Folha do Norte: Suplemento, Arte, Literatura - 1946
• • - • • ... 1 - • -■-P-Q _ O _ Al 0- 1-U ■ ·-·-•– • O home:m e o espeJho : - 1.: uma. verdal1eira a_gonia l!SSO •lifleuJd;ulP de me O"l)ll– car - ! 'o.ta ex1>lio1u:ão e difíciL - Sim, você tem n.úo . Toda tx»ticação é aifícll e para Jniffll'éntão agora. qnando tuao Ir wntra nílm. ou melhor. q 1uu\dO tucJn na:rf'«'t' se:r contra mim - Pois. então. não expJioue , n,.da. que não ,- nada fácil nlodlficu a aparência elas coi– sas. M é 1h o r . 1>0:rtanto. não tentã-lo. Aliá.e; não te 11edí ne– nt.,tm!l e.xnllca~o. n io é? Aot-,.~c <? onsi:l.tel nm hto. -Sim. é verdJ!li\e. Mas &li eonsf<111rava que devia. - M:u se nio póde. como vai dá-la? DESABAFO CÉCIL MEIBA l>lretor : PAULO MAllAJllllÃO \ I / J(UK. 14 ~ • MATRIMONIAL • • Se teus Joelhos se dobram diante de mim, sem que eu seja teu Senbor, nem teu Deus, como não queres q1.1e ea te ame? Não te humilhes, nem me exaltes. Põe ambás as m.ãos em cima de meu pei– to e sentirás os mu.rn )úrlos de minha alma e os afagos e ca– ricias de todo o meu ser. O coração não mente P es– cuta a Ve:rd.!de que em rlttnos se escapa... XXX Enquanto eu ese1:evo. o S61 formoso penetra. alviçareiro pela janela e ilumina n1ulhas mãos. X.XX Com que direito prendes as mãos d~ mulher entre .as tuas? Por que lhe !alas em Amor, s,e ainda ootem aban– donas!e aquela outra ~ue tan– tas loucuras e sac:ri!fcios fez - r-om um »ouco d e esfôr4:o m eu e de bôs vontade taa p arJO ~mpreender. -Bôa vonb\de eu tenho. m"'I comur-ee.ndP.r... Você não knora comn é dilicl1 fiunhém coun,reende1'. F:ue, velho ? o m~bo:r é não dlrzer naila. P.as – se- u:ma CP>onJa nisso. cnmo se tivP.sse !ddo um 1>esadêlo. CORIOLANO DE CERQUEIRA f!j por ti ? Não .sentes gue :;i mu– -:::-:-~--=-"' :-=::;,""'""'==-~=--:- --- lher des)n,ezada eho:ra incon– l>0Pt1-J'1e um p ou_co o epl– teto "odJ,n". - """º ti~J'Pi tr~uiJo. - <'..arlll. urn um as i.u a.s u- Ja.V?"q· Você r;oi;ta muito des• ta. 1""""""ª•9. corlP-a do seu .."'"""lu1l& '"'º· Ninl"oém ;. fran– ""no. Niin Jii trOJ10Plll <la t1 e . 1: 1)4)"' Jtã.o lnventar coisa. _ v,.,.,;: ;. ae".,,..."J• a,- tn~õ. - 'Fl ~oeê. qne _pensa oue •ocê ,. , -~.., tà ! -Ainda bem ,.,. -- - _____ ..:,,ro, ______ .._ - -- ft - ·------- Estou casado há cinco anos. se por casamento se entende viverem duas 1>essoas debaixo do mesmo této, pedindo a Deus que as h"berte uma da outra. Tinha 37 de idade quando comecei a sentir o "já começa" do ma– trimônio. A noite, sobretudo. A vontade de se possuir mulher só nossa., -0 que é un1a ilusão, como outra qlllalquer, semelha-se ao prurido noturno do velho. Quanto mais _a gente se arranha, mais comicba. Antes de tomar passagem com rumo ao desconhecido, desci ao pélago de profundas cogitaçôes. A ninguém pedí conselho. Tratava-se, de um assunto unipessoal, gue -não comporta bedêlho estranho. Se eu viesse a ser caipora, a mim caberia a rulpa. Ignoro sg o infortúnio no casamento é caveira de bUl'l'O de família. Na minha, onde as mulheres se casaram quando en-gati- ••• nhavatn na adolescência, houve casais q_ue apenas mo- No se,n:&Ddo úisqt1~. Júlla lharam os lábios na taça da felicidade. Meus tios afins, me eontnu 11m u 5 o estranho. talvez em razão mesmo dessa precocidade, cêdo se enfa– aconteeido CJ11 11nd0 ela .teria. dara:m das esposas. Mam.ãe completava treze anos no dia d ~ anos. O JJal (U. fllleeJdo) S' .Er acordol'a à meia-,,nitf'! em 110 n. em que Monsenhor Mãnclo, cura da e, a emaridou. a to l'Tlf.11Ttclo : "MarJna mor- magrinha, pálida, quase deliquescente, oomo queijadinha J'eu !'' Nin(IIJ.-m 'MAis .dormiu. da Serra da Estrêla, e devia ser, como esta, saborosa. J,ot>o de manhã. ehei-a.va o te- Deus me perdõe o pensamento incestuoso. F.altavam-lbe, le'~rama. Marlna morrera. Era ainda, os apanágios complementares da nubilldade. Os a "tia fry,ic.a fJ"mâ. sete anos seinhos mal lhe afloravam. Papai, mulato baiano lascivo, maic; v..tl>a. crt1e fô"" na.,çsu chamou-a logo aos peitos, cohonestando a sua pressa, tms t...,,.,,.., na l~'flda tle uns diante dos amigos escandalizados com a declaração bis- 1>wr.. nti"q. O aut,)movd em oue .. .t. • ... Carl t J · fi•. d 'l>inl.a de t1mn festa. ffllma fa- . ""1:ca .ue que o a oaquma zera onze anos quan o seTtdnt.., vf.,.h>J,a, tnmbara 011 • veio, das ~as do Ca_mpeador, lançar as bases da má m:i rlhi,ncetr:i . ,,,.._t.emer,t.P à. sorte do pnncipe D. Joao. Jrn>fe -nnitf'. -......, n imtea. viUm11 • A verdade é que, assitn debilzinha, deitou ao mundo, e 11"!! F<>br,...fv,.nt~ l!'&r,antt11m no decurso de um novênio, oito marmanjos, dos quais oup el11. "6 teve um grito: fui o pri,mogênito. :~eu 11a 1 » ••• Vov6 ~bémmadrugára no himenen. Na idade que · 0 eletrof'll-n!J,icama f OI mamãe fazia quando a levaram, de testa franzida, ao tála– un,.l 11 ara Franelseo Am••o. mo nupcial, já escanchava nas ancalj promissoras duas "A nn•dín ..,. l'ev~ sob 3 rór- lindas Marias, uma da Conceição e outra de Belém. ma. de todo. Minha bisav6 não lhes ficara atrás. Dos qual-0rze aos - sessenta anos, pariu orna rapaziada de índole fenícia, que Lia não iro«t<\va. l,le Pm.l!'a- se espalhou por longes terras. Os filhos, em número de Fn~o. ma"' Jal malanererni:a. ~iRte e quatro, nasceram-lhe todos machos. Quís vir a não cnnstttnta u,-, prlvllé,:Jo lume uma femeazita, mas pereceu asfixiada, ao transpôr do m alguerldo. Eln não ,:os- a barra do nascedouro. t ;i.va de nJnl!'ném . 11elo men09 Os <'a.sais daquêle tempo não fraudavam a Natureza. fl-t e foJ ennslata.tlo. tm:Jit s lmna- · tia _ ári da. tmpenetriv,-1. 311 • Confesso que tais antecedentes apavoravam-me. Se- 'l'erga, como se a seMlbüidaa'e rla eu, igualmente, um filhento descompassado ? 1:S&e negócio de ter muitos ou poucos filhos, quer-me ur Continúa na 3.ª pág. parecer atávico... Vejam a tainha como desova à béssa. Devo confessar, sinceramente, que não sou chegado a crianças. Já deixei de frequentar algumas casas de ami– gos, para não ser aporrinhado pelos filhos. Um dêsses "anjinhos" meteu-se em cab~ furar-me os olhos. para vêr o que havia dentr-0, como se eu os tivesse ~ po.reelana, à maneira das bonecas. O pai, em vez de aplicar-lhe uns cascudos, arrebatando-lhe a tesoura das mãos, comprou– lhe urna de brinquedo, s6 para meter-me pique : - "Faze a vontade da criança, Cerqueira... Noto que és iJ,imigo da infância, . , Pôça l Nunca vi ninguém assim !" E eu respondia-lhe, dominando o ímpeto de esganar o engra– çadinho-: - •Essa ~ bôa I Queres então que perca 1l1D ôlho para te ser agradável l Por que não lhe ofereces o teu? O conteúdo deve ser o mesmo". E êle recalcitrava, odiento: - "Mas bem vês que não é cóm o meu que o inocente simpatiza... Far-te-ei presente de outro, de 'dr " 'Vl o... Tenho wn temperamento de alternativas caprichosas. Ora sou casmurro, herm~tico, inurbano; ora cordial e acessível. Em determinadas ocasiões, nem o diabo me suporta. Duvidava, por isso, que viesse a ser bom, ma– rido. Experimentru-ia. Casar não é coisa que todo o mun– do faz? Nas FOLHAS há uma se.cção a q,ue o noticia– rista pôs o titulo convidativo de - 1 '0s que se vão <'asar''. A quóta matrimonial dos pobres é de noventa e cinco por cento. Os remediados e os t icos não vão quase na onda. Vinham perto os meus quarenta anos, e eu não resol– vera ainda o mais natural dos problemas humanos. Pus mãos à obra. Não desejava mulb.er alta, porque me dá a idéia de que espanca o marido. E nem gôrda. Tão pouco magra. Fomida de carnes. Ancas proporcio– nais. Isto de espáduas parece nada, e não é. P~mas também é coisa muito séria. Observo não ser es(::\"'50 o número de mulheres cujas cadeiras exorbitam desg1'1cio– samente do conjunto, como ressalto ou saliência de pa– rede, onde se póde firmar o pé para trepar. Essa deshar– monia não rima com as linhas inferiores do corpo, tendo como suporte, quase sempre, canelas descarnadas e angu– losas, com tendões de Aquiles empolados, o que lhes com– prómete o equilibrio físico, assegurando-lhes unicamente admjradores sexuais de nacion~dade portuguesa Tão preocupado de t.ais minúcias andava eu, que não procedia a invesl.igacões somente entre a parentela viva. Folheei até albuns de família, para conhecer aquilo que me interessava e, guiado pelos antepassados mortos, repeli algumas raparigas bonitas. atemo1·.izado pela enxun.dia fotográfica dos avós. Confesso que sinto horror aos 8.1'• -rRá- mals de --um mês está--:.-:..:._:.:.,-__ -.. ,:._:.-... -:.:..:._:.-...-••-... 0--·......___.................. -............... u ..._____ ............... _.... ow~t•-... •H--•---· ..--.--... . __, ________ .. _______ .._ _,.u______________ '4f no ~arlaz de Os eomedi.autes • a péça Desejo 11Gb os olmos. JORNAL DE CRiTICA uma tragédia de Eugene 0' Neill, o qu.e $ignifi<'..a que comoveu o grande público e .obteve entre nós um ex• traorcUnário ~- '.t s te acontecimen.1o teatral ofere– Ce-.lll)S a seguinte sugestão! um pequeno estudo, nio p ropruunent.e sõb-re O'Neill, mas, a propósit.o dêle, s6bTe :as relações entre a tragédia moderna e a tragédia clás,si– c;,i. O crítico B~tt R. Clark - amigo pessoal de O'NeµI !IÕbre quem escreveu lUtn livro muit.o independeu– ~ e imparcial, examinando tôdas as suas péças com bn– a>lac.âve1 espitito c11tico - ltem a opinião de que De– .asejo sob os olmos marca o IJ)onto mais alto .a gue che– ,gou o dramaturgo nor:t.,e.. ltimericano em seu desenvol– ~mento como escritor trági– ~o. Para outros, êste "ponto rmai.s .alto" está em Eruutnda ·torna-se Elodra ou Estranho l lntenrarclio. De qualquer f órma, a pêça que &tá ago– ..-a no palco do Ginástico é .um a autêntica tragédia, 11presentando assim um a ação dram~tica de grandes proporções, um espetáculo Problemas Do Tragédia 1 ALVARO LINS --•-st••-·-· ·-'-·-·-·-· · O d da luta impot.en ,ie do homem oootra a fatalidade, a des– graça do ser hwnano marca– do J)e).o Dest1no ou pela Pr0-vidêncla Divina, se m motivo ,ou s.em a oon.sciência da culpa, o tom patético das situações, um estilo elev.ado e como ~ue arquitetural Cf<>rma]mente primitivo e às vezes a:té bruta] para dar verossimilhança aos .~ nagens, que são rústioos fa. .zendei:fos, mas sempre ele– vado J)f!la organicidaàe dos diálQgos, pela beíeza das .Imagens e pelo v.alor poético das exJ)1"essóes, e axqttlwtiJ• ral na imponência da eons– truciio verbal do corrjunto), os nroblema.s humanos lan· çados sub esp.eete aeternlta.– tis - tudo com a finalidade de criar aquela atmosfera sentimental que Aristótelee sugere numa definição em Poética ao afir.:ma.r que a tragédia OJ)eTA •pela p}Qda. de e pe1o lerr0'.1' ,a purgação das pa:lxõee da mesma natu– reza... CEm consagrada tra– d1Jção francesa, no "Chapi– tre VI'" da prlmeira parle do volume Poét.lque et Jthé– iorfque., editado na coleção Chets-a•~uvre de la Httéra– tme l'l'l!eque a expressão , exatamente esta : "et opé– rant par la _ptti, et la ter- · reur la PllJ1r,ltion des pas– sions de la mêm:e nata.re "). •-t-n- •-•-• - "• " -•-■-n 111 149 Porque é 11ma expressão de conteúdo mutto denso, tendo suportado um proces– so de interpr~ta,eão que se tornou histórico na abnn– d'ância d as controV'émias, havendo Jiv.ros inteiros com o relato dos debates secula– res em tôrno da eathanls aristotélica, ela não póde ser tomada na StJa significação mais e om um e objetiva. Ninguém, Por certo, seria capaz de correr aos dioionã– rioo para encontraT o sentido direto dl! palavru que pet>– tencem à simbologia a.rtfstl– ca J)orque impreR?Uldas de mlstérlos e sugestões poétl– eas.. Quando Aristóteles diz em outro trecho, por exen– plo, que "-a tragédia é uma imitação, não de pessoas, mas das ações 1 da vida", etc. - tal conceito seria uma banalldarle se tomado ~– plisticamente como "retrato da realidade", e assim fo1 entendi dº· a 1 i ã s, dtmmte muito tempo. m. no entan– to, uma verdadeira ilumina– ção do texto em Princlples of Lite:rary Ci:ltlclsm, na quál se encontra uma nova interpretação de Arl9thtele feita pelo critico inglês Las– celles Abercrombie. "I'llllta• çã,o" - conforme Aberrmm– bie - não significa "im:it:a– ~ão da realidade", mas "a técnlca literária de tratar o solada a tua perda, e o desti– no dela é o mais terrfV'el dos destinos ? Desprende esta -s mãos de tuas mã.os . Vai con– solar 11 jovem perdida, doida de Amor. e reacenda a última chama de esperança 11.ue exis• te em seu coração. f:Je então respondeu : - Mas -se repudio esta. quem a con:sólarâ. se também agora me ama ? Que culpa tenho eu se lhe manifestei o Amol' '? Não me condenes. Fol so1nen– te a má -e deliciosa F9rtuna, um olhar apenas. e ela caiu entotrlecida em meus braçt>s. Cem raízes agora mergulham em nossos al'lientes eoracões, e sentimos ambos a 1ôr,ça da Vida coner em nossos corpos. O sofrimento da OU'tra. ~ a revelação do Amor perdido. X.XX Por que prOCIIMls a felicida– de. pur gue lhe sais no encal- ~o ? Julgas que ela seja algu– ma coisa concreta ? Pensas que ela é o . dinheiro de que precisas. a mulher que de.se- ( las, e mil e um bens materiais por que tanto anseia.:? Não. a felicidade não é isso. Per– gunta ao pobTe e ao rico, e êles. nada te dirão. Ninguém a viu, ninguém a c.onhece, nin– guém a encontrou. Espera um J>OUCO e depois - quando a Morte vJe:r - ela te conl:ari o seg:rêd1> que em vão agora J>Tocu:tas•. • *** Quando um bomem prefere sua eondlcão modesta em lu– gar de outra mais alta, êste hómem é feliz. ~e não renun– cia o melhor, antes aceita a necessidade de ser J:eliz. In– vejo oa simples e os pacten• t.eL Meus sonhos e.i:am tão gran. SContlnúa na 3.• p4gina.) asstmto f<>tnecldo pela ~– lidade". Assbn expri.mr o critico, então, a défi:n:i ção aristotélica : "Tragédia é a imitação ~ uma ação, que é sérla, completa em sf mes– ma, e possaindo certa mae• nitude" (''possessing a cer– tair magnitude"). De acôrdo com. esta definição da tml– &atio, muito importante é o melo pelo qual ela deve ser atingida : a linguagem. o es– tilo no seJ1tido ma1s especial da 1>alawa. E acrescenta A~reromble : "é a Jingua– ~ que terA de exprimir afinal a técnica dramatúJ:gl- ca". Mas U!l'á ainda validade no teãtro moderno a expres– aio atlstotêllca "operando J)ela Jllt!()ade e pelo terror"? Deve ser invocada somente quando estam<>s ante a tra– gédia grega ou também a propósito da tra~dJa con– temporAnea? O c!rttloo já citado Batt.ett H. Clark, no SéU livro IÕbre O'Neill. es– creveu que se e:n algum momento teve slgnifiCAção aquela discutida passag~ reteren.te à eàth,.rsis Isto aconteceu em Dt!RJo sob os olmos : ela '"1 )1.ll 'ga a alma. diSlleaha, tortura~.a.. r,etol'- ~ Conllil1âa - L• ~ •
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