Folha do Norte: Suplemento, Arte, Literatura - 1947
• \ ' .. • • 1 . ... • • .,. 1 • . • • • . - $AO PAULO - Estamos !lalvez habituados dem.0:is à isabedoria dos :rom,anc-lstas europeus que se va-l~am dos ensinamentos da psica– nálise e o fizeram com grande perícia e e~cepci~– :nal cuidado da verdade ci– entífica, para não nos s~n- tirmos um pouco decepc10- . n·a•dos com o último livro Dom.ingo, 2 -de novembro ·de grande sünplicidaôe que !Procurou àtin,gir, à ma– neira de um Graciliano Ra– mos, não , foi sempre alcan– ça-da. Em. certos trechos, os melhores aliás, voltou ao pitorêsco. Noutros caiu na v,i1;gaTidade de descrições -e ia-notações qu~ não se, compreendem em persona– gein de sensibilidade pato• lógica como Julio. Assim, quande ,descreve o· noivo <le Isidora, seu rival, e seu maior 6-<;iio, apenas encon– t ra frases co,mo eSté!,S; "l-Sl• dora gostava, ia casar-se pQa:'que gostava mesmo da~ quele .homem magro". . . "o mesmo homem, tímido e triste, que continu.=:va a olhar para Isi·d:ora com seus olhos me<lros◊s e vagos" .•• "os olhos miú<los do noivo, aquela alegria de besta, mé alucinavam". . . etc., fxa– ses que além de incolores, se contradizem muitas ve~ ide J osé Lins do Rego (Eu- . ----·----------------------------------- iri<lice - .Livrarja José _ úLTIMOS LIVROS 1947 Diretor-: PAULO M.AltANBAO HUM,, 49 O lympio, ed., Rio, 1947). . . · E ' preciso, por certo, louv!1r 0 tentativa de renovaçao do escritor nordestin•o', 1nas a tarefa era árduà, dada a po; sibilidade de um para– lelo com as produções da literatura unJ.versal em que êsse método tem sido ulti– ma-mente empregado com excesso. Exigente de sólida eultura psicológ\ca,, e, por conseguinte, tambem filo– sófica. , o romance. psica~a– ~ftico chegou na Europa co– ~ o um aprofundamento do !romance psicológico que já alcançara o a-po,geu nos imergulhos analíticos de Proust. Por outro lado, nu-– :ma sociedade doente, trau– matizada por várias guer– ll'as o novo método se apre– sen'tava como indispensável à compreensão em prgfun– õi<lade de contra<lições que e . psicolog-ia clássica não podia explicar. Entre nós, entretanto, o romance de análise não dera ainda o que podia dar e o que te– lI'ia ta,lvez dado se não ti– vessemas saltado essa eta– iPa para nos jogarmos, sem dúvida, em virtude dos mo– vimentos político-sociais, no !romance soci-ol6gico e no II'omance de ~s~. liQuve, as– sim, U-~a solução _d.e co~– lfinuidade na evoJu,ção da técnica do nosso romance, ida qual de,correra-m. um en– riquecimento _poético e um ~mpobreeimento artístico ' e ' lld-terál'i.o. · Não há negar • • que desde algum tempe se entretanto muito p ródigo de problemas humanos uni• versais. Por isso· mesmo, saber contar era qu~lidade bastante para torn-ar céle– bre um escritor. Não se pe– día ao roma-ncjsta u.m pro– cesso de aproximação psi– cológica requintado, nem se lhe solicitava úma gran– de cultura ger.al . O roman:– ce era uma espécie d.e PQe– ma em prosa, o ma,is das vezes nm ABC em que ~ abundavam as emoçoes, o que tornava prescindíveis senão impQssiveis, as an~li– ses tanto quanto as arquite– turas demasiado comple• xas. José Lins do Re,go lall,– ça-se agora, a-pós ter ass,u– mido a lid,era"nça do roman– ce d-e narrativa <lireta, na aventura <le ficção cotn a•li– cerce cultural e técm.ic- a su– til. Seu novo livro ressente– se- da mu<lança . repenti,7:a do rumo sem preparaçao adequa<la. Em suma, sain– do do, caso ~~ereto de ; - -- SÉRGIO MILLIET - - -· . • Copyright :E.S.J., com exclusividade pua a FOLHA DO NORTE, neste Eslado-) · te.nte-s ou mal co•m-proend:– das. Noêmia, élistan:te de nós, viye uma tra,gédia sem relêvo. Isído,Ta, a irn1ã que deveria ressaltJ.r, re– simples dbservação, viu-se séria" e de :repente, ' sem costada sôbre O fundo an- o romancisti. forçado a re- que nada tenha ocorrido,- se gustiado do dra"ina, não solver dois problemas: um v-er dono <l'e casas em Nite- passa de um fantasma, 0 psicológico, a que 'foi dada ;roí, e -ápólices que "pelo que ta•mbém ocorre com a solução algo esquemática, ·e que dizia Laura (eram) uma mãe do heroi. Quanto a Eu– outro de transplantação de fortu_n_a", Ju~io 1 o her_ói, é rí<lice, a fixa_ção do com– amb~ente, do nordeste para uma figura v1va na sua an- plexo, se por, u,m lado se o Rio, que me par~ce ter gúst~a patológÍca, na, · ob- . apresenta suficientemente sido be~. comp~éen11•_d.?- , c~s~ao que o leva ao ~ssas- vaga par.a que permaneça A ai;ial1se ps1canalitJca e . s1n10. Da mesma fo:rma o um símbolo e não uma cria– s,uma:z-ja, rudi,mentar _m~s,- vel~o Campos c~ril _suas _g<!-- tura d,e carne e osso, por mo, Ja pela explanaç_ao 1n- bolices, sua eleganc1_a cuida- outro vem eiva-da de por– suficiente do proce.Gso de da dema-is, seu linguajar menores realistas nem sem– fix;ação do comple-xo de boêmio, sua moral caracte- pre muito felizes. Essa mu– EdLpo, que constitui o mo- ristica, retrata bem uma lher aipa.ixon-ada por Faria tivo central do livro, já !)e- fau.na quase extinta, que to- entrega-se sem a menor lo grosseiro tratamento das dos conhecemos e era, pre- resistência a Julio num m-0- personagens em ~e~al e das .cfso - fi-xar. MeD;os expres- mento de decepção, para personagens fem1n1r,as em s1vo nos poucos traços do depois voltar a tornaT-se especial. desenho é Faria,, -o estu<lan- inacessivel e distanciar-se A'f!es~; de · algumas in- te_i1;tegr~lista e . mais im- dele _em sucessivas fugas coerenc1a,s, como por exem- pr eciso ainda Jaime, o re- que sao na realidade so– plo o fato de vir ao mundo volucionário. luções masculinas e nã~ fe• "numa casa de comercian,- ·As mu•lhe~lrf~ exce- n1ininas. Quanto áo ·estilo te de pa;pe~aria que,ª 11::á ção de D . ~legari-a-~ da d_o- Jo_s~ Lins do Rego t~m es~ sorte r.eduzira quase a mi- na da pensao, saiJ 1n«>ns1s.- crrto cpisas melhores. A -- ~ ....... -- - , zes. • i Com todos êsses d-efeitos, o livro lê-sé de principio a · fim éom interêsse. E' que J ooé _Lins do Rego, i:Omo J org-é Amado, e sem o de– sagradável pecado da "ori- · en-ta~ã:o"- ideol.ógica, sa:be conta,r, sabe dosar a en10- ção de. modo a preocupar o leitor, -a manter viva a curiosi<lade pela an~ota. O partido qµe ti,ra das me– nores ocorrências é espan– toso, e, com uma intuição : admirável, consegue, em poucas linhas, às vezes, és– boçar um quadro sugestivo, que vale -a mais pr.ofunda análise. Veja-se o fim de Eurídice, a cena do assassi– nio: "E pr,ocu1·ei a bôca que fugia, _ q,;Je gritava, e. a-os poucvs tudo foi fican- , _-Vem observando, principal- , 'mente entre os mais jovens ["<estou pensando ém Clari• ce, Lisp~tor, Luc,ia Cardo- 1-so, Fernando Sabino, Ado– lnias Filho, 'Julieta Drum• 1 lnond de Andrade} uma t;reação interessante contra . - (E&pecial _para a , _OLHA DO NORTE} do em silêncio pesado. As– minhas l:r:\,áos largaram o pescoço quente de Euri'.di– ce. E ela estava esfendi.ãa com-o na minha G:a1tn~. ·o ,cor:po quase nú na terra fria. E não ®nti mais nen– hum cheir9 de seu corpo". Uma poesia forte, ainda o realismo, ,ou o pseudo [ realismo do romance . dos > - . homens da geraçao de 30. : N'enhum dos r.oma?}cistas ·'11.çatados (sa,lvo Graciliano ' ' . Ramoo) havia tentado, po- irém. sair da contemplação ide seu peqt4eno mundo pi:o– v.incia1110, de · sabor fololóri– <:o às vezes, rico não raro ide caracter;.es regionais e mesmo naciona•is, nunca -~ j l>'l - ~§:~ ~ - J~i ~ ' . .. ~- -~ ..«1;-:,e, • .,, . • '"'P' - Voltarémos ·às tuas mãos um dia numa ho:ra de absoluta liberdade E a ti entregaremos até ,a roupa humilde e os' sapatos úmidos- de chuyã"'\ Sentiremos nisso a sedução estranha já experimentada em sentidos .opostos. Voltar~mos às tuas mãos como se de repente numa noite fµgissemos sem destino, Nesse retôrno às túas mãos conheceremos o impossível prazer do retôrno às origens, ~ ·sentiremos ao calor de teu. fogo ao redor dos sonhos o calor de te~ prof1:1ndôs olhos., · que rudimeDSar na sua es– sência, e sem matizes, do• mip~ o te ,x.to sóbrio, Jjmpo, dêsse fini <le t rag.édia. L\. última à:notação \>rincipal• mente é cheia de sent~do, marca.ndo, como marca, a libertação do recalque. O 'com.plexo incestuoso que não. pó(le ser súblimado :no amor por Eu,ridice encontra s~a solução na elimina'çao ÔQ objeto da transfcrênc,ia,, o que acar11eta a punição pr-0-0urada in.conscientemenr· ,, Um dia voltaremos às tuas mãos e nessa volta haverá o gosto das fugas e c;las. evasões para . - - - .. ' E poderemos caminhar comó crianças sô}?re a Diarite 40s ventos e das tempestades.' / relva fria ' · "' jnós mesmos P,AULO -PLINIO ABREU (Conmuo no 3. 0 pog.) . ~=.,,,.,.,,,-· ·~~- ., , ~ ·- :-:':~: -=-·«; 'S\:<> .(&::,.:.~4 ~ «' ::s•1/.{• -. ~-<!*. -~iiit, ·~~- . ~~ ... , .. • •.:,~'( X ~ãU- ·))~i; ~¾):-: . X: ' ~~ ~i~~~ ~ ~ ' ,;. -: .:: A. quase .mór:ta face Enire ventos batidà ' Sob um; de violetas, Amargo crepúsculo. O ,olhar busca esperança - Pássaro fugidio · No bico levando .. Retalho de aurora. Não há pouso na estrela distanie.. Sôbre o adormecido lago Como em pupila de cego Desce a treva. A morte vem, 1 Egressa dos bosques e das gr·uras.. - ~ . Entre árvores-se esgueirando~ - A lâmina d,o vento \ Corta o asmático gemido. d olhar porém des-cobre o 'rastro da manh.~ Límpida manhã por onde seguirei t 1 •J ' 1 •1 '~!,(]- . ..,.~.~·,9< "'' -ll;-,:~ ❖ •• ~ ,: .. ~l-}«i: . ~ . ~~:,.:,:,~ :, . .... w..;..,~ .•: . :,,.,,-sw✓.,.,:: • •• & :5f.,;-,:,,✓,:~z:s t* '-:',"fil~~~~ !-'' ;,-]~~f . . •"W,:-·,w . .~?".W.< ·. ·w: -~~?.%~·- ;,::i~. *ft ij':'~.::" • '!": :,.,:« , '-'/. ;, • -~1-;.:>, ..... " -~· %:~ x· .· :-.;~:f;~~J?.~ -:~- . -~':1"-::.:t:·. ,:. . •. ~~- .· ~-- ' ·.»,,vm -~:&:~-<- . ,•. 1 ' •x,-.•;-. ' • • < ; ,::.YJ.:<:. • ,x..:❖:;,.._.., ~.(' • ,:.:, •❖ •• •• -.:,~>:.•;,,,'-:-., --~ . M~ @ . -~V-@i"':0'.::~:. ¾-.x• X .~:?!~ >¾:'")'-' ,;.;..s,,: '-:- , • , . ..~·,:,.,-,, ~., ~ ·-·- _ ...·~:'".. ::,,O,~:,; •· ., •'x "' ••, :,; -~~:;:-~-i'-;~,. . · ·~ ❖, .,ffe ... .x:$;;:~~ .;=~:s:,~~~~ f'ij1~~íti{[ · ;11'-F.w; ■. : w,.·'~ltm-~@%7'*-m· -"'•;~ ,~•:• ':): •....., ~ • •L»x ' ••~ --V~, ,.. •· ~~8 •··· . . ,.,w .~m,se.-. ,,t, ,. o,.-,;:,.,Oo•g·" ,. ·,,>oS,:<;,:,~i-. ~:::,;:,,.~~x~~· · ·::."X(>>!:w.ã"·· ~-@-it%t\~~~~1.W:r%:ii :-' .. ' · ,~:;~~-: . ., 1 Levando folhas verdes na· mão. :~ . ~.;.."<x,,~❖--'"(~•❖-.- ½ ., • "~•AV._,I ' , :;.~:m ·. ·~:-:::~~~=---.r•l@:~:.:-#1'· . . : ...\~ . .>~· .. ····~t::i. ~/2'.r~-ly, ~~-::;.❖ ~»'xiW,~~... ~. ->-.~t :-:i~....:~., .• P-ij-x:.::::.:...::.:.:~ w::-S:«.❖~- ·,e ~3: j •;,.~ • :-::-~ ..........,),. •!'(i:õS~- ;:m ¾-✓✓• -,,..'5(,.y, .... ~~«;•.;,-,:..;: ::::,:· »:-;;,:,'.,' =-l!",; :&')~' t~· ,.,i; .. :'*~❖~.;,~"":;'l%.\@.~ ··" ... ~~;.W~~-=:.,t~·:, ... : ... ,:x·.~t«.w.~~.;4. ·~ ~'<,~~~- •)~ ....-~': ...~--:~ «OM~'"'·" ' 1 A. GUIGNARD - Visto pt1r Augusto Rod__rlgues . ' X::::~,,;.:::::.-<::::,.-<::::,.<::::,, ' . Rubem Braga - Vi-sto por Augusto Rodrigues -- - - - - - - - - - - - fl ,
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