Folha do Norte: Suplemento, Arte, Literatura - 1947

• l • ' .,, • • • I..ª Páginà - 1 FOI-HA DO NOBTB ·Domingo, SI de agosto de 1947 X ~· , Caderno De Viagem • Posição D.os Romanes- (Conclusão d.a últ. pâg.} . - centes .• ,.- a .. . O A fa:núlia. estava ~issimll.! envergo. ESTRELADO R <continuaçã" d,a 3.ª Pcãit-) frequência., em língna' d.a Cos– ta. !\las-, em português tam. bém. E ' claro que não iamos esperar ouvir dialéto af.rlcano em •ita.mbôr" de Maria. Agui11r ou Raimundo Silva, 1\1:as li!) "batuque" à 6,ª fraveS11a ·da· Pedreira, de I.uiza Bulhóês• ma.fs conhecida. . por Mie Lõ, que se decI.an descendente í'o, afril'.a-nos e era revuta.da co– m-o tal 'pelo lider Sâ,tíro. e no próorJo "tambor" da '1.~ tra– vessa. de Mãe Fortu.na+a. .\ princínio "tilha.' 1 . e de1>Qis "sucessora" de Sá.tiro. os câ.n.. tlcos são tod~ em por:fuf uês, eom uma ou outra palavra a– frlcanã cJn cult'I- . ...,....., .. ...... ~ _DlRETQlr ••• Estrela do Ma,r • PAULO MARA.NHÃO 1 A,,~ ~ijjUPLEMENTO ILl,TE~+~~l O caté do falecido Aristides 11ca.va na praça mais impor• ta.me, . dai sua fl'egueiia ser numerosa. nunca vi nenhnma.~ _Porém desejaria. o, fenar.te • E'>trela do Ma.r. As moças chegavam, ram, pediam~ seu.ta - Ol'Sejatja ofe.rtar.te pa,ra que- brilhasse --.,..,_'ORIENTAÇÃO/ DE llAROLDO 1,i.ARAHHÃ~ · -Sorvete de chocolate, seu 1 Ar.istides. no teu v-esti,do-branco úm!dc. e serena a Estrela do Ma.r. ----·------. Aristides era. amavel, tinha coisa{> engraçadas: Desde l-0ngos séculos emm1la:da. pelas águas.••: - Sorvete acab·ou, ma~ ~m COLABORADORES: - Alvaro Lina, Alme1C1a .F!scher.. Aureilo Buai:que de Bollanda, Be-necilto ~Nunes, Bruno de M:eneze& Carlos Drummond de. AndtaC1e Cécll Meir~ Cléo L~ernardo. Cyro (los A,:ijos, Carlos ·Eduàrdo, li'. eaulo Men• jes Haroldo Mar:anhão. .João Condé. Marques Rebelo, Ma. nu~! B21ndelra, Ma:it Martins, MÚrilo ~en~es. Otto Mart,a C.af '.t>eaux, Paulo Pl~.nto Abreu. R. c1e Sous3: Moura, Roger Ba~tlde, Ruy GuUhet1Ite Baratii. Serg1o Milliet e Wilson Martins. guarani geladinho, muito bom muito diurético. :Penetrou ra:izes · em mares de81!onhecidos a Estrelá do Mar. "' ::===~========:;::::::=:::;:==-::_::_:=:::=-=:::.:.:.:. Os Escritores EA Música . , Nasceu a me.ni1;1a Bárbara. A cidade se escandaliza. fala abettamente (lue é ~ma ver• gonha d:µ-.se o nom-ç de Bár.. bara a uma ' híoeenté! • ,Tanto nowe bonitA1 ._ 1\f.àrlene; Dai• 1,y, Mary, . .Tltr~eí. Adail, Bere• nice. Nilze, Dttlee. Ivone, Iv:o– n ete. i.'lntós. tantos ! E nã.o fa. • Jam a-penas. passam a a.grr. Jose, COND-f.1 Con,·crsa.m com o pai. procu• --- ~ ra~.do por meios persuosó- RIO - ,A:gc,sto - Prisioneí- tos e dispostos a me ajuda. rio<; convencê-lo de que a cri– ro numa filha desertq, pode. rei:n a cotisttuir -rà.pidarnente anea será fataJm~nte infelit, mos leva·r .a]!);'enas uma vitrola um baréo pa<t'a a volta. Só e,n. ooís .-terá .vergonha d,ll nome, e dez obl'lls rousic~is, que dis- tão ouvi:rlít a meu . gôsto, far• etic.. (qtiem diz isto é 'dona. cos escolheria O suposto pti• ta~ente, essas coisas mara:vi- Aglai.al. Enviam e.artas an6~ sionei!l'O no caso um es,ctitor·? lhos.as que todo mundo _atJda nim.as . 1en'nina.-m por falar ' · · " escolhendo. Mas no contu1en, com o vigárió que úã:o b atb;e Respond'em hoJe _nossa ,ef:• te". a. menina, fuas o vigário infe- quête" o ro1nancista Luc10 t 1 ú~l'<loso e O con tista e acadê. "' Peregrir,o Juntor t:sco- lizme1.1 t,e ·rcspeit.a m11i o o .pa m ico Pei:e,...rrrino J unior. lt)eria-: J) A Pai1.:-ão segun.d.o do an.jinho, gue é pes.sôa j)o, - L • i e Sã-o Mateus, de Bach: II) Stu• tentad.a 1;1.a cldade. Hã uma f) B,esposta a,e ue o ar• te Ber"'_ amas<n.,e, de -· J)ebu!)sy; sema}).a de agita-OJio, ao fi~ doso: '".Não· sei se levaria pe-z " • t, • • i1 d llI) Nona Sinfonia. de Bee- -da qual o pai vai · a.o car ono ""'Úsica_ s "ara uma ba eser. ·• t ·· B' b .... · .,_ 1 t.hoven; IV) Don Giovanni. de e 1·ei:-1s !"a a menina - ar a- ta. N1\;_b ter.ia uxp ·lU.."<O, .em 11:- Mi >za.rt ; V) Sinfonià Espanho- ra. ·o '()ovo :,tinda fala. dois ou âa:r. tão a1;a~~f~ j c~-e e-~~ Ja. de Ra-vel: VI) Orf~u, de três di~~: ile»ois, ca.nsaito e ~ntefs possi 1 1 .a -~ rpé- Gluck; vnr Mestres Cantores derrota~o. volta:5e· para outro b ans onnar em ex1 o pe (P 1 , d. ) d Wagner· VIII) acontecnnento na,o menos paJ– tuó? Depois. pensando l:>em, L~e~~~- ·aeeStTawinsky; IX) . pitantê: seu Talino cuspiu na acho qite dez ll}.(lsicas ja~ais Os Estudos· Sinfop_icos. de cara d.a mulher. Mas, secr1.:ta. reun.iriaJn as q-ue e'u p,ef1•r o. Schuma11n; X) Ba:cchianas mente , t>repara. um apelido Seria mai§ um motivo de -re- de V-i·t~ Loíbos. para a i'(locente Bárbara. morso. pois ém d-ois dias esta. Br.asileir.a.s, ~ . ria cónvenciãó .de .qü_e tinha debi;a4o no coptinente ·exata- BRENO AClOL.I mente as que r;ne eram mais v,in'té a.nos, a literãt-U:ta psico·. necessárias. E se nada di$to (Conclusão da úit . . pãg.) ló-gi'é'a. Enriquecendo.à não · · · • ·com paJavfa:s a,penas, nem so- tn,e oco,résse. ainda assim es- -característicos mais salientes mente com novos adjetivos à tii:ria um pouoo atra.palhado da litera,tura moder.na e prin- nlaneira dos escritores sub– em carregaJ' comigo coisas ·tão cipalmente da lng1es,a, sem que ca.aiilian.os ou dos .cientistas iim_pÓ:rtantjs: não:seri!J. Un) 'llo.µ• . se deva, en.tréta.nto, esqu~cer o sub.ireudiarios, mas · c-om uma co "Iíterárío"' em momento tão que há de revelador de re. extensão de tal modo consi• grave? Não acho que não le- giões ignoradas ou recaJcadas •aeravel ·de nossas zonas de va1·i~' Q.ada. Mas. como não i;:ne da natureza humana na oblra sensibilidade e de conheci– seria ROssi-vel vivei: sem mÍl. de Proust e na de Gi-lde - a mento que essa extensão im. -sica. resolveria o pro1>lema do éxploraç·a~o d- .zón~s d-a per- . .., " porta em nos fazer - aos bra. se~inte modo: et;coJhería dez sonalidade ou da alma pouco sileiros _ cola_bO"ra-dores ou músicos modernos g-ue esti- penetradas pelos antigos: o auxiliares ativos. em vez 'dos v essem bem vivos. cada um 0 ub-c~n°-"f.ente, = casos de es. · d · "' ==~ = antigos especta ores passivos. com o seu instrrumento. e-m quizofren!a intermi:ten te. a de povos mais cu-ltos e intelec- Sua.~ pon.tas finas incli1,aram caminhos Iluminou a viagem dos nãur;a.gos para o mais fundo das águas, •• Estrela «Jo Mar encontrarei um d.la , talve:i; ~ôbre a. mesa tranquila. ~ ...1~ra no quarto escuro .•. Sim! eu queria t~ ofeí-tar a Estrela. do Li~pida no teu vestido branco..• --Ben~çlito NUNES -- • 1 A Poesia E AVida (Conclusã.o da 1.a pág.) ce$$o facilm~nte observavel em seus poemas, _o_ da/; transfi– gu·rações e metamorfoses. A poesia, fóra da qual ele é um hoinem no escu-ro, .fixa.se nele como ,u-in ~010stan');e estàdo fe. oril, o "colar ,da febre"_ 9.-1'!e :º envoove, como t.tma tnsorua clieia de S~tplíc~os. ' Nessa atnnosféra em que a observação da natur~za e o registro dos m_ais triviail! sen– thnentos bumanoo se aliam a uma sensui1idad·e poderósà, quase mística, ele desenvolve uma teoria de m1.1sas e uma compreensão do mistéri_-0 fe– minino que rnerecériam estu. dos aP'rofun<dados, uma ve~ que a ele se deve a fixação poética da mulher brasi1eira em um plano de patética uni• versalidade. CAISTE EM FOGO NA ~U– NHA VIDA DE REÇELA– DO.' SOU INSENSIVEL AO TEMPO - PORQUE TU' EXISTES. M~n<les u.m si,ngu1fr "hum-ou,r" que é ·por a~sim dizeor o com– plemen·t o de sua gtavídade. Nessa última· constante s.u1;. - ~ ' preende-se claramente o ho. · mero que passoµ um telegra.-· ma a Hit1ér, Pl'.Qtes.tando, em nome, de Moza.r.t, pela ocupa– são de Salzburgo, atittide pra. :v~ encia..lll'nente expliéativ;a, POIS nos · infQi-ma de âl,guém que, diante de u.i;i àtetlltado, encontra. uma man:eira de pro– testar qu.e, apesa·r de enigmá. ti,ca, é v:erd;ro.eira, poi$ a \l.lli• ca coisa que ele pod!!ria fa:zier naque.le momento era justa. mente aquela: protestar tele– graficamente. O poeta a:giu de modo coerente. "Não somente os poetas de– vem possuir a visão poética da vida, mas todos os homensº. Essa observ-ação de Murilo Mendes, estampada em "O Discípulo de Emaús", infor- p leno período de criaçíí-0 e de persistencia do irra,cional <es- tualtnente mais avançados no eu,foria. Assim teria tr.ês van- pecia ,lmen.te entre aqueles ho. esforço, tão característico dos t agens: a de poder. ouvir músl. rnens q·ue se consideram mais pesquisadores e escritores mo_ e.i a ma.is variada possível, o racionais), os . sonhos que •SO· dernos _ pelo nienos dos pes. que é· muito recomenda-do nu~ nhamos dormindo ou acorda- quisa.dores e escritores moder– ma ilha deserta, a de POS$ui,r dos. nos do Ocidente - de- melho•r junto a mim uma orquesti:a Bre-no Acioli se junta com se conhecer O homem a si mes. comp1eta . e finalmente a de, sua mocidade· cheia de piro. ino não só pO'r meio da cien– en:tre tantos ciumes e nv~lida- messas e das realizações aos eia como por meio da arte. des que de certo surgkiam, en. que. no Brasil, vêm enrique- Não só por ~meio da hlstorki Em um território profusa• ~mente marcado pc;>r signos e sí.µJ,bolos, pão dis,pe-nsa 1\-IuriJ.o ma.nos perfeitamente de que .a poes-ia, a seu ver, não é ape– nas a arte de fazer versos. E' um caminho pa:r_a ação. "o pão quotidiano de todos, uma a,véntura simpl<es e grandiosa do espírito". De. forma que. a nosso vêr, a única maneira de .distinguir. agora, os dofs cultos, fora das cerimonias peculiares a eada um, e o úni~o meio. de i.epaFar, fhés . as influências ,nútul!,S. é pelo estudo das ,eiras e mÚ/li– ·c~.de suas "t-0a.das 1•, q1,1e. oon. sideramos. efetiva'mol!te, dis– tintas e inconfnp.diveis. lr-e\)lOJ> encontrar. também, essas mesmas música e verso típioos do indígena. no "boi. bumbá" _par~nse, de ha vint& anos atrás, Boje, ele já se en– contra sensive-tmente lnfl11en: ciado pelas ·can ções do rádio. Mas · isso é a.ssµ:nto para ·ou. tro estudo. (1) - E' o que diz C)r(lcq: "Nenhuma. religião escapou às práticas 'magnéticas; o cr.istia- • • • n1smo, como o paganismo. i;.ou~ be aproveitá-las. O sei:viço d,i.. ,vino, numa mesquita ou numa sina:g,<)ga. nuni templo ou nu– m.a igreja, sempre- é disposto de ma.neira a , nnp.ressiónar as irnaginaç9es; os gestos elo sa– eerdote sãti passes mairné1-ioos: a penumbra. o resplandecer do 01'ro, o som da ~usiea. os perfumes. tudo tem ~Ol' fim levat -os -fieis ~ verdà.deiro e-s– tado estático. (Pro.fesseyr Çrorq. lente da Faculda~e· de Medi– cina de Bruxelai em traba– lho publicado sob o títuio "O hi_pnotistn.t:1 êientífic-o'' n'!-- "Bi. bliotéca (leraJ de ~edicina:• de P aris, ' citado por AJ}»it> Clara em "Sugestão. Hipnotis– mo e l\fag.netismo". At~cllli Editora. Rio). (21 - Nos versos col11idos por Martins entre os in.dige– nas do Brasil. e a que Amaral Gurgel se refet"e, observa-se a. mesma cadência e letra: Seba .niann rama.e cttrl Tejerru ia.schió Ai gue ·caracará•. l Serapiró aramú cu.rl . contratr dez trabalhadores ap. cendo, nos últimos quinze ou como da poesia. (Quando me vires sem vlda 1 Oh! não chores por miJtl Deixa que o "caracá-i" Deplora o meu triste fim.} Vendo Alaíde desa.trapalh-;r os --r;·u:-:-n-;:h-:-os-------·----...::..._ _________-- ' - ~--- -----------------::---- ---------- ·--- ... - - - ◄ Sem pensar, sem ter na.da na cabeça, cr.ia.ra. da :rê.de . ouvin<Jo as mulheres que limpavam U C . t I D ''M . ,,, ,avida.tnente os miud(Ís da vaca (morta ha- m a· p I u o e ara J o vJa pouco •por Benedito e Tenórlo~ e ,os re- ,- partiam entre si, Missunga. sentia crescer o seu des~-go. ror 9-u~ gritavam afina.l, lá ao longe, como ee estivessem ainda excita. dos pelos urros da pobre vaca que se deba. t-era sangranjlo no terreiro ? • Os qua:rios de carne ver,nelhavam es– tranhamente ao -$OI e pa.reciam aumentar de tanpnl10 sôbr e a. barraca, os roçados, o mato, o iga.rapê, o Marajoaçú, a. vila, sangrentas e gorclas. :On.de colpcar tanta gente que continuava ebegando? Os pobres, como as feras, era.m d &tau.os de um faro prodigioso e vinba.m de longe farejando as carnes que a.inda. ·san– gravam nos galhos. Iga.rltés, canoas, cascós, montarias, ba– telões. enc'.hiam o ig'a'.tapé, Pel11s margens im.. provis;àvam-se barracas, taperis, giraus, es– tendialn-se esteiras velhas. FaziaDLSe camas de palmas de açaí, folhas de sororoca e ba– naneira onde as crianças se arràstavam, dor. miam · ou cltoi;avam, roendo ossos e restos d.e bolacha que .apanhavam do chã.o entre baús, rêdes que eram mulambos, panelas de barro pret~ de fuligem, velhos sapatos de fest.-, já eambalos e fóra de uso, peqttenas imagens d1!' :santo dentro de pa.neiros espa. lha:d~ em eonfusão. Imoveis e ti;istes,- encostadas nas arvo– res, as mtiJheres esperavam. pensa-ndo lavar iroupa, enche,r os baldes de agua, inventar úm fogo para assar um nac& de carne, fazer 11m cltã. ou espiar as n !>va.s embarcações que apareciam. C.cmo que a vinda de m.ais -gente as en– corajava., lhes t r.a.zja uma ruidosa e primitiV11. solid.at" ied::uie de que não podiam, por certo, ler A menar consciê~eia, Podiam até m~o -- Dalcidio JURANDTR-- (EiYpecial para a FOLHA DO NORTE) não desejar essa. afluencia cada vez maior de competidOil'es, mas uma obscura fraternidade os unia:; silenciosamente. l\fissunga ob.se :rvava tudo com crescente inquietação. Seria mesmo medo e por que '! perguntava a si mesmo. Aquele ruido hu. :mano descia sobre "Felicidade" como uma. inva.<iã.o que não podia deter e que não sabia explicar p_orque o inquietava tanto. E -o pior era q~e, à. frente daqueles homens aparen. ten1ente submissos e relaxados, daquelas mu– lheres ca.l'.l'egadas de filhos no colo e nos ven- . tr.es , de baús e de ~ntos, daquêles curumius barrigudos e gulosos, estava. Alaide e, ao seu la.do , Ma.rcelino, o laclrão, com a. fôrça dQS biCli0$ dõ fundo, Tenório, à espera de Santo Ivo, o brado de Tomaz do Mato e a livre e louca. Orminda. J'á não era o medo do ma.to que o domi– nava, mas o medo do povo. Alaíde deu-lhe a. rêde e logo a apa:nl1ou nov-ament-e para armá-la no copiar. -Me esquecia que nã.o sabe amarrá - disse sorrindó e respondeu ao chamado de Orminda. Missunga. quis retê-la m.as nem ao me– nos d eixou perceber o se.u desejo porque A.laíde se ' db·igiu rapidamente para a po1·ta., Tinba de .ajudar a distribuição da. carne, da. farinh:i,, do açuca.r. Ajudar às mulheres na cozinha, .ir com ela., carregar lenha, levll,1' comida 11,.os :trabalhadores que já prepara.. vam os r~ çad.os para ll queima.. Como receava ficar preso àquela doci– lidade e àquela energia que v~ ·de Alaí– de ! Ela. sabia se confundir no meio dos ho– mens e mulheres sem tirar part\do de sua posição. A' proporçã.o que os dias passavam e os roçados sur.glam, ela se tornava mais li. gada a. êles, transmitindo-lhes uma ci,nfl– ança ma.is viva. Missunga p:>r- isso se 1:mpa– cientava e explicava a. Ala.ide que o seu lu. g.ar não era no m>Cio dêles mas na barraca.,. ajudando-o. A n•oite chegou. Como distinguir as•vo– :z:es do ma.to das vozes humanas que se es. palhava.m, tão confiantes, subindo das bar– racas e dos C\aminbos~ Isso lhe d.ava maior fadiga, arrependimento, vagas repulsas por– que não sabia ir ao encontro dessas vozes, ter o impe-to d-e reagir e, através de todas as hesitações, ca:minl1a.r par.a o povo que já o a.mava acredit:i'"' nêle. Também tentav:a reprimir certa ..~·itação ao sentir que d,e qualquer modo o povo já se instalava. alí com a. niaior naturalidade, como se !osse êle obrigado a. servi-lo, a dar.lhe trabalho, car– ne e remédios. Até diziam que êle fazia. tudo aquilo por órdem do govêrno. Contavam mais: aplicava apenas a metade da verba que o govêrno lhe dera I para montar a co16nia agrícola. tsso o divertia e o irritava. Com– preendia que agira, afobada.mente e tudo. aquilo não tinha. expllca.ção, faltava senti– do, na"'o o moviam ,grandes sentimentos de solid:u.iedade humana, (>U de reforma ooclal. para si mesmo um problema estúpido que o desmascarava., obrigava.o a conh.ecer-se me– lhor, a encontrar (ientro de si fraquezas e , medos que ignorava. Esperava no fundo quo aquela gente o reconhecesse como um louco. ficasse permanentemente assombrada c&m Aquela inesperada bondade. Entretanto a. noite veio e Alaíde caiu. lhe nos br:i.ços, rindo, - oo,mo esqueeer êssa riso ? - Ala.ide' felii ! Como era. fácil, ma.u– sa, deelisando pelos braços dêle como c!lonoa °" ma.ré . Missunga chamou a companheira que ressonava.. Queria andar, espalhar a sua in– s6nia pela noite, só assim pode.ria recuperar o 'doDtinio de si m~mo, estar livre e voltar em paz. l'llas o sono se derramava daqueles casebres e giraus e trazia.lhe a. presença da escuros r01,tos confiantes, cabelos desgrenha– dos, olhos, bocas, braços e corpos estenuados e móveis que mataram a fome, se abandon._a– vam nas má4)6 dêle. Nem Alaíde despertava. O sono, um sono elementar, os unia subter– raneamente, sono dos que a.creditavam. M.issunga não tentou mais despertar a oompanheira. O vento agitou as árvore11, pa.. recia. ouvir-se a. baia lá fora, por isso o s6n'» daqaêles sê,:-es largados nas esteiras, nos gi– .raus e na.s rêd~ adquiria voz na agitaçãi, do vento e das águas. Era como a. ressonân. ela de velb.os mares noturnos e invisíveis ct"escendo tleutro de Missunga ao longo da floresta pesada. t::Ie ficou só, fumando, lembrou-Si! do ve– lho Felipe e ila Bíblia. Ós n1ortos. O sono e a morte. Sua ins6nJ~ era como uma traição, conspirava contra. ;t paz e a :esperan'\la do111 que dormiam. (De ~ltA.Jõ, rom;ul'eo ll, ser lan– çado, t,.or ~11tçs f.li~ s, v.eta Eà.·itora l 01,6 01:vnjui~ . \;r.., , .

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