Folha do Norte: Suplemento, Arte, Literatura - 1947
• • FOLHA DO NORTE _,,, 2. ª Pãglna - --- ---.-~ Domingo, 10 de agosto de 19~1 't INTRODU(ÃO À DRAMATURGIA INDI.GENA ·- Elas eram impossiveis, en- desgastando os deuses indige. nas, os seus mitos, as suas len– das, os seus contos e os seus herois. Facil, aparentemente facil, foi assim substituir as imagens de tantos deuses por uma só ..;.. a do Deus dos · Cristãos - e a antropofagia ritual, tão mal interpretada, pela teofagla ou pela eucaris– lla, o que levava o lndio a di– zer que os portugueses nem ao ;ieu próprio .deus respeitavam, porque o comiam. Além desse ~onto de vulnera-bilidade en. wntrou o missionário na al– ina indigena um anseio por eerta' "Terra sem malda– !les... " , onde todas as deli– eias materiais e espir ituais poderiam ser desfrutadas, e 'ogo lhe apontou o. Céu, por detrás do firmamento aonde o Indio suspendera. nas for. mas luminosas dos astros, nos desenhos das suas constela– ções, as suas divindades e os à sus casas, vuelven ellos à. Ia vida de bandoleros, sem acor– darse de o,ristiandad". Origi• naram-se daí os aspectos da religiosidade do homem bra. sileiro, cuja alma vive numa peirma.nente inquietação, en– tre o crist~nismo -puro, o es– piritismo, a pagelança e a ma,– cumba. - DIRETOB. • • PAULO MARANHÃO J,_; A ll~T E .lSQPLEMENTO l:ITERATU~I ' 'OlUENTAÇAO r DJ. -, ,AROI.DO MARANHÃO , COLA.80.RADORES: - Alvaro Linll, AJme1<1a FISCb~. Aurello Buarque de Hollanda, Benedito Nunes, Bruno de Menezes._ Carlos Drummond de Andrade. Cécll Melra, Cléo Bernardo, Cyro dos Anjos, Carlos Eduardo, F. Paulo Men• :les. Baroldc Maranhão, João Condé, Marq_ues Rebelo, Ma. nu~ B!!Ildelra, Max Martins, Murilo Mendes. -Otto Maria Carpeaux, Paulo Pl'.nio Abreu, R . de Sousa Moura, Roger Bastlde, Ruy Guilllerme Barata. Sergl.o Ml.lllet e Wilson Martins. Os Escritores E A Música José CnNDlt • RIO-agosto-Se muitos são os escritores apaixonados pela pintura, maior é o núrnero dos apaixonados pela música. Ouvin– tes constantes são Lúcio cardoso, Santa Rosa, Marques Rebelo, C;,rlos Drummond, Aníbal M. Machado, Cyro dos Anjos, Anto– nio Rangel Band'eira. Louco por música é o poeta Murilo 1'-lendes. Quaindo Hitler mvadiu Salsl>u.rgo - berço natal de Mozart - o poeta enviou um enérgico telegrama de protes– to ao antigo ditador alemão. Mas repetir as anedotas que correm a respeito de Murllo com relação à música, ser'la coo– tar o que todos estão cansados de saber. Hã duas semanas atrãs o poeta nos comunicava o seu novo endereço nestes termos: "Venha quando quiser (espec.ta.lmente sãb3do. à tar– de. quando reuno alguns amigos para a música) - é só ba– -ter e serã recebido com as vozes inefáveis de Bach, Mozart Beethoven, Debussy, etc.. ." O critico Alvaro Lins é atualmente ouvinte insaciável. Embora êle decla.re que tem escrito irregularmente os seus artigos de critica porque an,da adoentado, o que é verdade, ' al– guns dos seus a,mJgos In timas dizem que a sua · ausência do r odapé se explica pelo fato de estar no momento mais Interes– sado pela música do que pela literatura. Durante horas. êle ouve agora na vitrola as músicas de sua p redllecão, cont i– n uando, no entan to. com a opinião de que a literatura é a • mais :!mJport,ante e diíicll de todas as artes. • ·. Imaginai um. ~jeito numa , ilha ct'eserta. A únlca vontadé (J'Ue _se_ l~e perrruhu ~azer _foi lewr uma vitrola e dez peças n1us1ca1s. concertos smfôntcos, músilca de cãm.era ou san,bas e rumba_s . Imaginai, por o~tro lad-o, que êsse prisioneiro seja u ,n ~ntor. Otav10 Tarqumlo de Sousa ou O poeta Manuel :h~detra. Que músicas escolheriam para acompanhá-lo na ta J E~te é o tema da "enquête" que hoje começa a ser ree– pondida por poetas, romancistas, críticos, etc. Publica,mos, lntc1alm~te. _as respostas do poeta Muri!o Merule.s, do con– t ista Guima-raes Rosa e do ensaísta Otto Maria Carpeaux. . ~RILO M:ENDES escolheria: 1) - Canto Gregoriano, echçao de 111'.osteiro de Soles.roes; Il - Lamentações do Aman– t,e no Sepúlcro da Amada, de ·Mon-teverdi: III) - Paixão se• guoo.o s. Miateus. de Bach; IV - Messias, de Haendel; V) _ OTfeu., _de ~luck:: VI) - Nona Sinfonia, de Beethoven; VII) Don G1ovan1, de M·ozart; VIII) - Flauta Mágica, de Mozart: IX) - Pelléas et Mélisanx:l:e, de Debussy; X) - Les Noces, de · Stravinsky. , GUIMARÃES ROSA escolheriá : I ) - O Recitativo de Log– ge (dueto de Log,ge e Wotan), na segunda c&na de "O Ouro do Rheno", de Wagner; II) ·_ Sinfonia em sol ma,ior (n. 13), de Hayd.n; Ili) - Sim:fon<ia em dó maior (.Ju,piter}, d·e Mozart: I V) - O Prelúdio de "Os MestN:6 Cantores", d·e Wagner; V ) - Sinfonia em mi bemol maior, de Moza,rt; VI) - Sinfonia <le ré maior, de llrfozart; VII) - O final de "Pansti:fa,1", de ,vagner; VlII) - A nona sinfonia' ("Coral"), de Beethoven: IX) - Trio ,em mi bemol maior, ou o "Momento Musical" em tá menor, de Sctiubert; X ) - A "Sifonia Militar", de -Raydn. · OTTO MARIA CARPEAUX deu a segu!Jlte resposta: "-Se tlvessoe de levar doís di-scos só para a famosa "Ilha" de rec€úgio - entendo que poderiam ser duas coleções de dl.9Co§°·_: esco- -lhe ria a "Paixã.o segundo São Mateus", de Bach, e 'o "Don Giovanl", de Moza-rt; ficando com a esperança de encontrar -ali (a Ilha será bastante pr<>eurada}. os últimos quartetos e • n atas de Beethoven, os "Ueds" 'tle Schubert e Wolf. a "Quu,ta t: o "Coriolano", muito Debussy e muito cantochão. etc .. etc. Pois "Ars una", e quando mutllada pelas nossas preferências arbitrárias, a arte se trans:forma em "hobby", do diletantismo. (Conclu.são da primeira pag.) tretanto, no momento em que que é O próprio Ja.cob Buck- o europe11 defrontou o . Indio Brasileiro. ha.rdt - aquele "momento em que O homem tinha de E desde a data daquele des. pôr-se em uma relação co~- cobrimento se desdobrou até pletamente n-ova com as coisas nós o drama. social do lndlo "\aturais e sobrenaturais e em Brasileiro, esse lndlo que, co- • • mó os bravos araucanos do ,e O amor de Deus e do pro. Chile, na frase de um escritor mo e o desapêgo das coi. .as terrenas teriam de ocupar argentino, "tienen · una fisio- 1 0 lugar da velha concepção d,o nomia sellada por ta melanco- Dir..se-la que se estenderam sobre a alma indígena, como as correntes fluviais o fa:i:em. com a silica, os detritos Vf• getais e a areia. nas terras fte aluvião da. Amazônia suce!I- divino e do mundo". lia de una raza. que ha reina.. Sobre a mentalidade do ln- do, ba decaido Y se extingue ,dio Brasileiro, além dessas inexoravelmente•;. forças espirituais de cristia- O ELEMENTO DRAMATICO nização e dos metodos de re. • • s1vas camadas de crença,5 in- dUzi-lo, com finalidade sooial, NA MITOLOGIA DO INDIO genuas, de inquietadoras abu– sões e d e vigorosa fé_ religiosa e ~conômica, outras forsas se exercitaram e outros n.iétodos. importando numa deformação e numa destruição sans n:i.ercJ da sua cultura, - que se não estudara à falta d-e aparelhagem cientifica. que só a psicologia e ..a etnologia p&deriam fornecer, - da sua tradição, da sua religiosidade. muitas vezes responsavel 1>e– los rum-OS das suas·migrações, das s uas art-es (canto, música. é' dança, ' consequentemente: - tea,tro, teatro primitivo, do melhor). , B em sentimos, ainda hoje, p or exemplo, a amplitude da.. qnelas forças que a pedago– gia de então, a serviço dos missionários, projetou sobre o cara.ter e sobre a sensibilidade do Indio, pretendendo i~tegrá– lo na. civilização do mundo eu– ropeu. Que u· aum.as não causariam essas lorças educacionais, co. mo aquelas forças religiosas e aquelas forças de escravid.ão, sobre a ps icologia do lndio? Não se processaria a sua evolução psíquica tão drama– ticamente como a sua evolução polit ica e economlca no mun– do civilizado que lhe era im– posto em nome de um Deus e de um rei? " E acaso um jesuita, mesmo da estatura moral e intelec. tual de um Anchieta e de un, Vieira, poderia, realmente. li– bertar-se das diretrizes fun– damentais da. sua Companhia para utilizar uma pedagogia cujos resultados não se carac. terizassem por uma intelec– tualização deformad-ora e ar– bitrária? E até qua.ndo a d o<;ura ou a afabilidade, o espírito de sacri.(icio ou de renuncia. ele um Anchieta e o seu herois– mo mesmo o .poderiam condu– zir a um dominio tot-al da a.l• ma. indígena, tão fascin ada pe– las contradições, sem a. cor. romper nas suas fontes. sem a limitar na sua concepção de liberdade e de democracia, sem m.atar no seu coração e no seu espirito êsse philum que integt·a, na sua. essência e na sua. f inalidade, a alma hu– mana à própria natureza? Pa.negiristas, como Teodoro Sam.paio. Pedro Calmou e .Jor– ge de Lima canta.r aro lôas a.o prinoipe dos missionários, que foi Anchieta. Mas des-cera;m. êles. por aca– i;o, a' perquiril' a.té quando o método pedagogico de um Anchieta r epresen1ou pa.ra a alma indígena o seu anseio, o seu ideal ?. lnda.gações dessa ordem se Impõem mais na nossa época. sobretudo qua.ndo- psicologfs– tas, biotipologistas e sociologos precisam recorrer, consoante opinião de Carlos Bassuri, à psicanalise, ligando-a à Etno– grafia para a diagnose daque– les traumas a que acima nos referimos. As forças cristianizantes da ação dos jesui~s não se pro– jetaram só, de 11referêneia, contra a organização socio– econom.ica do Indio, mas con– tra a. sua mitologia que, se. · gundo Frazer, é a filosofia do homem primitivo. Tirando proveito de uma. si– tnaçâ.o análoga à do povo ro– mano, cu.ios mitos de há mui– ío vinb.am sendo substituídos por mitos exóticos ou esta. vam sofrendo desgaste na sua estrutura e no seu conteúdo, os jesuítas e os missionários de outl'as Õrdens se voltaram para os mitos indlgena.s dan– do-lhes combate sem trégua e deles se servindo em favor da cristianização da terra bra– sileira. E, -nesta altura., para melhor ilu,strarmos êsse recurso, te. mos de recorrer, de novo, ao gênio do historiadox: da época de Constantino, o Grande. • • seres que o cercavam. Essas substituições, algu– mas inoontaveis e desconcer– tarltes, muitas ve:i:es tiveram êxito comprova.do . Outras, porém, concorreram para que o Jndlo. voltasse à s:u,a malóca, mais pagão do que antes, porque, dizia um cronis. ta da conquista do Prata.. por exemplo: "Quando 1-os espano– Jes los aprietan pa,ra castigar– los por S1JS agressiones. vie– nen muchos a los pueblos, dl– ciendo quierem ser cristianos Y en volviendo l0g espanoles O nosso contacto com in• dios, caboclos e nordestinos– fixados na Amazônia. nos t.eDl permitido verificar tàtos que elucidam aquele comporta– mento e aquele resultad-0 som– brio que se alastrou pela ' at. ma popular. Viajando pelo rio Uau1>éS'. há poucos anos, encontramos um índio que. náo obstante haver sido batizado pel05 Sa– lesianos, tomava parte. perio– dicamente. nas festas de Juru– pary, realizadas no fundo- da selva. E. no Baixo Rio Negro, en.. contra.mos senhoras. de certo nivel intelectual e de certa educação relig1osa que, de modo algum, se ·atreveriam a vêr os instrumentos sagrados daquele deus-legislador. (Continua no próxiJll'J-0 nú– mero). Quais As Diretrizes Futuras Do Romance? ~*ti**A:******~ Segundo êle, a religião ofi– cial do Império era o politeis– mo greco-romano. "tal corno se h avia constituído pela afi– nidade primitiva e o ulterior amálgama. desses cultos. A ' base de divindades naturais e de deuses protetores de to– das 3$ relações imaginaveis da vida. se havia prO{luzido um circulo admiravel de figuras sobrehumanas. em cujo mito o homem antigo reeonhooia, por tôtl a parte, sua própria. t O DEPOIMENTO DO AUTOR OE "OS– t CARINA" - MARQUES REBELO PRE- t FERE VIVER 4-v--'l''f-V-H"H/--V-~ ...,,.•••• -v-• • • "1-->f+ , --Almeida FISCHER imagem"_ . As tribos indigenas do B1·a• (Especial para a FOLHA DO NORTE, nes'fé"Z:stado) sil. mesmo as nónmdes. ti- Marques Rebelo, inegavelmen- bt>~ p8%a onde caminha O nosso nham encontrado no animis. te. é uma das ~alores figuras romance, pre~ere 'viver .. , J á es- da moderna íicçao brasileira. peravamos por· uma respost,a mo a gênese dos Séus mítos e Dedicando-se inicialmenJe ao desnorteante do escritor quando deles tudo dependia na sua- conto, publicou "Oscarina", êsse o procu.ramos. Marques, na vida existência, no seu trabalho grande livro que todos conhece- real, é tão bom quanto nos · s,eus ' i •tos' mos, conseguindo nansmitlr ao llvzos, apenas muito mais ale• n as suas ceremon a;s e rJ • gênero inovações de muita lm- gre. Bem, vamos ao seu d&– n~ suas artes e af.e nos seus por1ancia que lhe deram novas poimeruo: 1 metodos . de guerra. diretrizes e o libertaram das 1,- -Nao se trata de nenhuma es.. Tudo o que estava "anima- m~tações dos seus moldes clássl- péci.e de repugnancia ou temor. do p or um elemento de vida" cos. muiío longe disso, mas querer "f . . . Tentando depois o romançe, s aber a m.ínha opinião sôhte a.a e por U'!1::1' ~rça im~essoaf, con. grande êxito. Marques Re• ruretr.zes futuras do romance, mas espmtual , })0$8Ula um belo publict>u ''Marafa", e,coe- me parece. tão es1ranho, tão ah• míto. leníe trabalho que o situou en- sur do como Bil me perguntas– Dai Ehrenreich h aver defi- ire os melhores cultores do gê- sem. em tom sério, ahsolutamen- nido O míto como uma re1>re- nero em ~osso país. . te sério, em que dia iria mor• ta - • • . . Outros livros de autoria do es- rer. . sen çao pn·mihva da univcr. piendido ficcionista que obtive • Não sei, nem quero saber. sa.lidade Idas coisas. raro grande sucess,; e aumenta- Prefiro ir vivendo .. . E tal é a sua importancja , ram<lhe o presiigto literário, são E nessa doce ignorância, e :à para a compreensão da m en- "Stela me ~riu a porta" e ..,. espera de um fim i:rrevogãveL talida·de J)rimitiva e aprecia- estrela sobe . . _ . é que vou compondo as minhas _ " _ . Dono de um estilo agi! e p,to- histórias, ora com preguiça, e ra ça,o da. evol_u~";~ intelectual resco, Marques Rebelo repre• com pertinácia, e não raro com da nossa espec1e , que o au- senta bem esse grupo renovador desconsolo. pois a dúvida pode tor do "Ramo de 0Ul'o" lem. de nossa ficção, que surgiu de- ser também uma virtude; e an– bra que os mitos da humani- pois do movimento ~odernis!a ire elas hã algumas, poucas, que dade poderiam ser classifica- de 1922 e. que tanía 1nfluênc1a apresemo como romances, em- d 'ad exerceu sobl'e as letras nacio- bora que numerosos disti~os co- OS e arranJ os em um naia. legas, cobertos da alta glória ,. Corpus M ythor'\lm, no qual, No Inquérito ·que vimos reali• da mais indiscutível experiência. eomo num museu, pudessem · zando sôbre as p.osslveis ·dire~ri- garantam que é engano de elas-- ser exibidos .. _ ze~ futuras do romance, - di:re- sificação. engano apenas d<lSC:ll• N t b t I tz1zes essas que, talvez. certas pávcl, dado os bem largos limi• O en an o, con:io en re a • experiências hoje realizadas n"J tes já atingidos pelo gênero·. guma.s dessas tribos sob a gênero permitam prever, embo- ' ação or~stianizante d-os mis. l'a sem muita segurança · - iãm MISTIFICAÇAO, NUNCA! sionárlos, existia, de certo, um tomado parte as figuras mais re- -"Mas engano ou não - mls~ bom número dC)as "já mor- presentat11:as dE;, nossa ~lcçã<>. tiflcação nunca! - são na ver- ta l t d b'l'ta->-- · Sendo assun, nao poder,a ser dade tão descoloridas e desco- mcn e e ! 1 ""'! por t~m dlspénsado, de maneira alguma, nhecldas histórias, que jamai• processo de d1ssoluçao interior O depoimento do conhecido au- me recomenduiani - por maitl e pela presença de novns in- tor de NA estrêla sobe" nesta que eu quisesse sossegar escrúpu– gredientes externos" então. "enquête" que estamos realizan- los e querer ser agradável ~ ~, t • t d ' ·d do . rl>datores e leitores da FOt.H.!\. con ra esse .P.on º· e evi en- NAO SABE, N1'M QUER DO NORTE - para que pudes- te vulne.ra.b1hdade, ~ lançou SABER.' .. se aparecer lmnrovisado -em pi• o catequista, desmorahzando e Marques• Rebelo não quer sa- toniza Ii.terãrla" . - ------------·-----~- ---- ·-- .....,1- --------------------------- ......, ~A . MONTANHA DE RA.MUZ (Con.clusão da úll, pág.) Neer em 2S de outubro para só reapa,recer • 13 de abril do ano seguinte, aproximando os habitantes, durante seis meses, de uma vasta sugestão noturna, Anzévui, um velho 11ue se dedica.ira a ' ler um livro enorme e a dirigir as enfermidades dos seus conterrâneos, descobre qu,e daquela vez o sol não retornaria, preâ.mbulo do fim do mundo. O drama dêsse livro se desdobra a~ atingir a uma. tal inten. &Idade que o desfecho - jovens ao pé de uma montanha, Jean tocando em uma cor– neta para que o sol torne a iluminar a al– ilela - se toma evidentemente simbólico. E; admirável a. força com que Ramúz fixa Ssses elementos telúricos em quase todos os teus livros. Sua,s personagens vivem em den– • Uga4;ã.o com o céu, a terra, as chuvas, as lll&Vena e aa estrêw. O regional não se perde na oonca.tenação do. pitoresco; através de um niila bem su-rpreendente; a ·narrativa direta estilo maciço, cheio de a.restas, eloquente e ·se entrelaça com o monólogo interior,.e o rea– cintilante, os episódios que caracteri:i:am os Jismo se cruza com uma revolucionária dire– oostumes e- as tradições se corporizam ou se triz tão utilizada hoje pelos novos romancistas diluem no círculo da mágica e d.a "féerie". A que introduziram no romance vários llnea– int,omissã.o de corpos estranhos em um dado mentos característicos da poesia dramática. vilarejo esquecido pelas luzes re.splalidescen. Em volumes pequenos, o autor de "Joie dans tés da Europa é quase sempre o motivo cen- le Ciel" chega a. estender.se perturbadora.– trai de seus dramas, e todos êstes podem ser mente na descriçã.o de pequenos ·objetos e interpretados como símbolos bíblicos ou gre- coisas miúdas. Há nele, sempre vigilante, o gos. cuidado de P,artir do imperceptível par.a. o A's vêzes, os homens lutam com a natu- vasto, e ·numinar os detalhes de sua obra reza, ao serem atacados por esta. As cala.mi. usando de métodos por assim dí:i:er cinema.to – dades, como símbolos da precariedade humana, gráfic.os. Ulru!, á,rvore, uma .estr:tda, um _rosto dizima.m fa.nu1ias, afirmam sua força dstrui- ou uma. conversa., em Ra.muz, parecem expos– dora •sôbre ·cabeças inocentes que sempre se tos c,:>mo em close-ups. inclinaram para o a.mor que frutifica. em fi- Em ''Vie ·de Samuel Belet"; um romance lhos, para as colheitas e os humildes nús- vastíssime, Ramuz a.presenta o seu livro clãs. téres. . sko, que perde e:m virtudes e ' slngnlarida.des Em seus romanoes, Ramu acl>Ot.a wna. tée.do aeu a.~ o que ganha em densidade, em sobrledad•e estilistiea, em riqueza de .situações e em admirável desenvolvimento formal. E' a história de um homem desde sua infância a,té a velhice. Pouoos elementos de fátalidade cruza.m êste livro que se desenvolve como nma sinfonia autobiográfica., de um realismo– vivificado comtantemente pela imag~ lírica de Ra.muz. Entretanto, a intenção sim.– bóliea é visivel no desfecho dessa vida que. ;endo um filho pródigo, atravessa a fronteira. [)ara. pa.rtlr e para voltar, sentindo em r, o chamamento ruidoso do mundo, mas eonquis– tando o pão. com o suor do seu rosto. Ao rever-se, antes da morte, êle pensa erD( um cavalo - o cavalo que recebe a chi!icó1 a. que o homem deveria vibrar em si m o . "Car l'essentiel est qu'il fa.ut vivr qu 'nd même et li fa.ut n1ourir encore viva,nt". De Char!es-Ferna.nd Ramuz ou de seu pers na,. iem Belet, ·pode-, e dizer • mesma co
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