Folha do Norte: Suplemento, Arte, Literatura - 1947

l 1 l 1 a_a Páglnã • DIRETPR PAULO MARANHÃO ~BIENTAÇÃO 7 DE Ll HAROLDO MARANHÃO , . .. COLABORADORES: - Alvaro Lins, Alme!cla l!'lscbez, Aurello Buarque de Hollanda, Benedito Nunes. Bruno de Menezes. Ca:r:10$ Drummond de Andrade. Cécll Melra , CJéo Bernaooo, Cyro d.os A.njo,s, Carlos Eduardo, F. Paulo Men• :tes. .Eiaroldo Maranhão, J oão Condé, Marques Rebelo, Ma. 'lUeJ Bandeira.. Max Martins, Murllo Mendes. Otto Marta Carpeaux, Paulo Pl'.nlo Abreu. R. df' Sousa MoUl'a, Roger Bast,!de, Ruy Guilherme Barata, Serglo Milliet e Wilson Mart.ns. BENEDITO NUNES F'1n.aJme411,te o l'eipO'USIO dias á,guas ma111sas E a aa-eia úmitj1ai s~~di.ida pe1a liuz. Revelá os passos fimdos dlo homem oa,nsiaicto . . • O profuin,do mrlsitério se levama d.as p,edl!'as Pom.eagudas. e p,resas inr.emedli,a'V'eis d'O miat' A ETERNIDADE revelada Iliessa, visã-0 ,do hori.wnlte Estão p;e,r,<:J,i<dk:>s oe m 1 embros inuiteis Não po,d<e-rei mads eniOOilltTatr à müruha anti,g,a fi.gurn Afoga-me a toa-,t,ura do .illlJdivioo. Agora tomei o vetrmelho dias algas e o verde dos musgos Espalhado Th'i .iintilmida<le dos bucios · . Neles dresou•b'l:o o nu.mor dias vi<las primili,vas . PÁGINAS DE UM DIÁRIO (Conclusão da 1.a pâglna} ·* * • O pior é o mêdo. Mentimos demais, somos as– tueliosos demais, interessados demais. Cada, passo que damos q-ueremo-lo tão seguro quanto o do ti– gre que rasteja para a ovelha. Cada pala,vra é coada no filtro da oportunidade. Chega-se o com– preender que uma certa estc:bilidade na vida re– pousa nas palavras falsas, nas folssa atitudes, na habilidade dos passos cautelosos. A alma huma– na teria outro valor se lhe sobrasse coragem, se pel6 menos se Cíbertasse de m~tade do mêdo em que se aniquila par«.'! tomar posição, * * * lnstt,tisfeito, mudei de marca de cigarro; • * "' * Noite devoluta de cassino. Que lindo seriã o música das fichas se os homens 'não falassem! E bato palmas, no "grill", para todos os o-rtistas ·e principalmente para o cachorrinho amestrado com as ovelhinhas pretas. Danca,r som Lia é como doncdr com um cactos. ~ . * * * NE:.nhuma 0oncessão nesta noite áspera de in– verno e de solícitacões. - • • Só nós podia·mos compreender o mar.e os seus gemidos; o mar escondido na noite, misturando– se com a noite e a noite miraculosa cobrindo a areia com·o um docel; os olhos confiantes de L . desvendando afinal o caminho sonhado. -Vê como brilha o farol? branco, branco, ver- melho. . . ~ • * • Encostados à grade do chalé, m~iriposas deba– tiam-se contra o foco de luz, tínhamos as mãos da– das, tão macia a mão dela, macia, bM11ca, gordi– nlla - -Fala, Laura . -Pare, que? É tão bom a gente- fic•at" calada, pensando coisas .. . Quase colei a bôea no seu rosto redondo e ni– veo: -Você parece que não me ama, Laura . Fran– CGmente . Tinha o hál ito leve e ácido: . -Amar é a gente nõo dizer nada. · . . ' ;,,, ' • l'tn.'!Q DO NORTE Domingo# 24 de ag.os :to de 1947 \-, De Eça De ~ uei roz Nos Escritores De Cubo A ln!luencia de Eça de Quel• roz no,s escritores da América / Latina ioi notória; principal• mente nos jornalistas; pro.tlssão em que tambem se distinguiu. o magnüico autor das "Cartas ' de Lnglat.erra", "Prosas. Bárbaras" e " ECOl! de Paris". Mario DUARTE ; ! Diz Angel L ~µ.ro, na rev,.sta "Carteles". da Havana; "Eça de Queiroz foi um escritor que 11\• fluiu •muito beneficameate na li. teratura e· no pe'riodismo cuba– nos da nossa época. A geração que trabalhava na revista "Cuba ContemJ)Orânea!', nos anos de 1917 e 1918, tinha-o por fdolo. Eça de Queiroz era mµi t o lido em Cuba . "A Reliqula". tradu– zida pelo escritor galego Valle• Inclán e editada naquelas edi– ções baratas da casa Maneei. de Barcelona , era lida pela geração estudiosa, literária e perlodista daque\a época . E a numet:osa co– lónia gaJega, quando matava as saudades, da tetra com a leitura de Perez Lugin, em "La Casa de la Troya". compartilhava com os estudantes de Santiago de Cqm• postela. chamando ao grande es• cdtor português ''o nosso Eçl!". Eça de Queiroz não baixou com os anos, pelo contrârio, subiu na escala d os val ores literárlo;i, Poucos a n o·s antes de morrer Una l1" '1no. escrevia que. para ele. Fça d e Queiroz era superior a Anato le France. "Podem com– pa•ar-se pelo lado do bJtmorls– mo: mas Eça tem um fundo de paisagem. uma densidade hu• mana e um tom de convicção que falta a Anatole, que dá a sensação de céptico"'. (Consul ele Portugal em Reclie) (Espec~ para a FOLHA DO NORTE) J do alguem em Cuba queria re– ferir-se ao conlpleto engano de que havia sido vitima uma pes• soa, dizia: "Enganaram-no corno a um chinês". O CônsuJ. escritor luta com as autoridades coloniais, reclama, argumenta em Cuba e perante a Secretaria de Estado, ein Lls• bô'a, põe a descoberto o trata• mento deshu'n\a·no que se apli• ca aos trabalhadores asiáticos, faltos de alimentação e de rou– pa, amontoados em barracões se m asseio, ei;SCs famigerados "'depósitos" o n d e os chineses eram recolhidos. como presid!â– r.ios, depois de cumprido o pri– meiro contrato. alf ·se conservan• do aqueles desgraçados até que um proprietârio reclamasse um certo numero de braços p ara a servidão de um segun.do contta– to. numa grossel.J,'a simul11ção da escravatura. a mais ignobil e fe– roz qüe se possa imaginar. E com sumptuosidade de deta:hes, expõe episódios truculentos, fa'I. um paralelo entre os ,negros e oe chineses e para sublinhar a pior situação destes. afirma: "Os pre– tos · sã.o estimados como institui– ção doméstica: o chinês aceita– se como neces31dade; inevttãvel e aborrecida". Termina tão v'.lrll documento, o mais judicioso protesto con– tra a deshumana exploração do trabalho. submetendo ao go,·êr– no· português vãrios tópic'ls d ig. nos de atenção, para os acor– dos a que q u e r chegar com a E"l)anha. a fim de p roteger os a_siãficos de Macau. :il: o pri– meiro ato d e ptote.sto contra a ignomlnla dos "depósitos". ter• riflcos campos de concentração em t empo de paz. Sem querer estabelecer seme– lhança entre os "campos de con– centração"', que a espantosa guerra de 1939-45 revelou aos olhos do Mundo, e os "depósi– tos'' de Cuba do século xr,x, o que é tato é que jâ em 1872 existiam campos de concentra– ção e que foi um português, o Cônsul Eça de Queiroz. o primei– ro a utilizar o esplendor da sua pena em deíêsa desse anseio de emancipação que a ,;, nações for– tes e poderosas pretendem rea– lizar hoje em pró! da libertação dos _povos oprimidos. Os relatórios de Eça de Quei– roz contêm texto utilíssimo pa– r a p estudo da economia e da organização social da Colónia de Cuba. nos (ji.as do primeiro pro• testo armado . E é curioso como nestes problemas que tão de perto tocam ao nosso pais e que afetam ao mesmo tempo o con– ceito universal da vida e das so• c:iedades . hum" n~s, o seu Inte– resse foi com ex1to feliz ao fun– do da questão. an;illõ>ando o éon– vlito em independência. e tiran– do ,da . escuridão verdades incon- iestáve.lS. . A. mortificante opin ião de Eça sobre as causas do confli to e so– bre os esforços dos cubanos. na prolongada guerra de indepen– dência. não lntluiu na devoção que no mero campo da criação literâria conquistou a pena de este máximo expoente ela signi– ficativa e e~·olend-ida "Escola t'le Coimbra". Os seus admirador es cubanos, que são muitos. e.ntre os quais é de justiça des.taear o ------------------,-----·------ ... insigne escritor Miguel de M11!:'> cos, o qual afitmou publican\en. te que Eça de -Queiroz foi o me51,, tre que mais influiu na sua edu,. ca!,'âO Uterârla, esses seus ínll• meros admiNtdores cubatios não caíram nas lalílentávels confu• sões daqueles que m~turam a\1 d iscrepancias polftlcas com os valores estét,lcos, e negam e:.– tes, por altos qué sej am, !\que,, les que~não comungam na n1e!I< ma ideologia. Além dlso. E~a de Queiroz nem foi um ad1rer– sário da causa cubana (por q.1• • não se deu ao trabalho de a ilt<>– fundar. preocupado, sem dttv:da,. com a questão dos chineses uu.. dom.lnava o seu e'llpiritoJ nem muito menos um Inimigo ac~,·•l– me de Cub:-i. Um coisa é verda– de: não ocultou a su a an tl pat,a por Flavana. Nilo obstante. na da t~ d" cen. tenár!o do seu 11asclment<, os intelectuais cubanos, capazes ,fs desculpar erros e oapazj!s de 1,e. mci' de emoção ante as rnaTavi• lhas da arte. se lainent11m a <>S– tocada do Cônsul. na 11prec'c<'âc, das primeiras escararnt1<'as par:1 a independencia de Cuba. de3-– cobrem-s<e reverentes a n t e e, grande pros.ador. ante o ' P•crf(,:,– nue lnfunrJlu vtda ao imor tal Fradlou(" Mendes; es<irimou cQm mara yilhosa ironia contra a sul>– tHeza dns pol!t ic·o!'. abalanif o ve– lha~ rotln?.s: animou a co..,f··(,...,_ tação dontrin~ria e e,c-emnJ;fi • cante de "'A Cidade e as $Pr•·aõ"': criou flguras típicas, conJo ~ c<c, grotesco conselheir o A~Acio "-" • ra as fusti.E!ar. revoltado. .,.,, ,,,_ s1as de renovac:-ão: e deixo•• 1•11\ CL1ba. num PXernolo firm<> c' õ 1"'1- ratPr. o mais ju(i'ciosn prrtõ.• t.o contra a e;<'ravldão d()• rli '~e– ses numa série dP Jnt rl i11~, res. extensos e meditados r elatósios. qu:i•e rie:-4Connecldos. oue o tor– nam digno do reoonhecime,,1o d aoueles oue ~eiruem e ama1n a carreira consular que ele sen>iit e llustrQu. Em Cuba . sobretudo, 001 jorna. listas da get'açâo que desponta por alturas. da restauração repu– blicana, fi;r.eram um verdadejro culto da filosofia i~ónica e da. arte d-e escrever daquele grande m-estre do reallsmo. que ganhou a fama por uma destreza d escrl• tiva que em nada ftca ,a dever a Flaubert e uma intenção agu• da e pers'pícaz que adestrou a compreensão e o trat;imento fa– miliar do en-genhoso mundo de Anatole France. Nenhum prosa– dor estrangeiro foi tão admira– do em Cuba e seguido pelos ho– niens de letras. no transcurso deste século, como Eça de QueJ. roz: a não ser josé Ortega ,; Gasset, entre os ens~ista9 dos últimos anos: e José ~nl:lque Rodó -nos começos da Repúbli• ca. esse escritor que então . p;:o– clamava este expressivo axio– ma: "o povo que e;quece a sua hbt6'ria, descuida sim1.1lt~nea· m ente ó seu destino". ' lnfrodu(ão A Dramaturgia E, Vl)l'dade seja dita . pouca iôlmpatia demonstrou ele por Cu– ba e, no entender de cubanos Ilustres. c0-mo J'uan j . Remos, pouca comrreensão tambem dos seus problema•;i polltlcos. Eca de \Queiroz foi · cons~11 de Portut(al em 'Havana em 1872: Isto é. em pleno perlodo da "Guer.ra Gran– de'' como dizem em Cuba. Vi– veu·, pois, nesse pais. num· l'(IO• mento cl e excepcional !'-ígnífica– do para a história de Cuba ; n111i. to prop icio. estã bem de ver, para uma mentalidade tão ob• servadora e penetrante ~orno a do criador da "Ilustre Casa d·c Ramires". se tives,se profundo o espírito do povo cubano e a a~– plração da sua causa. A.pesar de tudo. dizem os seus 11dmtradores cubanos não s6 víveu à margem da proi:.erblal cordialidade cri• oula e ôe essa caracterlstlcJ acolhedora de todaõ> as clas:;-~s sociais da ilha em t odos os tem– os. sen ão que esteve mu I t:, l on– ge de perscrutar os valo·-~,;_ mo– rais e de exemplar sacriClcio dos insurretos; assim como d<1s pro– jeções do pensamento separatis– ta, cuja modelação no mov:men. to ele 68. nâo fo i, comi) Eça de Queiroz classificou, "uin feito sem importância"; nem o.s acon– tecimentos. por vezes brí'hantes pela sua gran<leza heroica. fo– r am sempre as escaramw:as ri•– diculas em que. c~mo ele co– mentava. "de um lado :? de cu• tro ficam inu~ilizados c!n()o ou seis homens". Antonio Iralzoz. direto!" do jornal "Alerta". que ele ,,,,rlque– ce com a sua prosa eJP.g~~te, e grande admirador de Eç,. num interessante trabalho publíç.ido em "Cuba Cor.tPmoor!\nea" (ja– neiro-:t'evereiro de 1926) e n,als ta \·rle nas· "Lectu.ras Cubanas," (193$). Insere vârlos documento'õ>, entl"e eles (os de maior lm11>or– tânciaJ cópia,; de relatórios de Eca de Queiro'I.' para o Ministé– rio dos Ne~6cios Estrangei-ros de Lisbôa, que põem em relevo a maneira "im\)reclsa". como focou a verdade sobre a guerra de Cuba. pois dã a entender que esta existe porone convem aos . militares espanhois da ilha. pa– ra manter o seu ar de prea,on– derâné.ia na colónia. a par da sua influência na metrónole. Em compensação. a largueza de critério e o profundo senti– do 'humano que tanto dis1ingo1- ram o novelista. aprecia-se nos seus relatóriD'll concernentes ao confl ito com os chines·es. prove– nientes ,de Macau, que vinham, contrataêlos por oito s1cnos. tra– ha1f;~r lia indústria açucareira. Ju]gàndo (1Ue sériam CO!_!Venle.n– ,temente ..adaptados -aos trabalhos agrlcolas da Indústria ac:uc11rel– ra . " "am. tão 1>r<lntn desemhar– c:;ivam. s,ubmetldos à mal<: feroz ercra vldllo: tr~balh~vam do nas– ('er ao pôr- <1'1 sol. mil rn1!oi<. ,,..,., ;,llmentados e pessimamente 11lojados. Por esta r azão, qua.n• ção mesma do Müo lhe Impõem uma integração absoluta com a natureza .iisica e a na :tu.re -za espiritual do seu povo. Vemoa o Reroi-de--eu.Itill'a dos gregos . ~dir a Hephaistos ape– nas que fosse seu cumplice na ação. BAHIRA, porém. co.mp :omete no roubo do fogo todoa os sê– res que o cercain, porque s,e im– punha inJegrar êsses -sêres na fe. lícidade do seu povo. Zeus agrilhôa Prometheus ao Cau,caso, superando o Heroi -de– cultura, torturando-o na sua cu– ne e no seu espirito. BÁHIRA supera o dono do fo. go e, anulando os limites natu• rals à sua ação, une as mar• gens do rlo largo, largo, salta sobre êlt e vai integl'ar- se no destino da gente ·Kawahlwa . Há ne.sse Mito, como ·se vê, todo o . Drâma de um Heroi-de-culfu- ta e todo o drâma de um povo: o d:râma. enfim. politico de am– bos: o drâma da democracia. '· FUGA PARA O CÉU OU OS QUE SE NÃO DEVEM A.;."'4AR Viviam num trecho da terra amazônica, ninguem sabe onde e há tanto tempo, dois irmãos: uma moça e um rapaz. E ali não havia out.ros moradores . E grande era a solidão em redor dos dois irmãos e a noite era profunda naquela terra. Ora, a moça se tomou de amo– res por · seu irmão e o visitou, se... cr<>tamente, assim que a soli– dão se fazia maior e a noite era mais profunda. Du:rante várias 'noites , êles se amaram perdidamente. O mOÇo pensava· q ue a Mãe d'Agua era quem o visitava. E nada dizia à sua irmã; êle des– confiou, porltm. Então, misturou u tinias do genipap0 e do nrucú vma cuia e a pôs, à norte, sob a rêde . A moça velo, como costuma– va, quando a s olidão era maior e a noile mais profunda . Acariciando-a, o rapaz lhe pas– sou pelo rosto aa mãos úmídas' du Uniu ·do genipapo e do urucú, para a r econhecer no dia seguinte . • Pela manhã, porém. a moça se levantou primeiro, Fol ao lago, banhar-se, e. ao cu.rvar-se para a água, viu seu rosto todo manchado de urucú e d_e genipapo. Resolveu, por Iss o, fugir para o céu. E virou lua . O irmão saiu a procurá-la por loda a ter.ra que habitavam e não a e;,.controu . Foi procu-:-á-la, de- (Conclusãg da 1. 3 p,ág.) - - . ' pois, no firm_amento, mas a p ô d e encontrar. E sol. . ~~ Assim é a lenda.. DUJ'l.Ca virou Toda a cosr.nogonla indtgena não tem urna lenda tão poética, um mito tão triste e tão belo! A imaginação ardente do In– dio e o seu sentimento lírico ne– le consuhstanci,a:tam o drama do1t que se não devem amar para não incorrerem em incesto e não Yiolarem as leis de um có– digo social inspiraias na mecl• nica d ·os as:t:os. Contrariando o principio de qua não pode haver moral sem Deus. o homem primitivo, o in– dio, criou âsse mito. na tessítu– ra panteísta de uma lenda. E êsse müo é a propria expressão do seu drama sexual . E, porque o Mito àhrange a unive.-salidade dos sêres e das coisas, no seu conteúdo diyino e no seu conteúdo humano. tam– bém, o criador do Mito atribuiu ao Sol e à Lua um drama idên– tico, caracterizado no movimen– to eterno, de fug a e de busca. de dois astros. nascidos do ven– tre materno da NatÜreza e, que; p()r isso, não se devem amar Há nesse mito 1.1ma poesia kls.. te, tão grande quanto a , á.llgus– iia hum~a que o criou, sendo os seus elementos de um autên– tic;o drama p l imitivo. um dra– ma resultante de leis biologicas, social.s e morais. O LEGISLADOR E A MULHER OU O DRAMA DA BELEZA E DA VIDA Nascimento de inquietante m.istário, como o do FIiho de Deus, foi o de J'urup ary - Filho do Sol, Porque, no do deus indigenâ, mãe virgem dá à lu:i: uma cri– ança, e nêsse mistério, o ele– mento fecundador é o sumo de uma fruta - "a cuc~ra•. qu-, as tribos do Rio Negro tanto apre– ciam. E tal é a acontecimento, .,lado exegéiaa o discutir. complexidade do que não tem fal– e ca.suistu para O missionário, ·dele t endo no-. tlclas, logo o Identificou como Demonlo Incubo. enquanto o co-. lonizador lhe deu corpo irreal de Pesadelo. Mas só o Conde S tradelll e Maximiliano R,oberto o apont!l– ram e o m o um Heroi-de-cultu– r .a: co~ um Legislador, como o ' Ar~léto de urna dessas socle• dades secretas que Froben,lus,. W<1Jfermann ·!I S ! e g f r l e d , nOl! apontni:"ltl n.o Continente afzíoa– no 'e Malinówskl na ·Australlll CenUál. AfasJad-0 o predomlnlo da mu– lher na sociedade indigena. ;s~~ :rupary entrou a du-lhe nova.a leis, criando, por fim. uma so– ciedade secreta, para impôr es-– taa e defeJ14er a estrutura re– ligiosa, econômica daquela, P!lZ• garantir, enfim, ao Mito o que nele é sagrado, divino e humano. simultaneamen!e. Então, ficou estabelecido que s6 aos homens caberia. como noutras sociedades primitivas, o exercício do Direito. _ Mu, conquanto êsse Legisla– dor indigeua n â o permitisse à mulher o conhecimento dos se– gredos básicos d a soci0dade se– creta que :funda.ta . uão lhe im– pôs, enfim, uma condição social Inferior. E Isso nós o podemos senlir na interpretação dada por Ser!)io .Lifar, numa du cênas do IURUPARY. incontestavelmente, wna das mais audaciosas reali– zações do teairo brasileiro, sob a. Inspiração genial de Vil.a Lo– bos. O mito do Jurupary da pro– vincia etnog.áfica do Rio Ne– gro ama-zonense, como se vê - ao 1.nvés de caracterizar uma conj ugação de forças infern'\is na figura do Demonlo ou de Sa – tan. como o insinuaram os mis-. slonários, defrontando aspectos dos ritos. das ceremônias r.eli◄ glosa.s e soclala daquela organi– zação secreta que o Grande Le– gislador lndlgena fundou - ca– racter iza o drama de uma divin– dade da mitologia que entendeu, na sua sâbedoria, conduzir, am• parar e defender todas as ex- 1_>ressões primitivas da Beleza e da Vida e , desgraçadamente. n,ão o conseguiu, e nenhum outro gê– nio das selvas e das águas ama.– zônicas o conseguirá, taznh~m. MITOS DINÃMICOS E MIT OS ESTÁTICOS Dir-se-ia que nos deixamos en– volver pela poesia apenas do• mitos Indígenas. Dir•se-ia que nos deixamos fas– cinar p e 1 a expressão serena. enlgmâtica, rn a s estática, diP• mitos lndigenas. Nenhuma atitude seria mal• incoerente com a expressão da nossa vida int er ior, -que l, mo– vimento, que 6 ação, que é. igualmente, drama. Que nos seJa permilldo, POiJI. reclamar para a geração moça. que ai está, !)SSa atitude. quas. agresnva. do. no••o esphlto; u– qui<lar os velhos mitos estáticos no na11Udo da e,q,%eSSão univer– ,sal dos mitos dil1â:mlco11, de.que– res que. nos p oderão condt1zir à - ' ~J:'essao d:rarnátlca do nosso ~~n. ql\e 6 o d,- :13elé~ e o dllt . 61. . .

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