Folha do Norte: Suplemento, Arte, Literatura - 1947

'S. 8 Páginà FOLHA DO NORTE Domingo, 10 de ãgostc di 1947 A p ALA V a A vittuosidado tornou-se hoJo auspoita nos ,neios mu&lcais erudUoe ao bem que disponha a.inda de prestigio perante o grande pú• blico. Na verdade, ela é hoje MÚSICA . . _, . • empregada mais em sentido pe– Joralivo do que na sua antiga a cepção. O faio 1, que a virtuosidade, no Inicio do romantism.o, não queria dher qualidade imitativa, ma s q;ualidade criadora. Nós sabemos que os magos da virtuosidade, ormocoo iscoteco l,i.;zt e Paganlnl, eram espíritos ::riado:rea. Oficialmente &e atri• ,ui a êsses dois músicos a maugu– ração da virtuosidade; mas - se conforme ·paul Bekker e outros eminentes musicólogos - a vir• :tuosidade consiste prlncipalmeli– te no dom• de J.mprovisação, Mo– .7V\urilo X ;Y\endes :zar t já poderá ser considerado um to, 61e se acha tão prejudicado perfeito virtuose. Os documen- quanto Chopin - quero dizer, tos da época testemunham do prejudicado pelo abuso de pia- 11eu fabuloso dom de improvisa- nlStas que martelam tniermina• dor; entre inúmeros episódios, velmente rapsódias, tarant,-las, :ficaram famosos o do concerto NLa Campanella" e não sei mais em Praga, na época do langa- quanto:t números de êxito, asse– mento de "Don Giovanni". .em gurado diante do público, e con,. que êle Improvisou ao piano du- tra o, qunls projetei mesmo uma ranle hora e mela, sôbre mot!- vez, fundar uma companhia de ..,os de "Nozze d e Figa:ro" e o seguros~ do concerto de orgão em Leipll!!g, Entretanto, em muitas de suas quando improvisou com tal gran.. obras, Lis,zt atinge u,n nível ar– deza e ,najestade que Doles, o Hstico superior. Basta lembrar d iscípulo de Bach,...exclama, dos- os "Doze eatudos de execução lumbrado : "João Sebastião res- transcendentes", as admiráveis - · scilou. 1 " •-~ i ais -F •• •- suuon as cor , .. austo" e Dan- A virtuosidade é , pois, uma con- te", 011 poemas ahúônicos "Os t:eníração da força, uma exi,fora- Prelúdios, "Prometeu", a -Missa f!~ dos recnusos da wonorida-'e de Grau", o oratório -crlstus" e trumental~ é a técnica a servi- - "las bu t not least" - a pro– l/O da concepção unitária e espirl- digiosa "Sonata em si menor". tual d;i obra, e não e finalidade É sabido que Schumann tinha 4esta . dedo primitivamente à sua ao- Já. tenho observado pessôas nata ;ara piano e,n f,i menor reagirem diante de L!szt. como op. 14. o titulo de concerto ':8 ~" tratasse de um músico pre- sem orquestra . Dedicando sua ocupado ape!"as com efeítoll exte- Sonata a Schumann, parece que riores e brilhantes . Neste p.on - Liszt o acompanha:rla na meun.a (Exclu.n=aa 8 .... FOLHA DO NORTE, neate E"1adaf intenção. De fato, o plano gran• dioso da obra, a amp!Uude de sua• proporçõe.1 (que talve:s não tenha .Bido ultrapusada nem pe– lo próprio Beethoven) dão-lhe o aspecto de um Concerto - e de fato o é, com muito mais razão, pelo menos, do que o Concerto Ualiano de Bach, cp1e é uma Sonata clássica bem li pica. .. A Sonaia em si menor i;empre provocou em mim - em diver– sas vezes que me foi dado ou– vi-la por pianhtas de passagem pelo Rio - uma emoção e um interêsse especiais. Su:a gravida– de, a, atmosféra de nohlrna poe– sia e aapera inquietação, condu– zem o ouvinte à sugestão de que se acha diante de um drama me– tafisico, aumentando-se aJ:nda tal convieção pela unidade or– gânica da obra, que anuncia de longe as famosas infenções cl• clicas de Ces-ar Franck e até mesmo o descobrimento de no• vas souodda.des. Poucas obras musicais, na verdade, me têm dado e.lia forte sensação do pen– samento trabalhando s6bre si mesmo e voltando sempre a um ponto nuclear, o que oferece um testemunho a mais desta grande proposição: a de que o homem, desde o principio, recebeu um germe que se desdobra em tem– pos diversos e quer sempre dizer a moama coisa. que nãb é outra senão afir,nar o verbo. Segundo críticos ilustres, a sl- tua.ção de Llszt como composi– tor aerá sempre sujella a flu– tuações. A personalidade do ho~ mem Lis2:t, de resto, é tão mara. vilhosa e tão for1e, que chega, à s vezes, a predominar a do músico, De qualquer maneira, não se pode negar que obras eo,no a "Sonata" ou como a sinfonia co– ral "Fau.1to", possuem elementos de perman.ência, elementos de grandeza suficientes para atra• vessarem os tempos . Asllbtlmos. n. e a te 1. filtiID.QS anos, a este espetáculo extraordl– nário, e imprevisto : um d o s m.aioros composilores da nossa época, aquele que encarnou o genio da invenção, o homem que praticou experiências musicais de t o d a espécie, o Picasso da música - assistimos Stravinsky, no seu livro "Poétique Musica– le", onde se zeunem suas confe– rências, dadas na Universidade de Harvard. tomar posição con– tra Wagner, a favor de Verdi! O autor de -sacro du Prin– t e m p s" denuncia no ai#te,na wagneriano a tendência arte-re– ligião, a retórica pseudo-mistlca e guerreira, o mal-entendido que pro-eura f a :z e r do drama um compoato de almbolos, e da pró– pria música um objeto de espe– culação filosófica . Declara que existe mais sub&tâneia musical e ,nais invenção verdadeira na sbnplea ária "La donna e mobi– le", que na rotórica e nas vocife– rações da "Tetralogia•. Eis ai um sinal típico do d► c;Uni.Q qq "r11ll9:iãq ~asnerianaN. N O coleglo. foi nossa leitu– ra. clandestina: escondemos cuidadosamente sob a mesa os volumes já estraga.dos pela curlos!dade, lit'erâria de vã– nas ge:raçoes de col egia~s· n.o :fim da leitura voltamos a ~lhar, com. aquele prazer especial que ~spu·a TI} as coisas proibidas, as .illl/straçoes horrorosas de mau gosto. senhores de cartola e ben– g ala com bigodes corajosos, da– mas duvidos.as levantando um complexo enorme de saias e sai– otes e r e n d as sedutoras para e_mpreender o "cancan": e en– f un demos o volume. mais estra– ga~o do que antes, ao colega. co– chichando-lhe aos 0'1.lvido~ "Mau– passantl". RELENDO MAUPASSANT ''On revlent toujours à ses pre– mlere amours"; mas é perigoso. Quando os poetas Ingleses falam de "Yarrow RevJsited" ou "Eton Revisited". o titulo jâ inspira me– lancolia ele.giáca. Em francês é dilerente: ai prevalece a iro-'. in i-a do espectador envelhecido d_a vida, desiludido pelas expe– r 1ênclas. son-indo da sua :pró– pria mocLdade. Pensando hoje P. m Maup.a.ssa11t. também sorri– mos. lembrando-nos de várias b_Lstórias de comicidade irresls– hve.l: e toda a lembrança a:pa• rece envolvida em névoa de dias remotos. f-eli,;es. ·que não voltam mais. Porém. as meni– llBS da.queles d ias são hoje ma– lronas. respeltave!s mas menos l>OnitQs. O encontro inspira SU$– ~o . Encontrando-se um amigo com quem conversamO'~ na se– inana passada. costuma-se dizer: •Há uin século que não vi vo– t ê". Jl;[as parece realm-ente negó– tio do século passado a revisita tos amores da mocidade e aos t ontos de Maupassant. "Quanta'..s coisas obsoletas 1". •bserva Machado de Assis em 1,casião parecida. e como fica ►bsoleta a técnica novellstica de llfa upassantl Não se trata pro– ~riamenle de técnica e sim de iOtina. TOCoc: Oct c-onto,, 0 ,, t"1 11 Jl– e todos, com- çam da mesma b.a1neira: encontrando-se u m a nota bonita e al!!o misteriosa 10 vagão da estrada de ferro. entabulando-se um a conversa rue t e r á logo consequências ~Tofundas e fugitivas; ou en tão, tssistc-se à evolução râpldli! dos tcon tiecimentos entre n ~ " "";e11- ler" nu m re..-taurant.e dos Cham– >s-Elysées e a excuTsâo. no Jan– la u. ao Bois de Boulogne ; ou . A.final. até perderam o encanto do parradoxo. A obra-prima de ~upa,ssant foi o seu primeiro conto: Boule de suif. A historia da prosti– tuta que se comporta, perante o inimigo aiemão, com - dignidade maior do que os burgueses res– peitaveis. Depois veio o mais brlJhante dos seus eootos: "La Maison Tellier". O bordel como o ponto de reunião, muito res– peltavel. dos burgueses da pe– quena cid-ade. Já é a rotina do paradoxo. Enfim. as pro~itutas e s e u s fregueses cilegarn,m a substituir, em Maup~3Slnt. o resto da população (rgnc~sa. E foi a rotina. a mecanizacâo. Os personagens tornarar:i-se bol}e– cos da técnica novelistlca. Essa técnica baseia-se. por~m. numa fU0'so-fia muito séria e rr.tâto triste. "l: o determini ~mo abso• luto. ' Em Ilitaupassant havia ~uíto de "esprit gaulois", des•~ mesmo elemento que conserva a vivaci– dade a os "fab llaux" e às f.arsas de Moliere. Chegou a vivificar co– mlcamente o mesmo dete.n1inis• mo que revela a gravidad~ pesa– da de Zola o lado bestial da PXis– tência humana. E com efPito conforme a teo.ria de Be:·gson: a comicidade reside justatnente nos efeitos daquela forc;a que trans!orma as pessôa.s, "malgr~ eux", em .bonecos lnvoluntaria• mente mecaniza-dos; rimos cruel– mente de uma pessôa que perde o equiltbrio flsico. Ex:emplo notavel desse determlnísmo cô– mico é a história do funcionâ– rio sublltemo que qu(s, uma vez na vida, fazer uma excursão campestre. acomr>anhando a fa– mllla numa ca rroça aluga_da: In– capaz de dominar o anima) do veiculo, atropelou uma velha q \1e pediu depois indenização ao juiz, chegando a viver b em du– Tante os anos restantes da vida -à custa do pobre funcionârlo. cada vez mais endividado. perse– g,1ldo pelo Fado que não lhe perdo~va aquela excursã,o . Víti– ma cômica do rriesmo determt– ni.smo, em ambiente rtllis "chtc·• • Otto Maria Carpeaux (Copyright E.S.I. com exclusividade para a FOLfIA DO NORTE, neste Estado) n~ parece aventuras; aquela rotina de encontros, embrulha– das e soluções .faceis correspon– dia a um mundo mais estavel ·do que o nosso mundo atual. As vira-voltas mais surpreendentes de l\lla!;l-passant não alter.am o e despreocup..do, é aquele ama- anos a fio para poder· fffiltuir f:undo permanente daquela vida dor d-e beldades gordas que .no um colar precioso, tomado em- de então, inundo sem guerra, momento da maior exaliação prestado paTa uma -festa e iníe- sem revolução e inflações. Im– erótica te"lte de chan1ar o par- llzmente perdido no caminho; e pressão falsa, estâ certo. fdilica. teiro. s6 no fim da vida :;aberão que mas que basta para trainsfigu- Vítimas d o mesmo determmis- o colar era .falso. A vida é mes- rar a fealdade burguesa e pe– mo são o pai de familia tira- mo -u,na falsificação. queno-burguesa d-e 1880 em be• nl:oado durante a vida inteira A vida de Ma.upassant era mes- leza poética, envolvendo o mun– pela tia rica que hospeda, espe- ma fa.lsif!{:ação : do duvidoso do e os personagens de Maupas– rando-lhe em vão a morte e a '"de" aristocrático no seu nome ' sant, numa nevoa de poesia. herança; o avarento camponês até a elegância a prestações e i, Acontece o mesmo com as Haucheconie, achando, na rua e custa de trabalhos força<ios pa.ra obras dos artist,as que eterniza– levando um pedaço de cordão. as revistas ilustradas. até O cé- ram em cot'eS e luzes o mundo sucumbindo à suspeita de ter rebro se esvaziar. A falsidade o s ~e Ma '!passant : os mestres do roubado uma carteira: assim os \Ilida - outra mascara do Fado impressionismo. Os banheiros pri– irmãos Pi-erre e Jean. é a heroi- determinista - J)'ergeguiu-o nos mitivoo e sujo,s de 188? s~o. p&ra na esteril de Beauté lnutllc. e escritórios do Ministério da Ma- nós outros, mcc:nce1nve1S: m.as Monsieur Parente, martirizado rinha, nos cafés dos "boule- que~ ~sará nisso per.ante.. as pela própria familia, e a velha va.rds". na ópera · e nos bordeis: me111nas n~as dE; R 7 no.:1"2 Oú ~nss Hal'riet, sofrendo o desf-e- acompanl1ou-o parà · fóra de Pa- sont les ne1ges d a.ntan? : e _pa– cho doloroso da sua primeira e ris. aos ex-ercicios .de remo no ra onde se_ foram as !'.a,lannas últlm.a aventura amorosa: e o Sena. rio para baixo, vida para feias de pes melo ale1Jados. as = •rujo, voltando da viagem. re- baixo. até · a costa do Mediter- peças Idiotas. que se r e presenta– conhecendo na prostituta que lhe rãneo que fora a nostalgia da ram n~ Folles-Bergêres, as car– conta o desastre da sua familia sua vlda de "elegant", a "côte roça,s ridlculas que povoar.am .º inteira a própria irmã; e, en- d'azur": "Ma petit barque, ma Bouleval'd des Jtallens. o d1nJ1e1- fir:t. a encarnação do Fado. o chêre petit ba·rque. toute blan- ro que s~ perdeu nais corr1.das "I-Iorla", o espectro que perse- che avec un filet bleu le Jong de Aute;i,1, a fumaça da ru1do– guiu e aniquilou o próprio Mau- ou borda_ge. allait doucemen t. sa estra,oa de ferro qu~ acompa– passa.nt inventor de tantas 0 his- doucement sur la mer calme. ca•l- nhava os \'1.a.jantes da Gare St . ~óricas cômicas, trisies e. todas me. endormie... ", o barco que Nazaire até a pra ia em que os elas, fatais. o levou "doucement" à loucura banhistas estavam vestidos da Os personagens de Maupas• e à morte. cabeca aos pés? As dancarinas sant sejam camponeses astutos Mas é esquisito: a releitura de de Del!as voam como si.filides; ou "bon-vivants" de cartola e Maupassant. não sugere essa lm- o es oelho atrâs da cai.'Ca das Fo– bengala, são criaturas prlmlfi- pre~são de desastre e desespero lies-Bergéres. pintada por Ma– vas: vítimas do Fado que os ma- que devia sugerir. Certos criti - net. reflete un1 paralso: 05 "bou– nobra. como se fossem bonecos. cos contemporâneos jâ se equl- levards" de Pisaro são ma,res· de pelo flo dos inst1ntos cegos. vocaram falando da impressão luz. assim como as paisagens de Lembram os habita.ntes do se- de "sanidade física" e " fretcu.ra hipismo de Dega.s; e a fumegan– gundo circulo do In.ferno de natural" que lhes sugeriram os te Ga,e St . Naz, ai.re: p intaêlâ por Da,nte. os voluptuosos. sacudidos contos de Maupas,;ant. Hoie 8té Manet. é a porta pela quál a p elo vento das paixões, arremes- os contos oue se passam en- tente sai para esquecer tudo. sados sempre no mesmo "circulo tre os remadores às margens do "doucement. doucement sur la Vicioso". sem fim, sem sentido. Sena sugrretn antes a impressão calme. calme. en<lormie .. . " A vida, em M.aupassant. é sem de nortalgia de "san!,1a,i,,.. 6 Nos pin tores imuressionlstas sentido. Sem sentido é a exis- "írescura·;. Há. nesse naturalista fotta. porém. um elemento da tência daquele pobre f uncionári o de 1880. certa írrealldaide. talvez a,rte de Maup;i=nt: o humorú; – que pagarâ durante a vida toda con$equêncla da técnica nove- n10. Elemento que só aparecera. as despesas de um a e-xcursiio Jlsiiica bastante meca•nizada. ou m;:,ls tar.d-e. no pi ntor d~s excur– fl,acassa(l.a. Sem sentido ~ a vida então talvez seja outra coisa: sõei; pequeno-burguesas p ~1 o 5 dp cas:11 Lolsel que traballlou as "!lventuras" de outrora já não a.-redores de Paris: em Henri - ------ ---------------------------~--------------- mtão . a conversa confid-encial lepoi.s de far to almoço entre ANTOLOGIA 'bon vl\•ants" que fumam cha- u tos enormes, contando aven- llras pimen ta-das. como p. ex.. 1 confissão da~uele cavalhej,ro l!ue tinha pteferência esquisi– la pelas mulher·es gordas. De– pois dessa introdução. as coisas Logo se embrulham : no caso cita– do, aquele cavalheiro fc;,1 para um hotel com a gordinha encontrFda na rua, e ela começou a torcP.r– .., em dores. E vem logo a solu• ~ão: est~va grâvtda. e o conqttis- tador a conquistara na hora de cl,;,mar o p arteiro. Ta4s histórias fi1.eram escan– llalo na época. Falava-se de na- • tu ralismo grosseiro, f.otografia m ti-artistlca da realidade. Ro- le quase não reparamos mais a realidade atrâs desse teci-do <iPn- lo de encontros inverosslmeis, Mnbrulhadas artificiais e solu– ~ões ~ngenhosas. Parecem tão ·ir– reais cor,o os alegres "fabliaux"' !ran~ses,, d.a Idade Média ,. as ,.tl'98S cat-lcaturals de l\ltoliêre. Os contemporâneos notaraJn com lnc!Jgnaçã:o os progressos do cha– rrnoo "n,aiuralis1no crú" na evo– ht<:ão literária de l\!Taup~&nt, ktê ele chega?' à descrição natu• ral lsbLca d•!!!! suas perseguições ~los fantasmas. o "Horla"; e S ssa _loucura fin-al do es,;~itor es parecia a vingança do Fado t, ã·· · ~"' j'll'- 11ão pen,:,~mos. ,q_ 1 rn · u i, 1, f1Ue dPv~rC"n1 a 11 lura • c~r,,hro <! 6 M~1•– t f-,1 n rotina. E...-,re,•~r ~ ,_ ,.n,. (. ,. , Verr1 repousar teus olhos fatigados de leíturél– Na p:;_-oftl nda tr&iasparência do aquário Vem mergulhar tua sensação na lívida esmeralda estagnaaa Onde os Sentirás peixe.s vermelhos são 1abaredas submersas. a den~a frescura de um mundo onde as formas se 'llon- , ,. E descansaras tua inquietação Se distendendo enfim sôbre a • lga1n em ~í]enciosos fil'.lmentos c::>mo um lampejo de fósforo flácida preguiça das gelatinas adormecidas ' - .REI.i'TALDOMOURA-- • Da religião wagnesla11a. trlSOi, mas não da música wagneriana. que não pode morrer aslÚJll ele um momento para outro..• Não é à-tôa que o esplendor~ • do movimento wagneriano co– incide com a decadência reli• glosa do sec:ulo ·XIX. eoncebeu• se então o drama lírico comQ a reunião de todas as artes - o que de fato a Igreja Caióli(:a já realizaza; isto provocou de Mallarmó um .ensaio adml:râvel, em geral cuidadosamente escon• dido: "Cerémonials'· . CUarei al• guJDas passagens do mesmo, de• vido à relação que têm com o assunto em foco: "Ouelle repré• senta.tion, le monde, y tient ... ", e: "Jal Je sentiment, dans ce aanc:tuaire", d • un àgencemenl cvamatlque, exact, comme j~ sais que ne le montra antre pari jamais aéance constituée pour un tel objet". E esta notável ob• servação : u Contrairement par exemple aux usages d'opéra: ou ton1 advient, pour rompre la ce– leste liberté do la mélodle, sa condition, et l' entraver par la n:ais emblance du développe– ment régulier humablSu. {Vers et Prose", Librairte Perr!n & Cie, 18.--. éd., paga. 195;_215). Esse ensaio denuncia clara• mente a insuficiência do ceri– monial leigo. Ora, é evidente que Wagner quis• r•ealizá-lo. na óper a. Sentiu-o, BDies de ntn• guem, Baudelaire: é o que trans– parece no seu célebre estud'\ a&. bro "Richard Wagner". publica• do em 1861, na nRevue Europi,. ennen. Na p,:-6xima crônica fa, remoa um pequeno comentário a respeito. (O cron!&ta dirige-se à eletro– la e fa:i: pasaar os -~& da "So• nata em Si-menor~ Llszi, na execu<;ão de Vladimir Horowisft). Rousseau. Mas este já é prim!– ti'Vista, e ai estâ mais -uma cha– ve paTa a compreensão de Mau– passant. Os seus antepa.ssados llterârios sã9 os autores anônimos dos/ "Fabliaux.. medievais. l\llaupas• ' sant também é muito "g-aulois". Mas a sua Paris jâ não é a pe– gue.na cida.de medieval, amur~• lhada em meios das paisagens ri– sonhas do fu.n-do das miniaturas medievais. Jâ é a cidade de ca– fés. "boulevards" e antiquadas "g.'.lres" de estradas de ferro. É a cidade do na.turallsmo de 1880. doutrLna e estilo de tinpol'tanciil histórica ,muito ma.1or do q~ de valor intrin..«eco. Os grandes na-· turalistas da época foram gran,i' des apesar do natuoalis1no. Zola foi ~tm grande poeta épicQ. 0:3 pln tores impressionistas afoga– ra,m em ondas d" htz aquele feio mundo urb,a110. E dl'Ste pre1e.n– deu fugir o poeta Uríco e re1na– dot apa-L'Conado Mo.ttpassant. dis– cípulo nã,o de Zola e sim do es– teta Flaubert. Mas fugir para onde? Niio para " a cída<:le nas nuvens.. e sim para o "plein– air" dos pintores impressionis– tas. ou antes o "plein-ail'" em que vive o "homem natural". não sujeito às convfnções da so– ciedade burg11esa : e a i se revela de repente um Maupassant m<i– dernissimo precursor d os p1i– rnitivistas Hamsun e Hemi.ng– ,vay; vitimas dos instintos. sim. mas gloriíic&dor dos instintos primitivos. lt mais um idiJlr, f,t . so. está certo. mas é poético. l\1aupassant riu-se d0$. mesq11l– nhos pequeno-burgueses que da– riam a vida para fazer uma ex– cursão a carroca e cavalo pcl.09 campos de Tie-deFra,nce; fracas• \.i>~ram lamentavel e comicam<>n te. Mas não fracassou menos. e mais cruelmente, o H o mero desse mundo pa.risiense, e½ que sac.rl – ílcou a vidâ- para vil,;~r ••é a ''côte d'azur··. " ... et bientôt on ne vit plus Fíen que le riva~e et la ville, la viUe blanclle et la tUCf bleu ou glis~a,it ma petite ba.r• que", o barco da poesia . "O BACHAREL E O P ATRIAJ!,CA" ,.f• .,.1- (Conclusão da últ. pàgma) ne mais afoito a,inda hoja consegw.r1a swbmt?ter multi– dões brasileiras ao seu pater– nalismo a.rrogante e Il1€Smo sádico. O BrasiJ menos escla. recido continua a sentir a va– ga necessidade de pais que o governem paternalmente, que o castiguem. que o discipli– nem. que continuem a tra-0i– ção do Rei Velho, de Pedro II, d,e Floriano. Por.que Flo. riano ta,mbém deixou um.a nostalgia ou um culto que se explica pela ação ainda alti– v~ do complexo patriarcal sobr:e o an!.m-0 brasileiro. E não nos esqu~amos de que, neste particula-i:, nós nos antecipa– mos ao pov,o russo - ouLro que> a-inda nã-o se libertou do complexo patFia,rcal ou seja d a herança s.ocial de uma fo1·– mação semelhante à brasile.i. ra. Antes do culto russo do Marechal de A90 . nós ti vemoo o culto brasileiro do Mare– chal de Ferro. Um e outro explica,veis sociologicamente. Expl icaveis pela experi~ncia histórica que predi&pôs rl.lfl,. sos e bra,sileiros a governos fortemente paternalistas. E deSISa predi,s.pooição s& lenta. mente nos liberta.rem06, rus. '°6 e brasile.iros.

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