Folha do Norte: Suplemento, Arte, Literatura - 1946

• ,• e,..-.-o - •- •-• • o-,• I t - ••• •- •- n• e+-= 1aa10_ , ,.. w- •- •- ••• •• • ------------------------ JORNAL DE CRlTICA ------ ------- DEFINI _OES DE POESIA • Carlos Drummond de Andr ade • ALVA RO LINS CExcln!ivWade da l'Ol,liA DO NORTE, no Pari\) C.1!:Spemal para a FOLHA DO NORTE, no Estado do Parâ) Começámos por ~ntir mêdo õa~ palavras, e por isso havia– mos fugido da necessidade do analizar os conceitos; senti-mos n11!do dos acontecimentos, e por isso estamos a afastar a visão das suas realidades in• ternas . Encontramos agora ho– mens assustados e homens an– aiosos: eis uma sifuação que perturba pela inquietude a fi. 11ionomia do mundo moderno. _____________________________________________________ .., M1lllllel B1111d1"fra entrt~cn• se bi kmpos a um esJ~<Jrt8 11).1.}icioso, de que fea pr.rtiei• parem 0 11 s~us lt'itores : a caça 3S defini~ões de poellla. Nosso Dliximo poét a foi ao!! e&JleCt.• !adores da llllltéria e recolheu• lhes a\11 diversa.s desencontra· das e lnconcillá.vel~ opl11iól'S. Jroparci:almente. como c:on,•ém ~ . a um pesquisador nao inan1• ' lião há a-penas o conflito eco- Domingo, 22 de deitembr o de 19-lll n'6mico das classes, uma que ___________ _ ___ _____ ----------·- DlreJor: PAU'LO M.AR ~NrlAO ::IUM. 17 (estou pref erêncla por nenhn• ma. En tretanto. qua me p:ire• cer que o tato de haver colo• cado em primeiro ~ugar a sál1i:i definição do Larousse (o l}oéta não poupou dicionários e enci• elopEdiasl dá primada a ê~1t ronceito. Aliás oom toda j-us– ti"ª .. ois o conceito .; lapidLr: • defende o seu patrlmônio tra– dicional e outra que deseja se apossar dele. mas também a c ontradição moral e polltica d e duas gerações, o desenten– d in1e.nto, mais agudo agora do que em épocas nol'mais, entre os velh.os e os jovens. Não se trata. como é evidente. de unia divisão pela idade: an– tes de uma separação pelas atitudes em race Jios proble– mas do \ nosso tempo. Os ve– l hos estão satisfeitos com a estrutura do sistema burguês e capitalista. ou a defendem, embora sem convicção, pelo receio da inadaptação em no– -vos quadros sociais; os jovens aen lem-se desajustados nesse 21mbiente, não encontram n~e 'Oportunidades par a as suas idéias e recursos de ação. e não lhes falta decisão ou co– ragem para entrar nas aventu• (Romance desentranhado de "UM BETRA TO MORTE", de FIDELINO DE FIGU EIREDO) DA - - zas das novidades. O rumor desses confiitos, em tôda a s1.1a l'essonâncla, jâ chegou ao seio da Igreja, e no recente ma– ruíesto do Episcopado Brasi– l elro lia-se essa advertência, em coerência com a palaVJ·a d o Papa: "Não é para aqui in– ve111 'lriar as causas que, len– ta e progressivamente, provo– caram o mal-estar de que so– fremos todos. Mas é um !acio, de todos conhecido, que o pro– fundo desajustamento social é um dos sintomas mais assus– tadores do mundo em que vi– v emos. Os bens terrenos, no • ""••&--o>. -a ..,. ._,.o 11,,,,._~~--1va, uv O homem já estava acamano Dentro da no:te sem côr. 1a adormecendo, e nisto À porta um golpe soou. Não era pancada forte, Contudo êle se assustou. - P ois nela uma qualquer coisa De pressago adivinhou. Levantou-se e junto à norta - - Quem ba:e? - êle perguntou. - Sou eu, alguém lhe responde. - Eu quem ~ torna - A morte sou Um vulto que bem sabia pela mente lhe passou: • Esqueleto armado de foice, Que a mãe ibe um dia levou. Guardou-se cie abrir a porta. Antes ao leito voltou, E nele os membros gelados Cobriu hirto de Da'\·or. Mas a portá, manso, manso, Se foi abrindo e deixou Ver - uma mulher ou anjo? FiJ?Ura toda banhada De suave luz interior. A luz de auem nesta vids Tudo viu, tudo perdoou. Olhar inefavEcl como De quem ao peito o criou. Sorriso iau.11 ao dã amada Que amara com mais amor. -Tú és a Morte? pergunta. - Eu Quem ? torna - A rno1it: sou. Venho trazer-te o descanso Do viver aue te humill1ou. - Imaginava-te feia. Pensava em fi com terror ... És mesmo a Morte ? êle insjsté - Sim, torna o anjo. a Morte sou. Mestra que jamais te engana, A tua amig'l melhor. E o anjo foi se aproxin1ando, A íronte do homem tocou, Com infinita doçura. As magras mãos lhe comp~. Depois com maior carinho Os dois olhos lhe cen·ou . . • Era o carinl10 inefavel De quem ao peito o criou. Era a doçura da amada Que amara com n1ais amor. , mundo. não se acham equita– t ivamente distribuídos. Rela– ~ões entre capital e trabalho illem sempre se inspiraram em - MANUEL BANDEIRA 11ormas de justiça -e caridade. Os males sociais que dai p ro– vieram são incalcUláveis". Es– ta seguran~a oo pensamento ~rlstão não se fa2 sen.tlr ape– n as ne!õ~ ocaso do sistema ea- 1>italista. Os verdadeiros cris– tãos sempre se l'evoltaram con– tra o capitall.smo, e nos come– ços da sua ascensão jll escre- • _vja Bou:rdaloue: (...) " et qu'on ne voie guere de ces nouveaux paraitre sur la scene, qu'on ne v oie plusieurs anciennes f a- ' 11\illes d'une p robité universel– 'l♦m,ente recon ue. djsparaitre, e f reduites pres.que à la men– dicité". Não foi apenas por uma pa– lavra mágica, democracia, que os soldados morreram Desta ~ erra e os civis se dispuse– irnm a todos os sacritfcios p a• ira switen.tá- los, mas eom a e. l)erança de que ela viesse a 11er aplicada em tôdas as suas c onsequências. Não basta i)'i• a r n as ruas por l iberdade, e 11i.m criar um novo sislema. o d a igualdade entre o, homens, q ue a liberdade não seja ape– r.ias um mito legal. Será pre– ciso estender a democracia do terreno político para o terre- 110 econômico alim de que. _pe– l as condiçõe4 de dbtribuição d a riqueza e de justiça do tra– b alho, todos estejam aptos a p articipar, de acôrdo eom as euas capacidades, do des,en.. ,.olvimento da sociedade. A ~ 1erra !oi o instrumento do inventilrio de um11 organização eocial que vai moI'l'er . Num t entido imediato, el;i desdobrem, W- Conclúe na 2.• pAg. I - MARQUES REBELO {Exelasivlclacle ela FOLHA DO NO:RTE, no Estacle de l'ari) Os dols ablà:un caminho na noite negra, passo a paS$o. " vento zunia como chicpte, um ven ~ quente, qu e não cor tava . Os sal>()II coax avam aos milhares, pul allam aos aeua pts. - Ai 1 Ai I ela treJnía de mêdo agarrada IH> br aço dêle . Que bot'N>r 1 As luzes do Povoado haviam se apagado sem que êles aoubessem e só os relâmpagos, numa claridade fulgurante de mágica, de espaço a espa~. denunciavam o caminho ao lado da lagoa. - Está longe ? e a avozinha sumia-se de pavor. -Não. Es tá perto. - Será que per demos o caminho ? - Não, n ão perdemos. Tenha calma, Lui.z.a. Ê que • n oite está mU.ito-escura. Temos que ir devagar, apalpando o terreno, esperando os relãmpagos para maior segurança. -Tenho mêdo dos raios. E os raios caiam ·cada ve:z mais frequentes, cada y,ez com mais próximo estampido, reboando p elas queb111das, como se o mundo !ôsse a<:abar. - Valha-me Nossa Senhora! Primeiro moma, depois fria, a chuva caiu, afinal, dilu– via}, estrepitosa. A superlicie da lagoa nifa como uma cai– x a. E q uando relampejava s6 se vla, então, uma coisn bran- ca na frente como terrív el e espessa cortina, que quisesse esconder os camin.bos. A égua cresceu rapidamente. 'o. tropeções 11e amiudaram, catam em buracos, a Agua chegav~ às canelas, ia s~ :. .do sempre. -Eu morro de m~o ! - Não solte a minha mã o. - Não ! Não! - Cal~a. calma, querida, Não hl de aer nada . - Nos nos perdemos ! Nós utamoa perdidos 1 - N ão, não me perdJ . Estam01 perto -do povoado. h conheço o lugar, minb.a filha. t que não se vê as luzew. A chuva não derxa. Eslá muito forte. V:imos ch4.'gar di– rei1o. O vento abrandara para logo voltar com mais ,rtolên– cia. Ca-0a vez mais dilicels se .faziam os passos com oa pés pesados, encharcados, no fun-do lodoso, quase eégo, pois tirara O! óculos que a água torrencial e o vento tornavam inúteis. A água vinha agora at~ ~s joêlhos .Estariam entrando pela lagôa 7 lembrou êle dê repente. Sim. bem p06Sivel, e poderiam perder o pé, cair num poço . Quase que para– va, m.as reagiu. ~ ão, er~-ª Agua da chuva mejlmo. Nu m uito lentamente é que avançavam um passo. Os relâm– pagos j á n ão mais adiantavam. Súbito, senüu-ae p reso numa moita. Teve a certeza: eraln as n1oltas da,, lagoa 1 Estaria h1lvez a uns duzentos metros da praia, talvez mais. Como é que ainda duvidara que estivesse entrando p ela lagoa a dentro ? Tonto l Se fôsse água da chuva, ela viria em enxurrada, e aquela estava movendo-se apenas pela f ôrça do vento. Parou e sentiu mêdo. mêdo verdadeiro. - Que foi? -Nada. Estou descansando um pouco. z dur o andar dentro dágua. - Que pJan·tas são estu? - F oi muito râpido: - É um capim ai da beira c;lo u1u, ,v. E ficou à esJ)era. Será que ela guardara, naq uel\!S c!ots breves dias a existência das plantas aquáticas, onde as J)nrcejas se escondiam? Ela, porém, não disse mals nada. Tranquilizou-se - melhor assim, E os sentidos ficaram ~igllantes c;omo sec e11tivesaem cercadO.! por mil inimigos. lmôvel, espel·ava o.s re!âm.1tagos, e a cada um olhava para ~ ' r .,,_r •.-oesia. arte de fuer verso., . Bem mais objetiva do q ue é~se entro de J acque11 J larU.ain c-i- 1.ado mais abal:~o : "A poesia f eonheohne11to, lncompara– vrlmenle : eun.hecímento • ex• pcrtéuela e conbceimcnto-emo– ção, eonheclm e11to eximneial, eonh ellimento ger,ne de uma obra (e que ni o tem eonseiê11- úa de si e não é fetto para ec>nbecer )" Entre a verdnile pr.i.ti • e' a veraade melalís:ie-a, o poéta não opi:na : êle regista. 11implesmrnte. E .no seu registe há esta. ou tra definição que poderiamos chamar d e Ban• rilJe-GWe. tant o o segunill), gn e a redescobriu n o p.ri rnelro, tia se afeiçoou : "Poesia . e!ISa m:Lgia. que consisf" l'l't\ ill"llpCriar SC'DSaÇÕel por "'"'º ele uma combinação de son<1 ésse sortrlég-lo cr■.(u ao qual nos do neec.~lamenle ro– m,mlead:u Idéias, clt" UDlll ma– neira certa. por palavras que n o entanto não as explimcm". Eu. pessoalmen te. Urand o o ~ elclopedist.a ao poé1a faria de suu duas dellnlçóe11 un1a. a-ó ; "am ile fa~er venos. ist.o t, de de,spet1ar aeU!lações por 111eto ele, etc.. '11áo sinto nee,s– sldade de mais nenhuma d~l i• •i~ão; essa me buta. M.as . o j ór;o de Bandeira i tão dlver- , "ªº - 11 r o e a r a r upinióes. a cha.r contra dlçáu - que n,e dJspúa, eu vadio, a tentá-lo. O r?Soltado ela colhei ta ai está. Maia alrumu dezenas de de• n nições do que, afinal de <On• tas, sé é cleflnivel quando " tem a ,:ravida de in r;ênua r •• barbas de DJD Pi e_ne Laro11fiSe (elaa Dio duram sempre : à atual edi,oã.o detJSa ene.lclopé• d li km uma •etlnlçáo fflf'DOI almpl es) ou então a e-raça lm• p reehla e u-oeattva de u.. Theodore ae Banv01e. Não Im– pora. f: um Jôro a ,110 kdos poderio mtre.-ar-se pc,h não MVeri IUDCN! de três mJlhõea de 41ellnlções a duencanr_ ••• A pouia. é a mala anWra narrat.lva,. • creio mHll'lo que {ol ela que e.an primeiro lug-ar nos eomolou da linfuag-em. O tempo do dlsea.n. é- t.f t,a~aao p reviamente; aa pala'fft!I são eontaaas. Essa bela llnruar em ~o recom,,ça. Porluo a cha– maram muito btllll de linrua• rem dos deuses. - AJain. . . . " .. O. eíreulo• quadrados só sá• tmpo99ivels no abnrato. A pró• ptla poesia - - Dio-rt1zã1 malll ra.aoá-vel que a n rão - não é um eir culo quadrado , - Henri Brémond. • $,. A 11oeaia comel(!a prK lsa• mente no Jl()nto em que a cr i• t lea não tem ma.Is n ad a • dl• ser, e ondf! entretanto eJ:i ffllU que tudo resta por dizer . P~iJI• é m lstbio. - Henri Brémond. .... PffSla. é 1l'IDa. --.neln, de • 4 Ter ••e pee a esperitnc,a e • deae11pé.-o 110 -. aaco. - L~ J:>ecaunes. W' Conl"l6e na S.• J>lil- •

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