Folha do Norte: Suplemento, Arte, Literatura - 1946

• • - -- _. - - -- • • •- •- aa, 01110 •- •- •- a- r 11 0 11-0- .. JORNAL DE CRÍTICA ·Problemas Do T roaédio C RíT ICA LIT ERARIA • ECRíTICA RELIGIOSA • II ALVARO LINS (Especial para a FOLHA DO NORTE no Estado cio Pará) Roger BASTIDE · Vamos voltaT a um pon to --------– Se b â um gênero em q ue os franceses se torn aram mestres, é o da anãlise das relações entre a Uteratura e o senti• mento r eligioso. Quer q uando procura descobr-ir através dos livros os vesUgios da vida mística, como Henry B rémond na sua "História li terária do sentimento religioso", quer, pelo contrário. quan d o exami– na a influência das p aixões e d os frêmitos místicos n a li le• ratura. como Sainlie Beuve no seu ''Port Royal". Essa tr adi– ção brilhante n ão morreu: não são n ecessárias mais l)rovas essencial do nosso problema, que é o da modern idade, o da atualidade de Ar istóteles em matéria de teatro dada a liga– ção existente entre a tragédia c on temporânea e a tragédia cl ássica, sem a pretensão de i den tificá-la r igorosamente ou isubordinar uma à outni . A d espeito das variações de téc- , t>Jca, de forma, dle assuntO\ por que tem p as..~ o êste gê– n ero dramático através de di– v ersas épocas, permanecem 11êle. contudo, "certas constan– tes e características substan• c:ialmente inallerãveusº Que r epresentam. o próprio "espi– r ilo" da tragéd ia. Uma delas, a fundamental, é o seu efei to psicológico "Opt>rando p e 1 a p iedade e pelo ter:ror a pur- gação das paixões da mesm a :natureza". De modo qu e, t-endo n as mãos uma tragédia, a nos- aa primeira _preocup ação deve 11er a de verificar se ela con– tém aquelas "constantes e ca– r-acteristicas", nada esquemá– ticas. no en-tanto. ftll lES tão ·amplas e universais que den– tro delas têm cabido a s ob.ras– prim.as da ~cie. Do contr~– rio, ficamos em fac e de um novo problema : ou a tragédia q ue temos em mã05 simples– m ente não é lllW\ tragédia, ou ela é tão revolucionariamente genial que se colocou fóra de itôda tradi ção pan criar ou– tras caracterfstk as inteira- m ente diversas. Então, recomecemos c o m Nietz.sche, que recomeçarem<>S bem as noss.M considerações. Em A •riKem da irag-édia, êle declara que depois de Aristó– teles n inguém mais deu d o _ efeito produzido pe-Jo trágico uma explicação que suponha u m estado de alma estéti co, uma p articipação estética dos espectadores. Por Sl.Ji vez. Me– ,iendez y P elayo em Historia d e las ldeas atéücas e.n· Es pa,. 6a, leva a sua interpretação a itica até à afirmação de q ue Aristóteles "não legislou para o seu tempo e par a a .sua ra– ça, mas para t ôdas as gerações f uturas". Há, Porém, um de– -poimento ainda mais moderno e autorizad o : o de Gilberto Murray, tradutor de Esquillo e Euri pedes para a Oxford IJnivenJty Press. O pr ofessor Murray, no seu livro Aescby- lu.s, invocando os romanos En – lllio, Pacuvio, Ovídio e Seneca, ,os france$es Racine e Cor.neil– le, o i taliano Alfieri, o nlemão Goethe, os inglesee Shakes– peare, Shelley e Swinburne, .no que se ap roximaram ou se afastaram dos modelos greg05, ! etereveu, como síntese, a se– g ll.inte proposição : "Mas, ain– da nos cas06 em que a fórma externa mais diverge deste rnodêlo (o da tragédia grega) , há lrequentemente a 1g um a coisa. as obras ciladas, certo "espírito" ou ' 'essen cia' ', que 110s permite dizer sem vacila– ç ão, não só ante determinada. p eças teat rais, e sim também a nle novelas ou poemrui sjm– p l esment e narrativos : E is aquí ama tragédia. É a tra gédia o este s entido que foi criada, a.o meu vêr, por Esqulllo". E · assim, conclui em outra p ági– na : "É · pr eciso destacar -se que a tragédia , ainda que nes– te sentido moderno, é quase purament e uma fórma grega lle arle". Se i sto ac.ontiece de modo geral, ainda mais deve ser ob– servado quando o dramaturgo moderno ret oma um mito de. mais antiga tragédia clássica. Jilugene O' Neill, .que tem a sabedoria artística de tratar cada tema com a maneira que ll1e é ma-is propicia para .a TePresentação teatral, qt1.i1.do ~ i"-ont&N\1 - a.• pigtna • - ·- .., ,, - - - ~ ------ --- ------- ----------- -:;;;:;-;1;- I>omlngo, JO de D<>-.embro de 1941 I>lrelor : PAULO MAJUUIBAO BUM. 5 ------- - -------------- TORSO ARCAICO DE APOLO que alguns livros recentes t.,n– çados pela editora "La Colom– be", os qua is acabam de rhe– gar à América d o Sul. Quando P i er r e L eprohon procurou ressuscitar ante nós êsse gênio da liberdade "São F rancisco de Assis", teve n P• cessidade de unir a rel ivião d o :perfeito amor à arte dos trovadores. Porque hã um vai– v em ince.s&an te entre o. amor c:orlês dos poetas meridionais e o amor divino dos mJsti cos l atinos. P oder-se-ia p r o v ar, aliás. que asi"Jnesmas infl11ên– ci.as l b-icas se exer cem sôbr e cs eSJ>irituais da Renãnia nte– dieval. , (RAINER MARIA RILKE) NÃO SABEMOS COMO ERA A CABEÇA, QUE FALTA, DE PUPILAS AMADURECIDAS. PORÉM O TORSO ARDE AINDA COMO UM CANDELABRO E TEM, Sô QUE MEIO APAGADA, A LUZ DO OLHAR, QUE SALTA • E BRILHA. SE NÃO FOSSE ASSIM, A CURVA RARA DO PEITO NÃO DESLUMBRARIA, NEM ACHAR CAMINHO PODERIA UM SORRISO E BAIXAR DA ANCA SUAVE AO CENTRO ONDE O SEXO SE [ ALTEARA. NÃO FOSSE ASSIM, SERIA ESSA ESTÁTUA UMA MERA PEDRA, UM DESFIGURADO MÁRMORE, E NEM JÁ RESPLANDECERA MAJS COMO PELE DE FERA. SEUS LIMITES NÃO TRANSPORIA DESMEDIDA COMO UMA ESTRELA; POIS ALI PONTO NÃO HÁ QUE NÃO TE MIRE. FORÇA É MUDARES DE VIDA. ~raducao De Manuel Bandeira -----------------------·------ -- ' PAG·1 NAS DE UM DI RI O MARQUES REBELO tEspecial para a FOLHA DO NORTE; Mãos macias de amêndoas. dentes de serrinha lrregula:r, êste amor é velho, prenda minha, traz per• fumes do percµdo Trapicheiro. - Estou :tão abafada ... tão inquieta .. . Não parece. RI como o rio. Dama como onda. • Canta como Tento que afaga as cobras apenas, Tra• picheiro. ••• O ôlho verde é mágico ao lado do dial. Sábio e mecânico espia a emoção esparramada na poltrona listrada. Sem desafinar. a sensibilidade deixa a terra. paira nas altas, encantadas estrêlas, misturada com o fumo que o médico proibiu inutilmente. ... . Branco e frio lençol, fria e branca solidão. Pen– samentos desencorajantes, mosquitos impertin entes. Desagradável h ote l 1 •• • H á sempre uma primaver a espeq.ndo em cada e: quin a do coração m ais ocupado. (No bonde, no parque, no automóve l). ••• Represar as águas do amor em bar:reiras do mais espesso ódio. Soltá-las por vêzes avassalantes, in– vencíveis para tJe t ransformarem em luas, em estrê– lass em harmonias J ••• Entre as duas o coração não balança. ••• O ursinho lanilie a grade. A macaca caia pul– gas. O f aisão demowra. iD.fa.tiga.veJmeme aua c::a- pacidade amoroaa. Zurrar 6 próprio das sebras? Não aei. Sei que o hipopót.amo é irredutível e o ca• cboninho preso o animal maia feroz do Jardim Zoológico• • ••• Todos nós temos a nossa história de fadas para contar. Era uma veit um simples roupão de lã azul . .. Cacilda relutan.: 1 - Não faça falar o meu instinto ! • • • A experiência n. 0 57 f a l h ou redondamente, Uma experiência b astante laburiosa. -Tenho o que dou. . - É lindo 1 Estéla, poriém. tem m aior ~ saltitante : - Não sei me negar 1 E n ão se nega. • •• o coraçao pequenitko Nunca se entregar de todo - 6 a su a cançao. As mãos se encontram n a grama. quase am igas, - F irmes I pede a p rofessor a manobrando a co• d aque com entusiasmo. A formiguinha preta se camufla n a blusa p reta. 'Depois, noite, fo,-miga e blusa se confun,dirão. •• • Não zombava. - Era um jeito que tinha de não Nporlar os apaixonados tran::;portes, a literatura W Cmtl.núa na 3.• pág. Mas a tún ica inconsútil foi r.as ,1t-a<la d epois. Sobreveio J °llAforma p r otestante. Raoul St.éphan dá-nos a mais objeti– v a, a mais cheia de amor cr is– tão, d e tôda:a as hlst6ril!S da R eforma !ranoesa. Mas &se ll istoriador não se escp1ece oue é . antes de tudo, um roman– cis ta , um amador das l et ras. Eis por que introduz. no seu úl timo livro, "A epopéia hu– guenbU!", certo número de ca– pitalas, - • A idade das pom. b as", - "A púrpura da rosa e outono", - "A rosa de outono ao sol do grande século", - onde estuda. com sutileza e poesia, a influência do protes– tan tismo ISÔbre o lirismo e a formação da pr osa cl ássica. Fa– l a-se da 1rieza protestante: que ê ,.ro ! Um sangue quente e abr asad or corria n as veias dêsses velhos franceses. bro- • tando em músi~ violentas, como as "Trágicas" de Agrip– p a d'Aubigné, ou.. em grandes ~in tonias musicais, con10 a ''Semana" de Du Bartas. Têm– se criticado frequentemente êste último: Raoul Stéphon mostra quan to êsses ataque! são inj ustos. Alguns verso, recordam ~ 06 encan ta• mentas de P éguy : ..La nuit est celle-là qui char– me nos travaux Enseveli t nos !!Oins. donne trio ve à nos maux, La nuit est celle-là qui de ~ aites sombres ~ur le monde muet fait avec• ques les ombres Dégoutter le silence.. . • Tôdas essas págin as de Sté– phan. entrecruzando a critica l i terária com a critica religio– sa. devem to ma i;.. lugar na gr~de tradição ffflncesa de Sainte-Beuve e do abade Hen – ri Br émond, A "Epopéia Huguenote" ter– mJna. às vésperas d·a Revolu– ção Fran cesa , pela evocacão da Guerra dos Camisards, nas Ç{ivennes requeimadas de sol, onde campon eses-profetas fa– lam , como os cristã-0s da 1,?re– ja p rimitiva, linguagens des– cónhecidas. -0-ltimo togo das guerras r eligiosas an t{'S do grn-nde b raseiro da RevoluC'ão. Ora, o fim do ~C\ll o XVlil v.iu aparecer outras fórmas m.isticas : um curioso cx:ultis– mo que exerceu sua inlluí!ncia para além da revolução, até sôbre o romantismo francês. Fácil é Imaginar-se que espí– ritos tão lógicos e t eocráticoe corno o de .Joseph de Maistre escaparam a essa corrente t)culti&ta. Mas não é tal. por– que a franeosmaçonaria era então um movimento reliizioso a que muitas almas religiosas se refugil\vam. A Editor:. Co– lombe re«lita o "Joseph de Maist:re" místico de Emile Dermenghen. um livro que f ez muilo ruido hã alguns anos, e que nos dá do autor das "Soirées de St. P éte_rs– bourg'', do mestre da Cont ra• Revol nccão. como f oi chnmado. uma imagem curiosa. nova e, ------------

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