Folha do Norte: Suplemento, Arte, Literatura - 1947
1 'A -CRISE ·sRASI LE IRO UE SE NAO VERIFICA SIGNIFICA NO ROMANCEi • DECADÊNCIA" ------- ENTREVISTA COM FRAN MARTINS - O DRAMA DO ESCRITOR DA PROVINCIA - "FORMAÇÃO DE PODEROSOS N1J. CLEOS CULTURAES, UNICA MANEIRA PELA QUAL PODERA LIBERTAR-SE O ESCRJTOR DE PROVINCIA DO "CENTRA– LISMO" T ... ITERARIO'' - PLANOS EDITORIAES PARA 1947 1 - A crise que h oj,e se veri– ' fica no r oanan,ce b1"Gs ilei– r-0 par a mim não significa de. crudênicia. Vários são os fato– res que dificultam o nosso r o– mance n-oo dias atuais - mas a sua. ma1,ch a . o seu ·desenvol– viment o. a s,ua apresentação, na ieitura e na escolha dos te. mas, é orien tada cada vez mais par-a o universal. E porque em roonance o ideal é o regional dentro do universal - o am– bienite contando com dra,mas e pei·~onagens sem frontei ras, sem llmi,tações - tenho fé no .romance bresfileiro e acredito pi-amente que em breve ele OOUlpa.rá um lu,gar decisivo nas · grandes li,bera,turas do mundo. Muito se diz que o nosso ro– mainoe está em decadência. Até hoje. porém. não pude compreender a razão disso. Se 81ll·alisarmos a ob;ra de qual– qüer dos nossos roma•ncistas veiremo.s que ha sensível me. ]hora de volume para volume. Por outro lado, os hori:ron-tes do país dia a dia se a,largam., com novas paisagens hwma,nas, coan con<flà,tos sociais que já 1Jra,nspuserain a linha do na– cional pata o int'ernacional. torna11d-0-se os dramas vividos pelos persona-geins não casos persona.lissimos mas ass,unitos sem pátria. Ora, de posse des– sas qualidades, os nossos ho. mens de lefiras, que por sua vez .qu~e que já se libertaTam de d-ecisivas inifluências es– tr,a,n,g:eiras, estão em marcha pa,ra a realização de obras que tra-rão ma,rca defin1tiva. Isoo para mim não é decadên– cia, sim asoenção. Não négo que haja crise no nosso romance nos dias a<tuais. Mas crise há também em to– dos os generos, em todos os se. to'res de atividade humana porque a crise provém d~. após-guerrQ. A minha convic– çãio é de que este momento di– fícil passaa·á e o Brasil em bre. ve CO!lliairá com romances e romancistas ca.pazes de om– brea~-se com roana'll>Ces e ro– ma.n,cis-tas das melhores lite. ratu,ras. Não de-vemos esque– cer que, se somente ha pouco f&mos desco.bertos pelo m u.n– clo, só a,gora, também, es,fla.moo descob,rindo · o mundo, não mais admirando mas vivendo, se'Q,tin1clo, toma,ndo pa·rte a,tiva em todas as suas tragédias. 2 - Um dos ca,pitulos mais tristes d•essa crise é o draim~ do escritor da provin– oia. sem dúvida o que mais so. fre coro a instavel situação que a,1Jravessamos, pois tudo con:cOTl'e para aniquilalr os seus esforços. Desa,mipaxado. sem a,pôio, sem in-oentivoo, é ele um grande homem em so– mos mas humilde, ~a.gado acorrenitado ~ realizações. As p_ortas das grandes editoras )he são v-e<ladas; os críticos federa~s não 1éem. suas obras; o grande público do país· não toma conhecimen•to de suas lutas - p&rque tudo o que eles produzem vem marcado com o "coonplexo.província" . grande movimento de soJida– riedade e comp r eensão mút ua, ~i,m de qwe não mais perdure essa contingênci3 em que, há dec-enios. nos en,contramos. A– pelámos, por isso, pa,ra todos os escr1tores do B ra.sil a.fim de que esse m ovimento n ã_o fra– cassasse. Recebemos muitos ap lausos, muitas palavras afe_ t.uooas e l íricas sobre o Con. gresso: a.té hoje, porém, nada foi feito para que o escritolr da província tivesse o seu li– vro divulga.do no Rio. para que a sua voz fôsse ouvid-a n,a metropóle e circunvizinhan– ças, pa4'a q-ue os seus atrtigos fôssiem dist ribuid-os em todo o - , pais. Fran Martins é um nome que dispensa apresentações. Autor de "~lundo Perdido", "Estrela do Pastor" e de vários outros livros Dão só lançados com larga repercussão nacional co01-0 também otimamente 1·ecebidos pdJ.a cl'itica profissional, Fra,n Martins é um dos 11oucos e verdadeiros escritores que até hoje continuam resistindo às tentações da metrópole. per. manecendo fiel à província. Ninguêm, pois, ma.is autorizad,o que ele para fi;.la.r sobre as lutas e os problemas dos intelec. tuais provil:.cianos. A entrevista que ora. Fr a.n Martins concede ao Suulemento Literário da FOLHA DO NORTE é a,o mesmo tempo- wn apê!o e uma advertência aos homens de l etras que labutan1 nos Estad()S. QUESTIONARIO 1. 0 - Hã. <:rise no romance brasileir o ? 2: 0 - Quais os m eios que você indica afim de que o es– critor de província possa libertar.se do já tão de– cantado "centra lismo literário" ? 3. 0 - Que nós diz sobre a atual geração literária elo Ceará? t. 0 - Quais os seus planos editoriais para 1947 ? Só vejo, hoje, uma maneira par a o escr tt or d•a província liber:tair-se do cen,tralismo lite– rário: a formação de núcleos culturais e poderosos em vá. rias regiõés do país, núcleos capazes de infl uenciar na opi– nião públioa, desvian do o seu alvo, ou melhor. dividindo es– se a-Ivo em muitos outros. Princi,paJmente pa•ra nós, do Norite e do Nordeste, creio se«– esse o único ca,minho capaz de nos italva,r. Bem que podere– mos fazer alguma c9usa nesse sentido. ]>Ois conta,1nos. sem ex,a,g;ero, com a-1,guns nomes 004)3:l'JCS de sobreviver- sem o apôio, sempre negado, dos crf. ticos oficia.is e das editoras de m uito nome , e poucos es-– .crll!pulos. 3 - A nova ge raç ão cearense é sem dúvida, uma d as mais brilha,ntes da hlstória cu1tural do Cea;rá. Te.mos e tn nosso meio a,lguns dos grandes e poucos poe~as do <=:ea,r á - ~orno o silencioso Alu1s10 Me– deiros que faz por al!l o ape. nas dois ou três poemas mais que possu,e uma meia duzia deles que jaimais fugir ão de ' , . nossas memoria$. A BIBLIOTECA DE BENEDETTO CRO-CE Nc0 romance e no coDJto sã-O> f LguTas d,e nome jã feito Ja.. der de Ca-rvalho, João Cli:ina. co Bezerra, Eduardo Ca:i:npos ,e Braga Montenegro - 1nd1v1- duos que não só escreven1 mas vivem também as suas obras. Lutando a,o lado do povo e conquista,ndo ,gl~ria para o po. vo. Temos Sten10 Lopes. Joa:.. qui,m Alves. Girão Ba;rroso. Ma4'io Ba,rata, l\,1oza-r Soriano Ad.eraJ.do. Artur Eduardo Be– nevides e ... bem, •e muitos outros que fazem ensaios sobre Eça de Queiroz ou sobre a sê– ca no Ceará, que versejam ou pintam, ·que discutem religião e a,rtes plásti.cas. ·Isso sem fa. lar num gru:po de pi;mores cu. NAPOLES - Nem todos os ml– n i s t r o s, professores, jornalisi– tas e literatos que se achavam nas sossegadas salas do Palaclo Fílomarino della. Rocca, para as– sistir à inst.alação oficial do "Instituto Italiano de Estudos. HiS'tóricos". estavam pormenori– zadamente a par das viciSsitudes do antigo ~ficlo que agora hos– peda, no s,egundo andar , Bene– detto Croce, sua familia e as 123 estantes com 74 mil volu– mes. Nesse dla, na sala cedida por Croce ao Instituto, suporta• va o peso de mais de duzentos convida<los, a flôr da cultura e a nata academíca da Italia. Alguns de)es permaneciam de pé. no vão das por tas. agitados po•r visivel nervosismo, com o ar de quem está a ponto de pôr-se a salvo; um dos presentes depois me confessou que passara mau quar. to de hora porque reeeava que os velhos assoalho,.; não resis– t issem • ao peso, não de toda aquela cienc!a, de toda sabedo• ria, de todo aquele espírito, mas sim dos duzento-9 ou trezentos cavalheiros em que estavam con– centrados aquele espírito e sa– bedoria. Se soubessem, como s:ibia o dono da casa que naquelas m·es– mas salas Luigi Mercadante rea– lizara concertos, e que Giambat– Usta Vico, no mesmo local, cui– dara dos "Principies da Huma– nidade", ou seja dos "Principíos da Ciência Nova": se soubessem dis,so teriam ficado mais calmos. o predio é solido. Em 1647, os "lazzari" ai resistiram durante meses aos ataques e&panhóis, én• trincheirados no campanãrío da Igreja de Santa Clara. Há seis ou sete anos. durante trabalhos de restauração executados no forro do palácio, foram encon– tradas algumas balas de canhão lançadas pelos artilheiros e5pa– nhois bontra o5 rebeldes e uma delas pode oo~ admirada sobre a mesa de uma das sa las do palá– cio. - ·- Sandro De FEO-- (Copyright lPl:, com exclusividade, nellle a FOLHA DO NORTE) Estado, para morrer nos vidros da sua-bibllo– téca. Imersa naquela luz, a flor da cultura italiana, a nata academi– ca da Italia, à espera do dono•da ca&a e patrono do Instituto, era um fervilhar de tagarelices hu– manísticas. Trocavam-se ín!or– maçôes com a alegria com que os velhos professores encontram após anos de separação; serviam– se de citaçõ~.; antigas ·par·a fazer troéadilhos e alusões a fatos e _ homens do dia. Depois. todos tornaram-se graves e silencio– sos quando Ales3andro Casati se ergueu para falar, djzendo coi• sas as mais belas até agora ai– tas 9Õbre Croce, seu grande ami– go. Mas o silencio tornou-se ab– soluto no momento em que, mesmo sentado, CrÇ>Ce começou a falar. Só se ouvia o ruido das mâquinas fotográficas. O "clic" discreto das "Leicas" lembra– va o rumor da chuva lev-e con– tra os vldros. Benedetto Croce pei:correu os séculos d'o pensa– .mento historiográfico a passos rápidos, saltando de século em ~éculo, de Vico para Kant, de Kant para Hegel, de Hegel até nós, voltando ao ponto de par– tid.a depois de tão vasto pas:,eio, com o folego ainda inalterado. Quando acabou de falar, os fotograios espalharam-se num amplo raio ao seu redor, toman- do-o por mira . ~le consentia e. a son·ir dizia-nos: "Durante vin– te anos ninguém 'ousou •fotogra– far-me. :t natural que agora se de--..iabafem". Mas mesmo as fo– tografias tiradas antes · desse vintenio são raras. Há uma pen• durada na parede da sala conti– gua ao escritório. Tem a côr amar_elada das fotografias do 6é– oulo passado: 1890. Na margem lê-se : Alhambra de Granada, "souvenir de voyage". Sob o rendado do arco mourisco, Cro– ce. aos vínte anos, de chapéu alto, claro, com um casaco de cinco botões, todos abotoados. Junto dele, um jovem esguio, de barba espessa, Cap,ace dl ·a a1- leota. dÚque della Regina, um dos 4eões da GOciedade napolita- - ' na da época-. Este até então vivia viaJando por prazer, coni jovens ignorantíssimos e da mo• · da: decidia, por fim, r~alizar uma "viagem de instruçã_o", co– mo então se dizia . Por isso, pe• dlra a C1·oi::e 'que o acompanhas– se. Aos vinte e quatro ano3, Croce já -atraia e intimidava pe– lo seu saber. Deitada graciosa– mente nos degrãus da Alham– bra está uma me11lna, filha do consul italiano em Cadiz, e apoia– da. a uma coluna, em pose es– tudada e um tanto sonhadora, sua irmã. Com uma delas utro- -·--------------------------- DE UM IRMÃO NO PARAÍSO • Ouvi-o em Janegrat pedir a morte. Beijou os ossos de Krichna ~ncerrados em pediu a morie e subiu à abóbada menor. Sentiu-se. d entro do templ o puro e leve. Cercav am-no duas fileiras de pilares e estátuas negr as. sândalo P erdoou aos inimigos e sorriu aos antigos t emôres -Lembrou-se das inquietações por essa hora su- [prema da dúvida que por vezes o tomara. Seu corpo estr emeceu a bençãos e bei jos invisív eis deixou os círios queimarem as pontas de seus dedos. - Próximo âa morte transportou-se de muito longe., ídas catacumbas de Elora ao templo de Janegrat onde o máu é perdoado e o Amôr. a resposta de [Deus. ('11mos ternas lembranças", re• (,orda Croce, e um véu de me– •neolia empana sua voz. Ou eerâ apenas impressão minha? Ao fflnstituto Italiano de Es• tudos", em que se inscreveram cêrea de sessenta jovens estu• diosoo de todas as partes da Ita– lia , Croce cedeu, além de uma ala de sua casa. também o uso da biblioteca. Esta se salvou por verdadeiro mi)agre. Quan• do as incursões aéreas sôbre Na. poles tornaram-se mais inten• sas e frequentes. cuidou-se de colocar a salvo aquele monu• mento de cultura e de amor in– teleetual que é- a . bibliotéca de Cr_oce. Ele conduziu para Sor– rente, onde se refugiara , os li• vros mais preciosos e os lndis– pensaveis instrumentos de tra– balho, - estritamente necessá• rio: quatro ou cinco mil volu– mes. O restante foi distribuído por Teano. Calvi Rlsorto e San Giorgio Montagna. Uma parte desses livros foi, depois, trans– portada pelos alemães para Ro– ma . Queriam eles se reabilitar depois do !ncendio do Arquivo Histórico Napolitano; confiaram os l !vr.os de Croce a um deposi– tãrío do Castelo Sant'Angelp, acompanhando os caixões com um cortejo militar e ao som de illan<farras. Outros caixões que permaneceram em Napoles ser– viram aos solda(los norte-aineri• ' canos para todos os usos: co- miam. dormiam e cozinhavam sôbre êles . Alguns . foram aber– tos, porque a curiosidade dos americanos é proverbial- . Ên– tão Croce escreveu ao genei:al Clarck. lembrando-lhe que dou• tra feita, os americanos tinham acorrido à Europa par.a salvar a civilização, a cultura e seus mo– numentos. Não tinham êles vin– do agora também para isso? O general Clarck respondeu afir– mativamente. e colocou à dispo– sição de Croce os caminhões ne– cessãrios para o transporte dos caixões. Também em Sorrente correram perigo . Algumas moça•s da Cruz Vermelha Inglesa tiveram Inten– ção de desalojar Croce de sua residência, onde estavam guar– dados os caixões. Em Sorrente . . -- . - Jas expos1çoes anuais sao maa:-- cad,a.s por crescente !;!UCesso, e no grüpo chamado "ci,emifis– ta" , de professores que. em bancas de ca,fé, em livrarias. em joTI1ais e em conferências pú~licas e priva,d,as, com a maior ~impLic4}a4e deste mun– do discutem Einstein e ou.iras abstrações. 4 - R-es,peito a meus planos edi.toriais, conf-1!$0 que , . a uruca cousa que me ]?1:eocu. pano momento é a·publiC'clção de um romance que tem o ti– tulo de "NóS S01\10S JO– VENS", ma.s que na re!)li<l a<ie deveria cham,ar-~ ''N ô S ERAMOS JOVENS", pois ,._!Ja, ci-nco anos está pronto pai"G a impressão. Vários conitlra,tem.. pos surgira·m para diiic11J1aa:- a publicação desse Hvro (INil e&tor que o tinha programa– do no Rio, ha cêrca de u-m. ano pedi,u-m-e para modificar . o r oma.nce. em visita da r:ou. dança socia,l que se operava no Brasil - o que me fez re. tira4' os o.rigínais de suas m ã·os, enojado da sua falta de eseru– pulos) . Agora, poré;m. que co·n.. taimos. aqui com uma pequena, coqpera,ttva editara - "Eqi– ções Clã" - r-esolvi ediifar o livro, depois de fazer.Jh·e 4ma revisão gerâl. E' uma hist&ria sjm,ples e sem nenhuma pre• tensão. a hi.&tóri-a de um ra.pa . zi-nho da rua da Va-1a, no Cra. to. Nem mesmo amôr existe dentro do livro - a não ser uma plat ônica paix ã-o que, co. mo todas as paixões pla;lônü– cas, termina em dec~nga:no e decepção. 1 Ainda ha algum t!elmpo fize. moo, no Ceará, urn Congresso de Escxítores pata definir nos. sa situação e estudar os nossos probJ.em,as com fra.nqueza, sem pairti.darism-0s. A conclusão a que ohega,rnos foi de que ne– ce.ssi,tam·os. todos nós que não v:iv,eimos na metró)?ole. de um Deve ser doce viver na4uela casa. Doce e ao mesmo tempo inquieta1>te para um tempera• mento que deseja fugir dos cui– dad·os e anslas destes tempos atômicos. Pelas janelas imensas entre a luz deste recanto çe Na– poles: Santa Clara, São Francis– co das Freiras e Santa" Marta trocam entre 5'l os revérberos de suas. vidraças, e esses refle– xos brandos, esse rosa desmaia• do, todas as cpres tenues dos ve– lhos séculos de Napoles. que en• volvem a casa de Crocé, vão CAUBY CRUZ. - havia outras vivendas disponi– veis, mas elas quer1am aquela n\a,ís vasta, Um oficial inglês apoiava-ali neste pormenor, mas um oficial americano, devoto eclrrado de Croce, depois de ás– pera polêmica com o Inglês, l►. vou a melhor. Salvando-se, as– sim, oo preciosos volumes. N•as horas vagas estou es-cre. vend'O um livro de co«i,tos - "Ma:r Oceai!lo" - seis ou sete histórias na-rradas p<>r um fun. cionário da Repartição do Ar.. quivo e Museu. cuja única am. bição na vida é a,pose,n;ta1r-se como chefe de secção. Não se'i:, .porém. se termi:naorei essie li. "vro, p ois o pé1,sonagem é tãól convencional que até eu mes. mo jã eS!tou me abo-1'.r,eoe01do com 'as suas continuadas re- I ferên-cias ao "exmo. sr. Diire. ~ tor, m,eiu prezado chefe e di.. \ 1-eto a,mlgo". ---------·------- ______________ ..,_ _______________________________ __,_, ________________________ Em 1932 - ho n eiges d 'an– tan! - deu-me o amigo Luiz Oam:ilo um livro que recebi com cert a prev.enção. Era um romance Jiran•cês em forma de oa·rtas, aS$inado por um tal I>f. C .... de L ... Depois qu e já viu no alto de uma história o nome de um Balzac ou de um Stendhal, a gerute ol ha de– sfulteress,ad,a para ou1lros no. mes P'róprios, que di.rá para simples iniciais. Ma,s levei o volume para casa, abri--0, fui lel).do, fui l endo, e, senhores, até hoje go.s-to de voltar ao diabo do livro e repassar nele oerta. coTllfidêncla da M 1 eritéuH, certo golpe tenebroso do Vis– conde. I, Ouit.r0, não eu, condene a ob.-a por sua moral a.mbigua ou sua di!d.Ki· i.da im·oralidade. , Tod·oe os crimes contra a alma a,1 sãio ex,emp],anniente puni- L ~~-~~ P§:~ Y),I'i{."el.t, ou pela deshonra; enfa:e,tanto, que diel eitação na perversida. d,e s·e desprende d-estas pági. nas! Não illnPOQ1a. A nature– za humana é o que é, e t odos os fogos do infern-0 não sabe– r ia,m refo1:má.Ja. Laclos, o au. tor de moeu rom an ce, oon-ta wna história p ossi,velmen te acontecida em 1700 e tantos, entre f idalgos e burgue,es de Paris. A hlstó'ria é i.ud ~nte? Prefi ro obrervar que sua rea– l tiação liter ária é perfeita (Gide coloca. as Liaisóns Dan. gereuses, imedia,t amen-te após a. Cba.rtreuse ele Pa.rne, en't,r e os dez romances de sua dile– ção) . O gôsto do liv ro d-esperlou em m i,m o apeti te d e traduzi. l o. ~ u nca fui amant e de tra– duções: por f-alta de habilita– ção e de paciência. E' êsse oficio de traduzir alguma coisa como a navegação por ~es :@:,noe,i;lltos. em 4U© y~ AS RELACÕES PERIGOSAS .:> Carlos Drumn1ond de ANDRADE (Especial para a FOLHA DO NORTE, neste Esf .a.do ) tain:bo pode saJ.va.r-se co1no to- por oento francesa. enoont ra– par com u,m recife, a proa de r ia oorrespondênci<a no rude outro ba,roo, o peixe.fan-ta6J"O,a, idioma luso-brasHico. 'fradu. a mina flwtuante e o raio. As zi com grandes pausas, · como vezes imaginamos que estamos se deve beber cachaça, e se traduzindo e est a.mos s.funples- não estou satisfei•to com o meu mente fa•ls,ifioando: culpa d-a tra,balho, con:fesso que dele cerração no ma,r das lín,guas, tirei pra-za.r. Oh ex.t raordin.ã– senão da pr&pr,i,a irreduti,bili. rio gen-er.al Choderlos de La.– da,de do texto literário. Não eJ.os.1 que fez- gue'rra, cO'llspi. ·obstante êsses perigos, sedu- r açao, engenha,r ia, vida frívo– ziu-me a t radução das "Re- la, e ainda <ieb{ou um livro, leçé>€s P-e.riglósas", que seria u.m livro só, porque os outros um modo de repet i!r a a:ven. f•ra-ca.ssaram. mas que livro tura d,a âescoberta do liwo, m~10,nho e ao mesmo ternipo de ,prolongá..la, dJ8 voerifli:ca.r que 1ivro puro ?ela sua linha ~ 41.li !1 .PJm.tQ ®!ª ~$1_ -"~ ~~ ~12 ~~e m~~ i.~ exibir, o sábio jo-go de luz e sombra, a frieza de docu1r ,.eo. to e a c1,istalinida,de de cbra d<e atrtie! Agrad~O-VOS, meu genera1 as alegrias da tradu– ção, que me 11evel1)JS<tes. E' ver. dade que alegrias en,tremea– das de dúvidas e problemas. Assim, e pa!l'a falar de uma puJga, _cus tou-n1e decidir qual o t rii.tamento q ue os cor.res– pondentes deviam a,d:otar uns com os outros . O vous t radicio– nal, tran.s,plantaào, poderia P<bl'eoer ch-ocaJ1te n ,o caso de crialtw·as que haviam tido re– lações ín-timas, com Va,lmon.t e a duq uesa: "vós. com quem já dormi há tempos . .." O n06so m•acio "você" ten -tou– me f-0ttem,en,be, e o einpre. guei mesn-10 ait.é a -página õ~n t,.o e penico. J;\'FqS a histo– ~ia paíss a-re no século XVIII. e "~ocê" en,tra na li,n.gua- - gero po1rnJUJguesa, já no sé(!u. ~ Xl.X;, p:rQ:i-c,r~y i - o. 1:ͺ sem pesaT. Outro caso, meu general, foi o cLo título Liai◄ sons Dangéreuses devia .ser Ligações P erigosas, mas quer me pa,recer que V'OS i-efér ieis , a relações, e não a l i,ga.ções. que a.qui no ni,eu povo sign ifi– ca m ,a.is preçisamente . homem. e mulh e r que vivem juilltos, ~ , sem caisar. por n ao J)0(1_e rern ou não quer,e!fem fa.zl: !tlo. Se em vossa história hã doesses exemplos. a vet-dade é q•ue o perigo que insin-uas,tes estaria. menos na con-fusão camal do que nas relações mundanas e levianas que con.durem a eti– se desfecho. S. M. J .. Mas não espe.re o le it or en– con,trar a seguir o rol ire mi• nhas perJ?il•exi<lades .de p r"a– tican•te de tradutor. Est as 11. n-has apenas docume>l11taan o s~guin<te: um gra,n,de l ivro paga a amolação de trad,uz.i- lo. · 1 •
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