98 art~– sileira ( 2 ) . O seu tema, assim, é o do homem ticam~nte através de uma pers?nagem,. M~r ia, branco em amores com uma mulher negra, 0 que celltrali:zia a novela corno figura princt~a.l. quie acontecia antigamente oom muita fre• Em ~ral os romancistas, como os memon~– quência nos engenhos e fazendas. As sinhâs, listas, só 'conseguem escrever sôbre .ª inlãn~a enganadas, exerciam então contra as gildas e a ad.olescencia mui~ a~os d~polS, quan ° de oõr vinganças bert·lveis: mand~am ma-tá- as impressões e sensaçoes Ja se ftx:i~am quase las ou mutilã-la5. No romance da sra. Lucia jmpessoalmente ao pont.o de adqult'~rem '?ti– Mulholl.and, com o cenário em Copacallana, dez -e forma literária. A si-a..M~ria Julteta tudo se processa mais modernamente. Aliás o Drummond de Andrade, n<>s limites entre a enredo de Essa ne g-r& F ulõl é bastante con- adolesoencia e a mocidade. coloca de pé uma vencional no desenvolvimento e al'bitrário no person agem da sua p,ópria idade, a~m~à• desfecho. Não tem vitalidad-e interior, nem nhando o ~u drama de descobertaf e 1 nquie– originalidade. O leitor sente-se como que lo- tações como uma irmã gemea. ana1isa,ndo com grado e mistificado ao ~rillear que t<>da a lucidez e agudeza, aos 17 ª~·. ~ pe~_so~– história se processa afinal sôbre um equivoco: da.de. da adomcente Maria, solitari.a .e inquie– os amores da negra Jan.dira nã-0 ieram com ta f<Cchada em ai mesma, ma~ anslOSa para Al\tonio, o marido de Leda, e sim com Franz, inlegcar-se no movimento da vida e para co– uro amigo do casal. O que há ce mais oonei- muní:-car-se com o m~nfâo. . ~,tre dots ho- d<el'ável no romance é a sua técnica de CO!llS• Maria passara a 1 ocJa e:L g trução, que embora não sendo de todo :nova, men.s el.'tTanhos: seu pai e seu tio Pedt!), ~– ainda ~ mostra ca_piw: die transmHi,r a).gum,as ia também a sua irmã Celia, mas mutto di– sensações im;p ~t.as . 'E!le está coml>O$tQ em ;erenre: "o tipo d.a ciclot~ca" ~ com "a oa.ra dois planos. com o enredo situado em três dias d'e anuncio d·e vitamina'. Mana compara-~ da sema-na_ Além diss<>. algumas cenas da vi.da com Celia para caractél'IUU'-se logo 1113 s pn• don1estica foram reali2Jada6 com ver!)SSimi- melras páginas: "Ela vivia feliz e sem Pr:- (Continuação da 1.• pag-.) lh · bo ..,. t .,__ ne·--- FuJ -, e· afinal cu•"' oes-. todo o mundo a achava engraça . • ança e rn ,.coso. ~.. ... ~ o . nh ..... a çNo'f··- ... - eu .... = prezav.a aquela a_legna um ro1nance medíocre, mas não des,prezivel w""" = do con10 estréia, dei.xando;nos em simpática ex- irracion4ll de cã0Z1DM doido que ~u 1>ectativa quanlo a-0s novos trabalh,oo d,a au- bainho e 'vai-se reboJand-0. ~empre fui uma toi'8.. . uena triste. Triste à-toa, sunplesmen~ por Termino, afi.nal, por on~ devia l'er com.e- ~ triste. Junto a C-eLia, eu desaparecLe: ela çado: pela novela A busca , d.a sra. Maria Ju- pulava e enchia túdo de som e de côr - lile<ta Drummond de Andrade (3). Considero risada e olbo azul, cabelo louro,. ~le .res.P:18~ esta esl.ré.ia tão impottanlie e significativa em deoent.e. Eu procurava me. dimin,~ir~ e 1946 quanto ~ esl>réia da sra. Raquel. dle Quleh~oz mais, ~e en!'la_ndo pelas .mmha1; 01 doen– com o O Quinze em 1930. Raq_uel tinha, entao, • peta llltnha tun1dlez. Ex_tra•~ ui pr::r punha a.o escrever o seu livro, 19 mos; Maria Juliieta tio dessa a.ute>-d~v~loCriyça_!>, ~ ()Chava e l'U escrev>eu .agora a sua novela aos 17 anoo. exausta. Minha 1rn1a e ,a -tesa cr . V e O Quinze. lido hoje, apreeenta muitM defí- ia sumindo". Há uma cen~ no º1!it~.~terq~e ciências e fra_gllidadles, mas ao a.parecer cons- muit)o revela ao 1!1-ces~ . mp'? ovelista tlluia sen1 duvida. a r,evelação de uma escri· Maria e da cap11«:,1dade Litera~tton embor~ tora, sendo obra 1ncomUJJ1 J)ara uma autora Val'.t).OS trans,creve-la com<> ~tadás ~m lguals tão jovem. També.m A busca não é w:na obra- mui~ outras possam ser ci pr1m~; a,pr~ta ainda i.n~~tezas e defeitos, condi~ões: i b ras _ qu<1ndo as mas e u1n livro extraordinar10 para uma me- ''Ja pass3:vam.. d-e se s ºte atormentai- Vi _nina de 17 anos. Além disso, em si mesma, emoções f3-ce1S teima;m em sala de ·a~t a:r, 1ndependenle da idade da autora e de qual- papal seutao.o junto a mes~ da O castaJho se quer circunstância acidental, é uma novela grava.ta marrom; nas olbtãirasquele desconhe– admlrável, rica de conteúdo humano e mar- imobilizara. . Co~ qui, ~ 0 1 !ao _ dois tran– cada p.ela originalid?,4e, com tantas car11.cte- cido erà meu Pª 1 : · · ª 0 ª esma rua i.em risiicas superiores que , poucos romancistas seuntes que ca.rrnnham pela ~i e uma' filba consagr,tdos seriam capazes de esc.rev;ê-la_ jamais se ei:-contraT - um P lu de cair· Uma estréia como a da sra. Maria Julieta ti.Ilham existido. Espa11~oso en~ ero . Dtummond de Andrade não representa ~pe- ne. d~abitado. (?u sena. ele tao ess~Cll; ·! nas um sucesso pessoal, mas também um sinal ponto de se dtlup·? Papai me en.1:arou'. zi de vltalidade !iteraria, um sinal de que a nova um esforço doloroso para compreender. um.a geração avanj;a com a capaci<hide para subs- menina, quen, era? tlluir e tahrez ultrapassar a anti,ga. _ P a'Pai, eu sou a sua filba? Sou eu, papal! · Sinto-me um pouco perturbado em tratá- Qu,etla ajudá-lo,. sofria por ele c?mo uma la, assim, solenemente, com o grave titulo de doldta. M~ ouviu, dJSl>'e franca,menbe. senhora. A primeira visão qu~ llll'e dela ~i _ Vem cá, minha Íi,\ba. 9:través d;~ um poema de Od-0r1co T~vanes, ln- Nossa cômoção pod~ria abalarr o mun<ft>. titulado Ante o retrato de uma., filb~nha de Tinha wntade ·de me ajoelbat" e, sem mais Ca.rlos Drummond de Andrade . Vt-a d-e- nem me-nos: perdão, papai, pe;rdão. Fu! me po.lS. pessoalmei:,te, ~ só ~ de loD;g'e. aipro:k.imando de vagar. Tinha sido 11~ uniioo llá cerca die dois ou t.~es an-06, na porta de in-91 :an.te : quando om:,guei perLo. ele já estava um. tea;tro em companhia do seu pai. Pa:receu- novam,en,te peróido". me, então, uma orlança, uma menina, e ago- Est.e ca;pi~ulo V, aliás, é um doo melho– ra, a despen.a die tão jovem, já é <para a cri- res do livro. Depois desta cena, toma-se uma tica e pa,ra o públi,oo uma senhora,, urna au- especle doe cronica de üm janta,r, a que com.• tora. um nome literário. E' quie ela atra!V-e51KJ!U pareoem Méld"r.l e .Celia. E como · se percebê com impeto, d-e.cisão e =naii&die a fron- aqul nitidamente o 9elli90 airtís.tl ,co, a capaci– lie:ira que 98Pat'a a moe ela adol>eecencfe dadl& de ~o pesiSOá,l, todô o E191>trlto da eis– • latânci,a. O.na, A i.u.ea é ' ~ WIUI.MlCJ~ 11111 cr.lt, o,J,al Um jantár txJOJO motl,vo Qe um ca- pítulo, mas com que leveza e intuição ela se afa&tii do tom descritivo oo informa.tivot Duas ou três linhas. apen.as , para _o janta-r; ; rest.o. para as estranhas observações e impressões de ~a:r1a, longe da rotina e 1.udo íbcando " ~Jn.do de n1anei.ra particular. Ou~ros c.,_. P 1 Xllos que se desta.cem magnificamen te s ão os e XV, 1.a:lvez 06 pontos mais altos. se– guros e originais da novela_ O primeú-o re– tr9:ta ~ episódio -_da primeira confissão e da pr1me1ra _comunhao na Igreja ; o se-gunoo fixa ~sen~çao da. adol'll6cencia, aquele momeul.o ster1oso em que Maria se sente passar de ~e~in~ a moça. Todas es;,as. lm.preswes de .i.n.f:n e adolescênc!a, de que guardamos ger ~ a recol"daçao n wna forma r egulaoe e con venc1onal, .a,parecem n,a personagem cri,a,. ~ Pel_a _sra. Ma ,r.ia Julieta com uma: con Cigura• i;ao or~1na~. como se ~36 tivessem existido de uma man~U'a a,lé então í nedita.. A conf'1SSão a ~un~ao, o ex!,WDe oral d~ História. o pr.l: me1ro baile, a primeira visão d,e uma pessoa IJ!ºr~a. todos os episódios marcantes da exi.s– ~nc1a d~ Maria são reproduzidos eotn esp1• rít.<> poet100. e or~inalldade, numa esquisita mist~ de 1ngenu1dade e ma.lida, como na- 9.uele . llll&tante_ em que ela assim se anali sa: E~ ria C$Cai:óadooamente - a.o me;:.mo tempc. havia em mi.m um pequeno trecho lucido • enojado". . ~usta.men!-e o qu.e dá um sabor especial, uma fis1onomia lllCOntUilldivel à nov-ela é essa mis– tura dle mieouidade e malícia, A iagenu.idade de uma menina doe l7 anos ao lado da malícia de wna escritora com uma vi.são acin;la da sua idade. Isto signittca que nada existe na sra. Maria Julletà óessa antipatlca meturid$<N precoce que nada e:iriste no seu livro de for– çado. fabricado e a l'tifit:iail.. E' uma das obrM de mais naturailid-ade, fr-es-cu-.ra e juventude que já li ate a.gora. E isto bem se revela na form.a, u,ma forma ainda indec~ e v .a.cilan– te, na qual 1nesmo as expressões originai!i, as nolla6 de bom gosto e humor, tão constao,– tes, são tipica1nen.te de uma ad-Ole9cent,e, que ainda não esiá na posse de todós os recursos a processos do ~u estilo. Os trechos mais fra– geis ôa novela são aqueles referentes a Leo– nardo, menos o do seu enterro, em que a aut.ora volta ao plwno de unidade, wuidàa.e oe coniteúdo e de forma, em que se desenvo1ve todo o d'rama de A busca a-té o momento cul– minante e finai em que Maria se encon ,t.ra a si própria, achando um s;e.ntiao para a ..sua. presença no mundo~ Ao f~cbar este livro, com a figura do Maria a projetar-se na minha lembrança, sin,. bo que o meu interesse se volta ce>movida- , mente p ara a sua jovem autora. Te,ndo _ 1!1-e ocupado de sua novela, dentr-o do espiri:to impessoal e profissional com que falaria de qUalquer autor, não posso esquecer ag.ora que Ma.ria Julieta é a filha d-e CaTlos Drwn– mond de Al'.).d!rade para transrnit~r-lhe. u1:1-a afetuosa palavl'!I pessoal. O seu livro )â in– dica que ela é uma natureza hwnana t.ão no– bre, tã-o senslvel e original, quanto a do se'll pái. Só posso desejair-lhe, portanito, que venha a ocupa•r algum dia no rOllllaJlce o mesmo lu– gaor que Carlos Drwm.rnond de And'rade OClt,Pa I\8 poesia brasileira. E isito significa: um lu,. ga:r extepclona<l e itnsubstitulve1. (1) Ruth Gutl"Qa.rães - A glUI Funda - Edição da Livraria do Globo - Porto Alegre - 1946. ó (2) Lucia Mulholland - Essa. Negra Fui \ - Lwrari:a A,gir Edtt.ora - Rio - 1946. (3} Mariá Julieta ])ru,nunond de !--nd't'ltt■ d e - A BWl!Oà - LiVT81Tia José Ollmp1<> Edi– ·tora - Ri<> - l&46. Part.- tetneslSa 4e Unos: wgo. 48 - R i.o de J aneiro. Praia do .Bot&oo 1 :::J

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