Folha do Norte: Suplemento, Arte, Literatura - 1946

• Sábado. 7 de setembro de 19(6 . O modernismo 1evE os seus precurso1·es. Con10 todo mo– v imento artístico, antes, mesmo, que os seus princípios esté– ticos começassem a ser .formulados e divulgados, as ncwas t endências que iriam revolucionar a lileratura contemporânea j á se n1aniiestavam. velada ou disfarçadamente, nas obras de al,E{uns poélas que apareceram nos últimos anos do século XIX e nos primeiros do século XX. Individualidades forles e orl– girulis que não 1,e conformavam completamenle com as escol:is a q_ue pareciam pertencer, mostraram-se independentes e. ain– da em pleno domínio parnaslano e simbolista. foram capazes de pressentir a renovação literária que se aproximava. Em toda parte surgiram êsses pré-modernistas. P ortligal também os teve. E, entre os não conformistas e Inovadores do pré-– modernismo português ressalta o no.rne do poéta Anlônlo F eijó. António Feijó, embora tenh:; participado do Parnasianis– m o e do Simbolismo, conseguiu permanecer um poéta livre, cuja criação foi. antes de tudo, um esfôrço de afirmacão pes– soal Antônio Feii6 ficou a salvo de uma adesão irrestrita a uma daquelas escolas, tendo sofrido. porém, delas duas in– fluên cias atenuadas e, multas vezes, benéficas. Esteve êle tanto com o Parnasianismo como com o Simbolismo. vitorio– sos à sua época, sen1 que, na verdade, tenha se filiado incon– dlcionaln1ente a um ou a outro. Contra o v ersilibrismo dos d e-cad en tes e os artificias melódicos de Eugênio de Ca!:tro e d os t\efelibatas, protegeu-o do gôsto pelos n1etros e pelos rit– m os tradicionais que o Parnasianismo cultivava; a necessi– dade de expressão, o desejo da transmissão fíél do pensamento • l)Oéhco. preveniu-o contra a clareza vulgar e sim-plicidade l ógica dos pamasianos, obrigando-o a aceita, certas fórmas va– gas e difusas dos wnbollstas, que se?viam para tradu zir, supe– r iormente, os delicadc,s e evanescentes estados da alma, for– n ecendo-lhe uma linguagem rica e apropriada. Não foi êle, por(anlo. nem i~tPg:rahnente pa-rnasíano nem integrnhl'l ente simbolista. A Feijó, poéta confidencial e intimista, entregue ao d·evaneio e ao :;o.'11'.lo. · não satisfazia a retórics descritiva e d ecorativa· dos pr1m.Piros; a Feijó, apaixonado pelos rf1rnos grav es e precisos, repugnava a incoerência métrica e a exces• s!v<" variedade musi.:.lJ d<'r segu.ndos Antômo FeiJó foi o poéta da no,tnlgla da pát ria . Fr,L o q ue cantou em longos lates o seu lar e em terras alheias e P<•~ 1; :• estranhos a saa ti>rra e o seu Jlo\·o. A pai-sagc-m inl– n hota, em q ue nascera e crescera., é evocada por êle CQID aquela ternura e con1 aquela melancolia "do homem afastad? d o seu sólo nataL Foi o poéta do Lima, de águas claras e r umorosas. correndo enlre .os bosques un1.brosos e os laranjais floridos onde passa.-:l a su'ã dôce in!áncia. Cantos de exilado, são :i.Iguns dos seus m1:1is con1oventes poemas. O saudosismo, n um bo1n e sadio sentido, é o motivo criador dessa poesia Yocacão Para Cronista .:, PERí AUGUSTO FOLHA DO NORTE Escritores portuguêser. Contemporâneot. F . PAULO MENDES bucólica de um homem que a sua terra marcou para sempre e que viveu preso à lemurança dela. Mas. a inspira~ão de António Feijó não se alimentou so– mente da saudade e da nostalgia da pátda. t:le também tra– tou os grandes e eternos temas que inspiraram os poetas de todos os tempos : a V ida, a .'\.legria, a Beleza, o Amõr, a Dôr, a Solidão e 11. l\l[orte. O Amôr e a Dõr acima de tudo. Se êle glorificou a beleza, da qual se dizia sentir inteiramente preso, escravisado : "Trago-te dentro de mim, sinto-te a cada Instante 1" , e a alegria , a quetn dedicou um hino triunfal, foi , no entanto, a dôr que os seus versos mais veneraram. É a dôr que valoriza a vida, é ela que desi,erta em nós tódos as extraordinátias e h,eroicas virludes que nos enobrecem, e a própria bel~za se tórma nela, faz-se .à custa da experiência do sofrimento: - "A d6r, na alma do artista, é como um d.oro celeste, Que lhe ornamenla a vid a e se expande em béleza" . Só a dôr é origem de verdadeira alegria, de uma alegriá h umana e cheia de piedade. Alegria sem dór é alegria im– perfeita, é alegria inhumana: "Lábio, que só bebeu na fonte da Alegria É frio, como o olhar de quem nunca chorou". S ó a dôr, para nós. homens feitos para ela, é criado1•a e santa. '"f oda a alegr1a é vã, diz o poéta. Sim, tod.11 a alegria é vã para q uem sabe que a "Alegr ia perfeita é uma aurora tão curta que mal' chega a dourar as cortinas do bêrço". Contudo. o nosso pobre destino é correr loucamente atrás dessa cousa vã e efêmera que se chama Afegria .,. E, tendo cantado a dôr, êl e cantou o amôr. A sua voz tomou, entã o, uma ressonância profunda e magnifica. Poéta da dôr e do an1ôr, eis o que êle foi. Serviria p.ira epígrafe dos seus poemas aquela inscrição que se encontra na !achada da igreja de Santa Maria della Passlone, em ?.'filão : "Amorl el Dolori sacrum". Consagratlo ao Amõr e à Dôr. E, com a dõr e o ainôr, António Feijó falou, também, da mort~, Não a morte que destrói e aniquila, mas U!Jla morte que é, para o poéta, o "re.fluico da vida". A sua concepção da morte aproxúna-se, asrun, da dos grandes místicos. A n1orte é, apenas, a outra face da vida. Um homem do fei\lo moral de Antônio Feijó. que e1ta1ta a .!lõr e a cons.idera a única realidade perdurâvel, que· a valo– riza ao ponto de afirmar que é ela que dã um sentido dignifi– canle à vida, Unh:-1 que ser, natuTalmente, um pessimista. Porisso a sua poesia vem cheia (ie um violento despreiro pelo saber bltmano. Ai;rE:Sentava-se diante dêie, in1pe11etrável e fascinador. para inqnietá-lo e atrai-lo, aquilo • s.« Págtnã escolas que regiam a pucsia nos prlnc(_pios dêst,e séctúo M ,,, o seu lndividualls1110 e o seu lrabalho para encon ll'IU' uma f.órma adequada para sua poesia manlív~11m-no inde11ende11te, poéta isolado, como observou José Régio, e, portant,o, or11:L– naUssímo. l.\<fodernist.a antes do mode.rnismo, pois a sua poesi a muitas cousas novas oferecia. Os tem~ da dôr, da alégria, do amõr. da solidão e da morte. éte os tratou eorn um.a mo– dernidade tiio frisaute, com uma atllude filosútica tão estta– nha a do seu tempo, que já era um claro prenúncio do que seri.i a vida in terior dos poét.as de agora. A sua luta pela expressão já era, também, uma das primeiras tentatlvas em Po~tugal, para a criação da linguagem poética dos nossos dias. E é por causa désse seu pressenlimento mode.mista que hoje o seu nome é reverenciado e amado pelos moços, que vêem nele. como vêem em Antônio Nobre, Gomes Leal, Eugênio de Castro e Cesário Verô.e, ·um dos precursores das transforma– ções revoltl.Cionãrias da poesia portuguesa comten1porãnea. Antônio Feijó foi um poéla de t ransição. Poéta dos tem– pos velhos para os tempos novos. l\las. cousa rara, situado - entre poétas de transição, não foi. como êsses costumam ser, unl poéta menor. Antônio Feijó foi um gra,nde poéta. A sua voz .ficou, para sempre, coipo uma das vozes que souberam cantar. na sua pátria, do modo n,als eloquente os temas quo encer-ram os mistérios da existência humana. E, tanto quonlh Maurlce Barres, êle sentiu que ''la mort el la volupté, la dou– leur et J 'amour s'appellent les unes les autres dans nolro imaginaUon", E a ctt.r, o amôr e a morte teceram, na ln1ag,. nação de Antônio Feijó, os mais puros e mais belos versos -iue êle escre1teu. SONETO 11,,Iorreu. Deitada no caixão estreito, P álida e loira, muito loira e fria, O seu lál>io trlstissimo sorria · Con10 t1'11m. sonho v irginal desfeito. - Llrlo -iue murcha ao despontar do dla, Foi descaru:ar no derradeiro leito, As mãos de neve erguidas sôbre o peito, Pálida e loira, muito loira e Cria••• Tinha a eôr da rainha das baladas E das mon1as a(\tigas maceradas, ' No pequeuloo esquife em que dormia , , , Levou a morte na sua garra adunca 1 E eu nwt<'a mais pude esquecê-la, nunca f Pálida e loira, mu\ta loira e fria ... • - OBRAS :~ana[iguraçÕff (1882); L lrlcu a B11cóllcaa ( IB84) : 6 Janela do Ocidente ( 1385►: Ilha dos a.mõrel (111!17): ~ c io• nelro Chlnh (1903) . (OoncJusão da 1.• paf. l O TEATRO DE JEAN ANOUILH f orte que o . passado e :icaba por tri unfa,r. Bem analiza~s, essas tragé– dias ou essas comédias con– têm mais que a simples aca– reação do homem com o seu passado. Porque o passago não é, a mais das vezes, senão o símbolo da vida burguêsa com tódas as suas torpezas , vicios e falhas morais. Uo1a inLensa preocupação de pure– za allige os seus heróis, ávi- dos ~e !ehcidade e de verda– deiro amôr. E essa necessida- A crônJca é um gênero literá– rio d.ilicil Mais diticll do que o romance, o conto e o clássico sonêto metr-1.ficado com chave ele Ol,lro. Tão dltlcll a crônica que. etnbora cultivada desde o descobrimento do no;;so paJs, 1omente no principio desse sé– culo. com o aparecimento de Al– varo Moreira. velu consegulr"um l ugar definitivo na llleratu:ra na– cional. O criador ·de "A vida ê de cabeça pra baLxo", esse ad– mlravel ~doublê" de poéta e fi– losofo gaúcho, foi na realidade o nosso primeiro cronista. De– pois surgiu o seu disclpulo Ru– b em Braga, que se agigantou, superando o próprio mestre. A inteligência estA adma de tudo, llnqu(l)ltO o velho, porém, sem– p re moço, Alvaro l\Ioreira ficou conhecido apenas das elites, Rubcm Brag;a o ultrapassou, pe– n etraruio nas camadas popula– res Q.uem é, hoje en1 dia. por menos letrado que seja, que não conheçe o "Conde e o Passarl– n htf' e "Morro do Livramento" ? Sun. aquele ml)Ço esquisito, de escrito& tão excêntricos que cos– t uman10s vêt nas pâgJ11os de j ornais e revistas carlócas, pos– súe um púbbco numero$0 para as su3$ crônicas. F;ito até en– t ão não reg:i.siado em nossa hls- 1ória, literária. deu quatro volumes de crôni– cas que, em ve~dade, são au– tênticos contos. Euclides da Cunha, o ciclopico criador de "Os Sertões-, ao conceber a sua obra prima talvez tenha objett– vado !11zer uma crônica. Hum– berto de Campos, João de MI– nas e Berllo Nevei; foram os que mais se aproximaram do gê– nero. Não chegaram, todavia , a constrult' a crônica propria– mente. Alvaro ?vlorelra teve as honras de descobrir con10 o sa– blo de Siracusa, a diferença da crônica e do conto. Pôde grí– ta.r : - eureka, eureka, eure– ka . Con.shl'te a verdadeira crónica na exploração de um motlvo banal, com um estilo sutil, ado– cicado de poesia e temperado de ffi?soua. (Perdoem os possíveis leitores e deíinlçlío pouco llte– rártai . Nada de choradeira com man teiga sentimental à Ru,n– berto de Campos e lrorua à Be– rilo Neves. O cronista, como o fez inteligente,nente R u bem Braga. deve se aproxinl11r do povo. auscultando-lhe os senti– mentos e emoções. Isto sim. E não explorando o sentimento do povo, com n1orbldez, - sobretudo nos têmas an1orosos. A crbnlea, assunto ligeiro para o leJtor de ''Que a razão não descobre e a ciéncia não ai inge". O mistério das cousas o perturbava e desesperava Inteligência. A vida ê um eni_gma indecifrável: "Teu segrêdo, que em sangue e lâgrimas se envolve, Ma is obscuro se faz quanto mais o investigo" . É inutilmente que passa o homem "Interrogando ;. terra e int.errogando o hon1em..." da d e de pureza que faz fugir Ludovico e parti r Gastão para viver sem passado. viajar sem bagagem. No no:,:,o mundo de convenções e de arlificios, Jean Anouilh faz viver sêres selvagens e bons. Personagens q ue procuram, destruindo o gavas tão forte, lão pura. Ja– mais chegarei a sê-lo". Quanto à "ANTIGONE'', ,que conlinúa a ser a obra prima de Anouilh, ela sabe ben1 que êsse P oly– nice por quem se v ai encla u– §!!ri! !'!iQ ffiY.!l~ !! p!~d9§!! gesto do sacrillcio; não vaJla mais que seu irmão Etiocle, era um hornem cotno todos os outros E não é já aos Deuses a quem ela se devota; porque, no fundo, ela não acredita mais nos niandamentos divi• nos d o que na lei dos hon\e ns. Apenas o que não póde é vi– ver nêste m.undo de que pJ:e– fere libertar-se... "Tú escolhestl' a vida, e eu a morte". O tea lro de Anouilh já foi comparado ao de Pirandcllo. E, na verdade. al~o há de pl– randellea.no nos éeuários de 5'>nho colocados acima da vida real , nos viajantes sem baga– gens, os heróis sem idenli(lade que recon\eça111 a vida, nos falsos pais e falsos persona– gens C'rlados por Anouilil, am– bientes nos quais o tnt1ndo teatral é 1nais verdadeiro que o m\mdo l'eal En lrelaf'llo, mais do que pira1,delleo110, o teatro de Anoullh é gr@go, embebe-se na tragédia clálisi– ca. Até mesmo na sua f6 FDla , com uma u11ld.ade de t~mpo e d e lugar, na .suas• péças "ra– massés", nos seus encootroa co1n o Destino. ?.lesLno quando a unidade de lugar n;io parece i:esve.itada, como L\O "1,'lEN– DEZ-VOUS DE SENL[S", o aut:or apresenta suces.<:lvan1en – te {pot·que o não póde Cazer de outro modo) duas cenRS que se passam slmultaneatnen– te. O drama de Anouilh é o drama da I alaUdade; ex.al.a– menle como a tragédia de Es– chylo e de Sophicles. é que o homem pern1anecerâ ete rna– mente urn animal trágico. ORPHÊE E EtrRYOtCE en– contran'l-se num "buf:fet" de estação, Anligone traj a wn ves1ido de baile e Creon 1,1ma casaca. Hoje. como on te,n, malgrado as nos!;as tristezas, havemos de nos bate.r se1npre, ,pobres crianças úúelizes, con– Poderá parecer lnconceblvel êsse ponto de vtsta. O leitor, se é qlle o lemos. menos desavi– sado. poderá ,njagar: ''Então n tinca se culU,·ou a crônica ?" Cllllivamo-la. Ex.cedemo-nos até n o seu. cultivo. DeFàe o descobri– mento do :Srasn, ou , melhor, do descobrimento da esquadra ca• b ralina. como dizia Bastos TJ– g re. len1os cultí,•àdo êsse sutil gênero literârto, que só em nos– sos dias velu a se firmar, Mui– tas t.entatlvas tiven1os. Intrutt– :feras, poré1n... Vcjon10s: o prln1ciro docu– mento escrito no BrasU, aquela ~elebre carta . d9 escrivão Pe– ro Vaz aminha, dirigida ao El•Rel de Portugal, cujos tre– chos decoramos como papagaio nos bancos eS(:Olares, foi un1a t entativa de crõnlca. Maia crô– íúca ·cracassada, que se conver– teu em documento histórico e q ue em nossos dias bem pode– ria se ch:-ul\;lr uma "big"' repor– t,age,n a David x J'ean ou a Morei Di:,pols, tivemos {:l\ttra tenta li vn m.ais sé1in. A de Raul Pon11~la. que foi Jazer uma ••11rôn l~a de saudade" e terml– nou nos legando um dos livros mais belo e vigoroso de nossas letras - "O Ateneu". O pró– prio Maehado de Assis, nosso comum mestre. que é orgulho linguisti<'n """'ilnal n. 1, nús 1 _ E, f~i, e~tão, ~ue o ,~ion~i~ suustitui\l o homem da ra– zao, da mteligêncra, que ele qwsera, sempre, ter sido. Desco– briu que a verdade podia chegar por ouLros caminhos. A intuição, bergsoneana~ente, revela-se a éle como uma forma de conhecimento. A intuição é a faculdade divina dos poétas. Adivin:11a-se nisso algo do conceito do poéta vidente a Hugo e a Rimbaud. E a tnilagrosa intuição liberta o homem do negro véu que lhe cobria os olhos e lhe ocul tava a verdt1de: ' 'Con_templa com assombro o espaço e a Natureza, E de1xa-t.e enlevar na esplêndida grandeza Dos astros e dos sóis, coustelações e mundos 1 Os teus olhos fel>ris, cavados e profuudos, Bão-de talvez arrancar o mistico segrêdo • bonde. deve focalizar a vida e os Mas. se ludo isso se verifica quanto à essência da poesia seus problemas. mormente os pc- de Antônio Feijó, há, também, a salientar uma patética procura quenlnos, os detAlhe? da ex.Is- • de 'u1na linguagem adequada e perfeita para a transmissão do tência. seu pensamento poético. A famosa luta pela expressão comam Toda essa cantilena, que pode- a todos os autênticos artista$, assume. nêle uma a:npliiude Às constelações do mar e às vozes d.., arvorêdo ! rA parecer confusa para o lei- tamanha que b · t tor obtuso vciu a propósito do · ~ poucos .Poe as portugueses pod em apresen- llvro "Ou~o e Lama" da auto~ tar, como Feijó, este trabalho árduo da :tórrna que foi a sua ria de Geoi:genor F;anco, que con_stanle preocupação A lingua portuguesa, não óbstante o Acabo de lêr com sat~Cação. e~forço de u_m Can1ões. de um Bocage e de um Antero, IHe Finda a leitura das produçties ainda a senha deficiente, incapaz de exprimir, em sua plenl– do jovem jomalist;\ paraense, tude, o pensamento poético. Mais apropríada à lradição dos eleito recentemenle para a aca- estados a l'etivos. den1 fa lnd1gena , disse câ com "Nei;ta sentimental Ungua que nós !alamos rneu-s botões: "Bela vocação pa- Só a Dôr e a Paixão têm ac d ••o·" -• ,.; ra crõnlstá I" Georgenor Fran- or es s... LUues • <'O é uma promessa magni!ica, que poderá lograr um diitcil lugar de cultivador do gênero, mas se conseg1llr libertar-se de uus tantos laç<!s. que tolhem os seus passos. Tem ttm estilo sua– ve e não peca pela prolixidade. Falta-lhe, entretanto, as <1t1all– dades de Rttbem ·Brag'ii. Ele é uma an tlte1,e de J:lerflo Neves. .Enquanto o eserllor plauleose ~rocurava ferir •o belo sexo, Georgenor o defende ardoro$a– men.te , rebelnndo-s.e contra as injustiças .gociats. t>arece u1n re– volucionâtlo, porém rev<il11c10- nârio a V.\J'gas vna, que nada fez pelo povo. l>esça Georgenor Franco do pedl.'st.11 onde se en– contra, abandonnndo a manta do femln'lsmo e penetrondo nas ca– madas popuh1res, que sorá um C(Onista, um grande c,onista a língua portuguesa não se presta a tôdas as marés do pensa– mento abstralo e às variedades delicadíssimas da at ividt1de int~rior .. :º1.arii~da pela _vida sentimental. as c:ousas puras da mtehgen 7 1a nao encontram neta me_i o hábil para se expres– sarem poel:icame~te. Antônio Feijó não pôde, como pôde Antero, for1ar a liog11a que desejava para os seus poen1as. A sua poesia ficou. assim, interrompida. muiilada na fórma em que se via obrigado a vasá- l.a. E êle dizia. lrislemente de um poema que escrevi.i: ' "E q uem hoje te vê nestas imagen11 frras Enca rcerado em duro engaste, Nem por sonhos supõe cónl que esplendor Quando aos meus olhos te mostraste!" fulgias, Essa luta pela e.):pressjo poética é uma das notas vivas e dramáticas da sua ru Lt e uma revelação do seu inconsciente modernismo. Antônio Feijó !oi um poéta de transição. O seu apêgo à mél i,i,ca trad icionalista dos parnasl11nos e as SilQS tendências simbolistas fizeram-uo, ao mesmo ten1po, paL·licí,po.nte d as d uas mundo artificial da sociedade. r econstituir uni mundo dêles, luminoso e puro. No "REN– DEZ-VOUS DE SENLI S", Georges. casado contra vonl-a• de pelos pais que só pcnsan, no dinheiro, abandoqa sua casa para reconslruir um lar com a mulher que ama. um oásis de felicidade, o Paraiso Perdido. Poder-se-á, porém, achai· o P araíso Perdido? ''LA SAUVAGEº, Tereza, f ilha de nlúslcos sem escrúpu– los. Liberta-se, por llln momen– to, da atmosfera pervertida de sua casa para viver um grande amôr junto a Florent France. Com mêdo da felicidade, po– rém, r ejeita o casament9. sin1- bolo da pureza onde peneira, e foge como um pobre animal enlameldo e encl:lai·cado pela chuva: "Ser-me-ia inútil en– ganar e fechar os olhos com tôdas as minhas !orças: haverá sempre um cão perdido em toda parte que me impedirá de ser feliz'". É em vão que Jea.n Anoullh ten~ará mistu- 1·ar nas s.uas péças o cómico com o trágic~ a fantasia n,ais ligeira co,n o dt·ama mais sombrio: regressa natural– menle às font es do trâglco. Não será a morte a únie11 solução para esse drama da pureza em oposição a um munclo tõrpe e cruel? "OR- PflltE", filho de músicos de café, e Eurydice, fUha de pe– quenos co111édiantes da pro- . . . v1nc.1a, que o acaso uniu numa estação de estrada de ferro ' . experi.tnentam, êles também, f azer dêsse cená-riõ enegrecl– do pela ftunaça dos trens, não sei que Cam_pos Eliseos lum'i– nosos. Em vao : Eurydice sui– cida-se, mergulha. no mundo das grandes trevas: "Tú Luc j ul- h·a a sorte do Destino. Anoui U1 utiliza, claro est.ii, os processos n1odernos. serve-se do "vau– deville'', introduz a poesia de Mus.,;ef nas suas p~as, ou o cômico mais pil:aresco. :Nâo res~a dúvida, poré.n\, ~ ue ête é o rt-sl:iurador d~ lt;-agédia france~a e reune-se 3 Corn eil~ le ou o Racine p11ra a ll'im do drarna burguês do u.1tucalii• mo,

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