Folha do Norte: Suplemento, Arte, Literatura - 1947

I • ' RIO - Falando de Ro ma Pi,erre Mac Orlan pos• gujr êle todas as chaves que bert Louis Stevenson, afir• abrem as portas da Aven• t ura. :tsse ron1ancista, que foi • • • , ' última chave, que abre uin quarto que se comunica com o infinito, franquearam o ohão ardenite da• vida. Além dessas port as apa~ r-entemente :ü:ágeis - chá de tílias, ond•as, e desaba– mento <la Ponte de San Llii,s d'el R~y. a const~ção da .eonsidera,do pelos indif.en ~s de Samoa como um tu~a– tala" isto é. um contador de bistó~ias, ;:dn-da boje guar– da em seus livros, sem que <> tempo a altera-s~e, antes conservan do e endurecend".l a sua originalid-s:de, o qi;e se poderia chamar de noç~o -exteriol" da aventura. Atras Domingo, 7 de serembro de 1947 Diretor: PAULO MARANBA9 - NUM. 42 ~,:-;ralha chinesa, uma- moça nua nadando ao luar - es– tavam as aventuras inter\o– res, a descoberta dos mean– dros mais secretos do cora• çã-0 humano, a revelação de dra.mas íntimos que tornam a vida e~erjor apenas uma paisagem. - ----·--·--- - -----;--- - - ------ - --_:____________:.:..:=-=--- ave · das portas cµjas c!1,aves ~ – . tavam em suas maos, ex1s• . te sempre um elemento ipropício à aceitação de _sua obra literária e à densida• de de seu espírito humano. E' aliás nesse território, q~-e n1ais 1 se evidencia o ta• lento de Stevenson, que de pés plantadoo na terra se atira à conquista- intelectu– ~l do i nver-0ssímil e do ma• l!'avilhoso. U m a viagem, uma fuga, a descoberta de um mundo primitivo cerca• do de mar e tormentas, 011 qualouer outra ci,rcunstân– cia- tão graita ao velho ro• mance que tradicionalmen– te se li-gava à narração do excepcional e se deixava 5us-tentar pelas pilastras da A ventura, são de uma ter– crível oportunida-de par a Stevenson. Ch:.cunscrito a uma técnjca de romance que não inquieta, antes se desenvolve em moldes for– mais já clássicos, êle pr es• sente sua "chance'\ e apli• ca os seus sólidos poderes à-e invenção e de desco~e!'– ta em contar histórias que serão, durante • séculos, o encanto dos adolescentes e a delícia dos adultos que, em seu mundo de respon– sabilidades e inquietações, são susceptíveis de ouvir o grito <le uma fada chaman– do-os para uma visita ao álbum marítimo de Steven• son, onde os postais se im– pregnam de coragem e do– çu ra Nos di-as de hoje, a lit;;;– ratul!'a de Stevenson pa-rece• nos, por maior que seja a n ossa boa vontade, muitc superficial. Endereça-se aos adolescent es ê s ., e mundo· transitado por um desusado vocabulário de marinh a mercante, povoado por ma– rujos e homens que se es• paHeiam pelos mais vários quadrantes sociais e psico• lógicos, e conduzem em si uma definição moral de a•m · bição, ódio, crime, dever ou amor. Um tesou,ro e.c,con,,di• do, . portanto, não seria um problema para quem possui as cha,ves da aventura. -- Lêdo IVO -- (Copyright E .S .l ., com e'xclualvidade, neste FÕLHA DO NORT,E) Estado, pa:ra a continuara•m ignorados, co-.. mo tesouros sem roteiros. O mundo insular de Steven– son, atualmente, é mais de ; turismo que de revelação. .Justamente d e Pois de no do romance. Morrendo Ele possuía as chaves má- trilhar êsses caminhos si- no amanhecer dêste sécu~o. gicas da Aventura. O mun– nuosos · qu: vão desapare- quando muitos outros r ó- do atual, porém , está bas– cer !1ª areia e n~ . f:Spuma, mancistas já t in~am proje- tante devassado• pa-ra que õ -~dm1rando _os ~ li1c1os que tad:o as suas perguntas sem cenário constitua um segrê– ele cons_t~u1u ate 1904, é. respost'a-s, êle deix-ou -nos do. Havia uma porta da que verificamos faltar algo" apen,as uma série de roman- qual o cria;dor de "~ Ilha imprescindível e sub.sta,n- ces que abrem vastos hori- do Tes'ouro", não tinha a eia!. à sua obra. Ima,ginoso. e 0 chave,. ~ atras de_sta_ estava zontes g-eográf icos, mas se t d f fértil Stevenson não pos- distinguem quase sempre d . es,prr1 o a icçao ipo, suiu a chave. que abriria . pela pobreza analítica. Os eri:a..- o desdobramento do uma porta atrás da q. ual se êd çaminho de Dostoiewsk~ ocuJta o sentido e o desti- segr os ocultos nos espiri- St:endhal, Flauber! e Tols- tos de suas personagens to1. Os que possui ram esta Surgiu um problerna in• t-e,:,essante:· a, faltá de Aven• tura. em seu sentido geográ. fie-o. na ficção moderna. As ilhas de StevensoD alimen- tam apenas o mundo fan• tástico das crianças: E. as viagens fu.giram da- ficção e fi,caram constituindo um gê– nero literário isolado. A a• ventura indica-da p.or Ste– venson oferecia a decepçã9 das ilhas dos mares do su1, :io comércio da copra, dos bichos selvagens e da na• tureza . rebelde. Seu cami– nho, <lesven,dando paisagens, perdia-se no pitorescQ. Pt>rtlncto do a·ce1to, com– p ulsável e estabelecido, e depois de nos transmitir t~ dos os aspectos de ordern, Stevenson avançava, como uma côrveta bêbeda de ven• to, na direção de um uni– verso pouco conhecido, que só se definia i-acionalrnente pela soma de seu prodi gio– so. Estabelecido o contra.s– te, firmado o seu olhar na vasta paisagem fluoresce!'l• te, onde até uma garrafa era o vestíbulo de uma má– gica, Stevenson sentia•-se garantido. E ao povo que queria historias, êle dava histórias, por querer e por saber contá-las. • 1 - Sonho. Estou com um amigo, c;,ue não identifico, no interior de uma casa onde haverá \nn espetáculo teatral, p ara o qu,al não disponho de ingresso. Sou um escritor muito conhecidó, o que me in<luz a, crer que tenho direito a en– trar sem' formalidades ; contudc. . . Já meu amig-o poderá penetrar faciln1ente, e o porteiro - que é o senador Pompeu - não lhe barra a entrada. A' fálta de outro recurso. vejo-me compelido a· ine diar a conhecer, em,bora se c ame n– te: "Sbu Fulano de Tal". "Ah , Fulano? exclama o senador. Conheci quando 1 me- l nino. Entre". Meio vexado, subo as esca– das, e digo a meu amigo (então o sonho 1:ioma uim asp,ect-o consciente de 'ãesf.orra ' em plena vigili,a): "Veja você. O lÍnico privilégio dia infância é não conhecer o senador Pompeu. E eu a-cabo de perdê– fu". • • . w - Sonho. Es,tou no sobrado de minha 1~ rr..il:i:a, en1 X . E' madrugada, céu todo– escu,Q. Da sa-?da. Vt>jo sair da c·•einh~ en1 ;1,,rente, f .o da . • Ultrapassaremos o nôjo dos plàno$, os lírios sujos A MANUEL BANDEIRA Realmente, Robert J,ouis ~teven•son, q.ue só desperta curiosidade quando nos con– ta histórias marítimas, não conheceu o segrêdo de um Conra·d. "Dr. Jekyl e Mr. Hyde", que fixa ~m suas páginas· um drama decor– rente do desdobramento de personalidade, indica per– fei tamente uma ilha na o• bta de Stenven-son . E esta - e o espêlho crucial das inlancias qntec!padas. Galgaremos os pássaros: os contactos se mutilarão nas alturas e os cabelos furiosos gesticularão madrugadas . Rolaremos pelas perspectivas rememorando odes e episódios sem u rtidade Come remos estrelas e caminharemos, caminharemo~ pisando lembranças e o tédió- mor to. Caminliaremos loucos furando pupilas colhendo crianca, , despe jando remorsos. No silencia. haverá relãmpagos de plenitude cort ados pela luga Súbito, tropeçaremos' na Estrêla da Manhã . Evoltaremos gritando: • - Manuel, Manuel, achamos a Estrêla da Manhã . - HAROLDO MARANHÃO CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE (Especial para a FOLHA DO NORTE, n este Estado) . • • - • sado a noite com um homem. Só então reparo que meu ponito de vista é a sacada, e cuido em aproveitá-lo para tirar a lim– po ~ largura da rua, que na m;0cida<le me pa ~ecera menor, em comparação com a sua '3Xtrema amplitude na infância,. Teria fica, o realmente mais estreita, à medida que eu ia crescendo? Não. Voltara a ser la'l'ga, da mesma largura inicial, agora que o observador a,tingira à ida<le madu,ra - is~o é, diminuira por &Ua vez. A correlação !,'ntre ,a rua e minha ida-de apareéeu-me então sob forma poéti<:á, é fiz imediata– mente um poema de três versos, sôbre a rua da infância, la<rga; da juventude, com– prinudoa; e da ida:de madura, amipla ou: "' - . P9e~1a que ach~i tão Ja,pidar e !'!S– senc1a1 como o recente de Manuel Ban- O núm-ero do "A:tlantic", chegado há' pouco,· tralZ: êsse poe•ma -de Carl Sandburg: , de;ra, oni;Je há o Tef}exo de um edífiéio na I)<,ça J(: lam:a, j,unt o it . qual passel.am. ·qua- 1.ro w !f)as. Mas, a-o acord-aJ:, não r es_ta pa-_ PUBLIC LETTER TO EMILY DICKIN– SON F.ive litlle roses spoke :!'-0r God to be near them. for God to be w.itness. Flame ·a;nd t-horn were there in and aroun(l f ive rases, wiMing flame, speaking tho:rn P our from the sea one hand of salt. Take· from a star . ' one :fi,n,g-er of mist. Pick from. a heart one cry of silver. , • - • • • ilh·a, que contém o mais. :fascinante dos tesou1·os, as– sinala o fracasso de seu au• tor, é a presença viva do que Stevenson não pôde ser. No mundo romanêsco ~ – de Stenvenson te!'i:nina, Conrad, que conheceu a ve-i:– ,dade, se inicia. E não eram o .ma•r e as ilhas o que 1n- • teressava ao general criador de Tuam Jim, ma~ os ho– mens, as paixões, a honi·a, o dever, a lealdade, as aven– turas do espírito. "as rr,ais loucas evocações de outro• ra". Conrad é o ponto estraté• glco em que duas aventu– ras se unem, em uma coe• são indestrutivel. e o seu mar, ésp'êlho da coragem e da sordidez humanas, é tal• vez aquele em q~e se que• br.ariaxu. depois as ondas de Virginia WooJf• o 1n,1r do · Ten1po, ante a et~rnids-de que não t.em <'nmêço nem fJ.m. Let be, give over to the moving bh1e oí the cb_o~en s,ha-d-ow. Let be, give o-ver t o the ease of g-0ngs, ui the 1night of gongs. Sha,re \Vith the flamewo-n, cho-0se from y-0ur thorn s, for God to be near you, for God tó be witn,ess. Que O a.prendi.z -de tradutor re-duz ao·s se- 1uintes t~rmos. lARTA ABERTA A ÉMlL Y DICKINSON Cinco rosinhas pe-dira1n a Deus, que chegasse perto, a Deus, que testemunhasse. C'han1a e espin1ho estavam dentro e em tôrno ,das cinco rosas, ,cha,ma tnoo,iet!l . v oz ,de ,es,pJnho. Continua ~ 2." il)ãgina .. •

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