Folha do Norte: Suplemento, Arte, Literatura - 1946

; Li v r·o s, B ra si 1ei ros .ORIGENES LESSA BUENOS AIRES, julho - Vale a pena olhar as muitas e '.!}lag– .Wcas livrarias que há por aqui. Ricas, be!l). sortidas; exibindo 11:diçqes excelentes, no melhor papél, verdadeiros primores d_e ~'tte ll'âfica. Ha um abismo entre as edições axgentinas e as b:as_ile1,ras. l!lnquanf<;> as nossas se ap;resentam no mais asqueroso papel Já pro– duzido sôbre a :face da terra, as argentinas, ,de um modo geral, lem– bràm esses tentadores, irresistlveis "baby bee:f.. do Shortorn ou de tantos outros lugàres de bem comer·que há por aqui. Foll1eio neste momento, ao acaso, ...-,Razon dei Mundo.., que me deu Francisco Ayala. :E: uma obra prima de apresen!.ação, que chegou a imp_res• ilionar até nos Estados Unid(?S, me disse êle. ~ custa apenas vmte c:ruzeiros: Edição igual não se conseguiria no Brasil, nem pói: . cem. , Mas dentro . ela inveja e humilhação com que olhamos as es– tante/, e as vltfinas das livrarias de Buenos A.ires, hã uma grande, alegria para o brasileiro que passa. São .inúmeros os livro,s no 'ss.os jll. traduzidos, expos.tos nas vitr.inas como grandes êx:itos do mês. Encontram-se em toda parte. "Menino de Engenho", de José J',jns do Rêgo é um dos trhtajaàores do momento: "Condieion de Mu– j-:r", de L!dia l3esouchet, foi, Elm agosto do âno p~sado o livr~ ~a~~ vendido em Buenos Aires, so.mente superado pelo Poder Sovtético . que então fazia furor, e obteve o prêmio do Clube dei Libro, ven– dendo-se aps milhares. Érico Veríssimo, co1n tod.os os seus roman: cfs traduzidos, tem ria Argentina o mes'.!11~ êxito de venda .que 11~ Brasil, se não m11ior. "Vende-se, aos môntoes·•, garantlu-~e ~m li– vreirO'. Monteiro- Lobato tem um editor que lhe e$tá pubhcan<Jo ú>das ai; obras .infantis, Dos ''Urupés", que :iâ tiveram sete .edições esgotadas, antincía-se para breve uma edição de grande luxo, p _ara bibliófilÓs. A Editorial Emece programa para breve ·"Angústia". de Grac1Jianõ R·amos. Ainda hoje a Editorial Sjglo Veinte nego• clou contrato par.a a tradução de "~nfância", do mesmo grande ;ro• mancista de ""ão Bernardo". Jorge Amado está todo em castelha• ~ ~ ' ' no. Machado de Assis, cresce todos os dias. Só o Club del Libi;o Morreu • Ge rtr uci e ' Stein GRANDE FIGURA - DO MODERNISMO NORTE · AMERICANO GERTRUDE S'.rEIN, ue acaba de falecer nos Estadoi; Unidos, foi uma das principais figu1.·as do moVirnento modernista na,. quele pais. Ao lado dos escrito– rei, americanos que formavam um verdadeiro grupo literário no Paris• de post-guerra, em contacto intimo com os• che:(es de filas do modernismo francês, rotuladó de cubism•o, dadaísmo, · ponttlhismo, etc. - ela desem- vendeu mais de 30. 000 exemplares do "Quincas J;lo:i:b~!. ~ias o as– au11to é vasto e dã margem para nova.s e mais detalhadas noticias. éóntam-<se às de-zenàs os autores brasileiros aqui traduzidos, lar– gamente v..endidos, ao passo que pouqulssimos arientinos _ tê1n. pe– netrado no B.t:a.sil. Só agora é que Eduardo Mallea e Max D1ck– mann vãq aparecer em portuguê~. Mais .isso não depõe contra êles, .f'lN'fURA BRAS)L~A : "O meu boi morreu", de Lula Car.4oso penhou um rele'\Tante papel de inspiradora e animadora. Para Gertrude Stein, a crise da li– teratura, que então agitava os espiritos, dete.rminando tod.a es• pécie de anseios renovadores, consistia, principalmente, numà questão de fo1·:ma: as .palav1·as,• estavam gastas, a sintaxe tam-– bé.m, jâ n:ã,o possuiam os escrit<>– res os ,instrumentos adequados l expressão de suas novas emo– ções. Dai o seu desejo de 1·eto1..,. ,a,. ao pi:imitivis1no, a "v.oJta ao 1naterial:", a uma "nova baYba,,: rie'', coisa semelhante ao que Os\vald de Andrade tentou rea– lizar, ""entre , nó~, como seus li• vros, que t~nto escâniialo cau• s.iram: •·Memóriai, Sentimentais de João Miramar" e "Serafim Ponte Grande". depõe 1.nais -contra nós. '" -~ NOTA BIOGRAFICA: Q Os Que Colab~ram ! FOLHA , Na I '-,~~:,,..<:::::,-<:::::r::::::,,.<:::,.-<::::,<:>-c:;:::.~;,,ç:;;,~~g:,-<:::>_ <:::-:,<:::>Ç:,-<:::::,<;::-,' --::,,,<~~- :::;.<' ~::<:;::-;;<::$<::::::,.<:><::::,,<:::~~ .~-.,...;;; 1 . ''S ÍI .. onetos , --DE-- 0r\-P-PF.A PINT0 -'.+-'f-'f. 'f.•f 'f.lf . 'f.lf ;~1f 'f.'f.'f.'Pfo VV-,,,.~ Os estudos que se referem aos brasilei):is– mo,s têm merecido ultimamente· um prestígio d.e que se desdenha1'ia noutros tempos, qua.n– do nada se realizava em favpr da divulgação .dos nossos problemas, da nossa lirnn:ta, falada tão diferentemente pelos portuguêses. Agora, principalmente, quando ressµrgem à tona da publi_cidad;e as controversias em tôrno da debatida· té~e da existêncía, ou nii'.o, da cha– m~da língua. brasileira, é que se v@'jfica um lloifo iniluxo ae p,.esqttisas, a animar essas q1.1,estões liµgu.fstica~ e folclór'icll$. Eúquánto, L _ toclávia; estudio~os se dedi~am a inv~tigaçõesc (4) dos garimg<:ii;os.•(()), do nordestino (6), ~o dessa natureza, com o objetivo de e.sclarecer cab'õ'!llp ('l), pouco ou 1:1ada" tetrros ª · respe~to ponto~ obscur.os , dilatando limites de cónhe- da gíria do homem do Jornal. ~~ referê!1c1a, ~entos pouco divulgados, outros aproveitam apenas, conheço. um traba~o - Jouri;ahste~ essas experiências. para ~po ~tã.J.as como e_le- et. vo~bulairl'!", df! Et. Vittoz, .@Ue Dél.O tive mentos documentais da v1tahdâde da absurda ainda epsejo d_e compulsar. Pode ser que língu11 brasileira. Na realidade, êsses brasi- e;ic.ista mais algui;n.trapalho acêrca do assunto, reirismos, ao contrário de justificar uma 1: m_esmo ben,. -possiv-el, <fado o material que emancipação do idioma falado por nós, nada os jornalistas; e , t!pógr,afos ofere<;_em como m~s são que caracte11f.$ticas nacionais da li~- subsídio ao glossário da gíria n,ac1onal. gua porl4guesa. Apenas. E essas pec41iari- É certo qµe há a diferençar a_ gíria_ dos dades nossas se compreendem e aceitam pela jornalistas e. a língua ei;peclal dos Jornal!st9:ll. feição local que teria de ássumir, né<lessax;ia- úma cousa bem distint;;t da outra. A. Tenó- 1:ne,nte, uma ,língua qµe se transplantou para rí'o d'.Albuqu·e,:-que (8) diz: ''gíria é o lingua-– terras distantes, diferentes, sem a mesma tra- -jar da plebe, o -modo de fal_ar peculiar do povo dição histórica, sem o mesmo tempero étnico, inculto. Líng>ua especial e a,, maneira de e~– eom uma es:l>rutur.a social absolutamente di- pre1>Sar-se, própria de um grupo de 1ndiv1- irersa. Forçosamente, tema de tomar, aspe<:tos duos" definições que me v.arecem um tanto novos, rêgionais, sem embargo do fundamento difus~. Por'q,ue, na verdaae, póde h,aver uma eómum. - maneira de e'J,CPressão própria de um grupo, Por isso que os estudos recentemente sttx:- sem que isso possa impedir que essa maneira.' gidos relàcionàdos ~ brasileirisri;ips não se seja a-t~avés da g!ria. O iue. 1,alvE:z ocorra_ _,é dirigem à justificar uma libertaçã·o do idioma o seguinte : '.a ltngua espec.al diz :i:espe1to que falamos, mas, sim, trazer· luz á aspectos 1nais a uma linguagem técnica, erudita, como cm·iosos e poúco esclarecidos da língua. pôr- o léxico -parr"ular dos juristas, dos quimicos, ll!Jfnesa fala.da n_o Brasil. O fato de existir enquanto que. a gír,ia, de um modo •geral, se um Dicionário ,de brasileirismos (1)., nada sig- refere mais à arbitrária aplicação de. têrmos nitica absoluta-mente como indício de uma que não correspóndem ã sua exata• e ori.ginal poss;ivel ei;nancipaçãó. Há, também, ui:n Di- significação. A$sim, por exemplo, compreen– eionário de argent,inismos, de Gru:zon, sem: de-se con:io língua. e:;pecia.1 da música têrmos que, por essa razão, exista uma língua argen- como ;indante, vivace, .ouvertnre, alegro, fuga, tiPa. ' sinfonia, ptelí1dio, rap·sódia, que representam, Entre as particularidades brasileiras da por assini dizer, a sua -telminologia rigórosa– lingua destaca-se a que diz respeito à gíria mente técnica. Já a .gíria., que constitae o naç~onal. Eniborà seja .ainda muito e.scassa a correspondente brasileiro do _síang inglês, do b1bliogra1ia do assunto; ainda ass.ip :l. se vai lunfa1·do ar.gentil).-0 e do argot francês, signi– notando, em nosso tempo, um maior. interêss,e ft.ca um voc~ul.ário tendendo mais para o por essa singular fei_ção da língua. Artigos, pitoresco. ~laftelar, por exemplo, que ti;aduz ~nsaios, glossárj~s e, ,1;1té mesmo, u~ dici_on~- <l fato d~ um pianista exagérar nos .foriíssimos, rl.o (2)? têm modepiamen!e apareor_do, mdi- ~e,m critério, l\trOp~lando notas e _- einba:ralban- ,,.cando isso um evidente. 1nte.rêsse por ess~ do compassos. D1:z-se :· "está :ma.rtelando o linguagem s(lgestiva e encantadora que é mais , plano". · · d·os h-umilde~. N-0 jornal, do mesmo modo, rodste a língua. Embora haja -fontes de informação sô- éspeellal, qué' ence,1·a a s1.1a -t~rmfnologia crentf– bre a gíria dos gatunos (3), uos crimínosos . -:fica, digamo~ assim. Par~ citar apenas àl- , • O SEGUNDO~POEMA DO SOLITÁRIO .r-- _,.I _...,, ... , .... ,_., Ao exen~lo dos simboli.staa,. 1 Quando o meu. espírito _ se libertar de todas as preocupaçoes O meu deseJo caminhará pela vida toda E há de buscar todas as paisageQs todas as velas todós os mares. II Gertrude Stein recorreu a uma Mesmo g_ue se transforme a ordem univer~l atê m·esmo se caírem ;is estrêlas 1 · espécie de impi:e.ssioni: ;;mo au.. ditivo, visat1do obter um efeito musical na linguagem. Seu ro– mance - •'The Making of Amen• cans", conçretiza essa arri,scada experiência. E se· a . esc:ritora - como obS'ervou_ um •critico - si– deixou mais tarde decb'rar pela esfinge, .O que não Sf! pôde 6 negar a magia encantatóri_a de suas prlmeira's o:t>ras. Gértruda Steill sa-criftcave: heroicamen~e a lógica aos vocábulos, a idéia ·à forma. a futerícão à técnic~ ãlian'do•se assim à corrente da– dalsta que reallzava um verda. delr-0 movimento súbyer-sJvo_ na )11:er,-tur.:, ft,,-no...,,._ '.'D;>.dâ c·est tout - dizia André G'ide - não n1e pertur})arei Quero somente viv.:er a alegria -das crian_ças na noite de São .Toão.. , , I I 1 - Não conheço o tempo que marcall). os rel9j(ios Esse tempo não é meu. O témpo está ·dentro de mjm porque o VóÓ da bor~oleta • Apres lul le deluge". e o olhar da. Amaãá fazem a minha duração.• IV guru; : eomponedor, &:;i.leáo, villhêta, su~Íto. Por outro lado, o espírito po_pular dos gráfrj:os e 'a iri:everêneia sadfa do· jornalista fôram criando 1.êrmos bastardos, de acentuada su– gestão, surgidas ao sabôr do.s plantões tumUl- ·tuosos da confe<:ção do jornal. _ Um pequePo vóeabulário s~ organiz~~ na– turalmente sem nenhuma 1ntervençao de agente.s eruditos. F:oi, podemos. dizer, a voca– ção J?Opular que habita em cada homem de im,prensa que instltuiu êsse pequeno glossá– rio, cujos verbetes, a não ser o~ mais_conhêci– dos, ainda. não li em nenbu~!l- colet~~a,"nem mesmo no "Dicionário da gu-1a l;>rasllerra .' ~e Manuel Viotti, que, parece, é o trapalho m.a1s completo no gênero. ' . Por isso, não achei tóra, ~e prop_ós1to ~u– nir alguns eiementos da. g1!1a do )Ornal, os quais poderã;.o vir a const1tu1r referencia J?ara egtqdçs futuros mais amplos e me.ri.os sqper- ficirus. • • • -- AI,;AGADO Quapdo o jorualista Oti o grá:tico está asi;oberbado de matéria. ARTIGO DE FUNDO - Diz-se. do comen– tãrio de doutt,ina, forte, substancioso, de gran– de responsabilidªde. BARRIGADA - Reportagem mal suce- dida. . :POMBA - Serviço mal f.eito. Uma chapa tipo_grãfica mal j),lStific'ada, dándo margem a frag1Pentar-se toda, ah S'et colocada na págin·a. BPMBEffiO - · Operário ll)e9íoc1·e. .. , ~RAÇQ - Operário de g_ranee .produgão. BROÇA - Fio co:m que: se mede a com- posiç~o, nas oüciria.s. lll.JCHA - A.rtigos, notícias, ma~ria re– dacio.nal, em ger.al. CEMITERIO - Matéria adiada. CHAVÊ - Alusão ao operáxío que : f.í.ca por -últirilo desdobr.ando-se P.ar ~ ultimar s'l,ia f'areta; quando QS companheiros já -s.e retJl".a• ram. Diz-.se : ficou com a cibav~. C.B't1VA-- Composição tipográfica que ·se. desmembra, por jnhabil1dade do opei:ário qu:e Na revista ''Tl,'ansttion", ao la,. do da Eugene J ol!IB, Elllot Paul,,· Robert Sage e também ,Iam~s Joyce ela doutrinou, traç<1ndo novos r~es artísticos, estlri\u– lando a liÍeratúra de vang:uar<Ja norte-americapa que till4a, po– de-se. di2er, reu centro de jrra- . ' 1 diação em Paris. Passa também por ter sido a prlmeu:a a· cba• mar a atenção do público para 011 méritos de - Picasso. ' a toma para colocar na página. Diz-se : . • composição chQveu. CRACA - I1T1portuno que se planta ao p6 da mesa do jornalista, prejudicando a_ marchá do ierviço. DENTE DE CAO - Desigualdade de ell'– pacejam.ento de uma palavra para outra na co1nposição gráfica. O espaço 1naior chama-se dente de cão. ENFORCAR - Boicotar um artigo ou co– laborlição. - ESTA EM MAO - Expressão que signi• fica estar o jornal pronto. EST~ADA DE RODAGEM - Uma prOVlt tipográfica eivada de emendas. FOCA - Repórter desajeitado, inativo., bisonho. Diz-se : o foca, xnascUlino. FOCAGEM .:... Ação de foca. FURAO -! Repórter ativo, intrometediço. - FURO - Noticia ou re_portagem que uin jornal publica em primeira mão. INQlJILINO - Operário que, revezando– se em do:is turnos, dorm:e na oficina. LOJ\'mA - Operál'io que comparece ao serviço cansado e não · produz. Chama-se lombado. · _ MOSQUITO -'- Recurso de paginaçao, que consiste em .amp,µtar o titi.i].o de um telegrama. PASTÉL - Composiçao truncada. PATENTE - Rôdaqa que -o aprendiz !l\111 passa a oficial é obri~ado. a pagar aos ?pe~á– ~iol! antigos,. com o qinhe1ro da sua prime11i1 féria. Diz-se : pagou a patente. l'É Dl!! 'BOl - Pontual. - PIQlJI-A. - Artigo inuíto longo: SARRÉCO - uínotipista de fraca pi-o– dução. • (1) - Dicionário de Brasileirismos - Ro- dolfo Garcil;l. • (2) - Dicionário da gíria brasileira - Manuel Viotti. (3J - Gír,ia de Gatunos, de Elysio de Carvalho. (4) - A linguagem dos crimmosos, de Cid. A. de- Lima: (5·) - Nos Garimpos, de Hermano Ribeiro da Silva. • O garimpo em Min,as, de Aires da Mata Macbado Filho. (6) - A língua do nordeste, de Mário M~ri:oquim. (7) - Vocabulário amazónico, de Amando Mendes. V - O meu i;l.icionário de cousas da Amazônia_ àe Raimundo de Morais. ' .(8) - A Evolução das palavr.as - A., Te– nório d'Albn.querque. •

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