Folha do Norte: Suplemento, Arte, Literatura - 1946

Catulo Da Paixão Cearense • Padre DUBOIS · A morte de Catulo despertou em mim recordações velhi– nhas. Em 1907 e 1908 conheci o troveiro . na Pedra de Guaraiiba, em casa do meu amigo, o deputado Raul Bar-ro·so. Lá ia recitar, tocar e cantar. No principio tudo bem: a vóz era clara e agradável, não muito robusta. O artista não toma- "~ atiiude_:: exagerada'!'ente, românticas, nem ameaçava sucum:..: b1r de amor por uma ingrata. Como bebericasse de vês em quan– d?, começava ,Pº~ percorrer a sala teatralmente, inclinando-se aqui, f a1oelhando a_h dia.nte das S!nhoras e senhorinhas_.. como os anJigoS trovadores diante das castelas. No fim, a viola gemia sósinha. pois a garganta do menestrel, atacada de lari~gite momentânea não dei- xava passar um fío de vóz. Todos riam a bom rir • ' Na friagem da madrugada regressavamos ao ' Curato de S. FAC-SIMILE DE UMA DAS QUADRAS MAIS ' CAS DE CATULO: - Qual seria o anel do Poeta se o poet a fõsse doutor ? Uma saudade brilhando · ·• •!~ção de uma. Dõr 1 -§:---:!i!~ii!i:l~:itrt if t~i~~::. i~~:t~:~:f:::•· ....t{:fJl:l~~t !:):} ~~=tl~fit ❖:.:.:-:-;-: ;,:-. -t .~:;::::~~ ;::::::~;:;:;;;::: ::::::::;:~:;: .•:•:•::::::~~~~-:*5~:~t;::Ç:;=5: •.::::::::;:;,:::,.;•Z:::::::::::::::::::;:::::::~::: ,..::::~:::::~!§.~;::;.;::::,:~::~~tt:::-:::,::.•.. •,•.·.·.·.·,.,.,....x-. V.,,·.·.·•'•'•'• •.•,·,•.••• •,·•••••••• •'•'❖,..:•··. ·••,•••••••• ••,.,. ~-.•.·•....·••••••,,, '!'.' • • •• ,. • • / CARACTERíSTI- CATULO CEARENSE, A Modinha EA P11esia Da . Brasil.idade BRUNO DE MENEZES e OM a morte de Catulo cja Paixão Cearense, os remanes- - • ,centes da modinha ser<?steira, . violões· plangentes e •'boii- .. mias sentim.entais. perd~ram a última esperança de re- · ♦ vivescência, O popular trovador maranhense deixou fundo. nas almas românticas, dos nossos avós, a dolência dos bordões em noi– tes luarescentes e o canto livre das almas sonhadoras. Catulo foi quem libertou a modinha nacional daquela triste- C_ruz, em carruagem puxada a dois cavalinhos. Durante doze qui– lom~tros cabia-me amparar o poeta. que cabeceava de sõno e de bebida, Conservei de Catulo a impressão de um boêm!b inofensivo, de um bom :oração e de um poeta-nato. Uma vez no Norte, só o acompanhe, em se1111 livros. Catulo foi de fáto um poeta. Contam que. encontrando-se com Emllio de Menezes, o autor do SERTÃO EM FLôR cumprimentou ao autor ~a MARCHA FóNEBRE com um cordial: bom dia, coléga ! - Colega ? replicou o grande EmUio. O senhor é também far-– macêutico? :::::,:::-.":?,:::•:: : :: ::::: ::::~:~:=:::~::;..-:.. .. ,,::::=:=:~~~:-:=::--:c:::::::: ::,::;:::::~:~::::.:~:=-~~~···· :::::::-.. -::="•:•, •,•,•, ,._ • ,•,··.•.•,•.•,• ...•.••••••···· •'• ••·········· v •••············••'!'.._,,•,•.·.·.v.·• :'::}~••••··········'-'· ' •• .,11ri 1 i1~1i11 ~111,~,~~r 1,~11 ,1i11I1~111] 1 i1~~111;111111i~i11 . -:;:;;_.;•.·····.... ·V:..•, .......• ........ ,v • ••••...·.····~··~.....•••....... t❖f:.:.X.········. ·.•........ ,•..·.· .. •;,;s,••·❖~-----•.···· •.. .. ... ~ .....,••••••••••••. ·if::~:::r::::;~;.:•:::~:::=:::1{:::::::::::::}if:r:::::::::ft.::½::=::~: ~~:MJ::if~i:i ~~:::::1L~j~t:::::::~::~t za congênita, do saudosismo melancólico, da monotonia fadista, que lhe impregnara a nostalgia luzitana. Evolvendo-a e fazendo-a Ji. brar-se, lotnandQ-a plástica, insuflando-lhe ardências :tropicais • colorindo-a de paisagens nativas, com as sinfonias ·de nossas alvo– radas e as doçuras de nossos crepúsculos, o canoro bardo serta– _nejo deu à modinha. que é de todos e "não ~ de ninguém", a le– gítima amorosidade de nossa gente e de nossa raça. "Clólia., adeus!º, 1 '.'A pequenina cruz do teu rosário", "Quando Jesus mei• gamante solitário", "Campo Santo". e outras. cujo clima subs– tancial de sua expressão psicológica imortalizou essas modinhas. que dominaram a alma das ruas e conquistaram um apogêu dura• douro. fôram produções que invadiram os respeitáveis lares bur– guêses, onde o vi~lão, ac·ompanhando-as, também firmou o seu Emilio de Menezes, formado em farmácia, fôra <> inverso de certos rimadores, cuja poesia vira em droga. Com êle, a droga dera em poesia. Não aceitando o coleguismo nas musas, pergun– tara pelo coleguismo de botica. Entretanto, Catulo era poeta de verdade. Se a poesia se lin1itasse ao versejar, assim mesmo Catulo seria poeta, pois os seus versos não são de pés quebrados ·ou de métrica errada., Os segrêdos da versificação eram familiares ao Homero dos sertões. E se a poesia está sobretudo na inspiração, Catulo vibra com a alma das gentes e das coisas. Não é êle que poetisa os cenários,. mas são os cenários que lbe enchem de poeaia os ver– sos. Suspirou C~:tulo: Quise1·a ::,, ,. !~or ante Como um cantc5r sertanejo.•• Era êsse o meu desejo... Não ter nenhuma instrução, mas tet o dom do improviso para dizer, de momento, as d<}1·es do pensa mento e as mágoas do coração. Para :ler o dom do improviso, não foi rrii.s:tér que Catulo f&sse .analfabeto como o violeiro caipira. Se não são Improvisadas, suas :trovas não cheiram ao su6r do ,ésfôrço, nem ao óleo das lâmpadas do serão. Os matutos e.e Catulo são fotografados e fonografados ao vivo, os campos do· Nordéste são descritos ao natural. José da Alencar, Gonçalves Dias e o visconde de Araguaia apresentaram índios lilerários, como os Na:tchez de Châteaubriand. Catulo pôs em cêna ,1na1utos genuinos, fiem ceder ao pendor caricatural de um Monteiro Lobato. Catulo penetrou na alma do sertão e a alma- do sertão, numa recompensa justa, penetrou nas poesias de Catulo. Seus versos reclamam uma vóz e uma viola. como a poesia dos . aêdos ou dos rápsodos exigia o ritmo da lira tocada pelo plectro. Não se compreende uma trova de Catulo sem os acordes de .um pinho e as modulações de um canto. Segundo Chateaubriand, o homem cantou primeiro e falou depois. O compositor toca ou trau– ..~- -- ---• • 0 r-- ••• ..a- ,...__,;~ ,_ -- ~M.t;10'P~m:a n ,u.e.ic ~I C{li\llo havia de cantarolar baixinho seus versos antes de passa:l os para o papel. Apesar de viver em cidades, Catulo reservou para as SU11,9 obras a linguagem rúsflca, aprendida ell) familia na infância. Era o melhor meio de conaervu a côr local aos temas. O colorido, a ingenuidade, o chiste, o imprevisto das expressões sertanejas não oão sempre traduzíveis no português escolar ou acadêmico. O idiô– ma sertanejo é rico de imagens que não existem na língua urba– na. Se para louvar um santo seria necessário um santo, se para apreciar um músico· genial conviria um m ú sico genial, não se pode negar que para interpretar a alma do sertão é preferível a língua\ do sertão. · Dar ao vaqueiro emprest adas as frases dos salões é o mesmo que introduzir num salão um vaqueiro vestido de casaca com rabo de bacalhau. O Nordeste em particular, e o Brasil em geral per– deram o mais ser:t6Jlejo dos seus poetas, e o maior poeta dos seus sertanejos. Morreu o - nosso CatúlQ, o nosso grande p oét a popular, lido e re_pit ado em t od o o Bra– sil. Desaparece o bardo singu– lar, depois de uma longa vi– da a que o boêmio e o poéta que ê,1.~ sempre foi deram •uma notavel expressão. Fui, desde à minha adolescência, no Rio, seu àdmirador, quando o tro– ~ sem par que- .êle era, ~pujava o poéta s'ertane– Jo que depois se revelou com tanta esplendor. Como inte– lectual, sua vida póde ser di– vidida .em duas fases: - uma, que abrange a sua mo– cidade e parte da madureza, em qué era o trovador, o me– gualavel cantoF- e compositór de modinhas ; e out ra em que derramqu rio mundo aquel es poemas do sert ão, e se reve– lou o extraordinário poéta já tão nitidamente esboçado na primeira fase .,. São · da segun– da os seus famosos livros, que tc;,do o pais · conhece, o "Meu sertão", " Sertão em flor ", "Poemas bravios", "Mata ilu– minada", ''Alma do ser tão", o "Sol e a Lua~•. -"Um boêmio no céu" e outros. { A a t ual gera– ção já não tem memóri~ do Catúlo da primeira fase. Amo a ambos,. mais adoro o das modinhas, que é o que vou f.o. car, pois o outro é de todos conhecido. Faz· dois anos e tanto, em cetta , tarde a·zu1 de maio, tiv'e uma doença romãp– tica: -=- uma enorme saudaae das serenatas e áas noites de boêmia que já f i caram par a traz. D eu-me um desejo de recordar os versos que eu cantava e ouvia nas noites de luar, nos meus tempos de es– tudante . Recordava-me de al– guns. Mas, onde conseguh· essas velhas canções nesta al– tura da vida? Escrevi a Catú– lo da Paixão Cearense p ara que me enviasse ao menos um dos seus l i vros de modinhas. A sua resposta não tard ou. Jã a Jí e reli não sei qu antas ve– zes. Vai o leitor, agora, co– nhecê-la. "Já Jhe mandei uma carta po:i: um amigo, isto há meses. Não sei se ela lhe chegou às mãos. Nela respondi a todas as suas pergunt as. Sôbre os livros de modinhas, d isse-lhe que estão esgotad os. Se, porventura, en– contrar algum, enviar-lho-ei com p1·azer. Não p_ossúo um só dêsses livros de can ç-ões, que . , Ja morrer am. A meu ver , a única que sobreviverá é o "Luar do sertão". Por mais esforço que ,empregue na mi– nha memória, não posso re– constituir a noite na casa do dr. Silva Ramos, em Botafo– go ou Jardim Botânico. São falhas da velhice! Escreva-me dizendo se recebeu esta carta. Até lá veremos se aparece um dos livros que me pede. As desilusões de que me fala, são apanãgios ·da idade e dos ·inte– lectuais. Todos nós, desapare– cendo, levamos péssimas im– pressões deste miserável pla– neta. O que ainda nos álenta é -a saudade do velho passado. Espero a sua resposta . Catú– l o Cearense . Rua F r ancisco Meier, 78, estação do Engenho de Dentro. De outra vez serei mais minucioso, pois que ago– ra a.letra está meio tremulan– te. 23jlOl43". Mais tarde, pude matar a saudade, conseguindo alguns d e s s e s volumes atualmente muito raros. A "Lira dos sa– l ões", publicada em 1905, t raz uma bõa col eção das suas mo– dinhas, e é oferecido o volu– me a José do Patrocínio. No prefácio escreveu Catúlo: "Leitor: ascende a tal culmi– nância o orgulho que tenho de saber poetar para o can– to que, sem acanhamento, te– ria o desaforo de vos dizer que o d i a eih que um competent e e insuspeito me dissesse que esta ou aquela frase não foi bem adaptada, que""1ão diz o que d iz a música, está inco– lor, é inodóra, está forçada, êsse dia será o último da mi– nha vida, porque ou suicidar– me-ia ou sucumbiria de pe :7.ar , por ver aquele meu orgulho destronado". E assim finalisa: "Leitor, este livro é o ninho onde se viera1n aninhar tod as as sa1,1dades e amarguras que tenho experimentado, ao pal, milhar a senda da vida. Só poderá cantar estes versos, quem tiver seu instrumento encordoado de lagrimas. Nes– te livro, em que se refletem todas as tristezas do outôno; neste livro em que as sauda– des rumorejam, como as on– das a se enroscarem nas are– nosas fili granas das a l v a s práias, dbcemente veladas pe– lo sendal d os p l enilúnios sau- !~if i/i1i t~Iili~~~~i&ff )~i!!im~:mtl=~•:;:;.y.f <::::=:=:::==:::: • • ••• ••;:::~ ❖Y '•' ,,,•.,.;.;.;.;,:.:,:~•,•,•••••.. .,,._,,,,•, ·:--,· ::;:;:::::;:;::::::;;:-:-:::::::•: :;:;~~ ·.•::;:;:;::.:::,::.-..:::-· :i:::~• . •'• :❖: •'•' ... , -::;:;. .-::.:~ •'❖, ~tf\:~.. ..,@illt f@~~~lli~I f iI~lit:.. t~f ~ii~t~~ if l;lf Jtf ti!IIi? 11im1ãtr•• .-:-~:;:•.;:;:•. .....::t~:~:~:1/~1::§:: ......... . •'-'········ *•'•···· império. . É que a modinha brasileira catuliana trazia os val'ores sensuais dos nossos inst intos afetivos, os acalantos adormecidos, as expres– sões de meiguic e exclu.sivamente nossas., as. .ânsias, os desalen.tos das nossas paixões. A melodia do seu quente lirismo, a estrutura emocional das est rofes, tudo isto foi irmanado, :transfundido, na· ressonância das cordas sensíveis do seu violão privíle<,Jiado. quando fazia vibrar o mágico instrumento plebeu. que fez a glória de um Barrios. Conve:nho que essa retrospeção oportuna da época e do fasti– gio do cancioneiro- patrício, que preferiu sempre. para sua Musa, a agreste flôr sertaneja., seja um assunto que ressumbre .. passá– dismo" inatual. QueTo., eniretanto, assinalar. que se tivessemos,. a.inda, cantores que descessem até o povo, regressando ao es:tílo singelo e à pureza. sentimental das modinhas de Catulo, os luares idilicos cç,nvidariam novamente às serenatas daníanbo, que fa– ziam os cc;,rações s e amarem à distância e as janelas: enamoradas se abrirem de man.sinho. . . - • Onde existe dôr há paixão; onde o sofrimento pousa. a poesia germina; õnde a natureza falar à alma e :traduzir as suas pompas ein harmonias, a "lira divina" do Poeta ali estar"á., para interpretá– las em versos e- rimas. Nêsse pendor singular é que Catulo sobrelevou a sua populari– dade cómo cantor medieval século XX. levando às castelã• de longas tranças e olhos merencoreos, de brancas mãos petalares, as suas canções de menestral nordestense., como se fôsse um ''minni– singer" regressado de suas perambulações pelas regiões da velha Germania_,, entoando as suas endeixas passionais. Com o sepultamento do mestré incomparável de "Campo San– to'-', que · êle próprio sublimisou na sua queixa funérea., .encerra--se um ciclo digno de fixação para a modinha das classes médias, quE'~ · • n.ão sentem por snobismo. e perpetua-se a mais dourada fáse do lirismo trovadoresco, tão poderosamente re<f\vlvo nos avataras da nacionalidade., através da poesia do coração extinta com o vale Irônico de "Um boêmio no Céu". J~iff:-~· :S•'.::.~. . . .. ..... .. . . •, . *.-,❖:•.•:•:•:-:- .. <--?;;,;·• 1f I~:~:}tJiji *= :):~, ~~=iI=~r~:{:t;: :•·❖·•·•-=❖:•:• :-:•.?x' ....~•-·.· •••...:,•-•.······· ·····•❖❖--:❖!'•: •:,.!❖;,·❖--·.·.· ,:,;, ---❖-•.···· ·:-.-.:;, •••••••••••. ' •·❖·•········ =:r~§=~:}({:~t f ~:::::::: = ;Jif;J~~r:=·· ·,:.·.········A::::: 1 1 il l1 1 CATULO • .,..,.,..,..,..,.,.~~ ~ GASTAO VIEIRA dosos; neste livro, que é a ur– na sonora ou o relicário onde guaxdo as ·recordações dos an– helitos da pretérita mocida– de; nest e cemitério ou viveiro de esperanças, talv~z possais encontrar uma canção, . um verso com que simpatiseis e, assim, seremos irmãos ria dor ou na esçerança . . •" Foi nesse volume que saiu a famosa modinh'a "Meu ideal'\ que a t é hoj e a inda se canta: Pudesse esta paDçao na dor cristalisar, e os ais do coraçãó em perlas congelar, de tudo o que sofreu, ?'li tela deste amor, faria ao no1ne teu divino resplendor! ............................ Lá, lá nos céus. então, contigo ali, do amor na pura e etérea flora- lã, junto a Deus entãQ cantára uma canção de adQração a til . (ção... Lã eu ditla aos pés do Redentor. perante os imortais: Sen;hor! eu venero muito a ti mas confesso sem temor que a ela eu amo mais! Catúlo era arrojado nas suas imagens de poeta-trov ador. Repare-se n e s te s ·versos do "Inocenté desejo'.': 1 Ai, pleU Deus, se eu pudesse voar com ela num carro de luz, viver - nun1 eterno ondular, como as ondas dQ mar! • A CATULO De toda a gléba, do lnteriol' senUu A verde mata., a ' serra, o doce canto Da passarada, o marulhar do rio :E Q 11almo triste da cascata em· pranto. , , Nêsse . recolhimento agreste e santo, Em que a Natura imaculada fruiu O trescalar das flôres, ouço tanto A voz do poeta ao branco luar do estio.•• Can .l.ou , pois, do nordeste o céu de anil, O azul do Pavilhão que alto paneja, Na gratidão eteYna do Brasil ..• Cessá da Ka1ureza o coração, - Flndou-ae em luto ia -vida sertane,a, Vlv,-ndo, em glória, nelma do sertão 1 Aln'ONIO GONDIM UNS --~---~--- , • t • • Em nenhum outro _poeta do Cruzeiro o sentido mátel' da terra ~atai foi • :tão dominante como em Catulo Cearense. :Cle encarnou e .sse determinismo* pregente e-m todos o:,: poetas do Norte. Não teve êsse · capricho por atüude estética ou cabotina, para co:q– quista da celebridadit, Era nêle um dom genial. _ Do bêrço à maturidade de · sua pr edestinação poética. Catulo fol marcado para essa transfiguração de sua alta sensibilidade. si• tuando-se/ de um modo relativo. com ascendência sôbre êles. entre Ferreira Itajubá. Antonio Sales, Mendes Martlns, os Wanderle:y, Alceu Wamosi, Mario Pederneiras, Olegário Mariano. Cassiano R•• cardo, Adelmar Tavares, Belmiro Braga, sendo que estes úllimé>s deram à sua poesia um vago perfume de re•gionalismo, dominante na sua formação intelectual. Mas i~to é apenas uma companhia amistosa, no. sentido de 'úm comportamento de temas característicos nos poetas que cantam I a :terra nativa. Nenhum dêsses, de certo, recolheu com t,unanha 1 quem lme 1 ~ COf{l'INüA NA s.a PAG. mas não me - ocultes entre as [b r umas dera que eu fõsse cuma flor r uma ave! te.u fulgor. Eu vivera'. a cantar estrela dal.va em céu de amor! a canção mais suave! .............................• 1 Lã do teu sidéreo manto Por êsse te~po, a maf-s fa- manda um ráio haurir meu pran- mosa cantora de modinhas do _ . [tof Rio era d. Esmeraldina, cujos Mas nao digas que eu chorei, Ih . . C t, 1 que eu so,ucei o os u1sp1rar am a a u o a por ela assim! deliciosa canção "Os olhos de-1 . la": • O "Cancioneiro popular" ê , dedi cado a Art ur Azevedo. Eu sou capaz , de con:lessar aos Veio a lume em 1908. São [pés· de Deus d • "C - d f · q ue eu nunca vi em mundo al- essa epoea a ançao o a r1- uns olhos como .os teus! cano", "Ao luar", "Na hora em [gum que se cobre" e outras: Os Eu não sei mesmo como os hei [de comparar! Não sei! .. , Eu jâ t entei cantar o teu divino olhar! Depois de ttanto verseiar debalde, em vão, depois de tanto massacrar a minha jnspiração, cheguei à triste conclusão de que eu só sei sofrer... E o que o's teus olhos são? Não sei dizer! Os olhos teus, quandQ nos- que- ' (rem castigar. parecem dois vivos cautérios que nos vem queimar! • Mas, quanlio querem nos ferir direito o coração. • . eu não te 1 digo, não, o que os teus olho.s são! .•• versos desta última são tão belos, ou mais, que os da "Canção do exílio'', de Gon• çal ves Dias. A êsse tomo segu i– ram-se, ent re outros, os "No– vos cantor es" e "Trovas e Can– ções", aquele em 1909, e este em 10. Já nestes livros o tro– vador vai cedendo lugar ao grande poéta, que acaba de deixar a vida. Na "última prece", cantava Catulo; Senhor. eis meu desejo: morrer ao lado dela, - em noite assim tão bela, e toda cheia <le esplendor! Sofrer. · fitando a estrela do seu divino olhar! A flor • do coração no colo seu então fechar! • • O trovaclor tinha admiraveis surtos dei inspiração, virtude que nuncq o abandonou . Sem– pre inspírado e feliz na com– posição dos seus versos, em todos os momentos da sua vi– da de poeta . Lembro-me de uma quadra, do "Marroeiro", Ignoro se são do conhecl– de grande bel eza e de imensa mento do leitor as trovas do simplicidade: r poéta. :tle .sabia fazê-l as l in– Tra:da dentro dQS óio estrepe e mé, como a abêia 1 Oiou-me c'omQ oia a onça a adlspols 1 como a ovêla 1. •• Não sei\ se o leitor co~hece a " Invocação a uina estrel a". Ouvir cantar essa modinhá em noit es de luar era um prazer: Tu és a santa estrel a a santa lu'!', 1 que em noite amena e bela me conduz, . mas não me ocultes entre as bru– ' [mas teu fulgor, estrela daureo resplendor, só tu entendés minha dor, porque és a estrel a, a santa luz, que em noit e amen;i e bela me conduz, das, tão lindas e tão singelas. que encantavam. Aqui vão umas amostriis: ~ntem saias da lgrej3, a caminho dQ teu lar, e eu gritei: olha uma santa fugindo dQ seu alta-r ! Tive um sonho, um sonho doce ao coração que n;;,o cansa:, - sonhei que via a Sauuade, chorando aos . pés da Esperanta. Quem te avista, sext..tneja, nunca mais ' acha a razaol Ao -ver-te. a gente deseja andar de rastros no chão! . / Tu queres crucifica\·-me? Abre os braços, ~orm3 a c:ru2f Dã-me o fel que tens nos lab tos.. Morrerei como Jesus 1 · ~ Continúa na 3. 0 pág.

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