Folha do Norte: Suplemento, Arte, Literatura - 1946
• • • • Domingo, 22 de setembro de 1948 FOLHA DO NORTE • • 3/' Página UI' Conclusão da ult. p.\g. .Embora seja um trabalho ge– ral, inclue nwnerosos gauchis– mos. À marge1n de "Alguns Bra– &lleirismus", por Augu sto D aisson, publicado em 1925. com prefácio de Zeferino Bt'a– -sl.L Vocabulârlo Gaucho, de Ro– que Callage, publicado em 1926. Vocabulário Sul Riogran– dense, por Luiz Carlos de Mo– rais, publicado em t935. Não podemos deixar de re– ferir-nos a "Dialeto Nacional", um livro em que Apolfnãt·lo P 6rto Alegre trabalhou de 1870 a 1900 e continúa iné- dito. Além dos livros acima, cum– pre citar vocabulários coloca– d os no final de algups livros, com9 os que si-encontram em ..O Galpão", de Darci Azam– b uja, o de "Querência", d-e Vielra Pires e outros. • BRASILEIRISMO ---·-- nuência plaüna no dinletô que f alamos é obra de insensatez desmedlmL, pois inúmeros vocábulos de corrente emprêgo &i está.o a atestai"'. Anteriormente, João Ribeiro, com a sua respeUabiliss.ima autoridade, declarara, referin– do-se ao livro de Romanguera Corrêa: " .. .é lncompar11velmen– te mais exato e com11leto que o de Oomya. e o de Ri.han m parte que se rc– fel'e aos espanholismos e vozes platen.ses que se ou– vem nas fronteiras meri– dionais do pais. E$ta. tn– fl uênl!ia., que resulta da convizlnha.nça das re_pú– bllco.s do Prata.. é assaz considerivel maiormen,te nôs têrmos especiais às indústrias de crlaçã.o". • (Conobuio ela 1.• página) •r -o ■■ o • 11 • o - n_ -o _ , (Revista Brasileira de Letras, n. 1, pág. 149). O dr. Boaventura Caviglia Ch) a quem jã tive o prazer de relerlr-me, escreveu : "'Ell Brasil cuyo léxico riogra,nden– se, gaucho, es en maxima par– te platino. . " (Boletim de Fi– lologia, tomo m. ns. 13 e 14, pág. 7) :t enorme no léxleo do Rio Grande do Sul, a influência do castelhano. Farto foi, tam– bém, o número de argenii.pis– mos ( 1) acolhidos no Estado sulino. Não é de surpreender, tal .fenômeno, que se nos apre– senta como assaz natural. A civili:ta~o desenvolveu– se com anterioridade, na pro– vlncla argentina de Comen– tes. que é Jfndeira com o R io Grande do Sul e na de Entre Rtos, (Jl.le lhe fica próxima, de sorte que quando se iniciou a ' r..or~.,..0.:,0,-...0,-~~ eolonização do nosl!O Estado sulino, foi considerável a in– fluência corrienlina e enlrer- 1·iana, facilttada p e Ia vizi– nhança, ao passo que a me- ti:ópole estava a mUbat•es de qw1õmetros, e grande era a d-eficiência d e lranspor«!$, além do mais rudimentar e os existeu f.es. A compp>var a influêncla argentina, ad~ais da existên– cia de argenUnismos, te~nos os hábitos, as atividades, os mo– dos de vestir. que são idênli– cos, sobretudo na frqnteira, o que observamos -pessoalmente. Os costumes de Sii.o Borja, por exemplo, assemPlham-se mais aos de São Tomé, cidade argentina que lhe fica quase em frente. no que aos ctô R lo e de São Paulo, de Curitiba ou de outra capital nosi1a. Houve poderosa influência do g a II e b o do concentrado principalmente nas províncias arg~~inas de Corrientes e de Entre Rios e do \l'ruguai, so– bret udo da região banhada pelo Tio do mesmo nome. O gaudló argentino e o uru– gual-o eram iguais (2). T-enho o praze.r de conb.e{:er a Ar– gentina , inclusivé as Provín– cias de Corrienles e de Entre Rios - minha avó er<1 corrien– tlna - e já tive a satisfação O, Co.11c.lusão da LII ~ • - a - •-• -V -t; ■ 1,1 _ ,, _ u. _ 11 _ • · •• n-~.....,l- tl _ t_ __ ·- HAVELOCK. ELLIS E A ESPANHA _____ ..,_ das ilustrações do aupa de pigmentação de Deuiker, a gente de tipo pardo seja ~ nos de 30 por cento da popu– lação". (página 35). Recqrda a velna observação de Taclto sôbre a côr escura e o cabelo crêspo dos espanhóis para em seguida destacar a caract.eri– zação da cõt das mulher!!$ de Malag;t admiradas por GatJ– tier: ''palidez de ouro". E acredita podermos eneonlrar n0$ qUQdros de 'MurUo e. até certo ponto. 110s de Zurbaran, "os principais tipos antropo– lógicos da Espanha" (página 36). entre os quais a,s predo– inináncias de eôr seriam aque- 1,ls. exemplo> que letnbram n,ovl– mentos de mullteres Ogowe (a!rica~as) e o próprio "cará– lt>r especial d.o modo de andar da mulher espanhola" (pãg10t1 72-) . AU~. no modo de .anclllr, como noutros caracle,rístiéQs, a muU1er es_panhola pa1:ece aa antropologista inglês superior à da Ingiatel'l"ll ou da A.tnéri– ca (pãgtna 73). No m<>do de sentar-se, também. Em Sevi• lhn. as mulheres do pqvo pa– recem sentar-se ele um modo ao mesmo tempo ca!n,o e re– pousado, ~ sem languidês, que lembra "o de madonas bisantinas" (pãg1na '13l. Devemos referir-nos a lexi– ~logos estrangeiros, que es- 41.rdaram o vocabulário rio– grandense, entre os quais sobressâem : D. Eleutério Tis– cornia (argentino), dr. Adol– fo Ferro Garcia (uruguaio) , Tito Saubtdet (argen tino), dr. A ugusto Malaret (portorrique– tnho), Daniecl Granada (uru– guaio), dr. Lisandro Segovla (argentino) , dr. Byenaventura Cáviglia (uruguaio), dr. Car– tas Mae(tinez Vigil (uruguaio), dr. Washington Be:rmúde,; (uruguaio) , dr. Justo P. Saen (at"gentino) . Classificação Do Conto Popular S S de visitar o Rio Grande do Sul diversas vezes. de sorte que escrevemqs eôbre o que observamos e não sõbre o que É' que par1.. Ellis "Uie la.nd of Spain and the phy&ical traits of Spnniards lead us back lo Afrlca'' (página 36). E o mglês que 0$Creveu o su– gesUvo estudo de antroppJo– gia que é "A Siuçly oí British Genius" aalienta, baseado nas lntorm:u~õeJ. de PIOS'$ e Bar– tels em trabalho clá(!sico sôbre a mulber - ''Dru; Wefb" - que as rmrtieularidadei; de (órma de seio da mulher es– panl}ola - pad.icularidades que se encontram também na mulher ciciliana - lembram os cat-acte~isticos de seio ~a mulher ne~a d;a Africa (pá~i– mi 70). També,u o qu-e êle denomina "saddte pack" da mulher esi;>anhola e que, em casos extremos, lnclue certa simulação <,U comêço de fõr• ma de nádegas tornada famo– sa ua, antropologia e na afl,e p~lo tipo de Venus Hotent.ote. prende-se ao chamado "lordo– sis" do corpo do negro africa– no estudado, de m,odo geral. entre várias t;n:õus da Africa, por G. Friths,ch e, partloular– '1:l:C!n:ie. entre as mulheres Ka– byle, -por Hartmann. A "pe– culiaridades anatômicas" antes atrieanas que européias. asso– ci:a Ellis certos movime;nllOS de antigas dan1;as espanholas \ O v e lho "culeando". por Revolt.a-se Eltis corilra o coslume, out,rora d'Ol'Tllh:tnle na Es~anha, d.'lS mulheres {>to<:urarem esconder a "p.11 l– dez de ouro" de sua cor ei;– cura e, ao seu vêr, "p('rteifa•·. de péle, com rou~e ou pós. Mas éle própr[O pare<'e attrurr com o motivo social de t.ais sittlulações ou a.ti CJclos: o Lato de, com o. reconquista cristã (que .foi, atê certQ ponto na península hispanico. uma ,n– lór-ia da Europa sõbre a 1úr1- ca) ter se tornado a pé!e alva sinal de orígem nrisl.ocrút.J.ca. Não se refe.i·e Ellls no seu en– saio sôbre a Es.panhn ao cará– f er euro-peu e como que n.ór :– tfico da reconquista c.rlsti.i. na península, por mitn s11ge1•l<;lo há anos; llUlS nã 1.1.r/l lrabalho seu, Studles in t he Psycbott1gy of Sex, vol IV (S('xu~l St"lec– tion lrt l\1"11,n) em que. estudan– do o ideal eul'Opeu da belez:a. procura traçar a híslórht com-0 que SOÇial dê$$e ideal. consi– derando, ao 1nesn10 tempo. as modificações naclor,nis por éle sorridas. Niio lhe pma des– percebido a excessiva impor– tância das mulheres .ruivas ou louras ,na literaLurà espannolà - ao meu vê~. 1,enex:o da mís– tica de rl;IÇ!I dese-nvolvida pela reconquista c;.riS'lã com sua idealização de nnjos louros \! sua identificação d e' mouros, negros e judeus com os inimi– gos ''naturais" de Cristo. [NFLmNCIA ESTRAN'GEl– BA. NO VOCAB'CJLAlUO RIOGRllNJ),ENSE Apontamos, aci.Jna, v:irios livros, alguns dos quais mere– .c:edores de e.ncômios 1 com co– l etãneas de vocábuloi; corren– ti,os no Rio Grande do Sul. Desconhecem.os, poréro, a existência de meticulosos es• '1.rdos filológicos sôbre o as– s unto, de t,rabalhos lexicoló– glcos. d e investigação acêl"ca da origem àas peculiaridades da linguagem do Rto Grartde do Sul, da origem dos seus v ocábulos, de suas translor– m açÕes semânticas e da in– fluência das linguas estrangei– ias, etc.. E é indiscutível, a influên– cia de idioma estrangeiros •na !linguagem do Rio Grande do Sul l,uiz Carlos de Morais, na apresenta~ão do seu !.ão pres– t,anle "Vocabulário Sul Rio– gr-a11dense, escreveu : "Querer-se negar a ln- --~ menari06 ; Libro de los Ejem– p)os del Conde Lu.canor y de Patronlo, por dom Juan Ma– nuel, The Exempla of J acqu.es de \ri try, etc.. Contos de anhna.is : - P'ã– bulas, Animal Tales. Anlmal Sto:rles, Co11tos r-el~osos : - ReU– g ious Ta1es, Ji-5abt.L de Argo- 111. Presença ou Inter-!etéucla divina característica. Não se localiza como a Lenda. Con1mi eticnol6gicos : - Ex– plicam -a origem de um aspec– to. fónna, bábiito, dlsposlção de um an.im.i.l, vegetal. mine– ral. A Solha {Solea brasilien– s is) ficou com a booa torta por ter zombado de Nossa Se– nhora, Tales o.r Origm, segun– do S eá n O' Su.illeahbam; Attologisctien Motive. de Leh– mann-Ni t.sche. Oont~ de advinha~ão : - Ridd1ee Tales. Rat~elmarchen, Ji-nongonong-o angoes. C o n tos acumulativos : - Cwnulaiive Ta 1 e s. Formula Tales. Tales a r r a n g e d iD chalns. Contos em que os epl– sócllos são sucesslvamenfe eu– cadeados. Fases temãticas ~~~~ consecutivamente art.iculadás. Ketten-Marchen.. Inclúo n esta secção os Contos-sem-Fim e os Trava-Unguas, Eucless Ta– les, Unfinisheli Tales, Cuentos de nunca acabar. Faceclas : - Faceliae, Ane– dotas, Jokc:;s. Schwank, Con– h:a.favore, Merry Tales, Mer– rie Jests, Patranha "de rir e folgar". A Patranha de Juan Timoneda (sec. XVI) confun– dindo-se com a Novela. o E1cemplo, a Rondalle, não pà– re~ merecer o no.me . Natureza- denunciante : - O at,o crl'rni'noso é revelado pela denúncia de ra~. pedras, flôtes. frutos. aves. animais Virgílio, Eneida, m, 22. Oví– dio, Metamorfoses, XI, IV. Grous de Ibicos. ML-780 de Aarne-Thompson, XVI de Síl– vio Romero, 27 de Teófilo Braga, Oemônio logrado : - Ciclo em que o Demônio é seO'l/pre vencido pela astúcia do ho– mem ou da mulher com ou sem inlervenc;ão divina. Ciclo da morte : - I ntervem a Morte, aliada ou inimiga, inevttavelmente vitoriosa. ouvimos dizer. (1) - O dr. .rosê de Sã Nunes, f i161ogo cuja erudição não ê de mlstêr ressaUar. MSlm d efine bnull.l.elrl.&1110 : • ,g a mandra de eX'()Timlr i>t>t'tlliar e estranha ao falar português", (A Lingua VernAculn. (.ª série, pág, 20l). (1) - Em tômo da de:tlntçâo de u11•nllnt,mo J;Tã dlscord.âncla entre o~ autores argenUnOll. La~ iaro Scbalhma.n, num excelente livro "Colóqu.los sõbre el Len– guaje Argenl.:lno", disc;orreu lon• ga e erudltal)'ente 1ôbre o as• sunto, da págl.nll ~2 a 28. ~le apresentou -a seguinte defin!ç;lo : "Vocablo, to c uc l 6 n, giro, acepci6n, o modo d ~ hnb~r pro– pno de los argentinos'', (Op. c:it. pãg. 13) . (2) - Luiz e. Pinto, vffmt'nte patriota argentino e brilhante filólogo, de quem me !iz amigo. etp Buenos Alru, escreveu : "EsplrUualmente argentinos y orientales no formamos sino una patria, y mucho máa con rce!e– rencia ol gaucho ! orqueUpo ra– cial de ambas naclonalldades". ("El gaucho y sus Oetrocton!S". pág. 13) . (Con<:lusâO da l'.lltlnta Pll.-Ilna) AUTO -R ETRATO MARTIN DU DE ROGER GARD ....... do !líbio superior. enquanto o l.âbío Inferior, carnudo. cafa mo– temente: o qu~bc:o dlvidfa-se em dois montes de banha. A tmper– tinêncla, algo pesada do nariz, a lranta. m.its fina dos olhos da– vam-lhe à fls1onomla uma ex– pressão bonam,~. que desagradava à primeira vista. Desagradaria mais, se não fôsse pelo bonomia geral do~ tra,:0$, particularmen– te da. bôe.i e. sem o. exfl~O do oJlmr , qu" po~ul~ uu1.t1 do– çura bastante pessoal''. O relrato é caric:ito. mils ex;– Lo, ao que pa1•ece, pois o herõl dêste primeiro roll'Ulrtce <te R'>– ger Martin du ..Garo é a lm.1gt'm "irônica'' de seu autor... qwll– do .íóvem Eu não perdi o hábito infantil de achar q11e u coii;as extraoroinárias existem nos hori:i:on– ~ e além, no .infinito. Percot:TO distâncias 'assombrosas esperando encontrar ao longe, oas terras ainda não alcançadas, o mundo mis– terioso, nunca entrevislo, apenas imaginado. P enso que onde estou, o l11gar que ocupo, é o b orizonte longinquo de meu outro irmão, que illlmbém sonda o inli.nito e o l>usca. f!le an– se,ia pelo cbão que piso, teri.i tecunda. de ár– vores altaneiras e céu azul. E eu perscruto o Clempo e as distâncias, desejando o recanlo & tido que o outro irmão prep,ara e cultiva. • que jamais terei. RESSUREIÇÃO E VIDA do SóL Ninguém. la para o colégio. a pasta íicava enc.Q$fada a um la-do, e os livros dflr– rnlam seu sôno sem serem molestados. As ch!c:aras inglesas, muito alvos, estava,n colo– cadas em n-ossos luga res, o bule d!! leite ru– maçava no een.tro da mesa, e ali, no pequPna sala h;,,via um modesto con(õrto, entre a:s pa– redes que nos abr1ga.vam FtoJ'? nadn mate existe dessa calma votuptnosa de a•Jlrora. rl.'1 sllêncio bom e carinhoso que a todos e nvolvla . O homem de agora chora a peque1u1 re4icl– dade perdida, que se gravou para sernpre e-m 'XXX A todos vós que amastes e não :tõstes ama– doe-; a todos vós que amais e não sois amados; 1 111. todos vós que haveis -de amar e não sere:is a.-.a<los, eu dedico esta pequena mensagem. Se' an1astes com ês.o;e fervor tão grande, que– irnassacra a vontade, é por que fizestes do amôr o primeiro e último sina l da razão de viver. Não vos envergonheis dêsse imenso aféto. R ecordai que homens maiores do que vós pela inteligência, pelo poder, pela sabedoria, tam– bém cairaru por êsse declive de oode se vêem os astros luminosos. Seí que é lriste conhecer que a vida vos passa, vida únlca para um úni– có amôr, sem lerdes a O])Ortunidade de vivê• lo. tal como pede insaciavelmente. o vosso sêr. ~ a tragédia humana: Amar, amar só uma vez, e vêr a vida escoando-se aos poucos em d ell(i$pêro. Vós que sois tão grandes, filhos da nalureui, tendes sêde diante do Mar. Vós que sois tão fortes, filhos de heróis, morreis sem lula.-. Em vosi;a alma se a h r e um vácun onde &6 encontram pouso lentos pá.ssaros noslált,'icos. S abeis que a vida não é mal ,; para vó,,, co ra– ções de ouro, corações jnfiamados, que se sen{em perdidos, por lhes ser negado o único ialimeulo, o Amõr. Passais a viver assim, de– mguais, murchos, desolados pela lraic;ão do d estino. Por que, para vós, um únl<:o A1nôr e 111!1-:J- lfnica Vida para gozá-lo ? E le;ides concienc1a do malôgro, sentis êste último de– sei;perançado passo. E o corpo, a alma e a d ôr curvam-se e aguardam o prenúncio da Morte..• Quereis saber onde encontrar a fôrça par~ espan~r êsses _lentos pássaros noi,"1âlgicos 'l Quereu1 substliwr êsse amõr, por outro maior, tru,enclvel e eterno ? Vassa esperariça será &Ubstíluida por outra mais alta, Encontrareis &se,amõr em Deus : Inclinai meu coração iu ,..._o - i, ■n D_ o_ a_ , _ 0_ 11 _ 0_• CtCIL MEIRA •- r. - ci • n- n ■ ■■ a - o _n_ a,-. palavras de vossa bôca; nele penetre, qual orvalho. o vosli-0 disettrso, XXJt Na plenitude de minha adolescência muitas vezes safa em longas cam.l.nhadas, sem destino. Procurava os campos verdejantes, coberto de flõres silvestres, e p enetrava na densa floresta, absolutamente •sm:inho. Quem já conheceu mais de leitosos momentos, mRis fesijva ale– gria, do gue êstes ern que divagamos, no seio da natureza ? A cada instante um mistério se re\'ela, panoramas novos se descort.ina1n e a pa,iságem Inteira reflete o ambiente de ~e– nidade e paz que há em lôdas as cois:'IS. O passeante se inebria com a sua solilude, oo enigmas da floresta se infiltram por toda a sua aln1a, e êle ouve o leve sussuro das fôlhas das árvores baiidas pelo vento. o canto suave das cigarras selvagens, o piar dos passarlnboo ain:la mal em.plumados. Arvores esbelt as co– loca1n-se ao lado de oatr~s dobradas e tortuo– sas, cipós em flôr enran1am os troncos nodo• sos; e procura-se o céu e êle não mais existe, frondejado sôbre minha cabeça pela.s folhas multicóres, galharias enlrelaçadas, o,quideas de raizes presas amorosamente, tudo forman– do um copado imenso de perder de "ista E eu caminhava sentindo em Loda a natu– reza uma revelação :;.iJ.1gPla do poder ª" Deus. perscrutando nas grandes e nas pequeninas coisas um símbolo t:>tal, inen.arrá•,el , âos irans<:endentes poderes celestiais. Ia só, sem outro sinal ao meu lado, além, senão a cerleza d~ uma vaga inquietação, oomo se meu coraç~n pressentisse em minha presenca wn sacrilégio üs leis suaves da natu– reza. Havia dentro mn mim um temor inven– clvcl, como a lguém que penetrasse num sacrá– ri_?, ou em um lugar proibido. A im.agina.ção nao m(' ()eI'd'oava e sentia 05 meus pés tocando o chão recoberto de fôlhas s~. a vjolação de ums terr-.i i.ma ,culada, vi :rgi.n.al , destinada som-ente 8-06 sacrifícios das dlvindades das floreslas. Sons curi0$os, ininteligíveis des– ciam da. ramagem. das árvor es, ruídos •estra– nhos e pet'turbadores corriam pela mataria a16ra, e os grandes madeiros, sacudidos pelos ventos, ra.ngiam doloro.samenle em tõrno de mim. Vozes singulares pareciam vlr ao meu encalço, :fala,lldo aos meus ouvidos, procuran– do.._ revelar à minha alma os .sorlilégios dos bosques, a vida Inteir.i que corria no lenho daquêles colossos. Mas o en<:antrunenlo não durava muito. Abria-se, através da m11tn, unu, clareira, e o sól. alviçnreiro e quenle, bordava alegtes imagens pelo ciião. Era o mi&térlo da floresta vencl(iO por aquêle ar<ior guerreh~ do s61, sua :té brilhante, seu enLU$it1smo co– rarulo todos os objélos da creação. Meus pen– samento_s iniimos, penumbrados ' pe]a paisagem que deLura. transformav.im- se em vivazes verbenas, asas transparentes vollland-0 para o céu infinito. fmagens de sombras e im;1ge-ns de luz. Minha alma é. assitn como vós, claro sól em límpido cé u azul, morno cl:1rão pres– sentindo a aurora. e sombras incertas <tt.te va– gueiam nos fundos dos bosques.. XXX F.u sou c~mo o herói de cém batolhas, que conhece a força de seu braço e ,ll fitmezn de• seu próprio corar:ão. Em vão lutas, mlnh:i querida, em vão reacendes tua alma nas cha– mas de teu orgulho Sabes yue a calma e xis– te • m todo o meu sêr. e meu esplr1t() redobrn dia a dia de se ren iclade. Pódes descer -e su– bir, morder os lábios, calar-te. subsütulr meu c.~:n·,u;.1o por ou tr .:,s c,1rações. E eu não ie prendo, dou-te a Hberdade que desejas; mas bás de oscilar, vacilante. e perdida, para com– preen_deres. que todas os t~us esfru:sos serão inúteis. V1vas só ou no rumo de nul adora.do– res, e assim mesmo estarás triste. É rnu.ito diiicil esquecer alguém que nos enéhe a vida. Pede à tua imaginação para descobrir todos os <'8prichos para me fazer mal, as vingauc;as que o teu (1l'guU10 pressente. F.u f ieare.i te esperando como o lago sereno espera o 11líi• eido luar depois da le.mpestu.<Je. XXX: Hoje a minha cidade amanheceu tl'la, cheia de nê,oa-s'. As paredes das cas:;,s estão rno– Jhadas da chuva noturna. E eu me recorde{ de mu,ha lnfãncia, dos dias felizes que l!ram P8.l'a ~ essas rnn•nhãs fr[r,rentas. sern hr Ilho sua memória. • As recordações da inláncia tellz são os pre– ci~ lesouros de minha Mocidade. ,XX'!( /\quela mulher bela. d e m.ãos cla ras e de– do.,,; fl.nos, esc1·evia o que o poét.;i co1npunba. Ela sorria Jcvcmeni.e. Adntlrav:i-i<e cln rn:~– gico !)Oder daquêle homen1, que tão hetl} hor– mo.:tizava seus r:r.:-.1samenlos As palnv1·<1s eram Leves, como se f.ôS$em frUtos de uma plaLtr. delicada, corno se su.ns idéjas tôsse-rn rrv!!l8tões De onde lhe vinha êsse poder transcendente, essa abstràçáo que n d.ish ut– c-iava do ambiente e ilumil1ava S'\.18 I,-,;nte de u111 lenuiSino halo de 11.12;? Ela o,1r .av"1 à J,111- r1ndo-.:he o brilho dos olhos. perscrnran.!o JlUl alinA_ tentando encon tr a r nnquêl" homen1 HIil desü•10 irreal e elerno da hu1nanidacle 1nl,,•ira. 'lllle abi.;.mava-se em seus levanelos e !':lp:da– menle ns palavnis lhe vinham oo, láhlos e resso...vom na sola. As 'p.;,redes re!'.etia1n Q'-'• cetnente a luz peni,mbrada O T'Oéfa ditava: . Vem, 11am ciur saibas ao 01eu ladn, rl e meus olhos, de me11S l ã.blos. os segredos da ViJn.. Inclina. tua c:.beca e ouve o br.llltlo Stlli3nro de minha voz. Sentirás nela Ruavrs 1,romrs– sas e o oolor da vld11 de tÔÍlos os hotnt'ns. F..nconlrRrás cm minhas mios a ca.riçia que Inebria e conduz aos e.:U$. Qur.to q ue ••!10- 1\'Ul'~ ben1 perio de mim. a t! tt'll cnrpo 11rr 11- d.er •st l\o meu. Quando eu me c-annr de évn– hir-tc lodos os mistirios que me l'Qr,un r eve– lados, r ettousarei minha fronte enmti!l i>m teus brandos selos. Ai eu rn.- reno7,u r i e iua ró'lt'a carne m.e :i.nunrlará C3rícias 1lest,lnh••– >!ldos. Eu adormecereJ 1.ranquilo en, teu5 '>ra- 410s. Sonharei contigo ns realWad,.s i~uc c11 nã.o a.lOll.Jl(O. Tü me vems sorrindo. 1nl11h~ fr o"te se deS!\lluvturá, meu r osto rest1,l1t11de• cer;.. sob a 11111 d.e tew. 011101 . li1le parou. Mandou que ela r,,lQ,f:1:iiie riHt• cênclas. A ínsp' nu;ii o t'onUnua ria (Excerptoe de IIDl livr.o)
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