Folha do Norte: Suplemento, Arte, Literatura - 1946

\ • , . r·~----·-·· l • ---------~~ .... ...,.· , A Moderna Pintura Francesa Por Frank Elgar -1: notável o esfôrço realizado pelos pintores f r a n c e s e s no decurso dêstes últimos anos. A ocupação militar do pais não Ócasionou " esterilidade 'do pen– •amento e da sensibilidade fran- • Domingo, 6 de outubro de 1946 • , Diretor: PAULO MARAN'HAO ------- ----- - NUM. 13 ~4111H>419-o~>-o•••.,.,•-•o~)... ~ ceses. M u i t o p e l o conti-árlo, ...,..-_~)•- •o-•o---o•--0.-0Ga-u~~~o.e0~~~0 - u - ,~.-.-. .....,.,... • z quanto mais oprimidos se sen- j · 9 tiam os artistas.. tanto maior era ·• li'-, ,....-. r-,_ • a sua c~nfiança eni sí mesmos e i 1 Apesar das mais aviltantes - nq destino da Pátria. ! a a medidas e. fórmas de repressão, f _ 1 "'enhum . dêles se deixou ' abater,· ·j procurando mesmo renovar-se e i auperar-se. ·Tal fo~. 110 que pare- l ce. a divisa ••adotada pelos poé- f tas. romancistas, filó~o~os e pill- i 1ores da França oprun1da. ! GARCIA CANTAM OS MENINOS NA PRACINHA QUitTA ! ARRôlO CLARO. FONTE SERENA! a a r a c·1n· LORCA Tradução D.e Manuel Bandeira FONTE SERENA ! QUE SENTES NA BôCA VERMELHA· E SEDEN'l'A? • DA CANTIGA VELHA. OS l\lENINOS • -a , , • 1 Falsos Brasi– leirismo~ P0r A. TENóRlO D 'ALBU• QUER'OUE • (Da Academia Brasileira de Filologia) Há uma distinção a e:stabe- Iecer-se êntre brasileil'ismos e vocábulos que, embora cor– rentes no Rio Grande do Sul, procedem de outras línguas. É inadmissível sejam classi– fica<los de · brasileirismos, têr– mos que são, indisputávelmen– te argentinismos, vocábulos oriundos de quichua, do ara- ca,uapo, ou do castelhano. Tão só porque são palavras frequentes no Rio Grande do Sul e mais ou menos· ignora– das no restante Brasil, não basta para que S€ lhes dê a denom.inação de brasileiris– mos. Um vocábulo originário c-0 francês, porque seja cor rentí-0 no .Rio d,e Janeiro ou em São Paulo, nã-0 deixa de ser u1n ga.Jicismo parâ transformar-se em brasileirismo. O povo úa11cis não se enga- 1 nava ao manifestar g r a n d e ·i curiosidade e simpatia pelos u- • tistas que poderiam ser chama- 1 dos pioneiros da "Renovação da 1 Pintura pura". A maior parte déles conseguiu grande êxilo _OS MENINOS E VAIS MUITO LONGE DO MAR E DA TERRA? desde a libertação de nosso pais. • EU Isso porque estavam mais preo- 1 EU , - cupados em crlar uma tra~icão QUE TEM TEU DIVINO O SABOR DOS OSSOS do que em conservar a exIBten- CORAÇÃO DE FESTA? TODO SE ENCHEU DE LUZES te; aprenderam, assim, durante i F;U DA MINHA CAVEIRA. MEU CORAÇÃO DE SÊDA, . Por que, pois, essa teimosia condenável de alguns diciona- · 1 ristas, que taxam de brasilei– rismo, certos vocábulos que tran11pu:seram as fronteiras su– linas, que recebemos de ou– tras Hnguas ? .os anos sombrios da Ocupação, ·1 · E DE SINOS· PERDIDOS, militar, a concentrar-se, a medi- 1 .. OS MENINOS DE LIBIOS E DE ABELHAS, tar, a refazer sua alma. Não"'ºª UM DOBRAR DE SINOS . E IREI PARA BEM LONGE, devemos iludir : é ésse o único I PERDIDOS NA NÉVOA. BEBE A AGUA TRANQUILA ALÉM .DAQUELAS SERRAS, movimento inovador. vivaz eva- DA CANTIGA VELHA. IREI Al;,ÉM DOS MA~ES. Uoso, que se manifesta na píb- OS MENINOS ARRóIO CLARO, PRóXIMO DAS ESTRELAS, luxa francesa de hoje em dia. CÂNTANDO NOS DEIXAS FONTE SERENA! PARA PEDIR A CRISTO Procuramos, pois, explicá-lo 8 Qt/E ME DEVOL y A AQUELA ,uuá-lo. NA PRACINHA QUIÉTA POR QUE VAIS TÃO LONGE MINHA ALMA DE MENINO Após quinhentos anos de ador- A~IO CLARO, DA PRACINHA QUl'ÉTA? ' IMPREGNADA DE LENDAS, mecimento, a pintura france11a FONTE SERENA! COM O GORRINHO DE PLuM.AS acorda novamente. O século XIX EU E O SABRE DE MADEIRA termina vitoriosamente. O im- QUE TENS EM TUAS MÃÇ\S i DE PRIMAVERA ? • presslonismo lança a palavra de_ VOU EM BUSCA DE MAGOS OS MENDrOS • ordem: "ó prec~so1 Ubertar a vi- EU E DE PRINCESAS 1 ' • i são". Na realidade, poré1111, nada CANTAN-DO NOS DEIXAS • mais se fez do que pôr a, serviço UMA ROSA DE SANGUE OS MENINOS N_t1. PRACINHA QUIÉTA. 1 do velho naturalismo ('i,ópia da i ARRôIO CLARO, cl natureza, reprodução das apa- '1 E UMA AÇUCENA QUEM TE ENSINÓU 0 CAMINHO FONTE SERENA! _ :rências, expr&ssão de um estado OS MENINOS • DOS POÉTAS? _ d'alma) instrumentos mais aper- f AS PUPILAS ENORMES f leiçoadoa. Coube a Cézanne 8 - MOLHA-AS NA AGUA FRESCA EU - DAS ARVORES FRONDOSAS, i; bonra imperecível de haver dado I DA CANTIGA VELHA. FERIDAS PELO ~NTO, 1 novamente à pln,tura sua aigni• ! ARRôIO CLARO, A FONTE E O _J,.RRôIO -CHORAM AS FôLHAS MORTAS. 1 ficação puramente plástica, em J ~ . _ São falsos brasileirismos, são palavras que não poden1 continuar em&.meio daquelas que nos são proprias. Dispuse– mo-nos a escrever sôbre o as• sllllto, graças a frases incenti– vadoras do .1osso emin,ente e .prezadissimo amigo, dr. Levy Carneiro e a-os elementos c-0m que podemos contar. É oportuno ponderar gue meu pai, se bem que oficial brasileiro, nasceu no Paraguai, onde o Guaraní E.inda é língua,_ corrêrite, fâlada por todos. Mi– nha avó pate~na era de Cor– rientes (Argentina): Ade1nais o Espanhol língua pátria, tam– b.ém falava corrent~mente o Guarani, que é comuníssimo na Província de Corrientes ! Jl.1eu avô paterno era pernam– bucano, oficial brasileir o. Meu pai falava o Guarani 001!10 · o po_rtuguês. Con1 m.inha. avo e com núnhas tias, êle, na : e~trim~· e~nl:!:o~d~o~c~ar~át:'.e;:r~h~u~m~a~n~i~s~ta~~•:•==~~~~~~:1:1-~•~1 -~•:!•~•~•~-~•:1-~•~•:•~.,~-~" ~-:•~> .. :•'....:-:'.''~· :••~•~,,_1,,__.>......,,_~,,......,~..-.0..,.t.-. 4 ·,--.,..-,~~~~o.J t - _,. ~ ... , . Já traduzido em quase tõdas as Jínguas _.--~-•--- --~ sarticulava e se decompunha o mllndo. artifi- européias, e universalmente t'àmoso, o roman- 0 JORNAL DE CRÍTICA ' cia.l q11e procura erguer ao afastar-se de sua cista Jacob Wassermann começa. agora a ser raça. O seu equilíbrio como "alemão" fôra conhecido do público brasileiro. Um dos seus instável porque levanta.do sôbre um funda.- romances mais importantes e característicos, mento precário. Começa, então, a sua tr_aje- 0 processo _MauriJiUS, acaba de ser. editado ~o J b \ N · tória de retôrno. Vai regressando pouco · a Brasil em traduçao dos srs. Octav10 de Faria o -e- o •, , os s e·rmonn j pouéo, de cidade em cidade, de país em pa,is, e Adonias Filho (1) . Não se trata, assim, de , agor~ num sentido oposto : do ocidente para 1Jm Jançamento comum para aumentar a infla;.. 8 o oriente. Volta a. usar o verdadeiro nome; cão de traduções em que nos debatemos: o · i e quando Etzel Andergast enfrenta. em Bcr• Íivro que os dois romancista-s brasil eiros apre- (Especial para a. FOLIIA DO NORTE no EStado do Pará) i.! lim, vinte anos depois, o que êle julgava. a sentam agora em língua portuguesa é uma _ esfinge do caso Maurizius, aguêle que prestara obra-prima. do romance universal. ' E:l e enri- ,___,. ALVARO LINS _._,_..,.....,._,______. um falso juramento perante a Justiça_ para quece a nossa experiência humana, pelos seus condenar um nã,o-culpado do crime de assas• elementos psicológicos e sociológi:c-os, e enri- · exilado da Alemanha, porque era judeu. Os em-todos os aspectos, Waremme e Wasserma:nn sina.to , de que fqra testemunha e partjcipante quece a nossa experiência literária, pelos seus dois casos dão a chave para a -interpretação não estão rigorosa.mente identificados, pois um indireto, o homem que encontrava, velho e elementos artísticos e i1leológicos. Jacob Wlfll- -«'lo seu caso pessoal: como alemão, êle estava verdadeiro romancista nunca se coloca dentro devastado, já não era mais o alemão Wa.remme sermann pertence à categoria dos escritores jntegrado na parte meridional-ocidental, meio de uni só dos seus ·personagens, mas se pro- e sim o judeu Warschaurer. Explicando o seu que têm grandeza. E esta é uma característica latina, da . civilização alemã.; como judeu, es- jeta em todos êles como um criador que está destino, êle confessa que a e;r.:istência lhe fi– que nã.o se coloca na ordem da inteligência., tava exilado espiritualmente a.ntes mesmo do presente em tôdas as suas criaturas. Além cara dividida em quatro períodos : período do talento, de nenhuma qualidade puramente exilio. Desde o primeiro romance, Os judeus disto, Warschaurer-Waremme é um sêr diabó- judeu, período germano-cristã.o, período inter- · e~rebra.l. Ela decorre de uma zona sentimen- de Zirndorf, Wassermann lançou o problema lico, monstruoso, criminoso, figura central da nacional e aquêle presente para o qnl sug,eria tal ou emocional da própria natureza humana; que muitas Vl'Zes voltaria, sob fórmas diversas, cat-ástrofe de O processo Maurizius; o seu tipo o título de "período de volta". Há figuras .que são inteligentes até a geniali- nos seus outros livros : um problema ao mes- de ator demoníaco bem caberia na galeria de Antes de chegar a trilogia, de que O pro– dàde, mas destitnidas de grandeza no á.to cria- mo tempó pessoal e de tôda uma raca. De- Dostoievski, principalmente em Os i rmã os cesso Maurizius é a primeira parte, Jacob dor. Há analfabetos, por ' outro la.do , que se senvolve ali a história· dos judeus dá. aldeia Karamazov. Mas a. capacidade de roman- Wassermann escreveu vá.rios romances com transfiguram por esta capacidade .de grandeza franconia de Zirndorf, no século XVII, agita- cista de Wassermann fica evidente no gesto outras tendências e aspirações. Antes da. quando praticam os seus atos supremos COJJ?:O dos pelas promessas de um falsô messias, pre- de cria-r ~sse personagem, que está do lado do guerra de 1914, a sua obra mais importante foi homens. Quando acont_ece que no mesmo ser tendendo a abandonar a Europa e emigrar Mal, com o mesmo amôr com que c1-lou Etzel Gaspar Hause.r ou a inérc-fa d-0 coração (1908). coexistam a inteligência e a grandeza, com o para a Terra Santa; ' desiludidos. êles ficam .Andergast, que está do lado do Bem; e mais Passa-se ainda na Franconia e em Nurember.g ,. do~ da exp~essão art~stica - temos entã? o no "ghetto". Na segunda parte, com o am- ainda: no personagem demoníaco, êle colocou e trata do caso histórico de u.m enjeiia<nl, que artista .!luper,or, o _artISta completo, o artista biênte nos tempos modernos, o jovem judeu uma parte do seu próprio problema. pessoal, se suspeitava naquela época ser o filho repu– excepc1onal.. ll:ste e o caso _de Jacob Wasser- Agathon vence em si a estreiteza do judaísmo, aí ampliado e extremado ante as exigências dia.do de uma casa soberana, suspeita funda– m ann. il:Ie e da. raça; dos Nietzsche, _dos Tol_s- tornando-se homem da sua época, isto é : ale- da dramaticidade na ficção, e pela voz dêle montada no postei;ior assassinato de Gaspar to} e dos. :Oost?le'l;'slu, ~en~o que a mv_ocaç~o mão de 1897. ~te primeiro romance revelá. lançou muitas das suas próprias idéias, neg~- Hauser em circunstâucias misteriosas. Was– destes nomes sigrufica mtu,to de apro::iumaçao de 11 m lado O amôr de Wassermann às velhas ções, d6vidas e perplexidades naquêle longo sermann acredita na orí_gem principesca do e não de comparação. cidades e à civilização da Franconia, a sua discurso que Wa.remme profere· sôbrc a Justi- enjeita.do; acnsa aquêles tempos de "inércia Quase sempre, a ra.iz dessa, potencialidade eonfiánça na civilização moderna e européia, ça, quando esclarece o mistério do "caso Ma.u- do coração" pelo abandono covarde de. uma a que cha.ma.ll) _os grahdeza encontra-se num- e exprime, por outro lado, o seu messianismo rizius". Warschaurer era judeu, mas quis criança que estava talvez_ destinada a uma , dualismo. interior, num dilaceramento da alma, essencialmente judaico, a sua fé, com o brilh~ evadir-se da sua própria raça,. Despojou-_se grande missão, il:ste Hauser representa, como numa luta agônica nas trevas ~m busca de de uma luz· imemorial, num grande gesto de de tôdas. as exterioridades judaicas e procu- se vê, outra figur.i messiânica na galeria do 11ma solução de unidáde para üm problema redenção, Jacob Wassermann declarava-se ju- rou integrar-se, pelos estudos, idéias e liga- romancista. mas Wassermann já não acredita dividido em duas faces. Em Jacob Wasser- deu· e alemão ao mesmo tempo; no seu livro ções sentimentais, na mais pura cultura alemã. com a mesma firmeza na redenção do mtmdo ma.nn , a cri~ interior se constituía_ no dualis- autobiográfico Meu caminho como alemão e Mudou de nome : não é mais O judeu Wars- pelo messias. Responsabiliza, por isso, a nos– mo: cultura oriental-judaica e cu~ura ger- como jud-eu (1921) confessou as dificuld~des chaurer e sim O alemão Waremme. Uma nota sa civilização, que estaria assim degenera(fa. mano-cristã. Para harmonizá-las e undí-las, encontradas neste sentido, mas que · nã.o lhe sugestiva do ficcionista. é assinalar, a propô- Depois da guerra, uma outra fase se inicia na êle procurou conhecer e interpreta os seus pareciam, no-entanto, invencíveis. sito do roteiro do personagem, que êle foi si,la obra de artista com o romance Christian dois espíritos com uma ansiedade qu~ atingia Nem sempre, aliás, a. sua convi,cção se man- sempre se movimentando na direção de leste, Wa-hnscbaffe (1919) : apresenta. agora, uma às vezes ao desespêro. Fraeassou neste plano teve assim unifonnemente construida. e de- para oeste, de cidade em cidade, de país em tendência. nitidamente anti-individualista. O como ideólogo, mas essa mesma tentati\ra ma- senvolvi!)a. Na mocidade, em certo momento, país, como se estivesse a fugir do mnndÓ r, i.co e belo jovem Wabnschaffe reconhece · a lograda serviu para enriquecer o artista pela êle quis se afastar dos judeus para tornar-se oriental para O ocidenta1. Chegou assim a~s arte, o poder e o prazer como ídolos ; procura àialética de qlfe lançou mão para alcançar mais alemão; no fim da vida, desenvolveu Estados Unidos da Amética. Ainda a êste convivência com os "ofendidos e hnmllhados". uma finalidade possivelmente utópica em i,en- um movimento oposto, afastandp-se dos ale- respeito, Wa.remme interpreta wassermann : iJlste livro é visivelmente dostoievskiano, mar• tido absolutG. Criou-se· assim dentro dêle , mães para tornar-se mais judeu. De certo 36 impressões do personagem sôbre a civiliza.- eado, no entanto, por um humanitarismo ainda dramatização de um problema filosófico e modo, esta contradição interior marca drama- çã.o norte-americana _ nas quais se desta-Oa bastante vago, porque o seu autor nã.o conse– humano. Jacob Wassermann nasceu em 1813, ticamente 1ôda a fisionomia do personagem a página lancinante da "caça" a um negro guira fundir realmente o cristianismo da ten– e~ Fuerlh, perto de Nu.remberg, na Francf Warschaurer - Waremme, um a d a 9 grandes para linchamento _ são· as mesmas do roma.n- dência do romance e as tendências antes ma, uma das zonas de mais antiga civiliz3Cáo criações do mundo de fieção que é O processo cista que Já estivera em 1927. Nos Esta.dos nihilistas do seu herói– da Alemanha; morr!,lu em 1934, em Viena, Mauiizius. Certamente, tomando-se a figura Unidos, porém, Waremme sentiu que se de,, W Conclúe na 3. 3 .Pá&- • ,

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