Folha do Norte: Suplemento, Arte, Literatura - 1947

.-.-1) -:P.-.Q- 0- 0 -..,.-.,...--J;t! 1Jliflãll~' UM ' ;De-poimento ; ·-- • • - . Sergio MILLIET (Copyright E. s. 1., com exclu~ lllvidaile, neale Estado, piua a FOLHA DO NORTE) S. PAULO - O sr. Lêdo Ivo, Cp>e é um dos miµs invenlivos poetas d13 sua geração, e um de seus mala hltellge:ntes prosado– res, em· depoimento dado à ' ré• · vista "Joaquim" (n. 1:t), dis coi• NS que, além de poéticas e in• tennentes, llâo sensatu. N ã o quero ·analisar tod.as as afirma– ,ç~s desse jovem, muitas da• quala me pareceram eivadas de excessivo enluaiasmo. Mas desejo chamar' a . atençãq dos ,i,osslveis leitores de "Joaquim"· para duau obsercvações . importantes que .d.,. n~iam uma exceleme orienta- ~ Ç/10. A primeua diz respei~o à téc– n:lca do verso. E!l(:teve o sr, ~o ITOt . . . • • • - . f"' ", · ... -..:; ' .,,.. ...;; - : • • • • . Caderno · De Viagem Margues .RE1•;Ti.:J.:,O (iopyrigh1 E.S.l., com exclusivt– dade, neate :tstadO,· para a FOLHA DO NOBTE) CAT)>.GUAZES Yosé Cesar possúi uma coisa =r.a:.ra em Minas Gerais : bons dentes. Ma,, possúi óu!•a que 4 · 1:omum aos minéiros: malicia. Ei-lo à porta da sua farmàcia. ~trindo, mallciando, deb<~ndo a vld:i passar ; Hoje 6 calma, soS:, segada, o filho v~ bem em B!·, lo Hori;lonte, do~ lsau~a nao enveltecie. é sempre a mesma esposa ' dedicada, a mesma qui-~ Suteua de mão clieia. Mas hou– ve tempo... Comprou- duzenios mil réis de mercadoria fiades. • . , . .... · b.otou nas c;ostas de Ul!ll b.u-ro, b_ate.u p_arll São ManJlel, abriu a botica, no primeiro dhi fez c;;ua– ti'ocentos réis de féria. Islo é a vida. ~ sorri. o · •~l ae cata– guazes tem os mesmos fulg.9re• do 9-0) de o,:tras tezraà. Est~ dourando agora os- alto,; da Vilá Teresa. ~o.Si, Cesár sorri. * .. * · ":ts,;__ pri>blema é demasiada– mente complexo para ser elé– posio I\QUi. Entretanto, creio que mesmo utilizando as normas ri– quisaimu da poesia t,radlclonal, fa:tendo sonetos, bala'das, elegias. epigramas, redondilhas, odes e até epitáfio=, oa jovens poetas escolhem o melhor caminho. O ver~o livre já está completa– mente esir!ltlfiéado: de livre s6 Sem o nome. E quando .verdadei– :ram.enie livre, n .ã Õ- , :verso . : • Cm, a melhor maneira de r.,. flQ!ver êss.e dllema - em um mom·en!o ein que Aragon che– gou a inventar uma arte J>oetl• ca mal,s complléada do que o pal'nui~ismo, e escravizada aOii encantos musicais da zima e do metro - é usar os·dois. ,O &OJÍe– So' tem um fôlego · de sete gaios, :não morl'eu nem motrerâ - nós • · que morreremos. Além do mais,. não há nenhum tnconveni– f>me em. um poeta apresentar toda a riqueza formal_ de qu_e 6 capaz, exprimindo através desta a sua mensagem · aúl>àtanclal. l)ustracão de SA'NTA ROSA - "Jâ pensai:ies na ml>l~coUa que existe em um ·camelô. d!!> ocitlos de -metal''? - escreve Ju– lião Aires. Pois adicionai aos óculos um g_orro listrado. uma camisa de amplos colarinhos do– brados sôbr~ o paletó, um au– to-!.alante ..,ermelho de folha de Flandres e tereis Vidoque. Vi• d .~, melanc61.ico e inútil. yi• d.oque subindo com passos de ganso, cansado, as r.ú ,as .da. es• tação, gritando aniíncios pelas esquinas. ,Ninguem o vê e nin• guem o ouve. Auto-didata âa propagand~. não possúi a con• vieção arrogante dos propagan• distas cariocas. A ~ prim.eir_a vez que desejou ter a •ua pezs'?nall– d .de para· dal" mais bril.bn nO!I 1ecJames incolores, Inventou um prefixo, que con,;eguiu r.elativo ■11cesso, mas que teve duração e}êméra. Surgiu logo terrível A oposição .contra a rima e a milti.-lca é feita geralmente pelos p0ete.s que nl~ sabem rimar nem. metrlflcar ; orá, cada arte tem auas reg~as. e não é.. aceitavel que essa nega_ção seja feUa 'por poe– tas que ignoram ou são lncapa– llefl ,de exercer '>ma norm• ins!a!,– :paravel da proprla noção de poe– llla. :t..,_ mlnh" ophilão pessoal, a irbna, -a ml>trica; assim como o verso livre, são os vefculo1 nor– mais e formais dos poetas- mais :novos. que devem estudar atem.a e 'lrlitilanfemente. as i númeras ri– quezas crue êsses elementos podem 111'.scitar. Com lsso, . êles não dei– xarão d,i; pert<!néer à sua época, ao seu t.empo. wis este se refle– te e se refletirá .em sua,; produ– çaes . Queru lembrar ainda 9 argu– mento de T. S . Eliot, lembran– do qué a missão do poeta é ze– lar pelo idioma de seu pais. lím verdade. ·a poesia muito po,;.. aúl de gramallca" . 1 Não era possível apresentar com maior clanza o proble'ma da forma poética no que ela tem de permanente e o do fundo n.o cpa êle · tem de transit{>rio. No àJusfamento incessante do pen– •a~ento ao transit6rio· "' que estai a verdadeira soluçá<) e Lêdo Ivo compree11de mult~ bem isso, como compreen.de que pertenc~ (Continua na 2.• p11g.J H A' por vezes gu_alquer c-0~a de opressi'vo na s~– lidao dentro de u.roa b1. blioteca. O ptesen-te comó ii– c,a abolido vencido ·pelo pas- ' . sado; as vozes dos vivos se calam para ressoarem as dos ,:mortos. Para um autor que ai·:oda calca sob seus pés a ter• ,i, r-a, encontram..se centenas que ~ázem dentro dela ou dos qua>:s nem mesnxo as cinzas resta1n, Todas as palavras vêm de alérn-tumul-0, têm u:i:n lim– bre sOl.UiI'nO e. melancólico. A atm'osfera torna-se aba,fada, o silêp..cjo cheio de mjstêrio. Tu– do iss0 dá ganas de abrir as JaneJas,. q.'ei~ar ~n:trar o ruido, o movimento, a vida. Mas Já fora nada chega: a noite ê ume. mortalha, envolvendo a rua, as cascas, os corpos. adotmeei– dos. Urri jorn,;irr esqiíec.id- 0 so 'b.re uma cadeira traz = sôpro b.endito do quotidiano, d,omi-. nando o hálito de eternidade, que reduz a minuto a exis• têncJa humana. Os olhos o p r,rcorren\ porém, em vã9, sem deparar com nenhtlm.a noticia interessante.. Um tele– grama con•ta qúe Mrs. Roose– velt teve a sua ca;rteira cassa– da por um m~s e de:ver,á sub– mete:i'--se a no:vo · exame de dhauffetir, por haver, culpada de u,m ' açídente, con;t :essa.do que cocltil.lra na direç_ão. A image:nr da pobre senhorá, que q mun4o inteiro .se haibit 1Jou • ara • - Caminho para o Mar entre· bocas silenciosas cantan.do elegias. Passaros inquietos e longos pousam nas minhas mãos abertas como Tenho nos olhos as ondas chamando à ansia final. Por que meu anjo louro de aza, louras está espalhando rosas para o ] lm ? Os pés úmidos na areia úmida resta-me o milagre da alma-sui.cida encontrando o ·SENHOR..• • velas. • ' .,.. , 9bstáculo. O obstáculo de.sem– bárcou, 1!P. qµe p_uece, de La– zanJal. V_JdQque berrara o ma.– li.cioso pre.fixO: -"Até você, ôôpõ!. .. Não teve tempo de dizer mais nada, porque o cidadão. que er!I, desconfiadQ e abSOl"4famente ini– mlgo de brincadeiras, exigiu ex– plicações. Vido'que a,trâpalhou• se e . desde êsl~ iia niir- ln•ren- 2ou mais nada , ALONSO ROCHA Apesar de. tudo devemos~lhe a :n o· s s a ·1mperecive1· gratldão . Aquilo qu·e .só as grandes ca'<>i• tais possuem êle deu à ~ii-ta- – guazes: o seu ·camelô pe,:mii-• nenti!. Prop.onbo que .se of.icia– Uze Vtdoq-.ie'. Se nlnguem o vê, se ning'uém o .escuta, não faz mal. A culpa não é nossa . 'E' de Gataguazes cansada. de Catagua– ,:es .·que dorme entre as monta• nhas desta múltipla Minas Ge– Tais , , 0cn;- mE JtÍ.Ç!t n&_o ·se.. ~UJ'• "ª· Demos-lhe anuncies e conti– tiu.emos a dori,,lr :tzanqullame'nte·. Mas não grite; Vidoque! As pa• lavràs a<;!Ui ·adqúliem ressonãn• •ciâs tremendas. Fa-c;a a coisa em flímilfa. Suspire apenas os anún– cios. e nós dentro de um ,:onho durante , tantos. anos a chamllr de primeira dama de seu pais, comparecendo diante de um delegado, e explicando lisa. mente a sua falta, sugere, não sei po•rque, a fotografia pu– blicada dias antes pelos diá– ri-Os d:O Rio, onde se via sendo identificado pela primeira vez o irmão do ex-ditadór, do ho. mem que tornara obÍ;,igat6rio, não só. o· uso, mas o abuso dos documentos de identidade. ~as nãc fôra J?r9pria1nente pal'a fazer réflexões pessimis- . tas sobre a nossa desorganiza. ção e a o;rgani~ação alheia que eu abai::tdonara as est-a,ntes ca'frega<las de· livros. Nã-0 fôra essa atualidade desa,gradavel' qúe buscara. Se er~Il)_ êstes os vivos que apareciam. antes v0Mar à companhia dos mor. tos. Que estranha coincidên– cia será a que me prende a· vista a um velho volume qua– se esquecido, o livro de De– molins intitulad.o: A quoi tien la supériorUé deli Anglo.Sa• xo:os1 Não, deixemos çe c0:mpa• raçõei, hµmilh:antes, e pT'<>'CÚ• remos de prefe'rência alguma coisa · de aleg:i;e que faça . rir e esquecer a nossa triste con. dição. Já que o presente. tei– _ma em só aprese1i'tar aspec– tos. de,sconspladot-es, fiquemos mesm.o entr.e :t:iin<tasmas. E qu_e– figµra mais a.pta_a dar a 'ilu– são de v.ida e bom nu.mor do que a de Sir John Fálsta'ff? Mentiroso, p.arlapatão, co:var-13e, glutão, oâre de vinhu da Es- • -- Lúcia Miguel PE.REIRA --- copyrigbi E.S.I .. com exclusividade J>ara a FOLHA DO NORTE, neste Estado) panha, s,aco de sálchichas - ev!:tar respootas co•m.proanete– isso tudo será, mas com ·que doras, _quando dou co1n uma graça inventa patranha:, para nota explicando um incidente se safar de situaçõe.s intrinca- a que se faz alusão na peça, d.as , , como são urgentes e au~ entre o então. prineipe de Ga– ·tênti-cas as suas paixões! Há les, mais tarde Henrique V, e ao menos um ponto de ç-0n• lord Gascoygne., gr:.nde juiz d,a táto ent·re· .. .a pl~béia brasileira ·Inglaterra. Shakesp_eare de_ixa do sécu1o vinte e a ma,gni'fica entender que o pcihci;pe agr~ rainha da R,ena.scen·ça in_glesa: díra ô juiz, ·nxas Guizot ·va. a: preâiieção -do Fals,tatt, já lendo-l;e, da aut,oridade do que consta ter sido pqr ordein historia-dor sir Thomas Elyôt; de Elisabeth que Shakespeare que escreveu pouco depois ressuscitou nas A:Iegres bur- desses sucessos sob Henrique guesai:; de ,Windsor o obeso ca. VI, c;iesmenie tál versão, asse. valeiro cuja morte a:nunciara verando que, vendo condenar em Henrique V. Ressurreição um ' dos seus ctr1ad9s, o her– penosa para o heroi, que n,a déiro do trono :tôra tç.mado c_omedi_a fica sempre em: pos. 1e coleJ;a e avança1·a para o tura ridícula, sem o e$pirito ma,gistrado, como s,e o qui,ses. fértil em éxpediente deroon_g. se matar, Este, entretanto, t:rado nas duas part,es da tra- sem se alterar, "sem sequer,se gédia Henrique ív, levantar da sua càdeira, em • atitude ma.jestosa, imobilizou: E' pois . ne.:5ta que o busco. o com as palavras seg.ijintes: às vol-tas com assaltos ·e diví- "Se,rihor, lenib'rai-vos ~ que das., or:gil,1s e bà-tallià_s, sem- estou aqui no lugar do rei, pre se saindo Q.ei :n a,,seu modo, yoss<> sobe'Í;ano e ycissç pai, á isto é', s;_ilv1J,n40 a pele e. a (:j•uem deveis du(Pla ollediencia. bólsa. Mas quem n,andou ,Prdeno-vos poi"s em· seu nome Gu izot fa~r comentários à que a;bando;ners· imed¼atamen. su.a tradução? Dcell-ci-ava-:mé ·te esta tentátiva temer.ária e com .:i cena entre o jujz e Fals- ilegal, e que deis de ora em taff 1inginao.se de surdo paradiante bons exemplos aos que serão um dia vossos suditos; quanto ao presente, por de– sob.ediência e desrespeito à lei, deveis recolher-vos à prisão do ban;co do rei, onde vo.s constituo. prjsione~ro, e onde permanecereis até que o rei vosso pai faça conhecer a sua vonta<l'e". Ante o que -0 principe, to– mado de. respeito, entregou a -esipada e se dirigiu pa.i;a a pri- são". ♦ Isso se passou nos primeiros .anos do séclrl,o quinze, pois Gasgoygne. faleceu em 1412. Na mesma época em que na Ingla terra não se podia via, jar com segurança à noite pC1r9.ue os bandidos infestavam as estradas, em que os bur– gueses eram obdgados a cQr– ta-r - a cauda de seus cachor– ros·, tornando-os assim, s-egun 1 do se criii, medi:osos, e por– tanto incapazes de caçar, di– vertimento reservado. 1 ã o somente aos nobres, nessa mesma época um p-rincipe de. Gales s·e curvava à sm1te·nça d_e um juiz. E nã-0 se tratava d'e um priucipe qualquer, mas de Henrique Manmouth, moço estro'ina e destemido, que de. pois se revélou extremamen– te hábil no oficio de reinar, pacificando a sua . pátria e d_errotan_90· fragciros.amente a. França. Não é de ad;mâra<r. que· vencesse os -seus inimigos qu._em a si mesmo J ão beni se sabia ven.ce :i;. ' . Ai de nós, ttldo· illS'o lev.i pal'l\ longe i;le Falstaff e seus Con.tinúa na 3ª. pag .) divertidos apert.os; as sua.s di.soussõ'es com Mrs. Quickly não ' conseguem ]?render a atenção. E' que o episódio do príncipe nos faz inesperada– mente voltar às incomodas as– sociações de i_déias de-corren– tes das noticias sobre.M-rs. Ro– osevelt e sobre os privilégios de que aqui gos;im os chega– doo ao poder. Não bá como fu• gir ao titulo do livro de De. molms. Não é racismo acre- . ditar na superioridade dos an- glo-saxões, não intrínseca, mas deyida \ ao seu respeito à lei forma sóêial do respeito pc6; prio. Tinha muita razão Sha– ·kespeare ao chamar a Ingla– ·terra de "lawfull eart.h '' Por que fechar os ouvidos à voz dos mor.tos? Se parece se• pulcral por momento.s .togo readquire, se tem rêaÍmente valo'!', a força que a animou em seu tempo. O pa1SSado per– de o ranço, confunde-se com d presente reveste-se de uma indestrutível oportu·rtídade.• A eterni<lade já nã·o red1.1z a Um ràpido minuto a existência humana, é ao contrário, corno li que prolonga, mós,trand-0 a grandeza dos mesmos princi– pi-os atuando do mesmo modo se b3ce criatu1:as passageiras~· filzendo-as encontrarem - s~ através dos séculos.. Não será l~te · o ver dadeÍ>ro sentido dã .cuaura? Não desespere:mbi,, q1.1~ ta~vez um dia também DÔ.$1 :nus pos'samo.s 01,gu,lihar d.e ·pos. · ~ui- to; ma,s con',/'en)lanlOS ';qQif i;~r e~e a inda Jt!Uito longinqua _élia fe1ii. ~

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