Folha do Norte: Suplemento, Arte, Literatura - 1947
BRENO ACIOL.I Gilberto FREYRE (Es'Qeclal -para a FOLHA DO NORTE, neste Estado) De Breno Acioli nunca du– videi que se tO<rnasse um au– têntico escritoir e não apenas uma dessas c~icaturas de es. c ritor em que tenho visto se transforma.rem tantos adoles. centes aliteratados dos muitos q~ tenho conhecido; dos va– ries que são para os ·mais ve– lhos criaturllS misteriosas e até angélicas aité -que a mediocri• dade ou a vulga~idade tecla. ma-as tirânica e definitiva– mente para oou domínio. E' claro que me refiro à meddo– cridade literária ou iallteO,ec. tual. numerosos como são os ca.sos de a.patentes vocações paira as letras, como para as artes, as ciências puras, a ,filo– sofia e o sace'rdocio, que, des– feito o equivoc-o de adolescen. eia afirnlam-se supe,:iores· noutras ativida(i-es: na medi– cina, na engealharia, na arte do t eatro, no comércio, na indUG– tria, no jornalismo, na admi• niS'tração pública. De Bren-0 Acioli, como do também aJagoano Ledo Ivo, gabo.n1e de ter dito sempre que com eles não havia equi– voco possível: suas primeiras aven,tuiras literari,as de adoles– centes eram já sinais incon– fundíveis de escritores autên. ticos a madrugarem nos qua– se meninos: desses que passrum pelos colégios sl!an ser em ver– dadeia-amente dos col egios e pelas faculdades superiores como Ull'lia especie de a-:tmas do out:ro mund-o entre a maíor parte dos professores e cole. gas triunfalmente pr áticos e deste mund-0. E é o que na verdade são aqueles ad·oles– centes estranhos de aJ.roas d-e outro muindo. P-0r mais d~– pretensiosos que sejam , por 1nais naturais que pareçam ser nos seus rood•os, nos seus traj es, nas suas palav.ras, o sobrenatu.ral d·o tal ento, da sensibilidiade da inteligência não deixa que eles piassem despercebidos do maior n ume. l'O. E ó maior numero cedo co– n1e-ça senão a odiá-los, a não cCltl'npi;e-€::IJdê. Ios bem. A não perdoar neles as diferenças ou a originall<lade. Em Breno Acioli como em L edo Ivo se vêm afirmando d esiie os dois ainda meninos pálid·os de provinda do Nor- • deste, duas doas mais putras vo– cações literárias <JU:e já ani. maram as letra.s brasileiras: L edo Ivo pri,ncipalmen-te na poesia, Breno Acioli principal– mente no con<to. N= conto, porém, que não d·eixa nunca de ser tampém poesia. Pois nenhum leitor chega ao fim :ia leitura de wna produ ção de Breno Acioli sem se sentir num mundo que n ão é outro senão o poétiico. O que não signi fica que seja um mundo d-e irrealidade ou de su,prare– alidla,d,e e sim daquela rea– Jj dade em certos trech os re– b elde ao éonhecirnento pura– mente científico ou lógic o. da– quela rêai.lidade aonde só r.re chega p e 1o COIJ'.lh ecfunento poético. O mu nd o dos r:oman. cisl.as f! contistas ingleses ro.a ls profu,ridos que são também p oetas a seu mo&> com_p são também wma es,pecie cié psi– cólogos da consciência e d;o 1'\lb.consciente, capazes de daT liçÓe$ até de psicanálí~ aos profissionais dessa especiali – dade cien!t.ifi,ca, embora n in. · guém encont r e se1J,S n-omes de roinancistas ou contistas com– pl exos mas incadêm ícos, n em n a.s an.tologias de poetas nem n os tratados de pstcologia con. v encíonal. Br.eno Acioli pe-rtence cem outros l:>rasiieíros - ·seu gran– d e comprovínciano GraciJ.iano Ramos, por ex:e-mplo - a esse grupo de contistas ou r oman. éistas complexos cujos contos ou romances nenht.U7J d e n ós lê, colhendo da leitura apenas um prµer super ficialmente estético ou con ve:hcio-nalme-n– te literário. São contos, os seus, que quase .senwr e nos l evam • a presença .§e alguma coisa de pouco eonq eeido, d-e pouco confessado. de -pou-co revelado e a,té ignôlra,do na turva con– dição h u;n anll,. .:B~m qu e É . M. Jiors ,f.er a,p,o.nta como um d-os i.Contl.11:úa na 2, li. pàg,) • Ilustração de ERNEST TURLACH Pakalamoka E-A Lenda Dos T ojós • Nunes PEREIRA (&peci-al para a FOLHA DO NORTE, • No principio os mdlos :roa.euns .nlo tinham ta.ntos irmãos e tantas mulheres à, ma,rgem do Uraric.uéra, d-O Surumú, do Kuting e na ilha Mai:!'cá- Sevs vizin·hos os .pe1-seguiam, crun emboscadas e guerras, ou lhes destruiam as roças é as ubás e as malocas. E as doe1~ças e o Keyemé os :matavam (e às crianças e xiri.lnbahos, também), quando o inverno viDha das bandas do Roraima. . • d" Nenhuma afeição unia firmemente uma india a UJIL m 10. Tod,i, a tribu era infeliz nos ca,mpos e Dali flores.tas que Maounaima lhes déra. Entã.o, sem que o Tuchaua; e ~oda a tribu soub_essem, . o indio )>aka.iamoka, - que depois fo1 um grande page - saiu à procura da M;Íe-do-M.a,to - para lhe pedir que protegllSS(l a sua, gente e a tornasse feliz e numerosa como eram os b -u– Jipangs, ós a,rekunas, wapischanas, os pnrukotós, todas elas– tribus inimigas. A Mie-do-Ma.to estava tratando de enterrar as sementes de a,Jgun'i fr utos qu,'e os IW.l,ClWOS, as araras, os tucanos e as outias haviam espalhado pelo chão. P aka1a,noka contou o que se passava com a sua gente, A l\'lãe-do-Mato então ensinou-lhe o que deveria faur para ampa.ra.r as rr-'',as e ~ocas -dos rnacuxys, ·cu.rã.los das doenças .sa. 1 vi-los dai, mãos de, Ke~ t:mé e tornar todos ns aroant~ trnidos e ffJi:zes. · Na.que-la ooite, mal $e levantou a lua por cima das ~l'ras e dos lavraqos, Pakalamoka. (como lhe ensinara a, Mãe-do. Mato) se "ÓS a caminho - com o seu arco, as suas fle:,,.-as , J-" , ,. e duas J)'Cdras de fogo da velha Palenosamo. Ia no rumo •de um campo aberto, - sem buritís e sem pe. dras com um lago, onde os veados há muito ~o be-biam, nem nad;va~ os pat-OS e :a.s marrecas, nem gritavam as piassocas, nem engordavam os janruás e os ro&ndis. Já, na vizinhança .do lago Pakala.moka viu um bando de Kor otoiltós (que são corujas bt-ancas, de cau~a. comprida).f~ zendo a,Jgázarra, sobre a ·cabeça dele, num voo que se d1r1g1a para 3 lua. Palcaiamol.t.a, (como lhe emina~a a Mãe-do.Mato) lançou uma. f!exa. certeir.a co.ntra: a coruja que ia ma.is alta e parecia querer ocupar um lugar no Céu ao ,lado ao Mutum. A ave caiu p,·óximo ao lago. com o corJ>o a-tra.ves~o pela • {flexa.. J>akaliunoka não a, ......,.,-a, nem ti>CoU, .tambêm! na. .nexa. Saiu. a ca.uw- pelo campo &oravetos, folhas e capim seco. Pôs tudo isso sôbre a ave. Ba.teu ..s pedras de fogo, viol.entamen~ uma co!ltra: a. outra. o rogo inflamou os gravetos, as· folhas e o ca.p1m seco. Um:i. viva fogueira entrou a queimar a .ave e a flexa. :Pa.kalamoka (como lhe ensinara a Máe-do-Mat_?) deitou.•se, de br.11.ço , ao longo cl~ suas flexas e do seu ~rco, sobre a, •terra seca do campo .e dorJDJu. ••• • • • Pela m.anhã, quando Pakalamoka a.coroou, em ~eO.m- .~e1e. e dentro e en1 redo·r do I~o, se a,glomera.vam todos ?5 taJ~s. que as 11'.lacuxys boje conhecem, - co.m folhas de vanos fe1t.io $ e cor,es deslumbrantes. E torlos esses tajás tinham virtudes: .especiais. E o novo pagé, que se tornou Pakalamok.a, deles se ser- via preferentanente; , ttav1a. o·ta-Jã qtie defende a roça e)},~ do hldio. Havia o tajá que torna o indio bóm caçador e bom pes. , . ~, ' ~d~ . ~ . iniº Havia O tajá. q:ue toma o indict.. urvwvel aos m.igos ·o aos olhos mes,mo de Keyemé. Havia o tajá. que o poupa das fadigas da guerra, da pesoa, da caça e das viagens, . Havia o ta.já. que o faz ganhar nas provas e nas lutas tra,. di-eionais da. tribu. Havia o tajã que o faz querido das·mulhe:res.-.. Pakalamoka arra.noou os ta.-jás- (como lhe ensinara. a Mãe-. do-Mato) , nwe6$3i"ios ao trabalho, à saúde, à paz, a.os amores e à feJicida<le dos ma.cux:ys, levando-os para o seu povo. l : l E' por isso que a. t;ribu se fez num.erosa. 1 dela ·fofem .os seus inimigo~, nunca U1e faltam os peix-es e .as caças, cessl\i'll1l,m as do(lnçq.,s e os indios e as indias Um filhos robustos. ~ Caderno o·e Viagem _.,.,_ n~ Marques REi::rr,:J...,O c;opy·right :E.S.I.. com exc1usivt– dade, neste Estado, p aza a TOLHA PO NOR'J'E l CATAGUAZES Estão abrinâo a urna. das Ma.rias. O que se entende por urna. das Marias é .a urna. ele~– toral COTNspondente ma.is ou menos à letra M do eleitora.. do da cidade, e como M.aria .é nome dos humildes - J.\,Iaria a.a. Silva. Ma.ria de Jesús, Ma– ria das Dôres, Maria. das Dô:– tes Correia, Maria da Fonse• ea, Ma.ria de Jesús Batista, Maria, José da. Silva.. 1\laria Rodrigues da Silva. r.1:a-ri.11 Te. resa de Jesús, Maria An•onia tla Con.ceição... - e como um tlos partidos timbra- em cum• primentar- :na rua as cozinhei– ras e as copeiras, em abracar as lavadeiras e as engomatlei• ras. pois ac~a que isto é que é faier política pelo povo, a. abertura da urna é esperada. com ·ansiedade ,pela po,puJação que tem comparecido dia.ria.: mente à apuração, acom;pa• nhando os resultados com a mestna paixão com que a.com . panbasse um campeonato es– portivo no qual a honra da torcida estivesse empenhada. O partido popular, que está. sendo derrotado por pequena margem. conta com uma vL tória estrondosa na urna· das Marias, que o rehabilite e o prepare para Ull1JI. vantagem mais ampla, quando se abri• rem as urnas de L~anjal, on.. de o eleitora-do é trancam.ente seu. Lá fórá, na rua, há sujei• tos com foguetes na mão es..: peranJl<> o resultado - os ou• vidos elos adversári'OS que a,. guentem. Partielo A, _partido B. parti– A, partido B, - os v~~ ~ equilib):'a.m... E a ass1s te;nc1a toma nota: tréze a treze. qulk torze a treze, quinze a treze, quinze a, quastorz~. quinze ~ quinze. . . O ambiente está tenso de emoção. De r epente as Marias do povo começam a atraiçoar o partido dos al;>raços na rua. Começam e não pa,., ra.m. E quando oontam o úJti. mo voto ela. u111a, o partido dos abraços fo~ derr~tado por uma- diferença de .mais de tln.• zentos votos. Estouram lá tó.: ra outros foguetes que nã~ OlC do partido dos abraços. Como doiam fundo aqueles estourosS E os der.rotados chefes saiam :melancólicos da Prefeitura. onde se está processando a a•· pnração. Vã se a.creditar em povo e em a,braços? - e pen– sam com acre de.serença nas urnas de Laranjal. tanto mais que os adversários andaram por lá distribuindo um horror de sapatos e peças de algodão. zinho . .. • * • Gordo, amavel, sorrl~e~te, entusiasmado Antero R1be1ro é proprietâri~ das Ofi~inas Gráficas Ribeiro e ,Jlo Bar da. Leiteri a; mas não bã empreen– dimento local que não tenlia o seu apôio imediato. Quando lhe trazem uma lista p ara as• sinar, quase sempre ouvem palavras como estas: - Até eu já andava meio zangado oom vocês. Soube da. lista e vocês nã-0 tinham a~ reeido .. . Ca.taguazes é terra de calô1' forte. Falta.va. uma sorveteria. ComJ)J'ou uma máquina elétri• ca e r efrigerou a .população com o famoso picolé Rui Bar. J>osa,. .. .. A famil ia. PeiX<lto mostra-se envergonha.dissillla do Jl{lbre almoço que pôde oferecer ao visi tante ilustre. O cardápio compunha-se dos se'guintes pratos: sôpa de er– Vilh:1$, peixe aSS<'ldo, empadas e Pll,l,téls, glllinhá' assada, 5:3- lada. de alface e agrião, Cl'/U\e reeh eiada, loml>o de pôrco- ;' com t utú de feijão, arroz de fôrno, lingu iça e fai-Qfa de tor– J'esmo, couve à mineira, angtí à min eira, rosbife. Como so,. br emesa havia: dôce de côco-, / dôoe de leit e, arro.z dôce, ge. latina, goiabá-da de cascão. ~el!tdo e vãría;s C!$péwes de queijo. Como bebiaas~ vinhtv porluguêses, brancos e tin~ c1i.a.ln1>3/'lta f~, li,gu. nnncra1~ , cafe.
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