Folha do Norte: Suplemento, Arte, Literatura - 1947

r - S.ª Página FOLHA DO NORTE Domingo. 7 de Setembro de 1947 N O PORTICO d os tempos modernos a figura de De• bussy ergue-se cercada de uma aura de lenda, que come• i;ou :, se formar ainda em vida do músico, e que continúa a cr~ oer através dos anos. Não hã ◄u vida, que se trata de t1ma das individualidades mais fascinan– tes, de toda h istória dii música. Quem poderá compreendei: na sua totalidade o enigma que en•· cerra a obra de um grande cria. •dor de arte? Incorre-se sempre - por maior que ,;ej a a admi– ração que se lhe dedica - ln· corre-se no perigo de se ver uma das faces da sua fisionomia, o perigo de não penetrar as suas · Intenções mais secretas. Relati– vamente aos mú~co.s máxlnios, o véu que encobre, não só o sentido de tantas criações mara– vilhosas, como tambêm o de tan– us existências profundas. tem sido descet'cado. em parte por in– teuslvos tra))alhos de exegese e biografia. Mas certos aspectos significativos permanecem ain• da semi-velados. Quase nada se sabe. em geral. a respeito da parte profunda do esplrlto de Bach, jã que toda a atenção tem sido voltada para o seu misticis-– :rno. A religiosidade, a gravida• de do espírito de Mozart têm sido oculta<las pela sua face pro– fana é quase bufa. O Beethoven eufórico de tantas sonatas e concertos cede o pa~o ao Bee– thoven zangado e agressivo , de cer ta•.;, sinfonias e dos quartetos. E assim por diante. ,,. MUSICA • • • , armação e iscoteca Quanto li Debussy, podemos v,r;r nele apenas o agente supre– mo da reação a Wagner, o fun– dador do impressionismo musi– cal do naturalismo musical, ou um criador de d:iss:onância•s que "desesperam os ouvidos academi– cos habituados a rotina· clá.ssíca? Não, Isto é rotina. é muito po_u– co. Os paralelos em geral são pe– rigoso3. Uma certa crítica quis comparã-lo a Chopin, que como êle inventou audáciaJ. ct_e harmo– nia, e também pela importância de sua obra pianlstica: ou en– tão a Mozart, pelo extremo refi– namento do seu espirito. Ora, êle não apresenta, nem a mor– bidez do primeiro. nem a enver– gadura do segundo. do qual dlver• ge do resto. num aspecto de prl.1 melra ln,portânc!a: l\foz:art é uma sensibilidade... 100 % musical, ' ao passo que ·Debu;sy é tambem uma sensibilidade literária e pic– tural. Mas não há duvida que êle se 1jparenta aos dois pela figura do Ur!smo. Q u a n to a Stt avinslcy, é rna:is pesquisador XIV 7"\ uri lo 7"\end e s (Exclusividade da FOLHA DO NC>BTE, neste Es!adill qua Debussy. A unidade de e-9- pirito deste é mais acurada; de "'La Damoisell Elde" até a sona– ta de piano e vlollno, sua úlli– ma produção, nota-se a continui– dade de um espírito que, atra– vês de to~as as ln vençôes, per– manece sempre o me.,rno. Como criador de uma nova lin– guagem sbnora, o lugar de De– bussy ê sem igual na h!stórla da músl<:a; pode.se mesmo dizer que êle divide os tempos. Depois dele nenhum compositor mar– cante deixou de estudã-lo rece– bendo a influência sen·;,ivel do seu gênio personalíssimo. Jt verdade que os russos. e em particular Mussorgski, tiveram a Intuição de uma nova técnica musical; é sabido. que a partitu. ra de "Boris Goldvinov", e uma viagem à Rúsi·.;<a. decidiram do desti no de Debtisey. lY!as este não só teve a intuição, mas a consciência plena de que os no– vos tempos tinham chegado, e que os antigos moldes de e:x:pres– são iam ser, não destruldos. mas refun-didos, porque, na verdade, não existe tá•bua rasa completa. E Debussy, se foi um inovador, e dos maiore3, trouxe a sua con– tribuição poderosa para a res– tauração da ordem clâsslca: seu amor aos grandes mestres do cravo. p rincipalmente a Rameau, deu-lhe o gosto da medida da clarüícação dos planbs sonoros: ma-3 uma medida que nunca per– turbou o lirísmo. pelo contrário. d~llCobriu-l:he no v os angulos, alargando consideravelmente os domínios da matêria musical. que adquiriu maior p lasticidade e fez do colo.iido, não um ele- 1nento eRtet'ior e •decorativo - ~ como s~ observava. de mo<!o ge... ral. nos russos - mas um ele• mento importante da própria 111.Lbstância da obra, * * • A magia do Oriente, pois que .se mauifeõsta de maneira um tanto superficial em mu-itos oci– dentaJ,s, a g i u sôbre Débussy para enriquecer seu esplrito de tendências pagãs, cujas domi– na-ntes principa_is seriam a sen– sualidade e o amor à natureza. Mas, repetimos. .foi na antiga tr3.-dição írancesa que êle en– controu a chave ordenadora das suas tendências. Porque Debus– sy foi. antes de tudo, uma in– teligência reguladora . Escutai, por exemplo, o "Quarteto", o p1·odigioso Quarteto, uma de ,uas obras-primas: sem duvida o impeto é violento. digamos mesmo selvagem (nota-se de modo quase fisict> a pre_sença do Oriente). mas nãp e!.pereis trans– bordamentos retóricos nem pre– ocupações onomatopaicas: a lin– guagem é ao mesmo tempo ãs– pera e polida. rebelde e suave: comigo mesmo, -sem tnter!erên– clas de opiniões criticas a l!1eia9 penso: eis o romantismo doma– do . .. sem que deseje atribuir a. Debussy a etiqueta clássica, a 11ão ser no sentido a que me re– feria na crônica àn terior: é clãs. sico porque s1;1as obras apresen– tam virtudes . de permanência. É muito curiosa a reaçáo (IIJ Debussy diante da figura de cer:– tos mmicos. A Gluck. por exem. pk>, não perdoou o ter aberto o caminho para Wagner. No seu precioso livro "Monsieur Croche Antidilettante", êle opõe Rameau e Mozart a Gluck. Entre outras coisas, eis algumas impertinên– cias ciue êle diz do auto_r de "AI-:-., ceste", numa "Carta aberta·•: v "Fizestes predominar a a ç ã o dramãtica sôbre a musica... se– rá 'isto adrniravel?... Em todo caso, prefiro .Aiozart. que vos esq_ueceu CJ>mpletamente - Mo-– ?art, o audacioslsslmo - e náo >e preocupou coro outra coi– ,a, a náo ser com música". Quanto a Beethoven, acimu:ou- ' o durante tôda sua vida, emb.o- r11. lhe censurasse o descriteris– mo da "Sinfonia Pastoral". Acha. que etl\ outras páginas de Bee– thoven existe urna muito mais . perfeita transposl,ção sentiml'.!ntal do que é invisivel na ·natuTeza. Voltaremos a Debussy na pro– xlma crônica. (O cronista dirige-se à eletro-– ta e faz passar os discos do "Quar– teto em Sol Menor". op. 10. de Debussy, pelo Quarteto de Bu– d3pest). - -------------------- --·· - - ------------------·---'-------- - ------------------·-----;:,- ---- - êsses dois epítetos Ja conhe- íI \CONCLUSAO) RIO - Um dos primeir::>s, n-essa escôlha. se feita ;>or mim. se-ria o "Poema" em q!le se fa l a ôe um gl"ande pás;;?.– ro. Sem Q brilho enoandeante de um., "Revelação da Laa" sem o patético espraiado e soluçant.> da "Lembrança de um amigo morto". sem aque- 1-es verbos no •futuro quê! dão à po!~, a scnrnidt i-ana um <.'1lrá– ter r:-ofetico_ (que uma "ez por <'Utr a. é certo. se 1.orna conven<.'ional) - êsses versos 1nsp: radcs pelo pássa:ro são de uma b<'1eza silenciosa, grave e fund<.i. Suai< palav:ras nos mr.r. dem a sensi]:>ilidade sem qua– se p <i 3Sar pelos ouvidos - tão eir. s11•c1na e descolorida lhe é ::i Mt!!!ca: ''E d ' r~ um gran e passaro. 1 As asas estavam em cruz. abertas para os céus. A rr.ó r te. súbita, o teri a pr~ci,p:-tado nas arei 'ls molhadas. Estar ia de viagem. em de– manda de oulros céus n1·ais f1·ios! Era u.m grande pássaro, que a morte aspera– mente d -ominara. mo a fôrça emocional, surge o adjet:vo que aviva a idéia de morte, "escuro": "Era um grande e es<:uro pássaro", e logo depois: "quP. o gelado e re-pentino vento sufocara". Agora a segunda repetição: ·A Poesia E O Pássaro --Aurélio Buarq11~ de f)OLANDA-- (Copyright E.S.I. , com exclusividade para a neste Estado) FOLHA DÔ NORTE. "As asas estavam em cruz, abertas para o.s -céus" - es- morte já transpa<receu no ver. sua p·resença imóvel, alí. asas creve o poeta no primeiro verso. E no nono e décimo: so anterior: "As asas estavam em cruz, sobre as areias úmi - 'A em cruz". E reaparece, sim- das fe~i-'o pela mo·rte Jus ' s asas. que os azuis quei- ' •· "' · · - maram, "Pareciam uma cruz bólicamente, no terceiro. para tamente a i é qu-e reside o sen. repetir-se d"1retamente, e com tido nucl·ear do poema na aberta no úmido areal". Aqui "" · · ' se ·repete que as asas estavam mais fôrça no quarto: "que a g-raudeza subitamente aniqui- abertas em cruz; mas enquan- morte asperamente dominara". lada. No pode]' sobrenatural to, ali a-trás. 0 poeta apenas Reiterou-se aqui. íntensifican. da morte. que de chofre mu– indica a maneira <:oino se do-o. neste "à~perarnente do- dou o itinerario da grande ave. achava,m abertas agora. a cruz mina·ra", o sentido de violen- dona dos ares. fazendo-a b1.1s– passou a 'ser u'm 3 compara- eia do "teria precipitado", que ca-r ,outros céus mais frios. ção. aparecerá uma vez mais no Até o pent'.1Himo verso, o Do primeiro verso para O quinto verso: "que o 11.elado poema é um jôgo continuo de segundo observa-se a i-ntrodu. e repentino vento sufocara. paralelismos, com os quais se cão de dois novos elementos: Note.se o violento . e o lries- firma indeslizável em nosso "que os azuis queimar a.m" de perado da morte: "picecipitar" espírito. como coisa poderosa. 9ue tlratará mais adiante. e "d.ominar". "sufocar"; "súbi- mente trágica, ê;,se grande 'no úmido areaJ,". que, con- ta". "àsperamente". "repe-nti- pássaro morto. Além dà pro– tra-stando com "para os céus". no". Observe-se ainda a mes. digios~ _felicidade nesta su -,.... do segundo verso, envolve, ma idéia da m.o•rt·e, do :frio da perpos 1 cao e cruzamento de contu.do , uma idéia de repe- morte. no segundo. ter-ceiro e repetições, 0 poeta usa de uma tição e, et·ç-o a l "uinto versos: "molhadas". adjetivação precisa, seguríssi- - r P I a O comp e. " ma - eu ia a tlizer pun.,"en te mento de lugar Antes O poe "frios", "! !ela.do " - admirável • , • ~ - para e:xo'rim:r o trá~ico do ta sugeriu a idéia de um úl- efeito da gradação ascendente. t· t . • f t d 1 · Esse fr io insinua-se ainda no mo ivo. Além do "graflde" tmo voo. rus ra o pe a 1norte, - adjetivo de sentido tão Jato. ou, talvez melh'or. a de uma sexto v•erso: "Chovia". e no partid:.i para a eternidade, na. décimo: "úmido". por vezes tão vago, mas aqui quelas asas "abertas para os O sétimo verso - "Era ai- valorizado p-Or um cunho de céu.s". Depois. insinuada es. guma coisa de trágico" - re- tragfdia. todo;; os adjetivos - pete-se inteiramente no n ono. exprin1em com surpreendente .sa evasao, iml)ression a-o a precisão e fôrc;a, essa idéia da para co1nentai: no fi:m. O "es– curo" do pássaro. a que o poe– ta se refere no quinto vei:so, repete-se não s,o,mente no oi-– tavo, mas. com surpreendente beleza. no nono ve·rso. - ria. guele "que os azuis queima– ram" . As asas fizeram~se es– curas" - como todo o pássaro - porque os ares, os céus. -o sol, os "azuis" o tostaram. "Os :izuis" escreve o poeta; assim no pluraJ. em v·ez de "o azul" que se vê, por exemplo, no Melro. de Ju,nqueira: "O' fi. lhos. voemos pelo azul!" E' um a.chado poético êsse plural. Outra marca muito viva da beleza desse poema scrnidtia– no consiste no val or ondean– temente imp-revisto de certas expressões. O melhor exem– plo disso está no "Jrclado e repentino vento". Fica.se a flutuar entre o sentido direto dêstes vocábulos - perfeita– mente cabível, porque estava a chover. era um dia frio - e o sentldo' figurado. de morte . E o próprio mistério ge-rado por essa i:ncerteza essa i níi– xide;,;. ampli•a vi~am •en.te as fronteiras pcéticas das pala– vras. Era um grande e es<:u=o pássaro, que o gelado e repéntino vento su– foca.ra. · Chovia na hora em que o <:ontemplei. idéia da própria terra, do úmi- Fa.to de importância. pois no m?rte. a visita inesperada e - do areal - lei,to mortuário e ~ poema só há duas coisas úni- fria da "grande aventureira" tqinuJo do pássaro. sobre o c~s assim integralmente repe - de outro poema s<:hmidtiano: qual estava aberta a cruz. tidas: o período inicial, em "súbita". "frio", "es,curo''. ""-e- E no fim de tudo. par-a dar um tom culminante à grande. ,:a da poesia surge um verso quase in teiram<:>nte alheio ao ciclo dos paralelismos: "O Etrande bico aberto guardava um gri to perdido e terrível". Era alguma coisa de trá– gico, Tão escuTo. e tão miste– rioso. 'l)aquele êt·mo. Era a!,gurna coisá de trá– gico As asas, que os azu's queim-aram. Pareciam uma cruz aber. ta no ú1nidó areat O grande bico aberto guardava um ,eri,to perdido e terr ível" O que desde logo impressio– na neste poe-ma é. parece-me a linha grave e oaracterfsti~ camente monótona de sua construção. Todoo os períodos começam, i n v a riavelmel)te, p o·r um verbo ou. menor nú– mero de vezes. por um -subs– tantivo: todos sempre na or– dem d i reta. E - uns mais bre– ves, outros mais longos - to– dos , no entanto. são alongados por uma indef~nível corrente de emoçã() que os a-nima. im– pri•mindo- lhes um vivo toque o e mistério. Há nos periodos um indisfarçável jeito prosái• co. alguma coisa de igúal. de es.ierado. de sem novidade, que. paradoxalmel)te, é boa pa'rte da grandeza do poema. E quando ll,s rep~tfções apa– r ecem. dilatando o apontado ar de moIJotonia. - em vez da ausencia de surpr esa. o que nos !ere é precisamente a im– pressão de alguma coi:;a mes- ada . I,sso resultará da ar– t t> no emp~i~o das repetí~ões. VeJ 0 -se a prime ira delas. Diz o poeta; "Era um grande pâs– i;r • '' ?,-:> cn1arto verso e ,otc: ..,F · ~ ~nde ttáA-J.. t .. ndo· "a~ A terceira repetição: "A que s-e exprime a grandeza da lado". "trá!!'ico" "miste1·1·osºo" Aqui apenas se repetem m ~r ... e su'b1"ta o ter· · · E ~ ' • o ad1·et1·vo "gran"e". e.m- ~ • , . . ia prec1p1. ave - " ra um grande pás. "úmido" " tado nas areias mo~ha<las". saro" _ e aquele ou.tro pe- H ·, · pregado antes em relação (s d ) A - a no no,,.ma ." ·~a repeti· - ao â " b egun o verso . noção de ríodo, que diz a tragedia da .., - = u · P ssa ro, e o a eTto" . em POETAS CEÂR-. ENSES'____________ ç::._a_o_:q:._u.:.e_d.:..e:..:i:.:.xe..::i::..,_:d:_:e:_:p~ro:,:p::,:ós:.:.:it~o,'.....'.r_:el:'.'.a~ç:ão~às asas. Bir.-se-ia que • Mal~equ!:res suavisam a paisagem e, la fora, para além das montanhas cheias de escarpas e de meclo" o mar ruge e em · t d ' "' O ' ~,m, u ,º e como se fosse um dia de tempestade. cor~d mhel!'ncol,co do ceu se esvai -e de repente as sombras • que a,n a a pouco apenas se anunciavam s_e lançam para baixo e enchem a ferra da O melancolia, ó indiz:ivel tristeza de estar - . . e nao sentir, como outrora1 o perpassar do sua côr .arroxeada. • • aqu, fino ar tão saudavel destas montanhas! Antonio Girão BARROSO (Conclusão da últ. pág.) haveremos de lhe sorrir agrade– cido&'-'. * • * Quando o telegrama chegou já passava de dez horas a a r.otí– C!a correu como um raio pela c1d;,.da: pelo trem do meio-dia chagariam não ael quantos turi~ taa para v isilu CaJagua:zes. O caso era êjlte: certa aocie– dade filarmônica da Petr6polb, em cada seis meses fretava um tzem ~special, enchia-o com os seus soc,os e aua banda de mú• sica. enfeilava-o àe bandeiras e eJ1cudos e ia visitar uma cida– de qualcruer onde passava o do• mingo, ""m ampTo piquenique. Aquele ...,meat,-e tocara a Cata– guazes ser 11 cidade ;-lailada A palavra• turista er inédita em Ca tagva:te• o o p o, gozou-a " "~....:.!;:• 11 a111 O a de tn – d·a <"he- estllva CADERNO DE VIAGEM recer já se ouviam os foguetes. Quando o trem chegou mais per– to, ouviu-se a banda de músic:i :num festivo dobrado . Quando o trem parou foi um vivório louco. Armou-se o cortejo. A ba.~dn de música petropolilana ainda se fez mais marcial, mais al ~g1·e. E foram 1uhindo para a praça Rui Barbosa. Na praça Rui Bar– bosa é que fica o clube de Ca• tagua,..s, por cima do cinema, que na verdade foi consll'Uido para teatro no tempo que não havia cinema. Houve a recep– c~o. O presidente da soe\ ld3da fila.mônica. um cavalheiro gor– do, de guarda-pó e bon~. elo• glou imensamente Cataguazes an– tes de conhecê- 1 a e ofereceu uma corbeille de flores petropoliia– -r as. q u" sim.bc ,:''\'7.ava a amJzad.e <lestas d.,as cultas e proo-'<es;;;i1. las _cidades~ etc., e tal . o pre- feito l.nfeli:zmerue não estava pre&ente :- tinha ido na vespera P~a a sua fazenda nos arrabal– des. Quem agradeceu em nome da cidade foi o senhor Arz:uda Jornalista local e rábul" concei~ tuadissimo. Abria as portas de Ca!aguazea àquela plêia<la de amigos, e q coração dos cata– guazenses também está aborto para_ recebê-los como Irmãos. o pres,denJe da sociecl ade estava com<>vido. O senhor Arruda ar– rematou: .,Cataguaus é vossa meus irmãosr•. , E os turiJ1tas sa!ram para vi• sitar a cld,,de. lnfelizmeni~, e,a. tagu~:zes não é grande_. e plor do que isto - - uma das cidades m2- nos !uristicas do Brasil. O re– suUado foi que (!ll'I cínco minu– tos o~ tllris1as linhPm visto tu– do. E as ieua, ,iem ú vorea, e ~ --- .. ----- sol rachando, oa }urãtas s ~aYan,, como bicas . S6 havia um remé– dio - voltar para a praça Rui Barbosa, onde algumas poucas árvores davam um p o u c o de sombra. Foi lá que é!es dellem• brulharnm os seus farnéis abri– ram suas garrafas térmo~.' ma– ta:am a fome e a se11e. Foi lá que êles ficaram o dia ·todo co– mo um bando de ovelhas ca:itaa– das. até que o trem se forn,asse às 6 horas para leváctos d<! volta para a fresqulssima e pitoresca P e!ropolis. E durat1,te todo o dia o que ,.,, deu f oi que Ca!aguaze11 :rodava à voUa da priv:;a para ver os ,tu– ristas. E na. vila Teresa, no bair– ro do hos~tal. na estrad'\ de Sinimbú ha'ida dláll)go.s assim: - Já foi ve,- os t11ri~as? - Já . . -P.u f u i Vet" o i t ,,:!"to•as -Eu vou mais tarde . passar o 1 0 1. aqor11 . Deixe cidos servem para frisar me. lhor o pássaro e acentuar mais nitidamente todo o iln– pressionante efeito daquele grito, "peroi,do e ter'!'ível''. A:té "aberto" o ver;;o conser– va certa ·claridade e uma ca– dência tão i-gual. que mal se pode imaginar que o pássaro "guardava" - ''.\Jm grito per. dido e terrív-el". Não sei por– que. mas essa i,djetivaç,.ão, a sobretudo a sucessão dei:ses ii. dão-me a imI>ressão de algu– ma coisa de sufocado. de es. ~rangulado. de aflitivamen,te tri-ste, que fazem de um ve~o meio manco. de rit,mo que– brado. um dos mais belos ver– sos da nossa poesia. "Guardava um grito perdido e terrível''. Fe're-nos de prori-to a a-parente i1,cdêrência entre o "guardava" e o "pe,i;{ij-do'". A.parente. sim: enten<!e-se qttt> o blco do pãssaro ainda con– servava um grito - grito de dor? grito de 1neâo? - que se dissipou, inútil. nos ares. ÊSSe clamor perdido a:e.usava-se 'linda - estava guardácdo - na bico abetto. Não há. pois, in~ coerêucia (aliás. não é pela coerência que se hã de dis– tinguir a poesia): mas a im– pres!ão de oue ela existe ~. por si só. de grande efeito. De– pois'! "terrlvel". epíteto que <J uso banalizou a'l)resenta ali intac;ta a sua peculiar inten. sida-de tragica.. · As pala-vras, as construções, o ritmo dêsse poe-ma, tudo é de uma si.mpli.cidade de uma sobriedade extr ema. · Há nele o indispen~ável, e só Q inqis– pensável: da_( a sua fô·rça . Por– q_ue "o valor cornunicati._,.ll dum poema" - lê-se em João Ga-õpar S imões - "está n,:i, r:i~ zão diteta da sua sobriedade ex-pressiva. Não careêe. por– tan~o. um poeta de empregip:· mtutas nem poucas palavras par9. comunicar um dos seus n1ome-ntos supremos - care– ce apenas d ·e e1npr~gar .as pa– la v-ras indispensáveis" . Foi com uma -so'briedade fru_ga1. valendo.se de têrmos- e construções sem nenhum re– Jêvo excepcional em si mes– mos. mas admita:ve.lmen te a.just~d-os à emoção do 't .ema, e repettndo-os da manei-ra mais vivamente impressiva. que A.1.1gusto Fr .ede:ci.co Sohmidt ccnseguiu a força ,:,atéUca do seu poema. a força patêtica tremenda com que se firlca em nosso espírito aquele ~Cl:lro pássaro mofto. com a cruz das asas abertas, e guardaào no b:co aoerto "vm f(rilo perdido e terrível''. Terrível. Há de -~em.pre ferir.me os ouvidos êsse grito. · . Mas não será que. de-pois de haver afirmado a in1penetra– biliedade do mistério pOético, estive a fazer•me de ~,1til, a querer desvendá-lo? N~o não prete-ndi (>.-clarecer o mistério; a'óel}as intentei aponta-r camí. n-hos oue levaram o poeta a alcíl-nçá-lo. O q ue rae -Pl!rece im,pos:~f– vel . o que se.g.ur amen te n(>rp o meswo p oeta sabe rã e"<'~lioar , é a fOrí'a aue o c-0ndirzitt a t'> ls .-~n-i;ni-,<>~ 11,,.,~e o te'rrivel mistério. Terrível.

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