Folha do Norte: Suplemento, Arte, Literatura - 1946

• ,, Divórci.o Linauíslicr.. Manuel Bandeira -EAMorte Do Mod:ernismo Querem uma separação en– tre a língua 'brasileira e a por– tuguesa. A propósito lembrei• me de Henrique Ibsen : o d.ra • maturgo quis separar do danês o idiotru.1 norueguês. 'E não foi muito mal sucedido. · O dinama.rq.uês imperava no jornalismo, no teàtro, na lite– ratura e nas escolas da Nowe• .ga. Duran.te quatro ou cinco séculos. a Naruemi fof uma p3:ovlncia da Dinamarca. até que Bernadotte, mudan,do-a da !ri~ideira para -0 bra~eiro, a reduziu a urn:i orovincla da Suécia. ·em 1818. Segregada politicamente da Dinamarca. era ' natural áue a N·oru~a -procurasse sua inde– pendência lin,ituística." O povo falava nOtllP.JsUês e os lPtraâos ginamarouês. A bem d'ízer, o povo utilizava vários dialetos mais ou menbs a-pa·rPntados entre sí. mas todos difer,.nles do dinamarouês. O nróorio Ib~en escrevia em dmamar– quês, até o dia· em ooe des– uel'ton oara a , naciona1izaçfu> linP."uística. · No di-:zer dos entendidos. as línguas escandinavas ~ r.eDar– tem em nórdicas ocidentais e em nórdicas orientais. O nór– dico é, nara os escandinavos, o oue o latim foi !)'ara os neo– latinos: a línitua fonte. Ao nórdico ocidentit.l n"rtencem o norue.i;!uês e n i-sl;andês. a-0 nór– die?O i:.,-l ental o dinamarquês e o suéco. Nos s6,-ulos de clomfnio di– namarquês, houve na ~Norue– ga o :lenôm<>no n:otatW nos paf– ses a aue Roma sl'lhiu1tlrra : o povo conservou o idioma lo• cat ao nasso oue ·os letrailo-s adotar:im o 1dioou1 d~ 'Vence– dor. Os neo-latinos conh~e– ram o latim rural e o latim urbano: na Norue.!!a h-0uve o nórdico ilialeta1 para o· obvo. e o nlrrêlico. lite.rtárío para os in~truiilo~. A expulsão do dinamaraúês foi em_preendida oelos ií1tE>.iec– tua.is . mas por duas escolas : a primeira queria !unàir nu:: ma língua nacional · todos os dialetos noruegueses. ao passo que a segunda -pretendia · sal– picar de noruegúês o fü,uamar– quês. Assim nasêeram dua~ lín. guas noru·e1tt1~s mui dhrer- . sas : a 1)0-J:>Ular e a literária. Depols de 1848 esbr,,ea'rlltn• se planlf~ dP djv6rclo. Em Ber– gen e Cristiãnià (Oslo) abrf~ ram-se teatros nir-ctonais em aue os atorés evitavam qual• c111er palavri:t din11mai-at1esa. E não e,.'I •fácil. po1s. eegri,.,do os entendidos. os d'ois idi.,..mas são bastant" irm'a'nadps. AMm disso, os atoi-es não. -es.ta »Afl'.I acostumados com a nova lfn.· gua, Padre DUBOIS 'flá mais dissidência na lln– guage1n falada. Outros são o sotaque, a inflexão, a pronún– cia e -a construção, mas estas dissemelhanças notam-se en– tre o ca·rioca e o norélestino, entre o piemontês e o na.poli– tano, entre o fr<incês do norte e o meridional, entre o portu– ituês continental e o ilhéU– Bastarão e s tas divergências para a constituição de línguas novas ? Adhu(l sub jtrdice lis est. Nos domínios da litera:tura e da arle, André Gide, pela força imensa da .sua peraona– lidade. C4ntinúa -ocupal\do o centl'O da aiualiaade .franée• ... l'odós ilhe cObSMvatn OI mínimos gestos e afilude;s, âlterações e projétos; .a ada.p– tação da ·sua ''Sinfonia Pas– toral" ao "ecran• ca'2sou lar– gos rumores :nos p~tenciosos meios c:lnematográficos. Airavés de .todas essas apa• ~atosas demonstraçõe'S que, ,par.a tantos ioutros, -rewesen• tariam a Glória com maiús• cuia, ~ndrtl Gide pa11!18 'lndl• iérent&. •c o n s t .a n 't emente ,preOCUl>Sdo •em eschlN!cér-se, com .uma cuziosUladA! ,que 'lhe manUm .sem;re -alerta o ... pf1'lto aguto. Com .lleienta e .sele anoa, nãb acusa nenhu• ma dênes e ·• t .l g im a<11 -lll• acompanha, -.,m ger.al , ,,.,lhi– ces mais . -11des. P.r.lné'!)al– mente,- .o, olhar, ,atenta, ~n- . salivo. ·texrivelmente -pone• ,ra.nte. v el.a por .tr.ás de óculo• de sáb1o. Para •t>'l'Ote– ger a v,wa Ironia, ma . uma .boina :vasea. que auas longu mãos febr.ill C:Ol'QPÔP'U ·COM• 1antemenie ,e à .qual t111:prl– me11,1, conf'arme as clrcun.t• !belas de m o m ·e .n.t o,· uma fórma ,pal'ticular. "Pela posi– ção da boina, dlila recente– mente um dos lÍlius Wtmoa, posso advinhar-Jhe a ordem do1 pensamentos, na própria cabeça•. , . . Q u a ft d o não viaja pc,la :A.frica do Norte ou pela 'Eu– ropa - pois Glde foi sempre um "HlnérantH apaixonado - ' quando 1e não desloca pua Ir vêr amigos da · No1'fttandfa, parc;iues ·dê Nlme• ou con– frades da c~te a•~zuT, o au– to'.I' da "Por1a E.sireila" man– tl;m exemplar fldc,lldade ao seu apartamento da rua Va. neau, em Paris, num batrro bem quieto, pc,rlo de etrqul• JtllS rumorosas. Dizia hâ poU• eo um cronista eoln malícla que o primeiro adml.r-ador -de Gide c,ra o porlc,iro disee edif.f'clo da rua Vane-au, por- « . ~'>-<'-· -:Y<:::'>-<:::'-..<:'Y:::-:,.-C:~:;:,-,,.. '-'<:',.,.<.,_-,......_ ~, 1 Arte Viva, Isto Sim .:.._ Se Nosso Idioma Tivesse A Universalidade Do Francês E Do lnglê~ - Son,eto Livre - Nova Edição De "Poesias Completas,. , ALMEIDA FISCHER Manuel Bandeira é um dos niais queridos e dos maiores µoétas do ~rasil contempor.ã– neo. Seu nome, que já ultra– passou as nossas .fronreiras, ê de citação obrigatória. sempr.e que se falar em -poesia e as• , suntos correla~os ern nosso país. Aliás, nã-0 há um suple– mento literário,. utna revista em todo -o v~sto território na– cional qu.~ já não tenha, pelo menos , uma vez, estampado o seu. nome em uma de ·suas eo• A •nd.ré Gide E.As Virt·udes • • Fra-n<esas Por PIERRE DESCAVES fCoJ?.YT~hi ao Serviço Francês de Inforlllaçâo} . que -o ,esciüor ~ lum tocatárlo mode1o, No d'tlmo andar, Andr6 Cide dlspÕe de núnt'e- 1'0 suficiente •de ,peças para acompanhar o 'Clll'SO do sol de cujos ralos "" r.,_la .llvi, do. 'Em todos -os quntos, i,.~ querms blb'liolé,:as transbor– dam ·de li'V'l'os ~ sôbre as 1ar– dl-lras. ô escritl>l' t,e m lÍ&m,pre l m'ão pequenos ma- · c;o11 de pape1 para preencher à vontade, escravo da lns,p1• rapão. com a sua escrita -ator• . , mentada e fina. Frc,quente- mente, um arabesco ado-ma o. fim de certas palavras: com m1ds ~lerêncla •iO.I ~adv&– blos", notou um jornalista lndisCN!lo, poi,que ~ide. -des– confia dos 1tcbrlirbios, mar– ca-os .com um sinal, para depois eoierlg.[-los .e anexá– lçs. ,f: na cllvagação ativa ~e · ,Afldri, Cule melhor se eom– prll's ! - ant• uma rá_pllca, -8'>nta-se ao plano, aollcUado farii copiosa leitura de um velho autor de, quem, IIU.bita– niente, percebeu novas be1e- , za,,. ,Para 01 amantc,s li" peque– nos detll)hes ·cancterfsUcos, deu-se aCTescentar que o autor do HJlegreuo •do t'.ilho Pródigo" é bastante desaJel– tado e zomba com grande c,splrito dos seu, malogros : anhn é ' que,, a despeito de t&r comprado uma gllc,t& ae segurança, corta o rosto cada -z que 1enla fa2er a barba. É de calma olfnj_plca. 1lua placidez natural apaga-se, to- . .. davla, no .entusiasmo da pa- lc,stra: gosta de pllhériu com o Interlocutor: su-as •oplnlõe's .atestam admlrável juventude -de caráter e sua alegria não é .zombeteira, mas otimista. Só se mostra contrarla.do . . . , quando pel'to dele se faz J;a- rulho d-ais. 'Tem Jl:rofundo horror- ~lo ,ala1'iiio. l'ara dormlr. tem absoluia neces– sidade de tapar 011 ouvidos · COJI:! pequenas bolas de dra. Cumpre como <um r.lto sua sésta a,p6s o almôço, -e fts n– feiçõc,s N>'V'é'1a-se -um btllo• ap:rc,ciador da mesa: por um bom café eosúessa .ser capa2 de sa.crlficlos. Quase não ,ral ma'is 110 teairo: ffllll! riãt> !alta nunca a uma .no,,.a· fita. O maior desg'6flo q,:ie u1- tlmamel1te -so:freu fo1 ·a mor• te dõ seu mabi velho ·a:mtgo. Panl V'~:ry,. sôbre .cuJa ,obra, após o falecimento do autor do "Cemlttlrlo Mal'-ln'". escre– veu Unhas admlrãveia. ·seu– malor amigo eomlnúa sendo Roger Ma:rtln du• Gard, em• bora multo poucas ve,...&s se encontrem. Pal'a os Jo•ens, Glde mostra-•• aeolhedor, e escuta-lhell as conflden·clas, 111 ctmflssõea, com lnflnlta paciéncla. .. Achamos b o;m fornecel' êstea dados pua rélltabelecer 1l •erdadelra fi– gura de um homem de letras Cltja te.nd ·a <e abusivos comen– tários lhe tem singularmente deformado a Imagem, não Somênte na F!,anga, como no c,strllllgeiro, No momento em que sur- 11em nas livrarias as novas .página• do seu Diârio (J. 999. 1942), é útil simuUaneamente tunas. Manuel Bandeira se es– palhou como um vento forte por todo o pais. Estreando-se em liv.ro em 1917, com "As cinzas .das ho– ras", o grande poét:a, desde então, esteve sempre na van- ret:ordar llU&, ue lodos c-a escritores gué reinam s6me a opinião ,públlca, A n •d r ~ Gide aparece como o menos éapaz de 11 atraiçoar. T-endo feilo da situação .de Jranco– atirador à sua pe-rmanc,nte razão de ser. &ite ilu1tre es– critor jamais te•e p:eetens&.s a uma '~rande cane½ra~. SI• tuação única e 1)a1'adoxal. E é, sem dúvida, por não ter aceitado essa reale;za li• teiárla que Gide tem ')llll'e~l - . do querer afastar-se -ila nahl• re:ta, que nós voluntar,a. mente confundimos com a Sociedade. Não •quer lato cll– zer que, o escritor sela 1ft. sensívél à& homenagemi: -ma, jovem ainda ~s a publlca• ção dos seus "Cadernos .de A·n d-r 6 Walter•). resolveu subfrafr-se a toda a buwc·a ""re-gular" do ~xlto. li! a esn . dc,eisão que 610 deve seu fle– xível desnorteamento e te• autora "Yllalldade, )\a duaa grandes fontes do seu talento são a adaptação às clrcum– tãncias a um otimismo ,ittal, que o levam a pro"egulr no ' seu caminho, lmpavldamente, para o fim que 11 •i mesmo designou. Todas eSAe ,cruall• dades ·• essa vontade de -n.io cedc,r aos concha,r011 da facit– Jidade e, do opollfunlsmo. fa• zem de, Cl;1de ,um depoc,nte extraordin! :r.fo e eonfe:rêm -ao seu dllirlo lm1><>r.fAncla,de al– t.Iwmo YBlor. pois isse Dlá– rlo ineat1Da mome11to1 do pensamento e c o n • c i !\nela fr.anéese.s. Quando da :r,ubll– cacão daquela•• pãgln.aa do "Diário" .eonsagraciá's ao c:o– m~o dos "anos negros• tol oportunamente r e 1 e mbra.ta esta deflntcão de Andr6 Rou– vel'ff : "Glde 6 o colliamJ>O– rAnc,o J)rlncipalH. Com efeito, é no seu esp{dto que se tor– mam e transformam O!! as– pc,ctos ma.Is patéticos do um drama que todos nós vive. mos, ,ma, que ·ftnt1u mais· vi• tlir Continúa na 3. 11 pàg. guarda dos movimentos literã– rios patrícios, eonstantemt:nte jóvem, renovand0-se a cad~ momento, acompanhando o passar doi; anos com aquela mesma fôrça nova que o si• tuou há muito entre as mais significativas voze~ cl.a ooética brasileira. Tomando parte a1.rva no movimento de renovação Ute– rária ad-vindo da "Semana da Arte Moderna" de 1922 o 11oé• ta contribuiu p0der0sa1nente para ·o arejamento !ibel"tár~o de nossas letras. Mi.utos o Cl• taro, por isso. ccom·o havendo tomado parte nos debates de São P aulo, quando _Vila -Lobos - estarrdo ~om :o pe machuca~ do surgiu no grande palco do teá:tro de chinelos e casaca, passando êsse det:a~e. a cons- · tituir para QS mais ingênuos ou -os mais broncos uma espé. cie .dé característica do ·mo. dernismo - ciuando Menottl, Del Picch.ia, Cas~ano Ricardo, Mário e Oswald de Andrade, Ronald de Carvalho e outros enfrentaram a .mentalidade estreita da assistência que ~ ench:ia inteir.amente. Manuel Bandeira não participou da· ·"Semana" ·e sim do movhnen• to .a.e renovação literár.ia dela resultante que IJ.bertou as le• tras e as i:rtes patrícias .do ti• gorismo formalístico d? aca• demiscismo. Bandeira 3á era um .modernista bem -antes dos acontecimentos de 1922.. Foi o próprio poéta quem nos disse : - "Não, não to1nel ,parte na "Semana", -mas sim no m·ovimento nenovador que .dela result0u. A "Semana" é que m·e adot-0u, por acharem .os -.seus promoto;res que o meu liv.ro "Carnaval", J)ublicado .algum tempo antes, estava dentro do esplrito modernísta qu1!! -pregaNam", O poéta da ''Lira dos Cinguent'anos" nos disse •ainda : - "Ronald de Carvalho leu, no Municipal de São Paulo, o meu poema "0 -i;ap<!I'", e foi v.aiadissimo pela assistência revoltada ... " . . Entre -o~ pro'l'Ylotores da na- ciooa1i2:;i,.ão d.istin,"'•-ír.3m • se • · l",V r~í~,.-cMaH>~O.-.~~~J---~J....a-«•O~---t>.-•l mAfl--1).-..~4._..,~.,_.~j~~ Manuel Bandeira, através dos seus lon-gos anos de -ãtivi• dade 1iterária, foi. sendo cer– ClMilt> por um halo de admira• ção e de respeito, 'tanto das .gerações novas como das mais verhl'ls. Grande companheiro e coirselhe!ro dos novos das vá• " rias gerações que se suceâe– ram; nunca se m.odifi'cou. Con• tinúa ·sendo o niesmo poétâ dispost.o à· luta, cordial e ami• 0le Bull, H~rlqµe:- JJ'>Sen e !~;1:ifl;f::s~n~e~tr~º~ J. APONTAME·t\.·JTOS LITE._ , RIOS A oposição não foi despre• 1 \ zfvel. O povo nã:o entendia a · nova língua, nem os atores a fala'l1ain. B'enrigue Ibsen, até então, estillz~ em di11amar– qu_ês. O- tovêino e a,_ uolíc1a não vt-am com . ·bons ólhos a inovação. que te'n'àra a dar maior :Personalidade à Norue. ga, então sob ·o jugo suéco. Entretanto, !ol naquele_.tempo que teve inicio o surgir ou ressurgir do falar norueguês, .com carater nack>nal -As duas esoolas bavuim co• <filícadQ a língua: popular e a línma c1d ta, à lin,gi,ta rural e a lm-gua urbana. E esta últi:. · ma, dominante nas classes instruídas. vai influindo sôb're o povo, sobretttdó por. meio de 3-0rnais, li:vr'O's ê eseolas. Um -exemplo. da nacionaU- . 2.ação: a mudimça de Cristia– nia em Oslo. C.ristia:nia relem– brwa a dinastia -de -Copenha– gue e o. jugo dinamarquês. Oslo, que era um subúrbio de Crlsti~nia, pas!Í'o'll a de'Signar toda a capital, como o norue. guês, que era apenas um dia– let9. passou a língua_ oficial.· A N·0ruega, nã:o ~endo mª'1s de nenh~ cristião, à~o era justo que·..a primeira e.ldã <fu.do país tivésse qual nis:d'rinha uma ..õinastia de fóra. Àpl'icando o pa'l'alelôA restll sabér se entre o l>rasileiro -e o português há diferenças co– mo entre os dois. idio'rtlas es– candinavos, Emb.orá patecjdos, o dinamarquês ·e o noruegu~ âev.em diferenciar-se, mais ou menos, como "' elll'lanhol ê o português. , Na língua escri.tà, salvo _al~ guns nomes regfônais, o bra– sileiro não se ari-'eda ·ao luso. Os trabalhos- de Rüi Bm,bosa, o maior clássioo do Bi:asil, po– deriam ser assinados por um purista poírtugqês, como Antô-1 Dlo- Feliciâno de Carvalho. - Haroldo Maranhão ...'... ' ~~~~e~~ - Há uma gr.a,nde espeetativa ·de renovação. RenoVll- O i!l'estigio que a poesia -hfspano-americana ;está ção -ql1e se pr,essente em todoir os·gêneros, principalmente tendo em nosso tempo. na ficção, -onde ·a técnica vai a'dqúirindo um sentido now --- limpo de remini&eêncial!. O conto, por e)l;emplo, é agora ma'is psicológico e menos- objetivo. No próprio Marques Rebêlo, que é um mestre do conto modierno, não é difícil {r-erificar essa evolução, inillscutive1mente uma conquista -da nossa geração sôbre a de Mário · d-e An– drade. A poesia, de outro lado, não é a mesma, não :Calo da .que apareceu por ocasião da decantada Semana d-e 22,, i.n;fÓnne e êaricaMal, mas da que sucedeu ' a êsses exagêros de revolução, adqumnd'o a sua definida -estru– tura e a sua caraetierfsticca posição histórica. Que dizer também da crônica, onde um Rubem. Cada vez mais me convenço do podel' seda•tivo, di– gamos -assim, da ,música de M~zart. Quando o ~írito se turva de tragédia (leitura de Dostoiewsky, por exem– plo) Mo-21art clari:t.tca e refaz a paisagem interior, re- t c'Ompõndo a ser-enl<Jade ê transmitindo uma estranha j sensação de luz. ·o livz,o - o livro .honesto e sincero - desperta em mim tôdas as fôrças vivas d'a minhl! ternura. Foi o livro, -e a música também, que me fez descol:!i,ír que ·eu não era um homem frio. Braga nosso conseguiu ~obrepújar. em técnica e reali- zação um Álvaro MOTeyra da geração que vai pas- 'Em ''A rua do sirÍrí'' nada indica o Amando Fon- sando, ? -..._.... tes qué iria revelar-se n'"Os Coru-mbas''. 1:,1 ao ÇOR• Mas se foram grandes os benefícios uo modernismo, trái:rio dêste _grande r o m a n c e, um t r a b a 1 no mal pel-0 cllma de S'aúde qae nos permitiu ~irar, fôram constntiae., estrei'to de perspectivas, artificial, sem também essenciais os seus defeitos, alguns de lamen- nenhum-a veros~'lhança humana, Não ·existe um ~r– táveis consequências para a prõpr1a · situação da es- sonagem palpável, que n-0s imponha a suá presença cola na história -das literaturas. física e mor;u. O próprio ambiente é d:estituido ele eôr, Um mau exemplo do m◊aernismo, por exemplo, foi de uma realidade psicológica que é a ·grande virtude o estilo-caricatUTa, que só possuiu um mérito, o de rldi- de Marques Rebêlo, por exemplo, nessa poderosa men– culiarn:ar o l'etõrico frondoso e artificial. M.as sõ nisso. sag-em de vida que é A Estr~la sobe. Daí esta neces&idade que se vai fa-zendo -sentir há muito - -- 1 tempo : a de retornar a uma dignidade literária cujo A poesia de Carlos Drummond de . Andrade repre- . ' . exagêro o modernismo apenas escarneceu. A nossa senta també'm um test da cap~cidaae de penetração dos geração -precisa de retificar .&se equivoco dos modernos indivíduos que Udram c-om a literatUJra. · que passaram. 1deal ficção. do crítico : resistir a tôdas as tentações -da Leitura de O discípulo de Emaús, de Murilo Men– des. Numa época de um certo descrédito à Igreja, em que â cireumtâneia de ser .mte1ectual parece excluir .a própria fé no Cristo, singul~ e com.ov.edora a atitude dêsse nosso: .grendé poéta, que- tem a coragem de ser eatôlico e não tem o pildol.' .de pr.oclamar aos sew; .con• tenwçrâneos .a . preaenca . d>e Dêus. O espírito moderno (gue já vai se tornaruio antigo) -das artes e da literatura presta-se a classificar em dois grupos os homE'!ls conscientes: r.etrógrados e afua1s, Não é preciso dizer que há mals retrógrados. Nem que isso é um dos_pecados fund-amentals do nosso teml)O, O Guaram, de Carlois Gomes. Costumo eomparal' essa. ópera, com altas pretensões nacionalistas, à.'Pr~ popela., de Bento .Teixeira Pinto, que de bnst1e1ro '86 tem a in.tensão.,. OU, então, aquele Derrubador bn,. sflelro, de A,lineida Junior, puitado ~ E\U',QPI.I. ~ lUZl modelo•de Pari;s.... . go de todos que o pi-ocura:m. , pond'o logo à von,tade aquêles que lhe chegam à éasa timi- :.• dos e a olhá~lo como se êlê , 'l!ôsse a ftgurá próxima_ 'e _ao '.. mesmo te(l 'l.po distante de um deus inatingível e 1misc1vell ·ao resto dos mortais. Huma-, · nfssl.m,o e jovial, .estimandó nos .moço-s essa mesma fôrça renovadora que o er:gu~~-. ..à mais álta posição na poética, nacional, ·Manuel Banc;ieira OIJ recebe sempre de braços aber•· tos e os encoraja e ós- acon• selha. - Prestlgiado e ·qàeriõo p<>r todos, assim, cheg0u mestre ; Ban:deira aos sess.enta anM!•. . N-0 dia em que completou .o . ·seu sessentenário, guase todos · os jornais e revistas do Rio tt ·d os Estados comemorarani festivamen:te o aconteciment.o. -Um dos mais ih,ist~s mem• bros aa -A.cademia Brasileira. :flgUra da mais alta projeção -da 'Poética nacional, Manuel Bandeira, com sessenta anos. é o mesmo poéta mentalmente j6vem que sempre foi. Hoje of.erecemos aos leito. res um. rápido depoimento li• terárlo do gran.de poéta de· "As cinzas das horas". . / • • ARTE VIVA, ISTO SIM ' Em seu apartamento, M~.– nue1 Bandeira recebeu· nos- . ~ordialmente, c o m o semp'.Nl',l' •· Conversamos muito sôbr,e lite-11 ratui:a, sôbre as · ténd.ência• ' f atuais d·a poesia. Fomos fazer>.• 1 ·do-lhe vái:rJas perguntas : -Acha que o modernismo·: brasileiro morreu com MariÕ' de. Andrade ? / j,i :Bandeira responde pausada- mente: ' - ~O Módernismo, e o m d "!smo", isto é, CDmo arte de ;grupo, com o seu progama,, os .uus .cacoêtel!, ·os seus tab~ os lt!llS preconceitos, simt>atial • antipatias,. jâ estava encerra- . l. · ltl'. Contint\a na 3.~ pág. 1 -

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