Folha do Norte: Suplemento, Arte, Literatura - 1947

• Nas revistas e nos joi-naJs an– ilgo~. embora em lances menos ciramáticos que os de hoje, en• .:ontramos se1npre escrnore;i di– vididos entre solicitações distin– t as, embora às vezes convergen– tes: a da paixão politica que os JJg.,,va ao~ problemas de cada dia e a da pa11-ão a1·tlsUca que ·oo conduzia para o destino de 'l(una obra intrans!erivel no seu personalismo . Ali estava, como em todos os tempos, o perigoso duahsmo âa atividade dos inte– lectuais: o interê~e pela sorte d o.; outros homens, determinan– d o não apenas o exercício das idéias co1n existencia intempo– ocal, mas tambem a luta dentro do transitori<!. de fatos limitados-, do efemero de situações que mor rem sem deixar lembrança lli~tórica; e o a·nseio de sobrevi– vencia através da propria obra, o apelo a todo,;, os recursos ín– timos da personalidade para a criação de alguma coisa capaz Domingo, 14 de sete:.=m::b::ro.:..__d:.:._e:..._19_4_7______ D_i.ret __ o_r:_P_A_lJ __L_O_MAR __ AN_HA __ o_______________ N_UM_ ,43 .,. eJORNAL DE CRITICA LITERATURA E POLITICA d e vencer. pela duração, a mor• oferecer em sacrlficlo a ordem ite, o espaço e o tempo. Apre- dos nossos espiritos para que se l!enta, sem dúvida, um elemen- tenha ordem· das ruas. E não to trágjco essa duplicidade do poderemos mais suportar as mis. inteiectual no idealismo com que ticas intocaveis, os lideres semi– se coloca politicamente a servi- divinos, os fanatism09, ás obedl, ço dos seus contemporaneos e no encias sectarias e degradantes, ,egois1no com que se dispõe este- mesmo que isto fosse em troca t tcamente a salvar-se antes de de uma reforma oocial bem su– tudo a si mesmo pela construção cedi~a ou de um generalizado de sua obra artística . De certo bem-estar de todos os corpos. modo estan109 em face do imu- São outros os processos com que tavel problema, com tantos ou- manifestaremos o nosso horror tro, aspectos, das relações entre e a nossa repulsa à organização .a polltica e a arte. Entre a lite- plutocratica da burguesia. --Alvaro LINS -- ' (Es,peeíal pa.ra a FOLHA DO NORTE. neste Estado). dos os escritores, como aconte• ceu durante um certo periodo. O mesmo llder que tomou a respol)sabilidade de cindir as correntes anti-fascistas e demo– ciaticas do pais tambem operou a divisão da classe intelectual. Nunca haviamas ·sido unitários, é certo. não andavainos jamais ein rebanhos. Na época da dita– dura, porém, uma mesma atitu– de de resistência, de não-confor– mismo, determinara um enten– dimento moral entre todos os escritores, quaisquer que fossem as suas distinções literárias e ideologicas. Criou-se uma frater– nidade que se estendia até aos l'atura e a politica. no nosso caso Infelizmente já não egtáo unl- pa•ticular. ______....:,________________________________ -··-- __ Seria um tolo otimismo 1mag1- CATAGUAZES nar que a luta politica dos es• crltores de h,oje pela liberdade de pensamento e palavra tenha t erminado com a derrota mílltar do nazi-fascismo. Ela continua• J'á sempre, porque a tendencla do Estado é alárgar os seus po– deres, tomar-se lntervencionis• 1:a, e o papel dos Intelectuais <é defender a estr.utura do indi– vidu.o. estimular-lhe o senso da 9iberdade e do poderio pessoal, .a djgnidade da sua categoria ir– :redutlvel de ser humano. para que se recuse a uma incorpora• .;ão anuladora . .Pelo seu proprio carater. a função da, inteligen– cia é libertadora. dialetica, opo– sicionista e revolucionár ia . Ha– v erá, além dJss-o. o. perigo de que a doutrina vencida pelas ar– mas obtenha certa sobreviven• eia pela colocação de alguns dos seus principias ou metodos nos carros triunfais dos .vito~iosos. ~amos ainda multo longe de uma vitoria completa sobre a intolerância. sobre aquela ten– dencía dos Estados ou Partidos para o dominlo absoluto sobre a vontade, a liberdade e a vida dos homens. Nã·o .pod.emos ficar indiferentes. por exemplo, d!• :ante de sintomas como o de um partido a regulamentar com re– quint~ de intol'erancia as rela– ç ões pessoais dos seus. membros ou a de uma autoridade religlo- 6'3 a exigir dos. ~eus,. fiéis. pelo juramento. que nao compareçam a um co.micio dos s-eus adversá– rios. Tais sintomas na evolução das facções indicam que ma is tarde. no exerclcio do poder. elas esta:beleceriam, pela Jogiça da doutrina que se torna :práti– ca . a opressão, a inquislção. o aniquilamento d o 9. advers,ários ou hereticos. Em nome da or– dem . a libercl ade voltaria a ser mais uma vez um perigo social. Deve-se então sustentar, com a iJJ'l~!or decisão e vlgilancia, que p11ra um intelectual a liberdade •e\ a Justiça valem nials do que a oraem, que preterimos a de– ll'Ordem ao absolutismo partida– :rlo ou e.iltatal. a qualqui:r espe– cle de Inquisição . Não podemos O batuque eatti para BJI baJidBJI do taca: la-nando Meia Pa•· "Botei meu cará no fogo, Maria pra vigiar, Maria mexeu, mexeu, DeixÓu o cará queimar~. O baiuque esJá paza as bandas da lavrando Pedl'eira: "As moças de Cataguaiz Não andam de p é no chão". Não, Caiagua:aes! As tua• moças andam de olhos no chãq. .. - .. - No c6u não hA estrilas. Vo1: estendido n o fundo da canôa, sózinho, ao sabor da ei>rrenleza, que 6 fraca, Por vezes, piados esirllllhos cor– tam o negror da noite, e vêm dos bambual• penosos gemi• d09. Há o coaxar du rãs, o ba• ter leve das águas contra algu• ma ped.ra escondida, o asso– bio dos morcegos cruzando rápidos a&bre a canoa. No céu não há · estréias. Faz um pouco de frio. Aga• 1"110-me no cobertor. E a canôa conlinúa devagar ao sa.bol' das águas. Agora já estou longe da ponte. E BJI lu– zas da cidade nu margens Blio como rios 11Uce ladeassem um esquife. Canta o poeta paulista: r MQuero ir ver de :farde verde os ases de Cataguazes". Cadern0 De Viag.em MarSlues REBELO Copyr1g~ E.S 1.; com exclualvidade para neste Eaiado) a FOLHA I>O· NORTE. lt a vida que re111>onde: "P-artiram, .não estão mais lã!" ITA.1l7BÁ A cidade não sente multo " a existência do rio e talvea ■6 o conceba como. moilvo para doJa Qrgulhos locais: .a ponle metãlica e a ponte de cimento armado, que ernpres. tam à pais;agern um ar sufi– ciente de progresso. Mas a verdade 6 que Itajubã não seria o que é , não teria o encanlo q u e tem, ae não acompanhasse o S a p u c a i numa extensão de curvas ge– nerosas e p r a i a s encania• doras pela vargem a deniro. Aliás, êle é o próprio culpa– do da indiferença citadina. Tudo no mundo depende de um pouco de espalhafato e o Sapucai é um rio tranquilo, Suas ·ãguas puec:em que não correm, tão lentas e majes– tosas vão na sua d&scida. Mas de vez em quando êle faz urna das suas: engorda, ron– ca, pula das margens, inunda ioda a vargem, perturba a vida das estradas, invade a l'Ua Major Pereira, ameaça o busfo do doutor Wenceslau, ameaça a ê:asa côr-de-rosa do douic:>r We))~esll!u, p;roibe o comércio na loja I,ibe·rti, lramforma numa llha o gru– po eacólar e a pensão de do– na Bebé, que tem uma filha • muUo bondosa chamada dona Esmeralda. E ai, sim, aí a cidade 18 exalta com o seu · rio . Os penBionistas de dona Bebé c:lamam. irnpotanies, contra a água qu.e .os insul– ta: os alunos do grupo esco• llU' deliram; sobe mais, des• graçado, sobe mai&! (As águas deviam sub~. 1ub!P, eobrl.r o grupo, levar todos os livros na enx~rada, livros e qua-– dros-negros, carte.iras e ma- pas-mundl, tôdas as nritméll• cas e tôdas as gramáticas, principalmente tôdas as gra– máticas, aJogar as professoras e serventes, nunca mais haver grupo escolar). Os correspon– dentes dos jornais cariocas e paulistas entram em atividade e enviam telegramas e foto– grafias, uns orgulhosos, ou– tro, indignados, sobre a ati– tude . fluvial. Fora dêsses comportamento, extraordiná– rios, a cidade não compre• ende o r io. não compreende nem mesmo o ribeirão Zé Pe• rei:ta, humílimo afluente do Sapucaf. No entanto, o Sa– pucai não é apenas belo . 'É lambem piscoso. As suas águas - escuras, onde se vão inimigos pessoais, _ligando toà.os os que se recusaram a c-0locar a intellgencla ao serviço da pro– paganda. Não temos hoje moti– vo para sentir vergonha. Diante de um regime misturado de .fas– cismo e .caudilhismo, por entre humilhações e .decepções do pe– sadelo ditatorial - a atitude dos escritores foi a da recusa, a da não-participação. a do silencio que era nas nóssas circunstan• elas, a forma suprema de r epµ– diar e condenar. Pode-se dizer que esta ro1 a atitude de toda a classe dos escritores: bem pou- espelhar as alias montanhas da alta 11erra. que os cafesala ainda ·não invadiram, é o pa– ralsc do• dourados . Doura– dos e piaua . Piabu e lamba– ris, que fritos, ó Deus previ– dente!. .. Não! A cidade não • ama os peixes de seu rio. Os hotels só conhecem um pei– xe - ó bacalhau - e ser– vem galinha _ aos viajantes, galinha sob t&das as formas. no alm6çé> e no jantar, como um casligo. S6 o velho Wen– ceslau é amigo do Sapucai. 56 êle c:onhec:e e ama a be– leza daquelas margens. o en– canto das praias, a profundl– dade dos seus tanques, o bom lugar para u cevas. suas deixas e . suas manhas - na curva que f ica depois do Horto, no caminho de Bras6- polia, !ui dourados de vinte quilos ! O velho Wenceslau levou para a política a paci– encla do pescador. trouxe nara o seu calmo fim de vi– da a habilidade do político– horas & horas. indiferente aos mosquitos. fica à espera do peixe manhoso, pica não picá o bico do anzol, :vence-o afinal depois de muito ten• teá-lo " estende; feliz no' fun– do da canôa. o brilhante bl· cho bíblico para o jejum da sexta-feira. "Quando se che– ga aos setenta corno eu c.he • guei, diz com sutileza. ou se fic:a sem-vergonha ou se fica carola. Preféri ficar caro– la..." A primeira missa dos padres hólandeses, na grande matriz de duvidosa imponên– c ia, encontra o velho Wen• ceslau ajoelhado na primeira fila de bancos, preparando, c:om humildade o seu lugar eiorno no céu. Esquem.a Da Evolucão Da Sociedade Paraense .. . ' cos foram os cor rompidos e os degradados. Os que G'C vende– ram, como instrumento da pro• paganda, quase todos não e\·a1n escritores, mas uns melancohco.;1 sub-literatos, alguns .fracassados da vida !iteraria. Não repreS'i?n• ta só a intelige)'l:cia, mas a hon– :ra de uma classe. o movhnento que teve a sua expressão tina! 1> definitiva na Declaração de Principias do Congre.sso dos Els• critores em São Paulo. Já não esta1uos agora un!dos, mas temo3 a.o menos o direito de esperar qUe nenhum es-cr1tor seja i11fiel ao com1>romis~o que s e confunde com a príncipal condição de ex!Stencia do nosso o.t:icio: a defesa do direito de analise. critica e debate em voz alta . É possivel que oo l ntelec• tuais sejltm até certo ponto anar– quicos pela sua proprla nature– za, mas essa anarquia serve pa– ra g'arantir o equilíbrio quando tantas outras forças sociais ten– dem para o estabelecimento de uma ordem rígida e militarista. Na atividade politica, na dis– tinção que se faz entre "apos– tolas" e "técnícos", o lugar dos escrltoreg é ao lado dos "apos– tolos''., Eles percebem antes dos outros os sinais de uma nova épo– ca, e são em geral os seus, anun– ciadore,y; abrem os caminhos pe– la pregação e o debate das idéias revolucionãrlas. que os colocan1 tantas vezes em antagonismo com os seus contemporaneos; vigla.m e lutani para, que a fl– sion'omia idealista do:;, proble– mas nã-0 seja de todo des-f~gura• da pelo realismo grQsseíro dos homens praticas. Eles criam as Idéias e os ·sistemas que os "te·c– nicos'' transformam em realida– de. A nãó s,er em ca·sos excep– cionais de. 'fusão, as duas roís• sões da vida polltlca, dos "ap~ tÕlÕs" e- a~ dos ~ 11 te<:tliéos 0 • são bem distintas. · A do escritor em geral' não é fazer. mas imaginar. Qualquer que seja o regime ou governo, terá o..escritor.. por .J.s– so, _que se C(tlÇ>Car diante dele numa atitude de oposição. E a opôsiçã'à é ambien te mais pro• picio' à natureza humana do es• critor desde que a faculdade criti<;a da inteligencia, quando tocada pel a nobreza, dirige-se de preferenci a para o livre exa– me do que é p'oderoso e domi• nante. Somos obrigados a com– bater às vezes as proprias e,ill• sas que ajudamos a vencer por– que elàs. em geral, perdem a sua pufezã;-vltaliôáde e grandeza ao atingir a estabilidadt!. Desde que toda ideologia, quand~ colo~a no poder e ·no exerclcio do · ií1>· vêrno, tende a transigir, a gas– tar-se, a se corromper - isto explica a natural atitude opoo-i– cionista do escritor, uma vez que o artista. pela sua sensibili– dade, é o primeiro a• perceber a inju stiça ou a mistificação. O que caracteriza, na verdade. a natureza polltica do arti~ta é a espontanea e pronta sensibllida– de .à injustiça. Ele sente a i n,. j u;stiça e a opressão no mesmo impulso ,com que se indigna e se rebela. Invoco, a proposito, as palavras de um gran<le poeta: "Os poetas nunca vêem a injus– tiça . onde ela não existe, mas mu itas vez~s as descobrem on• d.e os espiritos prosaicos não a vêem. A irritabilidade dos "poe– tasº não é , pois. •~genio" no .sen– tido vulgar da palaVl'a. mas sim– ple;mente uma perspicacia supe– rior, con1 relação ao mal" . M.as ao la<l,o dessa missão. so– cial e politi~a do er;critor. com.o cidadão. há, a outra, a primeira, a missãQ do artista e do "cleri– go·•. que lhe · cabe realí.zar como ~eu destino nrinr,ipal no (Cont. n~ terceira pag) I espírito medievail a que nos temos 1•ererid-o. Fora.m-n'O os LeV1 rlall de MOURA (E special para a FOLHA DO NORTE) • ':' S e a -nós, paraenses. o estudo qa Hi,stór_ia do Brasil n~o nos deí-xaisse comrencidos de que e o movim,e~,to democr~– ,t,i,co 'burguês, ..,inda que 11derado. ~elo proletariad~. e. diew. damente en<:aininha<io pa,ra o soc1a,llsmo, a revo1uçao libexail., que nos cumpre empreender para a nos.!:a completa eJ!)a,n– ei.pa, ção. nos ma,rcos de nosso desenvolvimento, basta~1a a Histor.ia do Pará, lida, aisnda qwe de relance, para nos dar a cer~eza disso. , E' claro, por ém. que a .História do Pará não póde ser vista desligada da d◊ Bra-sil, como a de am!;>as da do n_iund_o. sencadeada. enitr'C as próprias aJ,d'Ci,as, com o mesmo piro: pósi.to escrav i7.a<lOr - e guerira dle tã.o extremas p1·oporções ex.~e1·min ~.doras que não existe outra igual, não só na H is– tória do B •ra,sil, como na próp:ria. História do 1\1:undo, do pró. pri-o Para,gua;, GUJiné ou Cor.g-0. Sem fa,l aa- na matança do gentio do T-0l'.'a1I1Jtins, feiita pelo própri.o Tupina.mbã, com au– xilio do fra,ncês, o morticínio dos Tupinambás, do qual re– su.Itou a inteira es,cravidão do indio, constit ui e,xterminio de ina,nd i.ta violência, que só teria ·o seu revide, tempos de. pois. na Revolta doi Caba.nos, na chamada Ca,ba.nagem, a qual repres~ntou, coplo veremos adea.nte, a Revolta dos Escravos, que pôs termo à etá-pa escrava,gista, e d•eu inicio ao ci<clo feudal. ou n,,e]hor. semi-feudal, uma vez que, por força da-s próprias c on-ci içõez histór~cas mundiais. o feudalismo. com todas as suas características, já não podi a in&taura; r.se aqui. Tem razão, nesse ponto, o historiador Caio Prado Junior. Jesu-it3s, evi<l,ent-ement<e. Ao espí'ri<to europeu áiesses senhores, criados num :,,egimem de diterent-e ex,p,lora.ção e, portanto, dJe diferente men,tailidade, não podia s$' esitra ,n.ho o repudio à es,p1oração escravagista. An,ote..se que igua,l 1nen-talidade já conduzi-an1 o.s ingles~s. no seu lon g o e fle:,ugmático flêrte com as nos~as costas. Récord<C-se .q.ue/ quando F ra,ncisco CaJ- '::;!(_y. d,eira de Castelo Branco chegoo aquí já encon~rou o inglês, 11,'.tas ta,n1bém está visto que à evoluçao do B rasil na-o cabia obedece:: rtgorosrunen.te ao esquema cronologic~ _do d~envolvim-er.~o do mundo. d:'e vez que .as nossas cond1çoes de .s,urgimento e cres'Ciroento foram d~felrentes no tempo e n •o espaço. _ Entreta•nt<1o os marcos fundame-nta-is dessa determinaçao histórica que condiciona o de~envol:vimento das socieda_des hll'lna,n:as ess<'f> estágios sucessivos, apa.recem, com adm1,rã– vel nitidez. nc, decwso de nossa vida políti,co..social, em ge. tral, conq-uan to seja na História do Pa,rá, como fizemos ver a,cima, onde f.ises estágioo surj,a1n verdade~ramente a ~oda luz, e nos t,t()por ciona,ndo, porta,nto, m,elhores perspect1vas ao estudo. • Éxa,ta.-nente logo depois da fundação do Pará, o regimem feudal, moribnndo no velho mun<lo, precipi-ta-se. pa;ra a Amé– rica, como um enf.ermo grave em busca d ·e melhores ares. Mas, aqui, nã:, encontra clima pa.ra a,s relações feuda.is . De. fronta ccm'l. eti:.pa an terior de desenvolvin..ento que há de opôr f0r,tes anices à icnitromis.são de outrr-a ordem soci-a,l que a venh;i de-sh1.ür . Aos pri1neiros colonizadores se depa,ra o :regillnem . de ,~oravidã,o, existente entre os ,próprios índios. Acham naturaJ.menite- eomo·do a esse sistema de exploração - e .;)_era cert.amen,te - e entram a pro<luzi.r dentro dêle. 'omu se ,, , " pr,ui..'"fto lin·,it>ava-se aos quadros ex-tra~ 11, ~ IJ que ,e ex1g1a ao ind10 esora:viza,d,o niio era pro,pria. m~ 1t<; a )ll:\'OUrf, , n:.a,; xi.raçM da..'< famosas " e@e<:i-arias", <:o n a,- " " as do ~"'rl:10'', üio conhecidas de quail- qtJoe ,,t <l,, e rl ;-,!;T ~•ai;l<> co "" a,s cl=adas "ca.t- 1 .,r, l<'li!la;;·•. • - ~U~ão d ornem (lS< :raivagls.ta .~~-~~~--~P~tt•~i, lrou~ O espírito m edieval - como observamos - f1~giThdo .às condiçõe:; cri:=ldas pal·a a ordem jurid~ça burguêsa ca,piita,Us. ta em ascen~ão n·o v,elho mtlilldo, vindo para a América aqui clesej,a.ri.a na,turaJmenie instaur,a,r, restf'belecer, o seu perdi– do parais:> feuda,l. A ess-e espiriito repugna•r ia, de certo, o regimem escrava,g isia. não por tenden<:ia a;pos·tola:r de soli. da,riedade soc;,aa - como os detentores d~sse espírLto ainda hoj,e q1Jerem fa:zer crêr - matS por q u e já haviam, de há muLt-0, u ltrapa~saido o ciclo escravizadôr. Trata,va-se, a,p~nas, como se S8!be, de substituir un:ia expl&rac;ão por outra. Assistimos ao choque desses interesses em jôgo. Foi es. petacul~•r o conflito, con.qua,nto mui to menos sa,n,g,ren,to qu,e o encontro do~ senhores com os escravos. dos- primei~os pe. netra,::lores da caá amazôni~ com o tu;pina,mbá su•bmeitido. Concor·reu. toda1Via, pa-ra comunica~ à História do Grão 1?arà esse e&pa,nt,ooo aspecto de COill,Hnua tUII'bulência que tan:t>o caa-aoterizou aos sé<:uloo do noss-0 cresci,m,en;to. Sabe~ q~ foram 9S mai§ ardooW$ ~u1doir~ d~t não escraviza:ido o indi-o, mas "comerciando" com ele, dele recebendo prod11.1toc•. Acresce que, quan-to à produção, o í~- glês j ã não Sé limitava a,o setor e:ictratLvo. Já l 'avra.va a terra "com a,lgodão. ta•bacQ, cana, da qual começava a fa•bricar o açu<:ar" d iz-n~-s o histotria.dor A.rtur Ceza,r Ferrei,ra Reis~ Pa<ra essa prc9·ução utiliza,,va um braço escraivo. :iv,ías não era. o do i (liUgena, do habiotaruhe da ter·ra. E ra já. o do africano. Tra,ta,va-se de um dos caa:acteristiJcos do regimem feudaJ, que, mc►ri,bundo nJ velho mun&o, ' b1.1JS,ca;va sobrevi:ve'r no no.. vo, natura-h:.1~11-te 'modiificaido. 'Sabe-se que o feudaaismo des- _, truira ã escravidão em · gera'l. Mas permitiu e legitimou a escravidão dos povos inferiores raci.a'1Inen.te, amaldiçoados po,r Deus com o esit i.gma do pi.gim-ento. A ceitou a "semi es. cravtdão" africana Cousa ãnailoga ocoi-re com o ca,pLtalismo em no;sos dias. Em t ese, o capi talismo é contra o .f:eudalís- n,o. as forrnas feudais. Mas, penni te e legilti-ma o s-emi– feudaEs·mo r.o.s po:vos muito 1;1,trasados. Iss.o é da p •rópTia contvaJição dos regimens. · Os ingH,ses d-o tempo de Caldei.. ra Castelo B r?.•nco. como os jes•ui;tas do mesmo t empo, e-ra,m si-s-tema:ticarrnente cor.i ra a es,opavização do nativo, d•o l}a,tu'ral da -wrr.:. Deles preferiam ti~a.r proveito, explora ,ndo.os , 00-<1 como se;:v0& ãa gleba na lavoura (mi5sões jesuLticas) ora "comerciando" con•. e1es, o que .si,gnifica,va t ê-los como tra. balhado:res f~udais. Obtinha,m dos indígenas as especiarias, não na,tiuralm4!n,t,e con10 os -0olônos portugu,o....ses e oo nave– ga•d:ores espanhóis' e f r a,'nteses, medja,nte a eS<C~a ll'ização dos m •esmos in díw,nas, mas p-or mei,o da troca dos pro,dülfos. A, ,., __,.. escraviza~ão do a,fricano foi tolerada ,pelo i,n,glês, aité .qu,e, com o fortalecimento do caipirl:aJi•smo na Eu.ropa, não era poo. si<V,el, ~oo p'-lises il•1lra-sados coono o B·rasi;I. . (u,ma ':'•ez qu,e oa ~esea iinh~m iil,letresi.-e em ma,n,ter aqui o reg1tmerr1 feu.. · - ~- "Oontin,úa 11a 3-" pà-g..) ~

RkJQdWJsaXNoZXIy MjU4NjU0