Folha do Norte: Suplemento, Arte, Literatura - 1947
• . ,, , CRÓNICA LETRAS ESTRANGEIRAS U·.MA CASA KAPUTT Otto Maria Carpeaux: LêdolVO - - (Coppighl & S, I. çom e,cc,lus!– vidade pa:,a a FOLHA DO 'NOlt– 'l'.E, neste Estado) (copyright E, s. 1, com éxclusl.; v.dade para a. FOLHA DO NOR. Domingo, 30 de novembro de 1941 Diretor: PAULO MARANBAO RIO - Coniheço uma ca1Sa n~o aqui mas em uma PI'?· vio.ci :a. PaTa uma rua estrei– ta, 311:).rem·sé tEês ja.n-eclas e uma porl'a que oowtaro 06 mistérios e as \'erdades dess-a morad,la onde os passos fa– lan1 de uma vida que se a1i– men,ta dle Jni.steriosas su,bs• tân,cias, e clall'idades e ~ bra.s que não 9C desfazem: "l1na.gin•llJl' qu,e a~ janelas ' 11ão providas de ,;persianas que se destinam a f ilrtrar ,a • l uz viinda de fo.ra , e per.nn- t em aos hal:>i,ta.n.tes d'II. casa a coinpanha,r, estr,a,te.g:iicamente qcultos, o movunen.to exte· m,io-:.-. Podereis ver quem pas– s-1. me,s1no que te,nhais ape– nas a visão parc.elada de ·ee,r• tas coisas que· se completam na niemóri.a - as botinas do carteiro, que ooruhece Íod~ os d·estinatá'rios das- cartas qu,~ entrega, 011 sapa.tos do colegial qwe joga, futebol exn um Ja ,r.go a,pÓ6 as ~las_, as meias de uma moça q,we vai musicalmente en-eontrar -.se com o seu nam-orado, a ben– ,eala do fa:nmacêutico que com e. su'a d-ell6à alquimm lwtà conitra a morte, 05 pés- suJos e g.retados do jornaleiro qu:e di$tr.ibui n.a peque,p,a oidade as ,,úlUrnas noticias dle um mundo distai!)Jte. Acima das persia,n&'.>, Ôl\1'3.S tôlhas en:vi· d,1,açadas imitai!Tl leques por onde pâs.sa ,m .J\.,,.:,clM'.i,eade ·do tSOl e a confÍdên,cia n ot,uma. &ponhamos, entr-etalllto, que ~s ~gua1das ja.neJas, de ma– dP.>i<ra. m-acica, ocultem a.s pr 1• mei.r.as . Anu:lada essa relação c om a rua,, a sala passa a vi– ,v,er d•e uma exiistên,ci-a per– itutrbadora. E' uma grande isala cimenitada., oode se po– 'deria co1ocar · todo um apar· taoi.ento ca:rioca. As paredes na1Scem do eh~ com um ro– dapé vecrune.lho eoouro, qu,e logo ~e traoof1gu,ra em um alararrjado vivo, óuas vêzes– •tri'l.hado por brancas pautas de ca-1, e ao ati ,n.gi ,r o této ofert.i a-o DOIS!SO olha,r wna eô,r que parodia a luiz das 1três lâmpadas da sa,Je. ~ frllltas ,de clal1idade, qu:e parecem wa.r em pleno espaço, diu.Ta.. n.te o d'ia se imo– bili2am como gréM'ldles olhos exti,n,tos. , Erutã-0, à Jiuz que en,ta,.a, p e,, !las ' ví~ças e pers.i~-s. a mesma :Lu% do sol que i1wmi- 11a as mangaíbas madlua-as e f.el1 aer~ sabOlr, e os cajus (Contrnuo 110 2.ª ~ ino) SALVADOR DALt •r n n,rre1n •-– a a w a u w a SALVADOR DALI, nas– cido em 1904. nos arred-0res ~ Ba•rce1ona, f-0i um d,os énici'<ldor~ dio surrea,lismo. Em 1914, ingressando para -a Aieademia de Belas Artes . ' 1e M:arlrid, espantou seus mestres, pela: í-acilidade com que copiava, os veJlios pin– tores, impri.n:rin<lo um toque de sátira pessoal. Quando ôn~gou a Par is, em 1927, o su:rrealismo e.ra o assunto do dia e Salvador Dal i tomou log-0 u1na pos iç.ão de va,nguarda. Alguns criticos aciham que ê1e disper<liça um gra:n,de ta– lento, p,or certa falta de e– quilíbrio, sendo que out,ros o consideram mn oportunist a divertido. Diz que pinta pa– ra .as massas e, exat amente p,or isso, ae,ha natw:al que o povo não o entenda. Afir– ma êle: "Eu· próprio às ve– z·es não compreendo meus quadros. Há algu ns símbo- 1,os que eu n•unca poderei eJCplicar", , _... .. AJém de outras ativi<la– des, Dali ~ autor de dois li':" V.I'QS. Em 1943 publicou HV.i.<la U<)r-eta de Salvador Dali" e em 1944 apareceu sua, primeira novela, "Fa- -- ces esc_ondidas". .... ,,.. , ' ·- • MADONA" - Salvador Dali ~ .. .,,; D n r n - r ,_ n - r a o n n -, o ~ o r n o n n r - - n n n n u u u u u u u . u u a uY u a u u u u w u u%.JF u u a u a TE, neste Estado) 1 RIO - "K,ap,utt" é umaJ expressão dia giria a.J,1emã, si'gnli:ticand'O "tiudo está que◄ •t ,., d '-> " prado" ou • uiuo per 1....0 • A~im como já allltes a.J..g,u◄ mas ~av:ras aliemãs - ''Weltbna.n&ehauung'' e ''l:lio:l– t.erland" - se t-Oll"lliaram jn– d,k,ipemsáwis ao mum<lo. as· $im "Ka,pwbt" conquêstou · re– centemenot-e diJI,e~too d~ cida– d'a,nia em todas as l.i,n,goos da Europa. "Kapu,iet" é a pala,.. Vl:G que os allemiíes cootu. 1nam res,'PQ'l1(i'e:r aos soldados ali!a>d!:s de qual~~ lí,ngua e– de g,uo:lquer i;n,am ideoló• gi!co. "Kapu<ti" é, p<)t' ass<im dizer, a "WeJ,ta<r1rohauwig"· do "Hlll;uter,1-an~• da D>O\Sm ci. vilãiza~ão. A Eu,1:opa dle hoje e.l!'l,á "k a putt". j KAPUTT t3;rnbé.m. é o tí– tulio de um lJviro qu~ agora ccmre mUl!l!do; !!GCrj/to em lín– gua itali.am ,o. raas eom espi– r-1to tão CÇ)ôllTlOpOlfrta_ que a: tradn.tção fr~sa -já $e to.r– n.O'U di:vul~ima. Nia Eu◄ rópa, me dizem, too'<> mundo lê o liwo. Na América, não. Contesiro que só um air.ti; go eon "Teinips Modernes", a re– v.ista .inreve.reme ~ Sartre, me chamou a. a,tienção _pa-ra a existênc:ita da obra. KAPUTT pa,rece-se oom u-m daqueles víoioo a (lúe t od'Os se sia~– ficam e q1t1e ~ con– fessa - ·"uin. m<a!I.IIVais ti.eu · qu'on n'aV'OIU,e pas". E' uan 11,vr-0_ 1111fssimo assí rn- ·como são, cla,tl<l;les! .mam.en< te, certas ediições pot'llrog:rátfi,cas, mas merece ser lido. Sempre sabia= que C,ua:– zio MaJ~rte é UJlll na,paz dia mul4o ial'ernto, de mu.ito ta– Looito mesmo. E' pa,ecioo .i,n– sk,tir nes.te pocuto, poirqu e fa - cillia a apr-eciàção obj'Et iva CHI obra d~ um esctj,I oa.- ainti.- . pático. Conforme B enda, a i.ntel 1 igência é a rap.acidado d-e comiPJ:~rnder as oo-iis'as que nos são antipáticas. E o leil~.r imel•ige-nte apreciará até nas obras ·era fase faS<!ú.– ta d-e Owrzio :rvraaapa,rt.e, o tal~llfto megável do autor. Sa11i;ue e Ev:viva Ja Morte, voLU!Ihes d<e c011,'boo, impressões de via.gens, notas, co.roo,nitá– rios, são lii.=os dleiflestávem, cheios de hoo-a·ores ar,U&ial• mienote arcum'U.lladloo, mort~, sa,d:i=<JIS, estupr.os, gar.gallha– da.s • his>ié-r-icas ..:. palrec&m produ~ ffi0ll5'WUIOSOO de ' uinia Tuoo.g!1110.~ã10 mórb!ida. Mas não é tan,to assim. Cuir. zio Ma,1a~,te é um jornalie~ ta talenit0<90, fixando a situa. . (~ n.tinuo no l.ª pog.) --------------=~--~------------,------- ,___..._ _,,.___________,..___..,...___________;,....___,_____ . k não ser em cas<>s excep– ~ onais de geniel!ida.<l~, oo de e xi9t:ên>eia que dão logo mui– to cedo toda a medi.da e to– d 'O o res.ull<ta<lo de suas poo:si– b rndades p.<>irq~e vão ser oor– l!adas prem,a;tl!INlmente . pelo .. destino, o romanice é um gê– nar-0 de maturida~. No cen· tro de t odos os &:t,riibUJtos, q u,e exige do autoir, encontra-se a experiência vi~a1, C()II}qui1Sta– da pe-la cOlltemG )ilaç.ão ou pe– la ação, m,as de qualquer mo. do só valiosa com o ~o. Está claro que é ~.recí$o ter vi v i d o bastam.e, em gufl.lque-r sentiK;lo, pa.ra da'r ~ii!!a M>S oores de fi~ã<>. E tL>enhum •exemplo mais illus, lirativo a êste r.espeM-0 do l}OO o . de Machado de AS19is; quando já ésorevia orônli.cas JORNA l, DE CRITICA. e e~ios de sWp,erior quali– iriade, a su-a. tilol;ão era adnda·· póuco OM'8.Cterístiica; e se . houvesse mot1r,ido pooco an– ~ dos qua.rmta anos, teria çei,xllido lJ(ln;a obDa mifl>díoé're como r-0ma,n,cista . Os roman– res de aiwtcn,es j o.vell$, qllil te.niho ndlo nétes klm,g-0\s e j á c~os an.9s ae critica _lit.E!l',/lll"i>a, <lOlllfiirmam ger.a.1- m-ente e6ta oboorvaçã-0. E . se a recordo ma'is uana vez é menos. paira dimiÍJlJUi~ROs do ~ que para a,nirn.á-loo, su,g:,erin– do-Jh-es que tomem -0s seus r.&mances não com.o ol:»'iÍs defiln:ilti.va. s, mas como esibo- 900, ex-e!Itjcios, instr,uimen~ de ap.~. PM-a aque– les que não dJésani,mam, que nã-0 . colocam a 1,)11,tun-al v,ai. . < d1adle e -0 deseJo de S'OOel';\So imecMa.to acimliai da conooiên• cia arj;ísij,ca, ~ ~eirytativll,S de jiw-eintlUde l)OJiem ~ -~- . . ,- i 111UlnCi<>$ de ai.ltênltjcas O'bro.s de tiioção nQ peu,ioiclo dia roa– tu:riiJd'a&e. E é com êst·e pen- ALVARO LlNS -·.,- vai briansm;i,ti•r a. iu!l,e,gu:a es– ' truJtll'ra de uma obra de fie· .., .~ão. As ~uas prime,i>ras pági– nas, em' qu,ase tod:o o ca,pftu– lo j,u,ieial, são fories, illlte,nsas, não de todo preprurados pair~ sugeri!!ldo a s.e,giuran~ das a. filcção. (1) :tJ.e ooolS!!lruiu o que e,;presen,oo,m <>s el-emen.t,os Íiwo muito Il 'lla.is com os 'seus pmnoipais ·de um J)rl)bliema (F.speelal pua a FÓLHA DO NORTE, neste !Estai!o} s:a.n ;iien.to que reuno n;esta crô– ni,c,a aJgualS esnreanites em ma.beria de fiicção. O p,rümei– ro del'e.E!, o sr; Lêd'o Ivo, e a. mai11 briillha.nte e ca•ractex~– tica fi~a de. poeia dia nova ge,raçâ<o, se.ndo além di.i6so um dlOO nOEoos melho,res oro. nlielas do momen.to . Coriltiu– àfo, o se,u r oinla~ d,e estreia, As alianças, apresénta todas 86 va.cila;çóes e in<h."lrlle:zas, todas ás def.í,ci~ci'ls de téc– nica e de for.ma , toda.s as i:n– swfJ;eiê-ncias de m.a:t!erial r-0-· ma~-eooo dos joveoo ainda ' •. ~ . . el,e,meooos díe J)OOta _e c'.r~~,- com a promeasa d e qde nos ta do q'lle com oo seus poo- O!fereoerá ·em seg:u,;da. t.oda11 si,vlrus e ainda secriet·os re- as tals!es do seú deseruv-0lvi- ~1.: ' curisoo de romanfb,t&. De m-0- ment-o. E que problie.ma se- do que, con~ embora al- ria &te? O da inlfâalcia, o gutÍnas página s exoelelJlltes, ún.iico que o sr. Lêdo Ivo de– quaoo,o tomadas isolladlamen- mWlíSl!;m estar no momento te, o 1·oma.noe ce.i, em con- em oondii,ções de d,orniinaT jtliri:to, no; tenreniQ d:as obras oom o senJtlí!ment-0 e a fo.tma imperfeitas e in.:u:a.bad~~- (la aTrte l~áinm. Qs trech.os A pr.i:olcia>,io o sr. Lêd-o Ivo •mais COll.!lilàe4'áveis de As chega a la,nça1r n o eS[)Íil"1to do .. alianças. são a,q,ueles de re~ leitor a eSJ1)-e%nça de CJ/\.~e- nw C0tDLW,t'\.Ui•çã1t dei episód~'OS o ·t1en\saçqes da iinl!âlllCia. E não só os d iÍs pr.úrn'ei!Nls página:s; mesmo dep-0-is, q:u.allldo o r o.• n1a,nce já se acha perdido, i,iluidia ·nos i.nlt,ereE\Slarol()6 po,r ' êle, na a,l,\;1,ura àa página 107, d eside q-u,e vo,l!ta a e5158s :re– n11:1n1iisic'ên,cias: ~. ~sde o ~lll'l,dO oapÍltlllo~. o $', Lêdo Ivo vai peo,,d,ewo o conl'úl'-ôloe e a dir,eçã.o do sew.l'i~ vro. Ai é\!Pa.r'ece umra. cen~ :Je namoro, que é de uma ba• , nalída<lie e o ns t r a,n,gedora, P,ereebe-se que · a con15;1Jruç~ci ..do ron118n<:e está s,e pro<:€.s– sando a1'bi:f.ici,a.Jnnen1e; com a jju61Lapo&l,ção fooçad-a de pe– daços a,mõ,pomos. sem un·:da- . . . d!e e sem v1da, iivtetioi'. .:Per· sona.gens e epj;sódlos, soltos ai _fl'Ulfiu:a;m c-0tmo· se. OOES•"l:11 desitimad0s a~s a em.eh '!l' espaço. T·oima-se d.'epio,is evi'" -dlenltie uma espécie de can- , .,._ ,,_ ~- sa.Ç-0 no r:tw.uO. '"'"' l)Q,rll'Q·.lVa i esta passa a. ser ap1-es-el111:ada em qUJltdll.'IOIS,, como lllffi'ahjoo de CO!lll~áo, O q\1,e é l1IUl.1I (~G IIG l. 0 . J>Gsinol
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