Folha do Norte: Suplemento, Arte, Literatura - 1946

,Co-rifis-sóêsLJo Sõ11tório BENEDITO NUNES a , - Não bá lenda mais bela do que a de Sócrates sôbre a reminiscí?ncia de Deus. .Algum dia o homem já con– templou a idéia pura. É por isso que- prucura conhecer. Tenta elevar-se à sabedoria completa.: é a lembrança da majestade divina. O cristianismo encerra inú– meros aderentes culturais de filosofias e religiões antigas. No que tetn de verdadeira– mente consolador é mais pla– tônico do que aristotélico. Es– peramos o Paraiso, a beatitu– de, que é o gozo de Deus, em outras palavras, a Idéia Pura de Platão. XXX 13 - N"ão se póde, realmente, separar dentro da filo• sofia. Platão de Sócrates. Mas peJ1so que há um Sócrates his– tórico, tão vivo quanto o Jesús histórico. ' Q Sócrates histórico é o da Apologia que lança perguntas a Meleto e a Anita sôbre os deuses e a morte. É aquêle que não sabe qual o melhor caminho: se o d~le, que vai para a morte, se o dos juizes ~ acusadores que ficam. Não se importa de beber a cicuta mais cede- ou mais tar– d e. Os homens vulgares entre– gavam-se antes aos J)razeres do amôr. Neles a vontade da espécie não havia cessado. Sócrates chegára, J)Orém, à plenitude. Tem a sua evolu– ção interior garantid a. "De– veis ter coragem e dizei que entêrrais o meu corpo". tear-se em companhia dos de– mais súditos e, logo. "A despenseira zelosa apa– rece que pão lhe reparte como, também, provisões abundantes que dá com prazer''. As ovelhas mortas para os sacrifícios, a carne tostando ao ·fogo, o trabaJhQ das servas, o vinho derramado ao solo para libar algum deus, o trinchàr dos assados nos banquetes - de tudo o poeta nos dá conta, singelo e pitoresco. As vezes Homero se t orna majestoso. É o cantor da For– ça, de Crônida. Quando Zeus faz na lliada à Tetis a jura solene de enaltecer o Pelida, desconsiderado por Agameno• ne, balançando a cabeça, tre• mem "os piláres do Olimpo". Não é só f orça e pjntura, Homero. Na expressão, na do– çura da frase, equipara-se a Pindaro. A sua aurora tem dedos de rosa; dá vida às tranças de Círee e da ninla Callpso. E' eom graça sutil que Pala, Atena deixa cair no soalho do Olimpo o peplo, "obra de finG lavor, que el.i própria tecera e enfeitára". .. PINTORES I-AR-AENSES - "C•b~ ae •erro-.. ele Garlbaldi BrasU. • • • - HINO • tt 1 ff I · • ' - NOTA.S ABDIAf) "lMÀGEM DAS HO– RAS", de Cécil Meira LIMA da poesia • pelo linete do Pecado. Cécll Melra é um dilacera– do pela Düvida, vagando 4'114 ne o Céu e o Inferno, achan.. do ambos lugares enco.ntad~ ..... Do Pu, Ckll Melra 1los remete "Imag-em das Horas", coleção a maioria de pen•a– mentoa. o ar. C'-eD Melra nos fala da Arte, do Amor. da i:.i,e– rança, de.a horu felü:e•. lem– b:rando-noa, por ves89. o •o– lho Omu chelo de Abedoria oriental • de cetJciflno riso– nho. "Nossa -ri.da . dia o au.ior, 6 uma "tupideit continua. Fatos. some1lte fatos. ld6.lu mortas. Penaamentoa t r l o s. Olhamos pua o nosso passa– do • nad-a ..,.m.,.~. Lino auto-biog-ráfico, •tmag-em daa Horu• f oi e~lto por quem já amou e sofreu multo na 'rida. F u -1101 descoberta■ i m • portantes no domiDlo dos senJim.ei>tos, tal o m isterioso autor da • JmU.çlo de Cri.1- to•. Por e,remp lo : "hte mun– do .. u erirado# clbeJDCMI a6a. Ante• meU.or dir.i:anlos : MA minha n.alurua , errada • eu destrúo • beleza do mundo com meu• eno• • com mJ,.. nhas fnquezu". (p. 21). :N6s tod011, 4!1U• lemos uma c01Uci611c:la rels,t-. dln– aNim, •• yoa baixa. lfout•oa beclto• • pa.a oanu JDaan--. pela. pofu.... • • • Ce:cto, e u61 pudéllsemOII viv•r parte no céu e plU'ta no inferno serie illteressante. Mas no Antro das •omhraa está escrito : ..Ah.aDdonal toda esperança. 6 vós que en.t:rais... ..Eu quero que Oeiu ~ P"J'dõe~ gema Cécll Meira. ' Ou, bela oração l Realmente se Deu• não nos perdou. adeus p0b1re humanidade. O Diabo domina qu8$o tuda,, Ma• Deus palra s6bre Tnd01, Imagem das Horas f um coníôl'lo para as almas que sroatam de medliar. Quando o sr. Tristão de Ataide me mBDdou o seu 11 4 vro. •o crU!co lit•• bto• (LS.. vrula Ag-ir Editora-Rio). ji o t!.rtha lido • relido. Báo que eu pretenda - crHic:o Werirlo, mas como a _prêClador da livros. como •lafanta por ••HJI puage.1111 espl.rltualll tenho obrigação de c,onheeer tudo que M li'► ladone com o aeaunt.o. Além dJ•..,. goa!o do e9Cl'f. to1r, pala ao longo doa ..... rodai>'• eu lllnto o mlat•.no. o mW•rlo que cerca :lodU u cousu, desde o ml.&léll'i9 do '1omo ao m fs:•do do ia– fiuit<>. Cada 41a ma conyençO mahl da auerftya de AzorlJI - a emoçlo 4 -• ela• Ylr• tade• pt'lmactals ni.o só do po6ta mas ifo escritor em !l1t" :a-ar, - -lho,, do utlsta. Poltl h4 amoru •m ••"•• adlatu • Ylca-nr1a. Errtãc l(IUIJldo o ucrltol', o m.;_s1ce - o '"°'ta tem Mniribil!clack - ela paira mJm o artia_lll compWo. , Jfão faço crUkt de faYor. ■ Unamuno exclamM'ia mais tar~ num transe mistico : ''E o fim da vida é :fazermo-nos uma alma. uma alma imortal . Uma alma que é a própria obra. Porque ao morrer dei– xamoo um esqueleto à terra, uma a1,na, uma obra à histó– ria. Isto quando se viveu, que– ro dizer, 11uando se lutou com a vida (iue passa pela vida que fica". EU TOMAREI A VOZ DE WALT WHITMAN . E VôS LEVAREI PELOS ALEGRES CAMINHOS CERCADOS DE FLORES CE ALEGRIAS. 41\1111 o Íir. Aba Amm- 1,lma eacal~ - ..u li-ne. Vm homem coJlll a n•dJ~ bl.teJechull da Tri.atio da JUaida exige Werpre t ~ o e.. lDllturalnante, elogbl- lo •• globo • feil-lo profunclun•– Sa. HOMENS! DE TODAS AS RAÇAS ! DE Jl'ODAS AS LlNGUAS ! DE [ TODAS AS RELIGiõES I VINDE QUE EU VôS LEVAREI A TODOS IGUALMENTE. T6M a conn..io, .... llne de Ale-eu Amoroao Lima ah fol apuu ••aIJo. Foi Yi.tde. ..Ouand.o,.. uczllcar alo p6,, de Mpanr-- doa NIU pan proauu o .Ubdo d11.1r1a -– U.a cidade - de uma 1,--,p• 11.ula d.e p1o•f.ncla. uu Une • eSCl'ilO, • carte, m.u nio • YIYido•. Trlafão es!A HCT► ••ndo 1111 fazenda da Sia Louren~o. IOnge da aocleda– de. • 011 ff- 1!vroe de u:a para 01111'0 aum.«nlam Ull'l - plendol', no •_paro uli•tlce. P or outro Jaclo, era o \\nie. l>otnflD que poderia. --•••• llm llvr.o como hH, J)Ol9 mi.. Dtando - Qtfica Llia.r'-rta lul U -· tornou-•• lllO •6 mn critico da edahara • Salnte-Beu- 011 Mene11des 'f' P elayo. JCaJhew A.rnold - C\lttiu.a, dÂd09 p.lo 11.llll>ll'. corno um •-..la do WU.l'Q. XXX VINDE ! QUE A MINHA BANDEIRA E DE CôR BRANCA 1 14 - Que adianta saber se · Deus tem propriedades, se "em Deus .há composição de matéria e f orma", se o bem é anteriar ao ser ? • DEIXAI VOSSOS AFAZERES NESTA HORA E CAMlNHAI COMIGO SEM FRAQUE.TA &, TODOS UNIDOS E DE MÃOS DADAS, ALEGRE- . [MENTE. SEI QUE OS FRACOS F'JCARAO NA PRIMEIRA ETAPA. N6S ALMEJAltEMOS SEMPRE MAIS E MAlS Mal pode o teólogo ajeitar os oculos diante de tantas per– guntas, e em vez de dar res– postas, f az o dogma ! Pois o dogma é o J'epouso do pobre t-eólogo ! E NOSSA ALEGRE CAMINHADA NAO TERA F IM, IREMOS CANTANDO PELA ;ESTRADA ALEGRES CANÇõES. IREMOS•CANTANDO PORQUÊ A PAISAGEM í: NOSSA: CADA PEDRA, [ CADA CASA. CADA ARVO.RE , CADA FLõR. ::oa: 15 - Homero desce a03 mais íntjmos detalhes da vida doméstica. familiar dos g r e"g os, principalmente na Odisséia. São minúcias de uma simplicidade impar que em– l)rer;tam às descriçõe6 Ull\11 ori– ginaHdade que aJ'rebata o lei– tor. Odisseus, no palacio de Al– c-inoo, achava-se ao pé da la– reira, quando 1oi convidndo pelo monarca a vir banque- VINDEI CAMINHAI COMIGO. SI VOSSO GtJIA MORREU, EIS OUTRO GUl.A: EU TOMAREI A VOZ DE WALT WBITMAN 1 CAUBY cauz • Tl'ldlo de Atafda J•m .,.. lliio quando .snna que 1U1B crlUc:o honell1o, -mno ,._ Blio ..,. mlllto lnJeltg-ente. exere9 -•h111da ln.flu.tn, c,ta --- -------------------------------- w------------------------------------------------- ar Continúa na 3.• pãg. A terceira fase da pintura de Portinari - Portinarl, pin– tar do presente - bem distinta das outras, a meu ver, é a atual. Sua arle é a ~a que na segunda f-ase. T-0rna-5e, entretanto. mais forte, mais universal. Suas tendencias atuais para o cubismo de Picasso é um avanço do seu talento. Um gJ"l\lpde amigo meu, esplorito de elite, int-eressado sem1>re em i ousas de arte, dizia-me, há dias, que não pode per– ceber Porlinai·i. E citava-me um de seus quadros expostos na recel)te Exposíção de art.ii .-tas brasileiros em Buenos.-Aires. denominado "Mulher Chorando", cuja reprodução também conheço. E' uma tigura de mulher, ~ disfonn~ braços, quase encobrindo os: olhos, de onde saltam enormes bagos de pranto. Arte intencional por excelência foram justamen– t e as lágrimas que preocuparam o artista na sua interpreta– ção. E' evidentemente imprC$ionante a realidade daqueles en~rmes bagos de pranto, caindo pesados do rosto que chora. Oscar Wildt disse que "a Natureza nada mais faz que co,plar os quadros". Há uma grande verdad,e nisso. Os me• lhores crJticos de Picasso a'!irrnarn que as povoações da Es– panha. esparsas nos- quadrps cubistas do grande pintor, são tão cubistas como as que estão nas télas. Eu que já chorei pesadamente acejto aquelas lágrimas do quadro de Po.rtinari. Elas convencem n1ais que a p rópria realidade..• Nessa terceh·a fase PorLinali é completo. Pintando antes ruas f iguras. suas cabeças, seus col'pos humanos, ele somente se interessava pelas fG:rmas. A alma dos sêres e das cousas não o preocupava. For que deixar-se emocionar pela alma quando o r.oslo, a c:il,eça, o col'po, em sf, podiam expressar ludo? Nesse seu último periodo, a alma dos s~ se lhe im- • põe e o domina; sua visão, visão tão antiga quanto o ]?intor, perde-se na interpret;;ção. Acredito mesmo que, agora, pela primeira v ez, a interpretação possa destruir sua própria vi– são; e, então, vêmo-}o criando formas que n.ão pôde vêr mas que concebeu... Mas, nem só na forma a arte de Portinarl se modificou. Agora já não executa os acabados contornos, tão bem ~ba– lhados daqueles tipos do "Calé" e doa afrescos. Também tios ~__.t9:I, 11,2§ IP.Qti~OIJ, .})ortinari &IMI 11\lbst.ttuiu 08 YalON!B PORTINARI GARIBALDI BRASll., do chamado lsolacfoniamo estê&leo pelo largo entendimento da' participação da Mite nu lutas e conflitos da vida. Uma arte vital como a sua parece agora, embora vista de longe, feita de angústias e de sonhos, e61)el'anças e desesperos e impregnada dessa trágica coação que o mundo exerce sôbre os homen.t de pensamento, obrigando-os a aceitar a desordenada invasão de torças exteriores na cidadela do seu coração... A contemplação dos quadros, que representam a sua sé• rie da Paixão, expostos bá pouco com tanto sucesso em Pa• ri-s, noo qt;tais há Cristas magrisslmos,, Marias ternas de as• pécto proftlndamente sofredor, e ainda discípulos, cujos gestos sâo de pieda-de absolt1ta. nos sugére a fidelid11de empolgante do artista aos senlimentos trágicos em que se debate o mundo de hoje. Sim, estou convencido de que nenhum grande artista, ,-como -Portinlll'l completa a sua suprema humanísação se tíao tiver a corag~m de enlouquecer por aJgUt\S momento:r. perder-se desvairadamente no sonho e no dellric>: só assim podem eles conquistar a grande razão dos visionarios ... Para os que não admitem Portinari ou não o compre– endem, essa sua última fase é a pior. Mas num mundo to– talmente castigado pela guerra, existirá alguém que ainda não tenha atravessado a fronteira das neuroses? E é ainda nesse ponto que :mais se aiinna Portinari: inn homem total de nosso tempo. Sua arte é profética e tem "o mistério e a .:fórça dos pr.im ~ros díits da Creação", como muito bem o diz F1-ancisco Miulo Mendes, o nosso grande e talentoso crítico de arte. Toda a percepçoo da pintura de Portlnad é uma emoção arrancada dos subterrâneos da alma da gente. Para compreende-lo é neoessárlo penetrá-lo profundamente e, ainda assim, lutar. Então, sua arte resplandece de uma grandeza .e de uma pureza que pertencem às secretas e eter• nas leis de art.e de todos os tempos. A anâlise dela ou a su~ ex:plicação, obriga-nos, antes de mais nada, a relegar para longe toda a teoria para sen.tiLr, só senli"r, livre de qualquer crltic.ismo, como :repercutem, 110 nosso mundo interior, os ma,.. ravilhoso.s !enõmenos da belcia sem -pNC:>ni-eito". • me um · ensaio sôbre Porti.naJt

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