Folha do Norte: Suplemento, Arte, Literatura - 1947

• ~ ' ,_ ,. r ~.:• ~ ·, . .... ,· '"; ,- • • .. • • STENDENDO-SE pelos la<fõi ê!o êemltirio ,.-r-;- -~ - .A POLI N NAIR E 'C' A casá dos ~ortps emoldurava-o !ºma Jml· c:Ia~;- · · .L.;, N. . .. . _ ._ ..:a . _ ... - , (no (Traduçio de Carlos Drummond de Andrade) o 1n1e.r1or """' suas· v ..... rmas- , · · Respondendo-sé Como n a ,;nontanha Se.melhantes às das casas da m.ode. Em vez de sorrirem de pé . . ..... Manequins faziam careta p~ a eternidade · Chegado a . Munich havia quinice oU -,.inte dia• Eu enir.!ll:a.pela primeltf ves • por ãcaso / ~o cenute,r10 quase deserta _:.r E baiia dentes Diante de toda essa burguesia E 'xposta e veslida ~ melhOt' ·posaivel E~pera)!do se.p'ultura ' Sub ifo . 'Rápido tal a memória :Reacenderam-se os olhos • Na cidade Pouco a pouco ~osso grupo diminulà E. no,s di~iamos , • CON ,VITE ('Especlàl l)U8. a FOLHA DO HORTB) \ Fiquemos aqui em frente ao mor esta ~oite! ' . • D e célula vidrada em célula vidrada O céu povoou- se 'de um apocalipse ' "' Vivaz Nãc, fost e o mar, não fosse~ noite, não fosse aqui e outro, bem outro, serio o meu convite a t i. r E ,a terra chata ao infinito Como antes de Galileu Cc>briu-se de mil mitologias imóveis tJm anjo de diamante :rompeu as vitrinas E os mortos chegaram-se a mim C9m cara do outro mundo Mas se-qs rostos e atitudes l,pgo se tornaram: menos fúnelfres Céu e terra perderam · O aspéctõ fantasmagórico Os mor tos se rejubilaram. · Vendo en t re eles e a luz seus corpos defuntos :Riam da própri a sombra e observavam-na ,Como se realmente . E'ôsse a vida passada ' Confei-o.s então -. Eram quarenta e nove homens M,ulhere.s e crillnçp.s .. -,,.._ Que a olhos vistos licavam mais belos é me fi'talám agóra -Com tamanha cordialidadé Tamariha t~rnura mesmo 'Que de :r,epebt.e Fiquei amigo deles , ' Convi4ei-os para um passeio Longe .das ar cadas daguela casa E todos de braços dados– Trauteando árias militares Sim vci;sos pecados foram perdoados Deixamos .. o cemitério . Atraves samos a cidade Encontrando aqui' e ali _ 'Amigos parentes que se ju~avam. ' Ao grupo dos mortos recente:– Todos tão alegres T ã o encantadores tão bem dispostos Oue espé:rto seria quem lograsse Distinguir entre niorto e vivo Depois no campo Dispersam o-nos • I • Dois soldados de cavalaria, ligeira juntaram-se a n6s_ R e cebidos com e.fusão Cortaram ri'-mOs de briônia E sabugueiro Para fazer apitos O ue distribuíram c<>m as crianças • Mais t arde num baile campestre P áres de . mãos nos ombrcs D ançavam a o som ásper o das citaras . r Não tinham esquecido a dança Aqueles m ortos e mort as -Bebia -se também E de tempos em tempos um sino E o inseto noturno A l uz E' tarde R espondia B viva • Estr angula, estrangula êst e amor proibido Sou casada :Re.para o an.eI como bril ha ;Minhas mãos t remem . E st cu chorando, quisera morrer ~ s barcos t inham. chegado A um ponto onde os cavalarianos ' ., Sabiam q ue um· éco r espond ia da margem N ão nos cansávamo s de int errogá -lo Houve perguntas t ão extravagantes E respostas de tal jeit o a p ropr iadas Que era de morrer de r iso E o morto dizia à viva N ós dois seriamos t ão f elizes Sobre nós a água se f echará Mas tu choras tuas mãos t r em em •N enhum de nós regressará ~ Alcançamos a terra e já qe volt a Os amorosos se en1reamavam ' . E pares de b elas b ocas C aminhavam ~ dist âncias desigµ ais Os mcrt os tinham escolhido VÍ'IU)S E os vivos • • • Bem -sei qué a Y-ido lá long.e ninguj?m a defem : Ela passa . Imperceptivelmente passa . Mos que importa o ti, que importo, a nós a v~do lá longe? Elo aqui nem siquer escoa . Pára. Fiquemos aqui em frente· ao mar esta noite! ALUIZIO M6DEIROS • DE POESIA (Conclusão da l-.ª .pag.J E ncon tro n'esses versó'S um e, no caso de poeta minei.ro , ritmo singular: ·o ritmo do alguém p assasse, i;iuma rua , angustiado coração do h-0mem por um g rupo de homens de moderno, que já ?)cão _pode aspect os difér,entes, e, ~e{Í1 ·ba.tet somente · pelos casos ,do n enhum indicio exterior gri- seu. mundó h; terior, da sua tant.e. descob:ri.sse , entre êles, amada, da· suá fa-milia, dos um homem q ue sofre. Qu.e . amigos mais pi'Ç>ximàs. tn/U revelação! Ao contrári o dos tem de di'lat,ar o ·com"pat so de homens do hospital, êsse ho- sua marcha. pulsando s iilcrô– mem ' não se a cha,va em nicamente com a vfda coleti– neutiu.ma- p a-rte ond.e o soi'.ri- va. com todo un i mundo em mentó seja a norma:. onde o ebJJlição e dissolução: -paxa b s afrimento se -a grava a té, , às surgir de um riovo mundo. Só v e11es, por ef_eíto de contágio. aqú-el e que se ap r oxima de Nao. lj:le esta:Va na rua, con. D.,t'\lmmond, no senti r pQde fundido numa turba Alegre, apr~~der o i;ít,mo e o co.nteú– ávida o·u f rivola; µão ouvia ·4-0 d~ses versos: lid-os por gemidos em derredor de s i; Ull) antípoda. êles são p r osai– nenhuma presença q ue . lhe cos, a'l'rastados, sem vivàcida. e vocasse de perto a dor. Gos. de,. E arr asta.dos são. con:i t aria de sorrir, porque · afinal efeito: sinto nêles qualquer de cootás a vida, . • Mas o ho-• .coisa de um coração a a rfàr. m em traz consigo uma in - Algo e;ciste de penoso rtá ca– q uietação: arrependiment o ou dência de ca da um dêles· as r emorso. d úvida ou receio, palavras, sêcas e nuas cimi– ódio insaciado, .uma letra a nham sem vontade até ó fim vencer ou a procura inútil de de cada ve-rso. Mas ai res-ide um coração rebelde. E dese. seguramente, a beleza do poe~ nha-se-lhe no r os to 'um r icto ma: êsse ritmo ansiado e len– de amargura. e v inca-lhe a to é o rítmo do coração car– tes ta , uma ruga aflita e o tegado da angústia universal ol:har adquire um tom fixo . .. do coração dist.ante daquelé Aflora.lhe uma lágrima aos tempo em que "Clara passea– olhos, e êle contém-se: engole va. no jardim com as criaií– o pranto, tenta refrear , o s-0- ças". em que "as crianças luço, que termina por sair. olhavam para o céu . . . Não estrangulado. Há ness_e ~ - era p roibido!"; élaqu,ele tem– t rangular de um sol uço .um po em q ue "havia -jardins ha 1;11undo i nteiro de ' poesia - yia manh_ãs" . ' aspe-ra e humana poesia, feita Não é, pois de espantar, de incompreensões. d·e cala- êsse 1·Jtmo arfan te. Não é de d!>s d~sejos, de fundas renún. espantar, porque c1as 1nconfessadas. de sofr i- mento pela dor do ·mundo. "meu ooração é muito pe. Os versos não· r imam; -0 ritmo' [queno. - se r í tmo existe - é duro, • . • . . • . . . • . . • . . . . . . . • .. • it'asga nte, de mart,eJar os ou- v idos. Mas é assim mesmo: · Tu· sabes como é grande o [mundo.. esta é a maneira peculiar de expressão . dêsse poeta. Essa tal vez ausência de ritmo é o s eu r itmo. Ouçâmo-lo. aten– tos, para ente,1dê-lo: "Trabalhas sem alegr ia para [um m unclo caduco, em que as formas e as ações não encerram nenhum exem. [pio. Praticas Jabo1·iosamente os . [gestos tuiiyersais, s entes calor e frio, fal ta de dinheiro. fome e desejo [se:,..,utl. H eróis enchem os pa rques da [çidade em que te arrastas, e preconizam a virl11de, a r e– núncia, o sangue frio, a co_n– [cepçao. . . . . . . . . . . . . . . . . . . ' • . . . .... Ama.s a. noite pelo poder de [ aruquilamento que encerra e sabes que, dormindo, os p roblemas te dispensam de [morrer . l\las o horrível despertar pro_ va a existência. ao n;iaqui- Conheces os navios que le– vam petr óleo e li vros, carne e [algodão. Viste as diferentes. cô·res dos · [ homeils, as diferentes dôres dos ho– • [mens, sabes com.o é difícil sofrer t udo isso. amontoar t ut1o ' [isso, num só peito de homero . .: [sem que êle estale". • Acontece, P,Orém. que às vezes - sob'retudo nos poe– más de J osé - Carlos Dru..'ll– mond de Andrade se volta. . ' para s1 mesmo, para seu pas- sado, para a infância morta para l tabira, aquela Itabità que hoj e "é apena,s uma fo– t ografia na parede" - e en– tão a s ua poesia se apresenta com os ''ve1hós ritmos os pró– prios ritmos dos poetas 1 que Orumn1ond leu em pequeno. que ouviu de seus pais, dos avós. dos irmãos, dos ctlnhc- cidos; . [nârio e te r epõe. pequenino. em · face de indecifráveis palmei. "E .a.gora, José? A festa acabou â luz apagou. • o pavo sumiu, a noite esfrio11, e agora . J osé ? • [ras. . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . 1 ,..;,,-- M,ii'!'ta .... s__ Coração or gulhoso. t ens p res– [sa em confessar tua derrot a e adiar pal·a outro século a. [felicidade coletiva.. ... - ... \ . .. . . . .. "' •• • • • • •• .. •,,. .- t.c. · .. im %-imbr_ D "'v<t idéia cle um fan!a~ma Crianças f <"ces ôcas L .nhavam. o ~r • AceitM a chuva, a, guerra., o iJesemprêgo e a injusta distri– [buição. porque não podes. sozinlto, dinamitar a ilha de Manha.t– [ tan' '. (Elegia 193,jf) Com a. chav·e na nião, q~er a~rit a por ta. nao existe poTta, quer morrer no mar, más o mar secou; quer ir par.a, Minas, Minas não há mai$ ! José. ~ agora ?" • -Í'>omingo. 12 de õülubrõ ae 1947' ~ J\,té já . Até 'amanhã "\ Até à v ista \ • Muitos entra,v,am ·em cervejaria.a Alguns nos deixaram Diaitte de um açougue canino Para comprar a refeição da noite 'Fiquei logo sózinho c:om os ntorlOI Oue iam em linha reta ~- ., Para o cemitério Onde Sob as arcadas ·: E~ os reeonhêcJ Deitados Imóveis Be.rn vestidos E sperando sepultura por trá s das TltrbiU Não desconfiavam Do que se :tinha p eJISlf,Óo Mas os vivos guardavam a lembrançJ Era uma inesperada felicidade E tão certa Que não tinham medo de perd~-la · Vi vi am t ão nobrem~nte Qµe' pessoas que ainda _na y-éspera Os consideravam como 1gua1s , E ' 'até menos do que isso ' Admiravam agóra Seu podério, seu g~nio, sua riqueza_ Pois haverá .nada que nps eléve mau; Do que ter amado um morto ou morta Fazemo-nos tão puros que chegamos Nas geleiras da memória A ·nos oonfundirmos com a leµ,.bJ:ança Sentimo-nos fo.rtaleeidos para à vida :E: j,á não p r ecisamos de ~in~é.m ~ . . Anurtci_ava que '!mjl nova p1i;,a ;· Sería aberta A morta sent ada num b~o Perto à moitá dea p ilriteiros Deixa"'ª que. o estudante Ajoelhadó -a seus pés Lhe .falasse em noivad9 ! 1 • . f Eu te c1s',peraiei Dez vinte anos se precito Tua vontade será- ·a I n:ünha . Eu te esperarei .__. ~- . . ,. Tua vida m teira }\-espondia a morta Crianças · Desté mundo t>u senão do oultct Cantavam essas r .c12das • • De palavr as absurdas e líricas Restos sém dúvida Dos mais antigos monumentos poéticos. Da humanidade O estudant_e coloca v m anel No- dêd9 âa moç~ morta o Eis a garantia de meu amor E nosso ncivado Nem o tempo nem a· ausência Nos farão esquecer nossas juras E um dia haverá uma l inda boda Tufos de mirto .. Em nossas roupas e nos t eus cabelot Na igreja um lindo serm ão Longos discursos epós o banguete Música Nossos filhos Diz a n oiva . Serão mai s lindos mais lindos ainda Ai! o a nel est a va quebr ado Do que se fôssem dE' o uro ou prata "-.._ Esmeralda iou diamante . 'Serão mais claros mais clarcs ainda Que os astros do finnament o A luz da auro.ra Que · t eus olhos m eu noivo E resoender'ão mais ainda ~ Ai '! o anel eslava· quebrado Que o lilás r ecem-aberto Que tomilho rosa ou raminho De alfazema ou de alecrim ' Os músicos iinham ido embora Ço)J.fin uamos passeando , ,À beira do l ago Divertimo-ncs f a.zendo r icochete Com pedras ch atas Na água apenas t rêmula Bar cos amarrados Numa e nsead& For am sol tos !>e.pois que todo mundo embarcou Al guns m ortos remavam Com vigor igual ao dos v ivos À prôa do ba rco que eu d irigia Um morto falava a uma jovem V fsti da de amarelo Corpete preto F i,:a azul e c:;hapéu oínza Com uma periinha amarrotadâ- Amo- te Dizia êl e Como o pombo ama a pomba • .. ' \ ,■ :a • • ' ..

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