Folha do Norte: Suplemento, Arte, Literatura - 1947

RIO· - Certa vez Mark ca,pa, um grupo ae retirantes T,vain :ro.mbou dos esforços com o cacto do djlserto no eruditos dos egiptólogos e as· fundo - assi.Jlá,do "SR." D.e– siriólogos. conta,ndo o caso de senho semelhante, de linhas uma éidad·ezinha norte-ame- mais suaves, distinguiu a ca– ricana. que sofrera muito pe- . pa de um romance de Raquel las •enchentes e s6 foi salva de Queiroz.; s6 por isso oS es. pell dedicação do prefeito tudiosos aventuraram a hipó- • Smith, construindo um dique: tese de atribuir essa obra de imortalizaram-lhe o nome. - força viril a u,ma escritora. inscrevendo-o numa placa co- Outra vez. "SR." pareci-a ter– m-emorativa na sala de sessões se servido. de um colaborador, do Conseiho ·Municipal. Dois só para fazer verdadeiro ciclo mil anos mais tarde imagina de obras sôbre a vida naque– Mark Twain, che~ariàm os ar. la região árida. Admiraram queólog-os de outro contine.nte particularmente a cha.rp.iné so– para meter-se nas rw~-as da- litária e melaneólica que sin· quela cidadezinha. No lixo tetiza "A Usina" . !',,las nesse descobrh•a,tQ uma pedra que- caso, a personalidade do "co~ brada com fra,gmentos de uma laboradõr", certo .fosé Lins do inscrição. e afinal · consegui· Rêgo, constittúu problema ram decifrar mais ou menos as complicado, até hoje não sa– frases incoerentes: · "Nos tem- tisfatortamente resolvido. E -o pos do _grande rei Smith... todo-poderoso "SR." conti– fogo caiu do céu.. . constru. nuou a "sintetizar" persona– indo canal de irrigação ... Ci. gens e paisagens dos mais di. dade salva". ferentes. os negrínhos e me- Es-creven-do e~s.a sáfii-a deli· ninos impossíveis do ~ordes– ciosa.. ó grande hum9rista não te de Jorg~ de Lima assim pensou na possibilidade de como os malandros e p'rosti– vários milha·res de anos mais tutas típica-mente cariocas. ca-· t.arde a;eontecer caso seme- nalbas engraçadas que povo– lhante em outra parte do con- am a imaginação lírica de tinente americano. Foi quan- l\1arques Rebelo. do, no ano de 9.000 da nossa butra vez. "SR." se reve. era, os arqueólogos começa. Jou através do personagem r~m a exoo.':'a-r as ~uinas do complexo qe ~raciliano- Ra– R10 de Janeiro. Entao dez-co- mos ao qua-1 for dado sonhar 'briram em certas cavernas de brutalidades terríveis, aµ– prova,velme,!lte d~dieedas ao g~1stias tremendas. _idíli<?5 tl~– culto de Sao Jose 111ttuerosas.. g1cos, produtos de 1mag1naçao fôlhas de pa.pel d• pés_sjma de um grande intele<:tual iso– qualidade. Com multa pa-eiên- lado no deserto; escreveu "ln· cia consegui'ra·m classificar as sônia", e logo "SR" desenhou páginas. reunindo.as em boa um relógio em meio da escu. ordem. Foram livros. Estu- ridão noturna. Os dois aSQec– .daram-se as capas para se .ve. tos da arte de "SR". o fol– rificar os ·nom·es dos· auto- clorico e o intelectual fun· res. O resultado foi surpreen- diram-se na -capa do "Amanu– dente: em todas as cápas se ênse Belmiro" a inteligência encontraram símbolos gráfi- de Ciro dos Anjos no meio cos, representando de manei• das loucuras de carnaval. O ra engenhosa o assunto da lado noturno da vida· sobres. ob'ra, e em baL"o Eempre o sai nas cenas fan.tásticas que mesmo bieroglifo misterioso: condensam obras· inteiras de "SR". Daí concluíram que to. Octávio de Faria. Lú-cio Car- ' das as obras da literatura- bra- doso e Adônias Filho; "SR" sileira, pele m-enos de deter. até conseguiu representar minada, ·época, foram ·escritas gràficamente "a noite resino. pelo• mesmo autor que se es- sa" •em c;i:ma do mar çle<co- 11 condeu atrás daquele simoo- nhe<:ido cte• Augusto Frederi• lo enigmático: SR. co Schmidt. E inte.i:pretar o Não há c~o igual na me- hermetismo do "vfsion<ário" ~ória dos tempos idos. l.Tma Murilo l\iendes. hteratura inteira. &éri.ta po'r •"SR" ·conhecia seus "colabo– u~ heniam s6? Surgiram dú. radores". .Rodeando de cora. v1das. Uma equ~pe de jovens ções. flechas, li-ras e nuvens arqueólogos esforçadas resol- algu,ns velhos versos de Ma– veu r.etomar o estudo daque- nuel Bandeira, re-velou o fun. }as folhas. E então-verificaram do l'Omântico na arte do gran– q~e o misterioso "SR." se ser• tle poeta moderno. Poucas li· v1ra de vários cola·boradores. nhas de simplicidade grega Por l!'n9uanto não foi poS"S'i- bas~avam-lhe para caracteri . vel distinguir ·nitidamente en - zar a "Ode e Elegia" de Ledo tr~ o. trabalho do per.rona;g·em Ivo. E nun.1a hora triunfal gue .1;>r1n~:1pal e o do,s outros7'Mas emergLra ôas trevas "SR" de– wpos-Sec a observação de que senhou a "Rosa do Povo" de os _éhama$fos colaboradores Carlos Drw:nmond d-e Andta– p-.recisavam de muitas pági- de. o grupo de populares em nas para desenvolver -as -idéias torno d-a rosa que desabrocha das respectiv~ ob'ras, enguan. •no asfalto da rua: a "santa to. "SR." c?nsegw:ra fintetizá~ rosa" do povo. las por melo de poucas linhas, Se os, arqueólogos do an-o umss luzes !! sombras. um de• da graça ou desgraça de 9.000 • e~o representativo. da n,oosa era tiv-essem sido •A_,1 estava a chave. permi- ma:ís perspicazes do que a es- ~-~ e:> estudo da lifer~tura pecializaçãó cientifica penni· • Otto .Maria Carpeaux. {COp}'%l!Jh1 E.S.l., com axclustvidade, neste Estadt>, para a • FOLHA DO NORTE! a,rtista por assim dizer, enc!· clo-pédico. Mas justamente al começara-m a. combater-se. en– tre os arque6logos. duas opl· oiões antagônicas. O· erudtto ,Professor Fulano, especiali5'ta por vocação. o qual até para dormir não ti– rava os antolhos, nã.o podia acreditar na existência de um a.rtisfia de capacidades tão maltiformes. Ev.ocou o exem– plo da questão.iiomérica. du– rante mais de dois mil anos a humanidade acreditara na existência de Homero, autor das duas· epopéias gregas, a~é a filologia ·moderna dest~u~r, enfi-m. a velha superstiçao personalista, d e m,fns!ra~d~ que a "Ilíada" e a Od1sse1a foram redigida.s por uma so– ciedade anônima de- poetas gregos. Da mesma maneira a obra do misterioso "SR" SJ– ria res1:1.ltado di. colaboraçao de muitos- individuos, de um "colectivo", talvez de · um "pendant" líterári_o-~rtístico da- lendária A.ssoc1açao Co– mercial do Rlo de Janeiro. A essa ni.póte's.e audaciosa i:es– pondeu com certa amargura EVASAO • Alpl1onE-US çle Gttimaraens Filho !Copyright E.S.l. , com exclusividade pata a ·FOLHA DO NORTE, neste Estado) BELO HORIZONTE - Um h8- seus pés a beleza. esmaga.da pe– bito de no~o t-empo) condenar la insensatez humana. Qual !1e• a evasão, mesmo como 6enti- les. dentro de ~uas cont1ngen- m ento. Mórbido é o gosto_ de cias. não terá sonhado, e se }?a• n a 1ma tido por um mundo men0$ 1n– sonhar países que ape as • justo menos trágico. menos 1g– ginaçao pres;;ente e .d~ que re- nóbi!'? A evasão, dentro dessa gressa, como o _perdigao da ,.re- . . 11· dond .l lha ca,mon 1 ana, com a pe- pos 1 .ção de permanente v_1g ia, J d é u1n momento, nada malS, A na do tormento". 'l:a vez se ., e- um artü,ta, ela será licita , por· ves-.,,e imprimir nas consclen• ã f - Cl ·as·. não é passivei sonhar. _Rei,... que da~ orma a emoçoes e sen– ld tin1entos que-se chocam conl!3- o ta-nos a face tormen,tosa e ar ª quotidiano e não só pressu_poem do mundo. Sôbre essa face, va- como denunciam a existência de mos construir. uma realrdade superior. Não inú• .Mas que poaemo 3 con 5t ruir? teis Citaras. Nem reiúgi<;>s be– :A1 níng_uein acode para nos (lar donistas. Mas aquela cidade eter– a chave do enigma. Nos 5 a,.s maos · 00 onde O espfri-to repour,a, sem se esfaceram contra muralhas qu~ aba.ndone o mundo, e o so– tnvisiveis. NOSSOS dedos .mode• fra, e por êle desespere. ou se 1am n-a carne amarga da '(Ida um ilumine. Poderiam constJtu!r-se sinal de esperança. Os homens d tod os t·s- se. a.rma - . para combater exér- em porta-voz e og ar l .,. tas os versos de ~agundes Va• citos mais inexistentes do q~e rela: os que vira o bom do Dom Qui– xote. Cada qual defe_nde a rea- ''Tornei-me um éco das trlste,:as lldade que os pés tocam e os [tôdas olhos, confirmam. E trabalbam que entre os homens achei!" todos por um mundo mell).or. E a arte devMá trabalhar sempre Transformar a arte, e tóda 3 por um mundo melho.r · arte, etn simples panfleto (_con- Eis ai em cima duas ~rase& correndo as.rim para extirpar que 11ão são apenas banais, O lnjustainente o g)ênero •panfle– mundo melhor foi sempre O s~- to... ) não será ape!)as reduz1r– nho de qualquer home~ consci- lhe as passibjlídades.· ~rá as– ente óU de qualquer artista ver- fixiá-la. Nenhum arttSta. por dadeiro. Po r geralmente ,na• mais individualista, iaJa • de SI daptado e inquieto, ao artiSla me-.mo: nele repercutem todos jamais faltou uma· definição di• os sofrimentos e e o m êles a ante da atmosfera .de seu tem- lncongTuência da vida. Evasão, po. Daí não ser nada mau que no sentido de evasiva ou subter– se coloque a questão ·e~ termas íú"iO. além de execrável, não. é menos írreduliveis. Nao creio po~vel a um autêntico artis1a. houves.>e artista ca}?áz_ d~ se E~e. em vez ·de pureza e ino– alhear do mundo. J;!le na.o e só- cência. encontra o mal em to– mente uma' esfinge que procu- <tos os seus aspectos ("falsita. ra decifrar-se, no jogo sempre la-dronecio e símon1a", já enu– perigoso e lnstllovel dos" elemen- merava o Dante no segundo clr– -tos: que ut,iliza. Não é o gue pro. cu!o do seu "Inferno"'...); en• cura a intimidade do nusténo e contra a negação da verdade reflui sempre para as margens que lhe segreda a arte; seu grl– do grande rio. dep0rs de se ter to não é -pois pessoal. mas cole– apoderado de algumas indica• tivo: tran~flgura o n1undo. in– ções para o seu roteiro. Esplrito funde-lhe a sua rró!)Tia s-êde de enl permanente ebulição, jamais eterno. de Incon taminado. de _ poderá, dentro das exigências ti- f.naug,1ral. Tudo se penetra de rânlcasc de sua arte, colocar-se estranha palpitação ao contacto em atitude superior, distante, de seus dedos. Repele qualquer olímpica. Mesmo porque_ ,,erá pretensa verdade, procur3ndo a sempre o. artista o que~mais •~- luz- que·· ju-sti.fioará sua ansiQSc3 frerá na própria carn.e a reah- perseguição de sombra-. fugidias. d-ad~. quase. sempre áspera, que Em verdade. para êle. "o mun– procurou tran'i>figurar e esclare- do. como e;xiste. oãe basta", tal cer na sua mensagem. como está nessa definição ex- Digamoa que o artista é aque- celente da posição do poeta. G e– le que apreende o Inefável ao neralizeiuos: da posicão de todo mesmo tempo que vê n1orrer a artl~t~. o não menos erua.-lto protes-- t d · sor Beltrano que us. ava mi· cfano., apresen: ai). o ao mun;. do cietlltífi.co descoberta ·sen• croscópios em v~z doo auto.. saciona-1: uma coleção dé o. da Criação". brincando no ·d t t -~.... lhos: as relações da Associa; b'ras, evi en emen. e escrr,..,... por autores diferentes. mas to• ção Comercial do Rio de Ja- das assinadas pelo misterioso neiro CO!ll a literatura cons- "SR". Chamava-se a coleção tituiriam problema complica- "Documentos Brasileiros". ·O do, ainda não perfeitamente estado de conser".ação dp.s· ca– esclare<:ido pela in_vestigação pas não era muito _sat.1sfat6- cientlfica.; a comparação de rfo. devido à qual1da-0e do "SR" com Hom-ero só se jus· papel de n1.odo .que se :-epe– tificaria com respeito a certas tiu 0 ' caso do "grande rei lutas homéricas dó artista, as. Smith" · no conte dE Mark sµnto ao qual êle, o professor, T,vaín: os estudio~os. ewocan◄ logo volt~ia; no· fundo , a oi>i· do O costume dos roman-ces nião absurda do a-dversário de datar os documentos con• ci.etitüi-co ,basear-se-ia no roes· fo.rme os nomes dos cônEules n10 êrro que pretendia atri· do ano atribuíram a coleção buir ãs obr.as d.e Shak~eare inteira' à "época de José ao filósofo Bacon. No ator de Olí'mpio", que teria side, "in Stratford não se admitia a ill<o tempore". 0 rei do Ri_o da plenitude de sabedoria. e co. Janeiro. Vários autdres da co. nheciment:os que as obra~ lhe leção podiam ser tdentiirca• revelam; e assim o especialis- dos: Lúcia Miguel Pereira. ta esh·eito não acreditava na biografando um poeta em 1:u– cultura do artista grafi'co. Mas jos veTSos a.parece um pas· Sha-kespeare foi ator-. poet,a e saro nütológi-co chamado "Sa. sábio ao mesmo tempo, ape- biá": Octávio Tarquink, di, sar das relações que o liga. s i u.sa que viveu, -conform? os ram à vlda comercial da sua documentos. no século XX. cidade e época: un1a pers,ona- embora alguns historiadores lidade bem de!Lnida . Côm tei.l:nem em inclw-lo e..otre aei ' 'SR" se daria. muito po~i vel- .grandes personalidades. d!I. mente. o mesmo. E o profes. época da Regência: Alvaro sor Beltrano chegou .a afirmar Lins conhecido nO'ii anais da que "SR" teria sido. antes de literátura como tt.íti co impie– n1a.is nada. um eminente p~n- doso, aí porém metido na his– tor cuja assinatu·ra se encon- tól'ia dos compromissos diplo. traria _até em certos livros sô- máticos; Gilberto Freyre. do– bre pintura brasileira, já en- no indiscutido da Casa Gran. contrados nas ruinas da ca- de da sociologia brasileira; pital arge.çtina. Tampouco te. At,onso Arinos de Me10' F'ran– ria ficado a.lheio ao teatro: c-0 índio mineiro que parti· durante vários féculos os ha- cL1;ou da Revolução francesa b ita,ntes da região não po- e provàvelmente de· ·mais ou.– di-a.m ouvix: o sínàl do "P.ron- tra-s revoluções; e Sé'rgio Bu• to Socorro" sem se lembra• arque de Holla-nda qu'e che– rem de uma decoi-ação· que gou a desenterrar as próprias "SR" pintara. par a "Vestido de raizes do· Brasil. Para todos Noiva" êsses au tores e obras. por Con:tundídos. os outros ar- mais dife·rentes que tenham queólogos pediram infonnação sido, criou "SR" o'• símbol<> quanto· às fontes dessas afir. ·comum que distingue, in,•a– mações. surpreendentes. En· riável e incenf11ndivelmente. tão. o professor Beltraso re· os volutrtes todos aa Coieçã<> velou seu método: em vez de de Documentos Brasileiros• decifrar pedras, colecionara Sí,mbolo de, significação pro– lendas. ftu1da e simplicidade surpre- Aquelas "lu.tas homéricas" ende11te: uma palmeira. A ár,-, refer:am-s.e ,aos esforços vito- vore típica cujas raízes se riosos de "S.R" para, c.riar uma confundem com as próprias escola de artes gráfi-cas. Ti- raízes do Brasil; a árvore que nha muitos alunos. dís-cí.pulos. deu sombra à Casa Grande d<> admirado·res. E tão profunda. senhor e à senzala ·dos escra. 111ente se gravara na memó- vos; a árvore que-. através das ria da gente que em tôrno da vici:zsitudes da história d<> sua 'personalidade inesqueci• Brasil, so1nbreou o cemitérfo vel ainda existem lendas. Ja- das derrotas e se hasteou. à11 zerido pa.rte do folclore das vezes. como bandei•ra da vi• populações que sobrevivem tória; a palmei-ra bem bt'asi◄ em meio da,S ruínas do Rio leira. as raizes na terr:a e a, de Janeiro. · coroa no alto. n'a região da Dêste modo. os arqueólogos poesia. conseguiram recon,;truir áque.· Na verdade, ''SR" não teria la personalidade de um itrtis- sido o autor da lite-ratura bta· ta f9,buloso de grand.e cultura silejra. tôda. mas, em deter~ literária. homem .que ignorava minada época, o condenssdor o uso de relógios. esquecendo- do seu espírito; ·a sua àrte é se sisten1àti•camente dos en- como. o denominador comum contros marcados, lembrando· ' das aspira.ções artísticas óa se porém sempre dos seus sua gera-cão. Embora sendo amigos. "Bom sujeito", como personalidade muito defi.nid~ so diz na ·girili, e muito mais não lhe convem assina'!" com do q 9"e isso, amigo pe'rfeito. nome que se encontra no re- Essa mistura encantadora de gJstro civil. Basta mesmo di• talento, inteligência. coração e zer "SR": também é um sím- - impontual!dade inspirou aos boi◊ do Brasil. · arqueólogos uma última dúvi- E não teria si-do preciso fo. da; tratar.se -.ia de um· perso. , lhear os arquivos do Insti tu• nagen1 sem1·mi tol6gico, de to Felix Pacheco nem do Mi• uma condensaçãÕ folclóriéa nistério do 'i'raballio pata co• dos traços característicos do nhecer.lhe o nome todo que "hon10 i:>rasiliensis". Nessa al· todos nós conhecê-mos: San- tura apareceu o professo; ~t ta Rosa. ..ras1-le1ra 'de uma épo~ re. te, a.í já teriam resolvido o Jnota. ~ arqueólogos não problema d.o gra:eyde autor des. eo!?s.egu,~ram ler a "Bagacei- conhecido. Pelo menos con· ra- rn_te1ra de José ~érico de cordariaI!}. agora. em . tratar– Alme1-da,. g"raças a certas dífi. se de um a.rtista pl_ástico de culdades do estilo; mas com- cultura literária. capaz de in– preenderam togo o sentido da. terpretar os mais difel'en.tes obra, a.través ão 'desenho na e.<:tilos e pe.rsonalidades. Um --· .. -- ------------------------------------ . Menin~s d~scalços, a~are. vontade de esbandalháT o pé ESCRITORES CEARENSES los, bai-r1gud111hos. Cal!.adas nas castanhas dos outros, de p~--m• •- • ,,. ,. . d d - b . b 1· b . d .. 'lh d • ,. --,...,._ r19Ca as. e carvao. •onecas e .1.sear a arJ"1ga o .w o e · · , . - Zé-zé, vá compr ar meu j'oi·nal ! -Fumo pra mim, seu Zé! em d~ enh.os: : disformes. · t~ d. Vitalin!I, e não atender ao . co.s de charutos, cha·rutão at>êl o da velha. Ma:s vai. Está P,re~o de seu Enedino e Q1an- ínc;lo sempte. E não vai dev,a: éhas larga.s e escu:tas do fu· · gar. pelo contrario, dá uma mo de d. Vitalina. O capim chispada. parqtie d. Vitalina mais em baixo da calçada, na. só quer tudo na hora. quele cresce.log0-'ma.i,:; 0 morre A~ora. seu Inácio e-rgueu no a,pàrado dos burros que u 'a mão e deu uma; braçada. pa-~a.m e -rapasS(HD. nos com. no ar. E nem porisso as n10s. boio.s que vão à serra. cas foráí11 embora. Se.u _In~cio, no out.o lado da ealçada (o calçamento ir- · regular no meio) :pa,re~e uma coisa morta, é,Sq'.uecido ew sua cadeira ~e es!)'1·eguj°çar. E os men.inos descai.e~. -amarelos, barrigudinhos. encheuda de barrigas e nomes feios aqtiela rua de Paeatoba. à tardé tô- da. . ' Zeferino bem. que iostava da brincadeira, bem ~ue apre. ciav.a an.dar jogando a -cabi;a. céga, diJ;nao rasteira nos",ou– tros ou disputando o pé,de. cas telo, êqm castanhas lix:adas no cime.nto.bonzão do pata.– ~a·\· da igreja. Mas a verdade é que. ele não ºpode bdqcar. Ct,1ruru olhou pàra ele, quan– do c~rumim, pois a g o r a, qu~ado vai_ afeftando o ch1- tt11·ão-. metendo as mãos no bolso à cakl das ca.tanhàs, a voz de d. Vitalina sa1ta.lhe na frente, como se ar~ estiV'es. se ela. molona, pesa<l-ona, in– vadind,o a rua. -Zé.zé! E êle cor1-e, êle -<iue duran· te ~ei, últimos anos tem apre:ndido sempre a cO'rrer Pª\'ª se1'vir aos outros, ora para c_gm-prav bananas. ora para compra:r agM.lhas para d, Maricotà, agulhas qwe não prestam ~. çttte se q;ueb'ra:m ou quebram-nas todo~ os dias. !;e.ferino coça li. cabeca. sente Zeferino sái de .dentro de c'aSa na. cá,):reira. esbarra em séu· Eil.edino que ve.m pasto-· rar as crianças que estão qua• se brigando. -Vem cego-. negrQ•? Arre· diabo! Parece que não tem oJhos ! Zeí.!rinó corre. Pulou para o ca}ça,n1snto. E' preciso cor. rer ma:s ' aindaa. •se-nãó a lo;ia fecha e êle nã~telll -ten1po de cornprar mais a agulha para d. Màricola acabar ' o \<estido da filha do p·1•efei-to. No meio da rua se enco-ntra c.om o Chiquinho; urn velho amigo das bandas do Piripáu. Quer dar uma noticia bõa'. Tem peixe. traira assiµ1, m~ ·as– sim, n:o,. velho açude. Ele q,u.e ap~reça por lá. · -Feg-o, de duàs fieiras no dia . Só vendo. -Vóu Já, 'é só o· véio, a véia, al>i:i'I' ma,is um pouco. -lvias aparece logo. Senão eu doui conta deles tudinho. Despede-se. Vai ligeiro. Ten'I que comprar a agulha. (Por que as rnáq4inas que– l7ram tan to 'as agtrlhas ?) ' Zá,p, dentro. da bodega. Seu Totonho já est~ procur®1do a cabca de agulli.i,s. ,Bot!l- os oculos. O caixeiro ieµi ei» seu socor-ro. rinafn1ente .en. contra. E' das maio\·es, nu,- 1 - - ·Conto de EDUARDO CAMPOS Zeferino· apalpa .o dinheiro dentro do bolso. Agora. sabe o que vai fazer. O plan0 já está na c&beça. faz bem duas noites. Não dormiu_ direito. mas descobriu um meio de deixa-.c aquela vida miserãvel. Vai embora, vai fugir, dei– xar de comprar jotnal para seu Inácio, a,quele 1 velho que boia-bola nutna cadeira de es. pz:e~uiça.r 1 o dia . todo. dor– mitando e e,$pan}ando· a.s mos. cas com a mão. Não co.mpra m~is. carne para ninguém. (EspeeiaJ para a FOLHA DO NORTE) mero dois. Vai sair correndo. Esqueceu o. dinheiro. Esque· c,eu ou perdeu ? ~ocura ra– pidamente no bolso de· cima da blusa. Não está. ' Procw·a no debaixo. Não está. Será que está no fundo das- calças? Remexe. Não encontra. Seu Totonho está com os olhos ajudando.o. Não. não está. b caixeiro dá palpites. "No bõl_ so da calça, no pequen.o". Já pr,ocuro~. Zefe.rino se . ímpa· cienta. Fin:Umente. "Ah, en– contrei". Tinha na · aflição posto o dinheiro entre as e-as; tanhas. Sái correndo. Seu Totonho se vira p~ra o caÜj:eiro. -Pretinho trabalhador co. mo todo. Se'rve tanto a gente. . Z~erino não pôde brincar de dia, JI!3°S agora. que a noi• (e vem chegando, se · alegra. Tem festa na. casa do prefei– to, e ele já se convidou para. ela. Não é possivel que ainda apareça ocupação. Aquilo já está de mais. Co~ra a,gu. lhas para d. Maricota.. bana– ~ª~ para seu Jnedino, fumo, Jornal. foguete, bota sentido a n1enino e ainda apanha quando não faz n1andado na hora; E ninguém res_peita., os deseJos que ele tem de brirt· ~r o pé-de.castelo, a boneca, a manja ou a cab·ra-oega. -Zé-zé!. .. E' a voz de d. Vitalina· en. got'dando a casa. -Zé! Vá no siHo entregar Ne1n .tampouco ficará espi- est.e bil-hete. Já. ando os filhos de cL Vitalina. Zeferino tem v_qntade de cerno áma sêca, na calçada, dizer um non1e .feio, feio-feio, à tárde toda, sen1 poder se mas não pode. Agarra o pi. mete·r na , meleca do ~-de– lhete e ganha o can1inho, óu• caste1o. Agora, Sim. Vai em– vindo contristado . o ruido da bora. O dinheiro está dentro banda de n1úsica tocando 11-a do ·b,olso. O trem passa_· logo. casa •do prefeito, senU:rido o O que não pode mais é c.onti. trejeito de seu Da-ndãÓ· no nuar náquele apeTTeio, calça piston. as mãos. cônipridas e rasgada, per.na doendo de desajeitadas do chefe da ban. tanto andar. (Zé, compra da, as Õochechás . cheias do jornal'!) Zé uma conv.ersa. Eclmun,do da c\arineta, e, ele Ele não atende nem por Ze– com vontade< de chupar li- zão nem Zeferino. Pronto. A· - i b mao. . . . ca ou.se . E mais uma vez odeia aque. Estende os passos em cli're. la sua vida, Tem vontade de ção da estação. E à medida fugir, ·de deixar Pacatúba e que vai se aproximando a ir embo·ra para bem longe. hOi'a do tre.m chegar, ele vai A~andonar pelo; -menos aque• ficando mole, se dei:xando la rua, seu Enedino, seu Iná. vencer por aquela outra von– cio, d. Maricota, d. Vita.lína, tade de ficar, de não i-r. E' este povo que o faz trabalhar que ele está ouvindo clara– dia e noite, como se ele não mente em seus ouvidos as re– ti-vesse peixe' pa-ra pescar no comendações d~ povo. (Jór. Pírapáu e lirftão para 't:hupar, ·nal! Carne! Fumo!) nas barbas do maestro. Se :tugir, quem irá com– . Vai. Agora começou a cor- prár o jO'rnal de seu In.ácio T rer. · Se · 1emb:r.ou da 1nula. S.im , o pobre ~e seu Inácio sem-cabeça. que não tem óúti,a ocuoação -Z-é.zét Vá comp-rar carne! na. vida senão ler, jolinàl. O jornal é a sua - w.ni- ca diver~ão. .. Deixa-se ficar quase à noite toda comentando pa,ra os ami- • gos as notícias da folha. E <> fumo de seu En'edino? Sim•. a-gora se lembrou. Seu Ene◄ dino sem charuto ou sem aquele pedaço de fumo dentr<> da bôca ·é um homem mor– to. Fica. até sem jeito parir. conversa:r. E d. Vitalina ? Ah. d. Vitalina não pode sair de casa, d. 1-.:raricota quebra a.e:u– lhas. calça os tamaru:os e tem que ir atrás de outras, .. S" ele ficar, a coisa é diferente. Há jornal, liá fumo;· d.. Vita◄ lina. fica fazen!lo a comitla. os meninos 1?J calçada e d. Ma. ricota vute-vilte o dia tod<1 na. n1áquina, sem parar. Sente que dois Zeferinos es• tão em choque; Um, impossí– vel, quer. quei: ir embOi'a dei- . . ' xa:r de ser criado. O outro o Zé-zé calmo, tolão, com pe'rr-:a. de Ened\no, de seu Inácio, de d. Vitalina, de d. Maricota. .. (Zé-zé. meu fumo! Zé-zé meu jornal! Zé.zé, minhá agolha!J Tá. ia voltar. Recebeu- o jornal, comprou a agulha. o peda.ço de fumo, arranjou tu– do e voltou sobre os pés, te– merOISo de se ter demo-rad<> muito. Seu Inácio estendeu os ,ra· ços e l'ecebeu o jo'rna-1, cóm satisfação. D. Ma·ricota; botoa os oculos e ex.i.triinou a agu. lha: "ótima". Seit Enedin<> cheirou o fumo com alegria. E Zeferino nãó esperou a or– dem de d. Vita1ina. Voltou para, a , calçada e ficou de guarda, já a.rrep~ndido por não ter ido emlio-.;a. ,mas aten. to· e \dgila.nte nos meninos a~arelos. de~al_ços, b ~rril,!u– dinhos que b'r1ncavam, agora, o pé.(ie-castelo. •

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