Folha do Norte: Suplemento, Arte, Literatura - 1947

- • 2.• Página === ==.áãa=;a;;""=========================,,,,;F~O;;,T~,;;RA~~D~O:,,,,;N:,;'O~R~T~E~=================!º~º~m:i~n~~o~, 9de leveruro de l.B-17 1' • -.>" " gue:rra, os grandes a1.1l.,res esLran_ge1ros conlem– po.râ :neos são, em França, ob– jeto duma voga inusitada q,ue não cessa de aumentar. Brlia– nistas, germanistas, hispanis– tas. lusitanistas, eslavistas, he– lentst1:1s e itallanistas não cl:fe: gam já para saciar a fome dos leitores íranceses que lhes de– vem o falo de conhecer hoje, melhor do que nunca, o com– portan1ento, o estado de espí– rito, a maneira de pensar e de viver das nações e popula– ções do mundo. Seu aposto– lad(I, ll1iás. ümita-se llllicamen– te a traduções A fôrça dos acontecimentos obriga-os a evi– tar mais frequentemente que outrora todos os fatores sus– cepti veis de perturbar a cor. tente circulatória da vida in– ternacional, e a ter em dia o gráilco das febres politicas, sociais ou económicas que põem por vezes sua saúde em p erigo. ~<ti':;.,:;--.,--.-,. - ---•-..~~~....,_.,.,,,.,,___._~ ~ ... ~,li'!_,. ., s --c•...-,-•.,,,.,,,,,_,.Í .,-;- ---- ,~ restai. numa diversidade que se assemeU1a ao prisma do arco-ir is ,.--~--·--"~·-·--~·'--"'!"-------"")"'------- - ' Esse grancte non1em de ueu1 que é Philéas Lebesgue, bom camponês da França. de mãos calejadas e esptrito alado. que conli.núa a desppito doF 77 ' Movimento Literário E' pois de justiça recordar à CJ~ qltf ~bilêas Lebesgue, grande escritor regionalista pouco conhecido do público· e demasiado esquecido pelas ell• tes, ê d êsses precursores que n ão tém deixado de consagrar há n1ais de cíncoenta anos, o melhor da sua atividaàe espi– ritual, graças à tradução de algu 11s escritores estrangeiros. a propaganda tanto roais e:fi. caz :iuanLo desinteressada, dis– creta e benévola, dos nobres ideais de q ue a França con- 1.inúa sendo mais do que nun– ca a campeã. Ninguen1, com ~1'eilo. contribuiu mais do que ele para fazer amar seu pais pelas pequenas e grandes. na– ções que se orculham de o to• mar po·r modêlo. Neville-Vault, onde ele sempre viveu fo1·roou– Se, pelas suas p reocupações, um dêsses lugares onde o es– pfrllo respira. Pequena aldeia 1iu1na centena de habitanles. Nevílle-Vault oculta-se entre as ãrvores q ue or lam a gran– de estrada de Beauvai.s a Gournay e a Rouen. F oi ali que ele escreveu sua coleção de poemas: "Le Buisson ar– dent", "Les Servitude'S". "La Grande P ilié", "La Buch dans l'Arts", "Les Chansons de lV(argol", "Prêsages", "1'rip– tol"!me éhlouie", ''Le jardin des Ombres", "La Corbellle du soir" "Arc-en-cíel", "Celui qui parle, bas''. "Sur Je ,pas du Solei!'', e ainda outros de me– nos importância. Foi ali que escreveu: "L'au delà des Grarnrnaires'', "Le Portugal LiLLérafre d'aujourd'hui", "La Grece litteraire d'aujourd'dui" 8 Por RENE' M.ARAN 8 P;;o--..,,...,....0--~_,...,...,...o"'..,..~J o-..cr~,..,..,..JC'l"'..o-1 (Copyright do S. F. (.) • ·~ li I:! 1 " - Q~..-cl anos que l.he pesam 5 óbre ~ RIO. vla aérea CA. U.) - ombros e as doenças que lhe ULTIMAS EDIÇÕES - Bur- e "Le Pélerinage à Babel" ren ou o Walt Wlutman de g uesia, capitalismo. libera- amortecem o ardor, trabalhan Foi ali que ele traduziu do "Feuilles d'Herbes" não des- d 11·smo, ensaõ,os polít1·cos de o por suas próprias mãos os ~ néo-grego, em rolaboraf;'âO com denhariam reconhecer o seu d Be'1tor Mon1·z,• " - R"'ce1·•as campos o seu lu1?arejo na'-l:lt .a.. ,. i André Castagnou os poemas p1-6_prío acent.o e os se~ sen- para Você , da Tia Evelina. que coligiu na "Antologia dos timentos mals generosos. Por- e faze nd º ª colbeila que Ih,; 4.ª eài<;ão do famoso livro Poemas de SoHris Skipis: "Os que, como geralmente :>s ~ons fornece as sementes do pen- de receitas culinárias, con– cantos 'femininos ,sérvios" e os nacionalistas são os i!l!ernacio- sainento universal personifica, tendo a matéria de Receitas Poemas iugoslavos conlempo- nalistas mais impenilentes simultaneamente a l''ranç:i para Você e Novas Rece\fas i:áneos. Foi ali, em colabora• tan1bém a unidade de Philéas manual e a França intetectu!tJ para Você, acrescido de nu– ção com o modesllssimo Ma- Lebesgue cujo naclonalis1no a1nbas unidas num único ho. merosas rei::eitas inéditas. Do noel Gahisto, que ele traduziu Intransigente mas lúcidv se mem, e ambas trabalhando, valor desse livro é testemu– ::~c!:~;8~','· ~de"bsªulvet:; 10 c 5 3;:. funda num intern;lcionali~mo co1n o mesmo afã, na canse- nho a sua adoção oficial n a • u. generoso, mas lúeido taml.)éin. cução da paz universal Escola N ormal da Bahia e de Coelho Neto, e "J oana e no I nstituto de Educac;-ão Joel", de Xavier Marques, lr~_ Esperança De "·· z,1'11 osto Familiar e Social do Rio de escritores apreciados em Por- t 1 V Janeiro Memorias sôbre tugaJ e no B rasil Foi dali. fi. F c'Uché. a vida secreta do nalmente. que ele partiu para Ir:,,= ('en<1l 11~ã· '•l:: n 1 t o:i z.1 -famoso ministro da policia rápidas viagens de ami7.ad -e de Napoleão Bonaparte; tra- ou breves "tournées" de con- culrura e nobreza humana. Geração é Lincoln, Lenine, Uoa- fer'éncias na I tália, Portugal , muno, Freud, Bernarcj Shaw, Malraux. Bergson. Casl ro Al- dui:ão de Edll h Barragat. Grécla. Servia e Checoslová, ve~, Rio, Branco. Romain Bolland e Jacques Maritain, insatis- para -8 Colc,:ão Memórias– qcia. fe1t~~ d!gnos e creadores, resistindo e clamando contra 3 s1.1b- Diiírio"-Cnnfissões. O e-rime Vlvia, por assin1 dizer, an- Servie~ci~ '.'- pass!Vidade e os labús de todos os séculos. e <'- 1 CTi!n in osos n a lif('rat 11 Ta tes d-e rebentar a guerra que G~raçao e _T1radente~. Marx., Roos'-'velt, ainda André Rebouças. brasileira, de Lemos Brito. tanto mal causou à humani• Sao Francisco de Assis e Einstein abrindo caminhos! É mui- interessante ensaio ti-entifico– dade. em permanente contacto lg mais consolador e nobre uma tristeza lúcida como essa da lii;!rário sô?r~ os granti_es com as personalidades !ilerá• geração que perdeu Raul de Poropéia, vencido tragicamente. cnrnes e cr1m1nosos na fir;-- rias de ~odo o mundo. A lín - ma~ ~rot undo e licl - que vêr êsses que acreditam se«i cão hrasiTeira gua alemã, a inglesa, a por• esp1nlo aberto e olhos l Aguas de Espanha. l'Oman- t uguesa, a ltaliana, a espanhola • Cuidado e alerta e a :i sempre como o L~dio munduru- ee de C. S. Fot·rester. eTn e a grega não lhe eran1 estra- cu da lenda - porque e me da minha geração e do povo tradução de Vivaldo Coar-.:i- nhas. Colaborador ass.iduo da ..... os vendidos e os trãnsf têm falado como se pude~sem. ao cy, relatando as aventt1ras "Revista da América L atina" menos de leve, falar nest a anti,-fascjsta, em que só aquê- do famoso Capitão Horn- da "Revista Argentina" e de les que conservaram a e a lealdade pódem fallll' clara- blower, etn luta com os rna- ''Nosetros". Lebesgue n,anteve, Jhenle - como homens os, como homens livres - a pa- rinheiros da Franca de Na- até às -proximidades da guerra, lavra da Renovação, da ·ça Social e da Paz. pol eãb sob pseudônimos diferentes, Mlnba geração sem ver,didos e sem os trâns· fug.as ! É Passar os Perdidos, poemas no "!,IJ:ercure de F rance" . as para ti, escolhido por to os meus companheiros, nesti. sala d e Rabíndranalb T agore, na secções d,e "Cai·tas Gregas" vermelha como as rosas outubro. ao entregar esta "Chave'' coleção R ubaiyat, magnifj. "Cartas Portuguesas" e "Càr- que a minha al egria e a nha compreensão cre!jc.e.m como as camente traduzidos por Ab - tas I ugoslavas'', ao mesmo tr:-epadeiras nas tardes de t io. Alegria e compreesão de po, gar Renault (Edições da tempo que cuidava de cultivar der apelar e até exigir q tú não cêdas e nunca d~sesperes L iv J osé 01yi.npio) . e valorizar _os campos que ber- como a jovem operát:la io. no poêrna admiravQI de Mi- dara de seus antepassados e de chael Gold. Nunca ceder ião desesperar, aconselha,,a 0 Wltil, VOCÊ SABIA QUE ••. administrar a pequena aldeia m1m. É esta luta pela lib.e de e pe lo bero de todos_ qu.e no;, Harold J. L aski. autor i:ie de~que era o "mai.re ". q ualifica como autênticas criatu1'as na terra. Não esquece Fé. Razão e Civilização, é "Es-t~ omn1e ?" ~reve jamais que nós tE1mos qu~ r ~ .a O mundo professor de Ciências PoliU- ele nurii""ãõs seus mais be1os e para o nosso coração. •••~-.:::.-..is.!< 1 2...JUI.J.nniversidade de Lon- poemas. _ Lembra e venera Stalingrado êsse simpólo do bo,tnem dres,: A l!g-ripino Cri.eco é dominando a máquina e o passado: 0 símbolo do am!lnhâ! _ funcionário da Estrada de porque toda a inteligência e toda a vida huma l\& têm uma Ferro Central do Bri;isil: 0 missão a cumprir, mesmo que- tenhsm que ncar solitãrus (' ~tark Twain -foi editor !ra– soslnhas como as estrelas perdidas no céu. T rair ou nêgar :assadn !' piloto de nal."iOS no esta missão é destruir o que temos de melhor, mals pt -o e Rio M7,:sisslpi: A. J . Cronin, mais belo dentro d,e nós 1nesmos. de qut?m este <).110 teremos Es-i11 un homme Un homme libr1: Oonf te verbe · Ja.lllil [franc, Comme te cidre De mon plant ? Sois mon cam:u,ide, Loy:tleJnent! T udo Phlléas Lebesgue ce– lebra nos seus versos livres tão bem ritimados, tão claros. tão diretos, onde um Verh"le- Minha geração. Eu o le conv'.do a sonhar oon10 os d1- rnai:s dois r(ltnances ( Anos de Letantes moços... E sim e sim unicamente a pensares e :igl- T ernur a e A. Dama d os Cra– res com virilidade. sen ·e com gênio, fidelid:ide, altivez e vos), i-eso1Vf'U fixar r·esidén- luminoS'a fraternidade comb um cidadão do mundo - eia cn1 Hollywood; Luiz da para o qual o ideal é a or coisa da vi.de , Camara Cascudo é diretor Meus concidadãos. :iha geração. Nós temo.,, urn en- da Biblioteca Pública de Na- contra marcado com o fu oi tal: Gastão Cn11s é alto fun– cionário da Secretaria de E- duca~ão e Saúde da Prefei• tura do Distrito Federal: Pe– dro Calmon (que tem no ptelo u.m nolavel trabalh o sôbre· Castro Alves) é profes• sor da Faculdade de Dtreito d" Universidade do B ·as.il ; Alvaro Lins publicou o seu primeiro trabalho de critica aos 27 anos e o seu Rio Bran• co aos 33 anos; Gilberto A – mado, autor de Grã,.. de Areia e A Dansa sôhr"' o Abismo, foi consultor jv1 ídi– co do Ministério do E,t'te1·ior; Graciliann Ramos foi pref~i– to em Palmeira dos Tndios, sua ci<lade natal UM .flOSTO NOTURNO - O "SCritor Guilherme Fig11ei– redo escreveu a Reinf'1r!o Moura pedindo-lhe PPr' is– são para te<1tralizar :- no• vela "Um Rosto Noluc·n 1", que será levada à cena pos• sivelmente pelos "Con1edi– antes" ERICO VERISSIMO EM CASTELHANO - Toda a obra de E rico Verissin10 já foi traduzida na Argenuna, embol'a alguns d e seus livros ainda não t enham sido lan– çados em caslelhano. E' o caso, p or exemplo. de "Gato P reto em Campo ae Neve'', c u j o s originais traduzidos a cabam de ser ehtrettue~ ao editor Santiago Ruedtl pela ti:adutora Matilde E li11 de Et– chegoyen . Os livros do ro– mancista brasil eiro vêm dei;– pertando t al interesse no \"1◄ zinho pais, qu t "Se estabele– ceu uma verdadeira disp•;ta en tre os editores. Assim, " Viagem à Aurora do ~1un• do" e "Vída de J oana n· A··e' ' !0rain lançados pela ('lnri– dad; toda a obra inl11n til, pela Editorial Dizeran: "\– venturas no Mundo da Hi– giene", peJa Anaconda: "l\1ú.; síca ao Longe", "Clari~a''. 'Um Lugar ao Sol" e "Ca– minhos Cruzados", por San– tiago Rueda: "Saia" e •·o Resto é Silencio" foram pu– b1lcados por uma editora da ..:idade dé R~ ário e "Olh'.'.li os Lh::los do Campo" por uma entidade que publica UlJ" li– vro por mês para distribui– ção e,ntre seus associados. - (Conclnsão da 1."' pág.) ROMANCES, OVELAS E CONTOS \'ll ~e _energla con_ti_da, de autoridade e 1:1rça ·t:pr1m1das. Era v1s1vel naquele instante que a vida para ela não era um sim!lles espetâculo 111as 9.ue Jlilda pattic.i.pava dela com extra',lr-' d[nârio poder, senUndo-a estreinecer até su.as • derradeiras fibras, comprometida. no seu calor como _a ave agasafhada no próprio ninho". Nos d1álogos, porém, vemos que todos os p-e.:-– sonagcns, por mais diferentes que sejam, fa– lam quase se1npN:? de un1a mesma mru1eir" · a maneira pessoaJ do próprio novelista. Go,ta– ria também de lembrar a um escritor de tanto senso artístico e tão vi,sivel cultura literária a n~cessidade de uma ma iot vigilância contra certos lugares co1;11uns dest~ espécie: "\lesse lrabalho sem glórta, con~urrua seus anos n1ais preci~-0$'' (. .. l "neste$ momentos, a inveja corro1a-lhc o coração''. Ao lado disto ttm cer– to refaxan1ento de lingttagern. visível' em mu~ tos trechos dos dois livros. las, qu1:! ficaran1, pc;ir sua vez, sem aquele con• teúdo que lhes é próprio e essencial. A narr ra~ão se processa no passado. mas é logo visí– vel o d:.'.aceran;ento intimo quanto ao proble– rna do ten1po. As duas obras, sob este aspe~– t.o, 1>erde1n a ..UJ'tidade. trac<:io,nam-se, disper– sam-se como J?áginas soltas. No espaço. en– eon1,ramos a mes1na dissociação de elementos, a nl~sma div.il ;âo ratai. Percebe-se que o autor está escrevendo co1no quem perdeu, ou nâo encon lrou. o seu centro de equi1Íbrfo e d-e J;ór– ças. Precisando de um drama único ou de um epis6dio central, êle esboça situações se– cundârias ou episódios acide11Ws. setn alcan– çar, pela a1\áli!,e, pela narração de factos ou pela expressão das paixões. aquele ponto de máxima altitude emocio11al em que os perso– na.gi :ns eKecutam de modo conrpleto a n1issão qu~ lhes está destinada na lógica dos seus oara'tleres artisticamente desenvolvido!. e re- veh1dos no livro. . De inicio, o problema de ficção de A pro– fessoro. ffild a es1á lançadQ desde as primeiras páginru;. E muito bem lançado con\o po!1IO de partida na concepção do aul4'>r. Numa pe– quena cidade do inle1 ior, H1lda é a p r ofessor;; hã muitos anos. E ' uma splil.ária, não cnnhe– ce o amo1·. árida. sêca e C:ría; é urna nálureza forte. dominadora, orgulhosa do domínlo que exerce- no seu pequeno mundo. Só um sen– l[mento· poderia ·agitá-la e dramatizá-la eo1 deterininad:1 circunstância: o 6dlo. com o seu pokncia1 diabólico de repulsão e dest1•uição. T~rhos asshn, na novela, um personagem, a profe.,.,ora Hilda, e ·um sentin1ento, o ódJo .Es– pcrmnos. agora, o epi:;iódio, o aconleclmento, o drama em q~e se revE.'lem o caráter dessa per– sonagem e a nat-ureza formal desse senlin\ento No entanbO, esperamos em vão. O enrêdo é insuficiente para atingir esta revelação. A chegada de u.ma nova professora para sub~ti– tutr Hllda, que .fóra aposentada. informa o no• velisla que a sua personagem está desesperada e alucinada d~ ódio. E COl'\10 se vai exterio- - rizar este grande sentimento ntl.l'l'1a alma im– piedosa e cruel até à deshumanidade? Hl\da pro1nove apenas uma pequena inlriga, uma l>an;;il intriga que ocorreria a qualquer cría– tun mesquinha naquela ocasião.Os seus en– contros com a nov11 1>rofessora, ·em diálogos e p equen,is si tuações domésticas. são frouxos, incolores e se111 relêvo. O episódio final o do s!,licld\o d a menina. marli ri.zada, súges– lionad-a e arrasl;ada à mor te pela professora Hilda - d-e!.xa de alóant ar o seu efeilo porque parece solto no e:;,p aç,o, desligaüo ·do espírito geral da novela. introduzido ali abruptun1enle pela necessidade de uma conclusão de 4ual– quer mQdo terrível e palética. O que deveria ser ação no movimen to da novela, para caracterização dos personngens e revel.. ç.'10 dos sentimentos. fica Sl.ilbstituido por um permanente fluxo verbal. Se Hllda não se revela através de Rcontecilnenlos, tan~bém nií.!) se retrata nos d :álogos com ,l\dclalde 1 con:i Eugênia. ou com outros personagcns. ~nbe– mos dela apenas o que nos informa o nove- .lista no estllo direto de autor O sr. Luclo Cardoso trata assim a sua person,1gem con10 só seria lícito num ensaio. Descreve-a, a ela e a<> seu sentiinenlo de ódio. i!Cumula•a de adjelivos, n~as a professora Hilda não se mo– vimecnta por si rne$ma, não vive como os seres reais ou de ficção. E' uma criatura estática, andando O\l falru.,do sern aulonornia. Tamb~m não consegui1nos sentir o se-1.t óctio, Q. ue mais parece um sentimento abstrato. um sentimento que o Sl' Lúcio Cárdoso anallza$'Se i.mpessoal– n1ente, com um espírilo de generaJ ização. E isto -explica o arbitrarismo com que se canduz o novelista. Tão rorle e resoluta no seu ódio - "mulher serena e rígida de sempre" - f-fJ Ida fica de mãos Lr·êinulas Çpágilia 52' e co111 o ~ção a balet' desco1npassado \página 6-3) como un1a mulher qualquer. A pá.ginà 99. "não estava c:;insada e nem precisava de repoU)lO", à pi\gitHl 104, 1;iet11 que nada ele extraordinário houve&se acon1ccido. "sentiu-se mortalmente cansada. o mundo lhe pateceu mais do que nunca hO~ à sua pessoa". Depois do episó– dio final da morte da criança. o novelista leva HUda ao ret:onhecimento de que ''seu grande crime fõ1·a ter descc;nhecldo o arnoe• e ela própria exclan1a: "Meu Deus, eu a amava, eu a arnavà tanto!". Con!.udo, três páginas adi– ante, na última página. encerra-se a l).ovela com Hildq ''talvez 1n.ais serena aínda, talvez mais rígida, mas de uma serenidade, de uma rigidez onde já se vislumbrassem os elemen– tos próprios da danação·•. En1 O anfiteatro, o senli.Ql.ento de ódio é também a substância intima da novela. 'Ela apresenta, aliás, mais animação, m.3,i,s interesse e mais vitalidade do q ue A professora J:lllda, mas ambas eom a mesma ausência do ~erda– deiro caráter , da autêntica estrutura d ·b.tia ficcionisLa. E h á aq u i um trecl10 b 1.t'e ituslraUvo a este respe ito: aq uele em sr. Lúció 0arooso e:rt1pllca o: sentido da • ..ri-a sortilégio, que empregara no período an– terior: "Sortilégio ~ bem a palavra, pois não há outra que signifique ou transporte esse s-enlimento de ma~ia e enlearnenfo, esta cu– riosa impressão de terror e fascinaç5o ao mes– mo iempo, que para tantos cõnhecedores é a f}Drta por onde se penetra no êxtase". Ai es!.á, neste exernplo, um procei:so usado sistemati– camente: o sr. Lúcio Cardoso define mais do que lransmile as situações d1·amátlcas, sendo que as define, n1uitas vezes, de modo magni– fico. PratLcamenle. a novela O t1nfile:ilro já se encontra tõda lançado e conhecida na pá– ·ginQ. 61. de11ois da discttssâo en t.re. ..as duns 1nu– lheres, uma delas, a mãe de Clnudío, ,que é o personagc,m-nartador, com a valise na mão, prol'üa para partir. b"a! por dicynle, essa cena cul.millante nem se prolotU:ll em pro.fundida– de, 11errl. é ultrapassada em extensão. Cri.i-se um impasse, num terre110 de flutuações, até o pouco verosslmil suicídio de Margnrida,- no final, como se o suicídio sugerido e provocado tosse um expediente para encer1·ar a segunda novela como a prHneira. O próprio novelista, sentindo-se talvez em perplexldnde, introdu– zi u no entrecho, ao lado do ódio que separava as duas mulheres, um outro pJano senl.itnen– tal. o das relações de Claudio é Gil cotn o pro– fessor Roberto Alves. E com est.a divisão de perspectivas e pl:1nos, ficamos ca-<:la vez rrnlis di:stantes dac1uc-la unidade, daquela harmonia interior. gue deve caracterizar ainda mais a novela do que o romance. O estilo do sr. Lut:io Cardoso, sendo o de um autor que escreve com vigor e Sl!nso ll– terârio, não apresenta, contudo, nestas duas novelas. aquela fJn ura, aquela plasticidade-, aquela riqueza verbal que seriam necE:Ssárias para acon1panhar um •instrumento de análise em profundidade no lnterlor das almas. Ele revela em certas ocasiões uma acentuada exal– tação, uma calorosa inteni;oão poetica n-0 jõgo das sugeslõe:;, mas, fico em dúvida se será esle o estilo mais propício a um romancista qn~ opera no terreno psicológico. Oferece-nos, _por isto, a ln1pressão de que tanto o seu es– pii:íto como a sua lingu agem são instrumentos a.inda sem tôda a p recisão e todo o poder de penetração para fixar não as h oras, n,as os mi nutos no movtme nto das paixões . Em n\ui– t;as páginas, sem dúvida, a ex11ressão f ormal do -novel is ta é bela, l orté e nobr e. como :se pode observar neste ~recho-: "l'ôdo o seu sêr víl:>ra- Isolat:lamente, o leitor encontrarã nas di1lls nov~las algi,1mas páginas admiráveis, imagens belíls e sugestivas. situações 1naglslralmente esboçadas. Às vez,es, o sr, L\icio Cardoso itno– biliza un1\I cena ou um personagem, e apre– senta-o com os recursos literários dos se~1s me– Ihotes mon1enlos. Infelizmente. no conjunto, e o conjun1o é ludo em ro1nance ou novela - • • f nao conseguiu criar aquela atmosferc1 senti- mental. aquela densidade psicológica. aquele ambiente de sombra e mislério. mn que me senti lançado, l)or exemplo, ao lêr A luz no sub -solo ou O desconhecido. Aliás, o sr. Lll• cio Cardoso é, como se sabe, uina das primei• ras fígura,s -do moderno rom-ance brasileiro, com ULn lipô de obra e com uma fisionornía literária que es1imo de mani;!-ira especial. No meio de uma llteralura em grande parte mor• cada pelo superficialismo, pela improvisação. pelas exterioridades, pela busca fr: -enéli.ca do sucesso imediato, um autor como o sr. Lúcio Cardoso. com caracter:istJ.cas t ão oposta-s a esta linha geral d,a maioria. mere«' tôdas as nossa,s ho1nQ)1agens, E não deixa de ser uma dela~ o propósito de dizer-lhe sempre a verdade, so– bretudo quando não é, como agora, -' nem fa– vorável nem agr,adável. ( l > - L6c.io Cardoso, A professora. llild■ - Livrari,a J osé OliJnpio Editora. R io - 194.6. O anfítea.tro - L ivraria Agir Editora. R lo - 1946. P a-ra,. remessa de liv1·os: Praia de Bota, fogo, 48 - Rio. - ' ,. •

RkJQdWJsaXNoZXIy MjU4NjU0