Folha do Norte: Suplemento, Arte, Literatura - 1946
' 1 TRISTAN BERNARD E O ESPÍRITO FRANCÊS • Contemplo maravi lhado todas as r.oi ,sas que me [ cerc2m. Evoé ! Estou tomado de alegria J Caminho cantando em alias voze s : Ev oé ! Estou tomado de alezria ! Cl::orei minha última lágrima faz tempo . Evoé ! Camisa aberta recebo o Sol. Estão para trás os momentos de crises melancólicas. ,Agora não escreverei mais poemas sôbre a morte [ nem falarei em tristezas ou cipres te s Caminho embriagado peia beleza das cousas :todas [ e por isso canto em altas vozes : Evué ! Estou tomado de alegria 1 CAUBY CRUZ t ._NOTA BIOGRAFICA: Os Que Colaboram • Na FOLHA • ll-largucs Re belo nui.ceu no Rio (no bairro de VJla Isa.bel ), em '1 de janeiro de 190'1 . Viveu parte de s ua i_n– fãneia em l\ lin.as . Voltando ao Rio, aí fe& o curso se– cun1l •rio Jt•ntllÚ e, l!l.dar w~diclna. mas a cabou cursando a Faculdade de Direito. Em 1927, foi sorteado pa– rá o serv iço militar. Be– g-r essando à Yitla civil, escreveu o conto " Oscari– na", uma pequena obra– pr ima. Mestre na arte de escrever cont()S, nem por isso dejxou de ta w;er ou– tros g-éneros literários. Li– vros publicados: ' '0Stiarl• na". cnntos (1931). "Trê1 Caminhos", conlos 11933), " M a r a f a ", romance (GT-ande rrimlo cJe Ro– manee Machado d e A!:sis. 1935). "A Ei.1.rela Sobe'', r om l\ n ce 11939 ►, "Rua .dflrn11i>:- Reh~t Alegre, U ", leairo (19t8), .;,,. in1pre11sa fr;;ncesa ac.-ab:. de dar um lar'to lugar a Trís• tan Bernard no momento em que aquele que mereceu o nome de "hun1or1sta nac1ouaJ'' - completou oitenta anos. Pois se Tristao Bernard. com. sua longa barba de monge e seu ar de paquiderme tranquilo, ~ unia figura "bem parisiense" ê tambên1 uma glórla de que se orgulha um pais sempre guloso de ditos, anedotas. iro– nias, trocadilhos e histórias sa– borosa~ contadas com verve. A Tristan .Bernard são atri– buídos na realldade milhares de ditos, de entre os quais, co• mo ele próprio diz. só reivin– dica os melhores E suas qua!Jdades incontestes de ho– mem de esplrito eclipsaram um • Por PIERRE DESCAVES (Cop) 1 right do Serviço 1,uucc. o~ p1óprios méritos do poéta do escritor, do ensaista e do dran1aturgo; pois aquele diabo de homem. sob a sua aparente indolência traz con– ~igo uma obra considerável, que abordou todas as formas da expressão intelectual fran– cesa. A sua arte ê ba ve-Ja tin– gi d o com uma Ironia saborosa e quasi sempre profunda Pelo ano de 1900. Léon Blum, que ainda era apenas um critico teatral. definiu espiriluosa– me11le o seu inseparavel am.i– go de então, mostrando como o seu lalento poderosamente objetivo se aliava com o mais espantoso dom de observação - esse outro dom com que se vê e se recria a vida. Em todo o percurso de uma Francês de Inforn1ação) carreira que abrange mais de sessenta anos de vida france– sa Tristan Bernard testemo. nhou ainda um senso do julga– mento literário, dos mais se– guros; e não é por acaso que êle (igurava, em excelente lu• gar, entre esses escritores ou artistas que se chamavam: - Jules Renard. A11red Capw;, Vandêram, Jules Huret, Octa– ve Mirbeau, Lucien Gultry, "principes" do riso francês. A esse meio. Tristan Bernard oferecia uma nota muito sua e infinitamente original. O seu espírito é, com efeito, amável e !eito de tórmulas onde o en– trelaçar das paJavras tende mais a marcar uma espécie de tilosofi.a da relatividade. do que a meter a rid!culo as coi– sas, pessôas ou instituições. Es– se esplrJ'lo não ê nem o de Chamfort. nem o de Voltaire, nem mesmo o de Rivarol, sem– pre pronto a estigmatizar e a demolir uma reputaç-00. uma tenta1iva ou um excesso. Se provém do espirito do ''boule– vard", de que Anrelien Scholl foi um dos iniciadores, situa– se na margem desse "boule– vard'' com exemplar !inura, sabendo sempre poupar os va– lores adquiridos e discernir os talentos novos. Em três linhas de reflexões devidas a esse "humorista" há por vezes mais a recolher do que em glosas torrenciais ou abundante fo– lhetim. Jules Renard , que, no seu "Journal", consagra nada menos de 112 citações ao autor de uLes Pieds Nickelés", cita esta opinião: - "O que me afjlst a de François Coppé é que êle prega os instintos como deveres: - por exemplo. o amor de uma mãe pelos seus filhos. E mais longe, Jules Renard escreve: - "Tristan Bernard: - um homem auda– cioso, um verdadeiro parisien– se; tem a coragem de descer da bicicleta e comprar um pa– cote de uvas na fruteira de-– tronte, e de o comer lOJJO, sõ– bre a calcada. ante os olhares das porteiras do bairro". E Is– to tem a data de 27 de agosto de 1895. dli.,; ou romances, a esse mun– do do acaso e do absurdo em que sit1.1ot1, de maneira ines– guecivel, o seu ramoso herói Tr1plepaue e seus emulo., Es– se clarividente que. com tima !rase, soube reeond1,J211 011' mais poderosol> a um se, IJ• mento de hun1íldade, sernpre se moslrou cheio de lndulgên~1a terna e de anúgavel compreen– são para os desafortunado~ os falhados, os timldos, os irre– solutos, os gêmeos de Bl"!gh– ton, os homens da dúvida e da hesitação, para todos os ir– mãos mais moços desse Tri– plepatte hesitante e f ,-aco, que tornamos a enconlrru em personagens patuscas dll1l suas comédias desopilantes. dentro da moldura de um pequeno café ou de uma pralá munda– na_ E, profe.ssàndo a fitosofia do "tudo se concerta" mos– trou que são os acontecimen– tos que i1npulsionam todos es– ses fantoches. Ora, como to– dos esses acontecirnenlos têm a incoerêne1a Inerente à nos– s.i vida o.s seus Triplepatte conseguiram sempre U,•rar-se da encrenca - tanto pela pre– vidllncia como pela vontade A úlosotla cordial de Trist iln Bernard é a do triunfo do nb– surdo; não do absurdo eorule– nado como quer o existencia– lismo moderno. mas aceito ironicamente como consequên– :ia natural. ' 'Vida de Manuel Antonio dc- Ahneida", biopatia (1942). e "Slela tr1e a briu a per– ta", contos (1942) . Publicou ainda dois Uvros para crlan– ~ : "Pequena história de amor" e "As três roJinha.s''. Margues R ebelo Já vis itou a Argentlna , Chile e Ururuai em viagem de intercâmbio cultural . a convite de escrl- 1.ores e inatih1i~ões daquele■ paise.s P r omoveu recente– mente, em Bue11os Aires. uma exposií..âO de C(lladre111 de pintores modernos brasilelrOB. Considerado por muitos o maior eoni.ista nacional, l\larqaes Rebelo tem pronto um no, 1 0 N>mance: ••o Espelho Partido", que lançará ao públieo nos primeiros meses de 47 . A ESCRITORA MAIS JOVEMDO BRASIL Pois bem. Desde então, "o bom Tristan" ! oi sempre, no sentido direto e no figurado, ess~ comedor de um pacote de uvas. Provou os frutos da vi– da com magnilude suave e calma. aquela que nasce do equiJ!brio intimo e da paz do coração. Acabou por simular. com os seus "tics" lendários, e c om o seu ar de abandono fa– miliar, um de seus próprios personagens. escapado brusca– mente a uma du suas comé- Sem dúvida, essa filosofia não vai muito longe; mas a sua ambição não era conven– cer ou demonstrar; Tristan .Bern~d teve apenas a sensat a 11n1blç,Jo de divertir; e a essa ambi-;-ão ficou impavidamen– te fiel. Ninguém melhor do que êle soube exprimir, para determinar o divertimento. coisas secundárias; e ninguém melhor tocou ao de leve os princípios fundamentei. . ou, com um paradoxo, revelou uma falha e um erro. Encarnou a desgraça e a Itivolidade dos dias felizes de um fim de século e dos C'omeço!: de um novo milenio; de tudo provou. no seio de uma gera– cão que, tudo conhecendo de tudo se en!astiárà; alternada– mente o vimos Interessado pe– lo d.:sporlo e pela poesia pura ou impura. atento à renovação teatral e aplaudindo o nasci– mento do cinema. Esse tradi • cionalista, apaixonad o de Vi– tor Hugo, foi modernista n o sentido maill amp lo da pala• vra: isto é, pr olongou as ro~ mas do humanisn10 f rancês. procurando para êle um pú- - --- - --- A NPíi-;.te do homem euado é que é a 11ua mnlher. A ouka é a esposa. A mulher l.em maior eap11cidade do que • llumem para sofrn e reslfft&)'• lle. Exce– de-e , entreti>.oto, na intolerânela e no ódio. E raras veies perdõa. SE me perrunt&Sffs eomo te amo, e• ree– JHl'!lchrb : como te amaria., se te amaa..'ie. A noite, violando o dJA, ,rlnra • mulher, •ae o homem sedus. O am•r deve 1er maole e doee eeme o r~ da p enugem de am lluto fe•11u.tne e le•e ",no a úsnea ela amaumeJra, Se akrmenta e fas sofrer, ebamem-lbe lado : amor não é. D ESCONFIAI de quem Yoa abra4;.a, a todo o propósito. N4o é alncere eo•voeco e •em eo.m êle próprio. A TÊ aos 15 anos, • virgeJD córa esponiulu– -f.e. Não 1h.- p,rc-imteJs por 111ue : Dio •os saberia r esponder. Dai por dlute, o seu rubor Já i obra. D eo.npreensão e da mlllicia. A primeira eol&a que • polflJtlO perde é a Aiauridade dos sentimentos. A secunda, • pudQr de praticar ato, mconfusáven. A retina capta as lmá,gens ,ue modifiearie a noua vida interior. Nº dia em que o adoleseente yffte .. pri- meiras eaJça.11 compridas, tornando-se ■m homenzinho de rua, o seu ,nmt>lro olhar, llistA.ldo mu já intereissaélo, ao &ranspor a poria. de nsa, é PM"• a mulher que plll!llla. li!: o dela, para êJe , Q l14NDO • morte •ler, qwe tn&-a aes lábHMJ 11m M>rrlao, para eorrU)loncJer àquele eoJD l'ae tae,. reeebê-la. M,aria .Jullet.a Drummond d.e Andrade, de 17 anos, filha do ~ta Carlos Drummond de Alldrade, é atualmente a mais nova escritora do Brasil. Acaba de pabliur o sea livro de estréia, a novel11 "A Basca" , eom prefioto de Ani– bal Machado e nama edição J• Olymplo. A eritlea, na. ••a unanim1dade, eonsap,a a novela de ~ria .Jvlleta como ' 11D1a das mala lliplficativas e11trélaa de&te ano .- Conclí1e na 3.• "'._ - .. ----- - r-,-····-·- ---··-·-..-· Ócios De Um Espírito S011olento O pior lnlmlro do homem. homem E • prGprlo A roda dos e•jeltado11. Instituição que alnf!a J. ALVAREZ SENIOR ··---■-, .............- ·----• ··· ...., __ , ___ ,,_ """ conhee( n.a minha adolesci.neta, oc11Hava IIJ'D& raJta e eo11111elta à outra, aeolhenilo, 11em lhe lnda,:a.r a orlrem. o frut!' de amnreit que o soJ não podl:.. alumiar. A menina é como o botão eerrado 41a flôr : nio ~,,ela o seu encanto, e nem e:ir&la o Hll perfume, senão quando o amor lhe en– irubr~ as pétalas. t) homem Dá-O ama : . raciocina, eaJe11la e Ilude. O seu amor é desejo me:xoráYel. Pouco lhe Importa em que se tornará aquela qae • na •olúpla saerifiea. E' &Ofi becadinhos qu.e se ,iaJ monendo, ESII& fónna de aniquilamento parcfaJ llie deiHlla o boJDem senão quudo • lmposslbl– lita de cum11rir o "s loran" d1vtno : er"eel e muJUpUcal. ff A mlDotos na vida, qae •aleJ:D JMIT teda a vJda. A mulher que ae maia por nossa ea- fu– "" um preconieio imerecido. A .,,ida é a es~ção na qul acvarcla- • iDOmbolo. que aerue i,ara a morte . O leito ma,irlmonlal deve aer esc,ola tle t::ll– perlfincla e nã~ altar de adoraç,o. O re8J!elto à. uposa bá. de ficar. eomo • chln4"la.1 do marido, em baixo da eallla.. Q 1JANTO mw SUi~ mais demônio é a mu- 111er. A castidade do seu rosto aos atrai e as dla.bF1ltall do 9ev espfrlt& ,- •lutam. A muJber Q'De. dia - NÃO e - reeufla -,a- reee- .ii.Unar-se, eede ma• .fad1-nk lil• ca•e aq11ela eiue ~me911 o 1e• .remu.ee •• ainor cllzenclo - SIM. Nã• é em qae f.em p.ret111a: é a outn,, A MOR - duas epidermas que H unem, pan modularem Juntai • hino 411e seus corpos rio ensaiar. sem atingirem, frequen– lemflDte, o ritmo da a Hnaçiio. CASAMENTO : amor ou al,:uma eolu que com ~Je N pareçL Quase aet11pre, '10n– tade Jtteprlmivel de ter nos braço« a mulher que 0011 Interessa. Nº Jôro de competição entre o marido e e aman~ as pO&SlblUdadH de vitória ea– bem a &te, porque 4ecettT& à mulher a eor– lloa. d e mn mundo sexual desconhecido, 4lUe o primeiro não q11ú , não példe 011 não te•e oonrf!DI de revelar-lhe. O hc1mem não retrlbal, eom a mesm& inten– sldaile e dedicação, • afeto qae recebe. Rara é a mulher que não 1>~r• eom Juro • q•e Jbe dão, - terreno sentlme1Jtal. Q UE é tt•e cJekm a morte, quando se paua doe aesgent& anog f Conheee:m-1e oi fa– tores que a lmpele,n para nós, mu, não nos aio famlllare1 aqaeles que a retardam.. Era. dessa maneira, a ~lor aliada •• sedutor. N AO sejámot1 lnju,w, maldizendo a vida 1 sõmos né& que ni.o a sabemos viver. DORMIR na ffeuridio é um bibilo C:O.Jl9. ._.,k da minha viela, deade a infánei-., R.eeordo-o llOt que me amam. para lhea pe– dir que nio perturbem o m.eu 61&.imo sõn. eom a eha.ma indecisa de suu vel:u1, no Dia de Flnadoa. Morte e Laz sã• forças anta,róniea,, ••• 11e nie sentem bem ele estar Jan1u. A •elhlce é o penúlUmo ato de um drama, que 1e cllama a morte. O •eneno mortal do amor é o eotldlanlsme.. Se &te. não e.Isti111e, nada 'cria que fasa em eêna, na eomédia eonjucal , um penoná rem tenebroso : o fa,1;1-, A nossa dôr D01 '4>.rna incllferenta à oa&roe. NAO mataráll ! - ordena o 1\landamento da ffA ui.ata anot, urna b6ea de lábios pàJldOI Lei Divina. E • homem sucumbe às me dhia : mlos d.a mulher. que o mata Impiedosa.menu, ., eom 11 ln11trunJento de afiado ~ume da 81JJI O destino me kouxe de 10..,e 'ª.!: ttt ~ e da sua formosura, a 011Ju mano- ta, Não te eabe a culpa. E nem 4J ~-. br.lB ~le ~ dispóe ele armas pan res:istlr. - Que foi • deaimo ena nossa vida, llm en- Nio eoblçaris a mullier do tea prómmo ! eont,,o, um, oJbaT, vm Jeito, o teu praser, a - é -*"• doe preeeltN ao Decálofo. ~ a m1nha aôr . mulher do mta préxlme, a flllCIII me ê Yt· E • mev rtm,ú,so, cenfesso-o ag-ora. aa dado desejar, eoblça,, sem eomvu~mento, o flUCl • mloba saudade te. basca. para que me marido ~ na "pr~xtm,•• 1 perdoes.
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