Folha do Norte: Suplemento, Arte, Literatura - 1946

... • . • . . • • . ~~~04illa-0~ JORNAL DE C~íTICA • 1 • ! • , .. • 1 • • • PAULO ELEúT·tRIO FILHO ALYARO LINS • • • do -- _,:z-_:"'"-:..;:=---:~ ---- - __..._____ w - - ...,_.-:,,. ' - {Esr,ecl al para a l"OLHA .DE> 19'0RTE no Estado Pa.rt\) . .. - • • o sr. Nelson Rodrigues·, _que é hoie- o .., _áut;,or dramátiC(! 'brasi-" Jeito ma1s famoso e ma1s p,J:es– tigJaa.o, acaba de publicar em -vpkf!ne duas·. das· J,~as peç.;is, .AU,wn de família e Vestido de :nolva; coin Õ titulo da. pri.t:néira (11 Dir-se-ia, embora evidente– :roénte não -tenh,a sido este o .-. :seii prop9g;to, qúe êle. qv..ís os– ,e.ntar num mesmo livro _duas :l'aces da sua criação : aque}a \ VICKI ;BA~i espreveu recen– temente a biogtafia à boi·racha. "The Weeping Wood" alcançou SUCEtSSO na América, sendo ngO'– ra tra~uzido para o por tuguês, por iroclatlva da Llyrari.a do Globo; com o titulo "A -árvore que chor-à". que sê consagrou com um tão singuJ,ar sücesso. Vestido pe noi– va, e aquel;i que se dissolve num- :µ-ac-asso xgualmente ex– ~rao.rdinârio e até espetacular, AU>um de família. Fuj. dos pri– meiros, senão o •primeiro, a re– conhecei;' - e proclamar .o v;;,;lor, .a :fô1,~ 1J;1ovad'ora. ã, sigrtifica;– ção da obr<\' do sr. NeJso.~ ~o– @riguei; no teátro br~e1r9, ----------------------------:--:_--:---- '----------:mnc=.::::-:-.-:,- J>ominuo, 11 ele a!J09io de 19'6 Diretor: PAULO MARANliAO Al>rangendo dois séculos de narrátiva, -em palses dl,.ferentes e com inúmeros per~onagens, o livro não seguiu a costup-,ei.J.'a t écnica literária de "imágir)ar ·uma familia e. de.ixar que as ge– ràções seguintes- !ôssem s~nui,!l– do o seu curso», à mlll!e1ra de Th,oma.s Mann, como a ,Própda autora observa. Não é llln to– manée rjgorbsamerlte, hi~ó.x:.ico, ~ ,q~ndo amda não o conh~c1a .,-essoalin,f!nte e êle me enviara o · original de A mulher aem pe– c:acio, a sua p.riméirá"peça. sôbre a qual escrevi um peq_uen_o ar– tigo em. Díretri:&es. Isto ·nao ti– Dha compal'açãç, po5ém, com o entüsiasmo de opiniao i:om1 que me manúeste! dépois sôbrf! Ves– Sido dé noiva, dra1na q11e, apre– (:iado :fr.ian\ente pelo l,el!<i:i:, nun- cà poife!'á o1;erecer •aquela sen– !lação de deslumbramento que transm,itiu ao espectador quan- do represent_ado em 19_43-19!14, _no 'Teatro Municipal. Nao preclSO repetir. agora, o que escrevi si'!- , . bre Ve1;Udo de noiva. capítulo de ,crftic,i do WJái n_ada tenho a altefar; e c.oloco assnn como as- . j;unto desta crônica apenas a , pe~ ma!s r.eçente, 2\/llnun õe ;fanj.ilia, qqe também Ií em ori– ginal corno' as outras. Amigo do i;t. Nelson· Rodrigues, e mais dó ;que isto: um crítico profunda– mente inter~sa.<!o no destino -<la iÜ'f1 capacidade criadora dentro ó<f teátro brasileiro, a minha tr•~teza :fi_ca enor.me ao .me sen– ti li imP.OSSibilitado de oferecer sofidarieclade literária a wna Pes;a que se. pu!)lica coin a niita . de que foi ''interditada pela Censu;lia". N9 entanto, de .es- , ~i:i.for par-a escritQr, no plano da ética prófiss( oo.al . desej.o mant– :festav pubµca111ente • à n:,.inha so., '.J.tdat:íedade ao sr. N'elson Ro– dl"lgues .como o faria em rela- ção ·a qualquer .outro·autor, ami- go ou inimigo, cuja obra fôsse .a1;_ingida pe_l~ veto de um poder . :b\competente e ilegítimo. E a censura ~eita por S,iti).plE!s funcio– Jlát1os do Estado, l;>qliciais Qu • :não. consfitiµ tlp.iêà.mente um po<;l-er incompet.ente e ile_gitimo ein qu_a:lquer maté-rla artílltica. Literariamente, porém. não pos- 1m senãp reconhecer que Album de familia cai na vala comum 1 elas co(sas malogradas. E i'íca assim explicada ..:.. o que é, aliás, . um principio ~abelecldo para ei;te, .Jornál de Crítica- - q4e a ..-ninha opinião sõbre a 'Última ;• peça do, s,n, ~elson Rodl.'igues é c;le car-âter eiXclusivámenté lite– rário e arti!)}lco, ®m .~b~olut11 ~diferença- ~nto ao :problema particular da sua moralidade ou eh, sua imoralidade. De p·aS$a• gem, ·porém. diremos que não nos pa,rece que ela seja uma coisa nem outra, mas apenas. 'Vulgar na :forma e banal na concepção. E a maciça vulgari– dade, num caso dest~s, fecha to- dos os Camli:lhos, ,nao deixa lu– -~a'I: para outra sensação além do 1 detencanto, ' da decel);Ção e do .ibórrecime.nto. Peça mal plane– ,;i.,.da ' e ainda, .Pior executada, Album de famma ·l!e,i;á .condena- õa antes de tudo pelo senso Jl. ~•á.f'io ·e -ai:-tlstico ilos :seu.i pos, slvei.$ leitores ou espectadores, de 1al modo que dispensa em segui'd:l qualquer consideração dtt- oi;dem moral ou social, e -só pode.fá -despei:_tar prazer' ou in– teresse lascivo n11que)es que es– te:fAJ!l :;itJngldo_s poi,, . li~ª per– vetsao nos últimqs .graus da bai- 1r.e,:a humana. · $.ente-se ein .11,lbum,de familia, _..ntes de iudo, u;rn estonteamert- te ,,conceptivq_ qué bem revela ~ºª a con11.1,Sao em que se deba– "teu o · autor dentro. do,, próp1·io conceito de tragédía. Quaisquex qu.e .sej'am as difer.ençás de for– ma e de técnica que se possam ~nalar, em diversas fases dâ -.'fl'tgédia - a tragédia no.· teátro ;,o:,"1irl!go, a tragéd,iá no teãtro es– pavhol. a tragédia no teâtro in- · zlês, a. trllgêdia no. teâttõ :fran– cê-s, a tragêpia' no teátro mod'er- o tlO como ·a de um E;ugene ó Neill - h4 nela: no entanto; -cer'tru; CO!Jstan.tes e caracterí.rticas su.– b$tanciaJn;lerite iniltet'âveis. que te,Pres~:dtam, o •próprio "es.ptrl- .f· to" da tragedia: uma obra dra– :mãti-ca de grande ação, a luta .do homem contra a ;fatalidade, a desgraça de um sêti hutnanõ n,ar cadó _pelO" Destino ôl.l. peia Providênci;i Divina sem motivo .. • • • • • 1 ' • ~,...c.v\-,0 lu..t fvllvt-~ -- t fu w ·,u.~~ U)~ ~ • • ~ .,~ ~ ~ --Y 4~~ . ~ i~,~ ~~ ~~h~Ç~'. / '-' .., ,~· "'- ~~ m p;._.,, 111 ,J'.;J) ~ , 11..U... ,.. ·, . ~1\',CM..~ ,-~1!; ~"u..t) ~ ~f~ -~W,. ,~-ti,~ I lo~~ . , ,,_@,; J.;~ ~ ,,,, .. . .. ,. -lla1 ~~} ~,IS , ~L. ~!/. • 41"1 '~. ~/&, ~1a:v . ~~ lf (k)• "'· h ~ ~ :$A e sein a consciência da culpa, .<> tom patético das sltuac.ões, um t \ • ' / •• • . - ' • ~a.... ~g•--•i!·<i:------... "!111.0-~ô. 11 o.n :n•~~.r,.m.Jt! ; ,. . . ' • .~blllU..-.Jt IIJ\.tlil:f---.g;sp ■!MJ;-@; 1 • • 1 • • \ • • , de.n.tro dess:a cl~ssifi.cação lite– ra:J; porém, ap,resenta fat~ ve-. ridicos e e><:atos, com frguras que existiram, a par de \1?mes -e épisódíos -meramente fictic1os. E,ssã Singularidade dá um mo-– vimeri'to muito curioso à obra • 1 da autora de "Hote1. Ber-lfm", pols, o lftitor, n;,.uitas ve:,;es, não consegue ,'lf;?p:µ-ar o real do :fap- - tâstlco, útlpedict:o que está de t de1imitar a rigô!. as zonas_ llii!– tó1icas das • r~g,ioes imaginati- vas., ,.,, "' lnt-elizmente, a verdade f, nes~ se livro. ·tanta ve:r. macredita·vel, tal o absurdo dos aconte<:imen– tos, que O obsen;ador desav):sado J\á-de se embafaçar forçosam~n.– te nas fronteiras onde a crjação literária dá lugar à história. S01rtos, nós. d,a A'.m~ônia, o povo d.a borracha. O fenômeno 'I econ~mico da "hevea'• ainda é ' um permanente °problemã que nos atrel11 ao .not~ Cfil'TO de • i .§~!! !:lei;.~l}vçlyJme~tg. · ti.ª.º ao- 1 der,nos· obter uina: ltberta'ç.i.o ab– solc_úta dêsse iugo que 'se impôs desde o séc ul o lClJ.C e qu.e .é . bo– ie, uma expr e:Ssil<> de domiqro -l j> tfilicil .solu~â.~ tHl"ª :twu"",a economia. Os ensiname-nt is ~tl~<!!! -l'l~$ famosas plat\tà<;:oes - lliglesas e holandesas do 6xiente son1ente agora estão sendo :praticados no Brasil, çom a ~~et!.~!i,9, com.– p)ê'ta dêsi;e ;plano, enlao. sim. teremos dominado a bor raci)a, sem as ,graves per das e,n hó– mens e material que nos t êm sido tmpos~ o lado drmn-ã-ti,co da cou,quis– ta aa g_oma elástica, no B r.i-sú e nas lndias, é · n.arradõ. magis– t raln;lente por VICKI BAUM', que revela o pi:efuhdo conh eoi– mento que adqúi;íu pà:ra àacu-. mentar "Tlre We.e;ping Woóg~. Lá" e$tãe todaij as tràgtdiaE, d<IS indios b°\'a:.iieiros, óos, prlmei, o,s son)ladt>res !;ia bor.raçha, doe fJageládos pelás sêcas· d'o Ceará, ' dos s,édngueí;ros, .dos • "a))ig9,i;:•· e da 'pr-õpi:ia •''.âfvore qv;e chora.". São descriçõ·es notavefs da na– tureui e dos, homens da Aniaz.ô- nia-, no entreo~óque bnttal à conquistq da riqueza. Toda'? as · misérias e grandezas do cíelo. do • ouro negro, em .$'eµs m1!il,tiplos 1 aspectos, en1 Belém e Mru1fíus, nós rios .mtst~l'l&ios- e nas ma~s °b'aiçoeiras, nos bai:racões e rio "centro", ;" .febre.. a'·cfom.É!, o s<..~o. afinal, ·são tratados indele,vel- , menfê, •, com a sêgUiança de. quem jã, J)erlustrou a . Amazônia e lhe .sofreu as cUàdas dou1::\.djls. Bem disse Ef.RL PARKEllJ HANSO!'I, escrevendo sôble a Amaz(>nia, quai1do ati.J,mou que o ELDO.RADO ex:is,te re11lrnet1te. Existe -côin.o 1d(tiar com.o -atl't-Ude mep.tal. o Jl.ome~ não cuttw~ a teri;l\, i;,ô°frego np v-ar.,_r a sei– va e~ b.usca das rJqu~ e~– trativas. Ci>m -a <l}léd~ dos p're– ço.s arran<:ltl!, tt'ls\(11)110 e de– sesperado, em qualq:1.1,er ''.¼\Pi• ry" ril!efrlnho, pl~n,eja:nd,o re– g):'eS$ar ao Ceará; ~a Belem ou M;anáus. Todavia, uma ch.a~– nha àquece-.lhe o pelto na espe– r-ança de !-1-Wª ines_pe:rada subj– da ~e cotaçaó. A .. conyersa é . a bi,rrltch!I, a castanha. . . Rá– gu.'~rra na ~rop.;l, ? Tant~ 1ne– Jj,pr pat;'a ri&. : vão p,re~isar de Jjorraçhª- l Tudo se ~a. os planm, de "des•c;ida" dã..o lu~ar >1S '!suJ;>id;(s" des-ortlenaµ.as ein b'u~ cá dos. altos .. s'éi'ingi:d.s vJJ gens e :i:_icos em il:<:>ma, e d hom~ r e– -to:i:na à escravtd.ão teneõrosa da ~lV_a. Se1)lpre éom a àlucinaçâo • da :ft>rtuna. Acabamos de ·Pr~st'flc .,,.. ·. P}"ise <ico velho dr.ama á ú ·, 11 g_al. lv!ilhares a.e ;,liom= .-. leram dô !;lil; d_o se.rtão iior'destíno • do ·lit.ora:l ma.rítiill.a, ~ ,g,do.. rw 1a .mifagen\. do velocmo negJ,, <la, borrííchlt. Aétu1 so_frflrl!:m- J}orro– re.s, sem que à/,,' :meard·a~ .sa.!"<a– doras que file anun·c1avam oo:ns~ guiSsé!n, efetivame.n,te> 'im1;>ecl'lr a repetição dà angústia 'tr!)m.,en– da dos ãnos:de servidão .nos bãr– l'acões selvagens das' u.nas dp "Jaiex''. Ninguém enriqueceu, n._eJJi, talvez, os, _p .roprietâri.os . de ,,sel'ingal.s, oneradoi1 pçr .pesad.t\S liipotécas e en ~préstipi.os . tu-· t <1ndo, p é:Jo lmprevístp ti;i ~ec:és– sJdaiie que .a tuei:ta crfá'fa, - • co~ a mutlliiagã9 das ~la!\t'a• i. ~ fW eonc)úe na, 3,.'ill ;>áP nrtca,i:xá~ - ·· 111:).,~ t~•• / ... . - -2& :.;;, •

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