Folha do Norte: Suplemento, Arte, Literatura - 1946

... • .. .. .. 2 . 0 Págin"& el>TE TBA&Ju.HU zOl 1:.-SCHITO .t:'fll OUTUBRO Oi. 19.41 E PUBLICADO, NESSA ÉPOCÃ. EM TIU;S GI\ANDES SORNAIS DO BRASIL. ERA NO TEMPO DO CO:!fHECIDO ESTADO NOVO, PORISSO A SUA • PtlBLtCAÇAO FO I C&NSURADA. S O ME N T E JI01E. PELA PRIMEIRA VEZ, APARECE N1' i N , EGRA ASSIM CO:i_"1'.0 FOI CREADO. Faria sol, ha111a vento, era meio-dia quando terminei de l êr ·'CHOVE NOS CAMPOS DE CACHOEIRA". O estranho romance objetivo e pessoal de Dalcldlo Jurandir. Aceilo êste livro cheio de dimensões sem conlô1·nos e o mo a primeira mensagem da minha geração. Mensagem do1oros. acendida d e desespêro e vida. marcada de verdade. Não sou critico e quero dizer d êste romance tu– ~ o que os meus olhoo viram. Com "aquela audácia de po– der errar'', sem mêdo d e trair e ssa difícil sinceridade d-e amígo. Lembro agora Kathe– r ine 1\1:ansfreld falando do ro– mancista c poéta inglês : "O que !az de D. H. Lawrence um verdadeiro escritor é o seu ~m,peramento a p ai x o nado. S'e:n\ paixão escreve-se 110 ar ou sobre a areia das práias". líl êsse o caso de Dalcid'io Ju– .randir. Há uma paixão na sua · maneb:a de dizer naturalmen– te as coisas. Paixão que vem da terra, do fundo do homem como um estremecimento. Pa– rece que Dalcfdio está comen– do fruta do mato, acordou de madr ugad~ es tâ levando crianças pelas mãos .quando escreve. O último oap itulo d'e "Chove" nos dá essa i.mptes– são : o pl'hneiro homem pro. ourando dizer tudo "com uma sincetidade intima, tranquila e humilde" .:.... como acon$e– lhava Rilke. n't um homem q_ue Cala'', d1s$e Alvaio Mo– reyra. "CHOVE NOS CAMPOS DE CACHOEIRA" marca, no ro. mance brasileiro, uma ma.Is defi nida inconciênc~ de r ea– lização. DaJcidio Jurandir não escreveu ês-te livro por sim– ples preocupação artística e quasi rea1tzo11 o que m.u I to dos nossos atuais romancistas não fizeram. A gente sente a "inlegridade nativa" tomando con ta do livro e também a "experiênola" d e que Sérgio Mílliet em nome de Rilke, tanto reclamou para os nossos ficcionistas. A espontaneidade e a sinceridade são os dois po. derosos traços do romance. Essa mesma espontaneidade que muito íaltou nos roman– ces de Coêlho Néto e outros e que ê um grito verdadeiro da ,arte. E a sinceridade (de aná• lisel vem molhada dêsse rea– lisn10 psicológioo, dessa rique– za interior que dá uma s igni– f icação ex:traordlnátla à sua livre possibilidade de creação. "CHOVE NOS CAl\fl>OS DE CACHOEIRA" é como uma ,ioile de chuva. Umo noite de 'tempestade, onde tudo procu– ra a si mesmo nwna lutà de– moníaca de reconquista e de l iberdade, de desgraça e de •fatalidade. O povo e a infância, para mim, são as duas fontes de capacidade creadora. Dalcíd!o foi buscar na enorme 1niséria do pc,vo e na desordern hun,a– na a oausa das primeiras e úl– timas angústias irreparáveis. Hã ~Lm "conhecimento das di– f erenças", uma vontade nietzs– ch-eniana de destruição de tu– do em nós ou fóra de nós, (embora haja um r~Ugioso respeito pe-la vida humana) um desejo sem fim de outro .iünerárlo no romance e no Qeiuiamento do nosso artista. O 111,,ro marajoára é saturado de segundas Intenções e a sua p resença se marca _por êsse priTicípio hegelioo de corth·a– diQâo dialética, sem a qual não são possíveis as operações fun~amentais do espírito e a Idéia "do set·" não pôde exis– tlr sem a negação "do não aer·• Além da nalureui e do h ome1n nada de maior existe '- po1·que o espírito não é se– não "o produto sllperior da maléria". A1 mais um filho de Mat·x. "Em Eutanbio. a per– versão como sempre vinha do espi.ilo. O instinto é sempre puro". O romancista não ci.uer interpretar o mundo. Acha m elhot' lllJ)dilicá-lo à luz du– ma teurapêulica violenta, onde a gr,and-ez:i humana se prolon– gue sem essas fn1sillcações do amôr ao homem na sua pure– _za eterna e primitiva. Dalcídfo ,.. não abandona as suas perso– na gens. Vai an<fflndo com elas como que1n procura água para beber e esqueceu a sêde dian– te dos pró1>rios abandonos e e,ique~imentos. A gr~1de piedade e simpa– tia humana que encontran1os em "CHOVE N'OS CAMPOS DÊ CACHOEIRA" - não vêm da e.':/perança de qµe ~udo _p(r ue mua.ar , me1uora.r e sim da horriveJ evidência do mal. Existe um sentimento de ne– gação tão grande, que tudo se perde no meio dos sofrimen– tos e das falências. Até as bé– las comparações e imagens poéticas, na maioria, nascem dum hor ro.r, dum mêdo, duma Inquietação. Dalcídio, tem uma fo,rte capacídade para a tragé– dia, as.sim como Lúcio Cardo– so. Ninguém tem coragem e heroismo para Ultrapassar as necessidades. D. Amélia sem– pre trabalhando e ajuda.J1do, a maior personagem, (não sig– nifica C$Sa reconciliação, mes– mo mutilada, que pôde exis– tir entre a vida e o ideal?) no fim parece perder aquela calma, aquela compreensão, aquêle silêncio, aquela "quen– tura humana", aquêle esplrito de sacrifício... "Chove" é a singular paisa– gem duma sociedade em de– cadência.. Sociedade que -faliu em todos os seus princípios de organi~ção. "I m p o s s í v e l construil-mos um mundo me– lhor sem melhorarmos o in– divíduo••, pensava Mad ame Curie. ll:ste é t3Jlllbém o ponto de vista da Igreja, da legitima Igreja. Eutan{u:io - fica como u.tn ponto de exclamação na comprida l egião dos traeassa– dos da fiCÇâo brasileira. ~ ário de Andrade já sentiu, no ro– mance brasileiro, a falta dês• se herói q11e em fren~ a lô– das as quédas ainda fique acreditando em alguma coisa. Há sempre um retômo ao bem e ao mal. Ora é o prónrio Eu– taná1.io se a rrependendo de tt>r roubado os 30$000 de FeUcia, ora é Lucíola, esquecida da sua bondaru:' superficial, ten– tando envenenar D. Amélia para ficar com Alfredo - nu– ma egoísta compensação de felicidade. Aquela degradação crescente de Eutanázio parece vir do conhecimento cMstão das mi.sérias humanas. A ne– cessidade do mal póde trazer a 1naior necessidade do bem. Dalcídio tem unia bõa ob• servação. Não esquece o.s de– talhes. Tudo êle parece ter "vi,/;to", "tocado". Na garrafa que AlfrP<lo compra queroze-– ne - lá ;:stâ o oordãozinho amarrado ao gargálo. E aquê– le "rá" ? ! . . . Aquelas passa– gens imaginadas - como a pergunta do bêbado: "Por que os livros ficam. à mar– gem ?" A resposta de Eut.aná– zio : "E a miséria do hon1em sem dinheiro ?" - aparecem reais e convencem. Aqui o va– lôr do roma;ncista : aumentan– do a vida sem destruir o pll'l– no da e.xlstência. Ma u ri a c define: "J.,e rom.ancier est, de tous les hommes~ celui qui ressemble le pl us à Oi.eu: U est le s lnge de Dieu", E Dens no "Chove" (não há cooc1lia– cão entre o autor e Deus - Ivan K a ramasov. aquela per-• sonagem de Dostoiewsky, ain– da admitia a existência d~ Deus. · embor a negasse a su_a interferência [).a direção do Universo) - nµma ironia a1narga - é negado por uma dúvida filosófica e cétic,1. ou dúvida poética, "que é dúvida humana, de homem solitário e s;,.m caminho entre caminho'>". 0S\"1ald de Andrllde afirma que o contrário do burguês, entre nós, não é o proletário e sim o boêmio. Alguma razão nessa afirrnatl:v<i temerária. Dr. Campos é uma criatura assim : in·esponsável, ridícula, boê.mia. Às ve7.es surge exa– gerada. Todos lutam por algumA coisa. Alé mesmo D. Dejani– ra. sempre rec:lamaodo, Ju~a tiara cotner coisas bôas. Res~ piramos tragédia ctue fica no llvro como uma trepadeira. Os grandes proble1nas estão no romnnce. Problemas vivo.s - al - sem solução dentro des– sa miserável exterioridade burguêsa : casamento, alimen– tação, edueação. saúde. pro– prieda de, govêrno, trabalho, religião. .. Deixemos de lado essas coi– sinhas de estilo e di.scutan1os melliÓr. com fé êsses nos.!;OS 11.roblem.as tão imediatos. Bas– ta de tanto discurao sôbre a Amazônia l Os problemas es– tão aí, resolvamos ! Já che~a de falar da noi<sa geografia, fnl tmios do nosso homem. pro– beslell\.OS o seu abandono, a ~11a escravidão. já chega !. XX.X A» lado dessas pes.was que - em tôda!l as Cachoeiras do mun.do - caminham com os .. • • • • • • • FOLHA DO NORTE Domingo. 6 de outubro de 1948 . - ·---------------------------"-' ___ , _ ,, _ _ ~...--~~~·- · - ·- - - · --...,.. ......_,040•• ,...._ f "Chove Nos Campos De Cachoeiro" · CLÉO BERNARDO ~ ■ 0 -ft- pés sangrando. assistimos o encontro de dois mu11dos n u– ma mesma época violentamen– te béla, trágica e colossal É o drama dessa apocalítica luta dialética. Numa madrugada sangrenta o moço e _poéta, es• oanhol e assassinado Garcia Lorca deixou de sentlr o f!e• mldo da fome nos campos ala– ~a <tos e o cheiro da terra cin– zenta queimada de batalhas é eriçada de baionêtas. Pnden1os morrer dessa apoplexia que - tl4 fóge para nós como um Im– pulso. Slm, D. An1é1ia "não podia acabar com. a pobre- " za. .•. "CHOVE NOS CAMPOS DE CACHOEIRA" é noturno e nos dá aquêle pensamento da morte - que os monges do mosteiro da Trappa e r a m obrigados a ter - len1brando Chateaubriand. no "Gê.nio do Cristianismo". A desordem do romance não é uma atitude. Vem da inquié- O_Passaporte Soviético MAIAKOVSKI Poéta da guerra civil e militante comunista. Vladimir Maillkovs kl , em seus v.ersos. marlelou as palavras de or– dem, apresentou os problemas. enalteceu as tarefas da t"evolução. Lenine louva seu senUdo político orido e a satlra tio justa que ele fez dos hábitos burocráticos, en– qu11nto Stalin saúda nele o grande poéta sovié1-lco ta seru;lbilidade poética cto es– crilor que, às vezes, se torna mais poéta do que roman– cista nos seus ímpetos crea• dores. Os caminhos poéncos do romance são ln.sondáveis e nevoentos como os mistérios do amõr e da me>rle. Major Alberto sen1 os catálogos - niio terta substância a sua in– consequência. A existência contemplativa q.e lsolâmento da '"dlnãm!ca da vida" - co– mo aquela d~ Phyl!i,p Quarrel. no romance de Euxley, não está no estado de espírito !re– quente. alternado e incerto de amôr e ódio das personagens de üalcídio Jurandlr. A hu– ,nanldade do "Chove'' só en– xerga o bêco de Manuel Ban– dei-ra. Irene ê uma pedra dentro de ,Eutanáz!o. O amôr de Eu– tan3z.lo por l ren,e é um an1ôr quasi cristão. Amôr gue não quer recompensa, an1ôr que se perde. amôr que deve tudo soc~I. Utn anugo que com– oreendesse Eutanázio para ti• rã-lo daquela incapacidade de a.uerer, o romancista imagina numa leve e triste esperanca de salvação e dignJdad:e O verdadeiro sentido da sollda– riedade humana de gue o ho– mem por mais obscuro e máu que seja é se~pre um irn,ão. Página poéUca, bíblica e ad– mirável é a do :,;onho de Al– fredo com a ~óce Clara Pá– r:lna que 1embra Tagor1> •om aq_uela sua ingenuidade e ter– nura de criança. Pela prim.-ira vez sente-se uma alegria. um l\rreuio de alegria. Clara apa– rece assim como um éco e morre logo, Semv re um desej o de Cuga, no romancista, para aquêle "realismo tangendo o fantástico" - aue Dostoi~ws. ky multo amou. "01llem li, por acaso. no -rzvestla'', um poêma ~ Mala- porque é Euta.uâzlo quem ama. kovskl sôbre um terna polltico. ?.ao me Incluo entre .os O ca1·õco de tucumã de Altre– admiradores de seu tutento poético se bem que reconiieça do é a maior creação poética Pl':11amen te mlnha incompetência neste terreno. Mas. • do romancls!,a No re ~le.jo de desde hã mui lo tempo não e:x:,perlmentava um tal -pra1.er J Qrge de l.tn1a, em. 1\1'.ulher do ponto de vista político e administrativo. Em seu poé- Obscura". talvez fa lte nl8is ma. Maiakov,;ki w.mba impiedosamente das reuniões e r~allsmo poétic?, m..ls coefi• escamece dos comLrnls\as que só fazem reunir-se e reunir- ciente e necessLdade de poe– se ainda. Não seL o que se de,'e pensar quanto â poesia, ala. O ''faz de conta" é um mas, pelo que diz respeito :.\ política. posso a!;Segurar que convite a sonhar, a andar por Estou satisfeito. com o livro do Dalcldio. Lourival Dan1as– ceoo. o nosso Qlterido morto. fir.atla alegre. muito ale!!re com o "Chove". Conü,,,·,a. amir.to. Que "CHOVE NOS CAMPOS DE CACROETR.~" ~eia o -pior dos teus livros - con10 desejou naqu~.lê :i,ltnô<::<t do leu aniversário, em Santa• rém. o meti o.m1go de tôdàs as inrãncias. W i l ma r Fonsêca. "Chove" poderia ficar ao larl n dos ro1nance.s de Graciliano Ramos. o • maior romanctsta eontemporâ.neo do Brasil • é lntelramente 1usto•· todos oo roteiros do màr sem LENINE têrn10 à procura das paisa gens MatakOVllld fol e conUnlla sendo o melhor poé,ta. o mais irreveladas e do,s possíveis hu– tatentoso da nossa época soviética. A lndU'ere11ça peta manos. As personagens"' de. Dalcldio Jurandir têm abismos e destl– nos lnumerãvcls como se tõ• das fôssem poétas. Os diáloeos são firmes e reais. Só o de 'Eu– t:anázio com Dr. Campos (es– perando o moléque com as cervejas> é exagerado. Dr_ Lustosa é bem o tipo dêsses Deodoros. grandes ou peque– nos. que andam por ai a ex– plorar o ho1nem, fazendo pro– mes.~ para o povo, jeitosos e safados. brilhantes e discurso.– dorP!!. A carta de Carvalho para Bita está mais natural do ctue a de Ezequias Bita. bem que pod Ia ent-rar no quarlo de Felicfa. O leitõr es– pera isso naturalmente. O ro• mancista salva tudo q uandet termina d11.endo que nada sa– biam ao eer,Lo do encontro de BHa com Carvalho. sua mernõn,'.l e pelas suas obras é um crime.. Não é só o tédio do esplrlto STALIN que. sent:irqos no romance. i::: TRECROS ESCOLHIDOS DE LITERATURA E ARTE também 3 1nelancoll;i da car– (1',far:x:. Engehl. Lenine e Stàltn). ne quando ludo .se ar-1-ebata 1 Tal como um lôbo eu destruiria o burocracismo. Aos mandatos não sinto respeito. Enlreir,l-t~ para o diabo que mais te agrade. Todo papel. .. porém éste. . Pela E>stensa frente de compartimentos do trem Se move o correto empregadinho. Recolhe os passaportes e eu estendo-lhe Também a minha· púrpurea caderneta A uns passaportes - sorriso gracioso, A outros , - desprezo patenle.. Com respeito. por exemplo, se recolhe passaportc,s Com o bailarino - leãozínho inglês. Com os olhos a devorar o bo1n Tio sem cessar de fazer revetênci as Recolhe-se, tal como se fôsse uma gorgê ta, O passaporte estadunidense. Ao pc,laco olh.am corno cabra a um avls<>, Sôb1e o polaco abrem os olhos Na lenta torpeza de policiais. Que é lsto, afinal r e d.e onde vêm E stas novidades geográficas f E sem mover o repôlho da cabeça. Sem experiment-ar nel)hum sentimento, Apat1ham, sem pestanejar, o passaporte dinamarquês Misturando-o aos demais ruécos. E eis que. como se um calor torc~sse a bôca do senhor -e.mpregado. É gue o senhor empregodo apanha Meu passaporle capa rubra– Apanha, qual bomba, qual ouriço apanha, Qual navalha de barbear. bem afiá.tia. Tal como lôbo eu destruiria o burocracismo. Aos mandalos não sinto respeito. Entrega-te- para o diabo que mais te agrade. Todo pai,elucho .. . porem êsle .. . O tiro da." minhas largas calçaa Como copia de iuapreciável valor; Leia, convida-me o empregado : Eu :;OU o cidadão da 1Jnlão Soviética f • • • (Traduçio de- Bu,y Guilherme Bara1aj para um misterioso e \•iolento destino. Fice no limite do pos– sível e do impossível o SOJTi– so manso de Irene - que não era mais aquela mesma planta no campo sem sól de Eutanà– tlo. Lo~o. no romancista. essa necessida<le, essa vontade lou– ca, animal e profunda de ver– d:tde e solução das misteriosas contradições nas coisas crea– das. Gúslo de F elicia. Jt uma des– sas mulheres ingênuas que, pela sua vu:reza de intenções e sentin1entos. são enganadas e Infelizes. Quando Dr. Cam– !>05 grila com Felicia e per– gunta a Eulanázio o q1,!e faria se estivesse com a doença que F ellcia lhe passou, o profundo sil~oclo de Eutanázio, doente também de Fe1icia. me fez lembrar. no romance de D!>6- toie,Vl:ky. aquêle olhar angé– lico de Sonia para o seu pai Marmeladov, viciado e bêba– do - que lhe pedia todo o dlnhetro ganho com a prosti– tuição do seu corpo. Há qual– quer coisa acima da fôrça sol– ta dos sentidos que póde mo– lhar e unir as atroas fecharias e enegrecidas pelJl injustiça Conctusão aa Ultima r,,t.,:1oa1 Em "CHOVF. NOS CAM– POS DE CACHOEIRA'' en• conlramos dois lados. Um que termina com a morte de Eu– ta:ná:zio de olhos fechados pro– curando um slmbolo perdido: o slmbolo morto. Outro que conli■úa com a maternidade imensa e- amada de Irene tem aquéle riso, restitulda a si mesma, livre como um géllto de ressurreição, fecunda como uma terra nova e o carocinho de lucumã de Alfredo corren– do, tugindo por todos os ca• minhos d o mundo .. . Ressurreição E Vida êstie menino cái dentr-0 dágua". Eu tlnha ido olhar de perto o navio e vêr o abismo que J:icava entre a embarcação e ~ p arede maciça do cáis. Senií o sussur ro da água em baixo, e uma atração estranha me assaltou. As bôcas do navio vomi– tavam água ininterruptamente. "Você está maluco. me.nino!" E pux-aram-rne, num safanão. Nuu<ia n1a.1s aquela imagem do abismo me sairia da retina. E ainda homen1, quando ouço o barulho da água. no fundo do cãis, recordo-me dessa passagein da infãncia. Para mim, naquela época, havia um mistério ali, na escuridão. no fundo do mar. Alguém poderia cair, pe:r. der-se no meio das ondas. A escada rangia ao pêso dos pas-– sageiros, e urn homem vestido de b1·anco, com botões dourados. recebia a passagem. Olhei do pasi.adíço o povo aglomerado n o cáis. Múltiplos pensamentos me enchiam a cab~a. O na– vio em breve sairia e eu me afastariã do cáis, e a cidade ficava. dot·mindo ao longe. Qual o meu desUn() dentro daquêle ba1·- ' co ? Por que ir e não fieàr? Penetrei n,o salão, em busca: do camarote. Un1 cheiro vivo e especial me atordoou. •E u niio me conform,ava de estar ali. naquêle corredor, pisando em encerados, as!bciado, -Sem 1uz e sem ar. Queria a liberdade de minha casa; deit.ado no colchão lôfo. dormindo pelos cantos. subindo nas árvores, ou rugindo paro a rua. Trocar a minha, alegre vida, solla em tod-Os os sentidos, e meter-rne naq_uela, enlharcação cheirando mal, num Cllmarote estreito e sufocan– te! Ouvia o bat·ulho tumultuoso do girar das hélices. e sentia o navio em movimento, trepidando, Agora êle seguia para t.> mar, prqcurando o grande oceãno, dnde eu veria apenas águas, revollas, e um céu de perder de vista para todos os horizontes. . E a SllUdade vinha, chegava-se a mim, e fazia vib1·ar dolorida– mente minha alma. P-al'a. t.rãs perdia-se a minha cidad~. vei-– dejaulie e formosa, perfumada pelo sól e pelos ventos. Deita..– vam-me no beliche. com minha roupa. com o apito na bôca, oe sapatos nos pés. e adol"mecit> profundamente . . . J!!sse passo doloroso. qu.c tantas crianças como eu já vive– ram. reçoro-0 ainda transido de emoção. Como somos delica• dos ;ia Infância, e quem. puro e santo, poq~ria compreendec– tôdas as sutis sensações dos corações infantis ? Ninguén1 al– cançará jamais o menor d~sejo das crianças, e o terrível driunri de s u11- pequenina alma. Que Deus e a 'fortuna ampa~em e abençõem os me.ninos que partem, e secretamente os acompa.– n.nem no,; intransiláve.is caminhos do Mundo. .•

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