Folha do Norte: Suplemento, Arte, Literatura - 1946

O desejo ãé originalidade, que é muitas vezes um desejo inconciente, traduz, em certos casos, ~ observação, ou a sim– ples pretensão de trazer para o terreno das idéias algum fato raro e \diferente. Assim explico essa absurda proclamação que se faz da existência de uma língua brasileira, sem nenhuma tradi\:;ão, sem nenhum pas~do que viesse confirmar tal afir- fJ-*-* /t. /t. ~ 'li"ltft*~ -*-li'*_*_*_*-*****_*_***-*'*-ftftft'ft'li *"****°t'. l ·* mâticas brasileiras. A& prepoet• çõeti são · as mésmas, os- adver• ;=~~~!vi::~~:~:~%~\ · Carlos Estevão, OPoeta'.. 1 B ·1 . . 1 . . ras1 eira •: ~~JAC )(. )(. lf'f)(-'f:JA MJA(,Y.lH'~'I-HJ CECIL MEIRA são os mesmos. Pelo que •e con• 1· - - - • _ 5 . - ./:fifi("_ clue que existe apenas uma lin• - , .- - GAST - O VIEIRA gua portugue.n falada e eacrita A _ ~ em Portugal e uma lingua por- . A .sauda«!e que ~arlos Est~vao deixou ainda a sentent màtiva. . , Belém, 3l944. . Deve-se, de início, partir do mil número de d a d os que principio linguistico e descobrir compõem o idioma e lhe dãot a de maneira natural o que é que unidade. Por isso, dissemos chamamos língua ou• idioma. existir uma lingua latina, e ao Absolutamente -não se pôde de- ' lado dela, as UnguSjl novo-lati– s ignar pela expressão - Ungua nas. Mas existem os dois grupos - um amoTttoado de palavras, de Unguas. isto é, latina e novo– um agrupamento de vocãbulos. latinas? SiJ'l), existe, poiq_ue a A expressão .lingua l'efere qúal- Ungua latina tem sua -estru~ guer coisa de mais profimdo, de tura própria e as línguas novo• roais substanc ial. E' exatamen- latinas também .possuem sua es– te a observação dos fatos lin- truturação. Umas se :filiam às ou– gufstlcos que nos manda ver tras, se interdependem, na cor– que em toda lln,gua há uma es- ,relação natural que há de' exis– trutura própria, em que há uma elas têm, ineluctavelmente um confluência de muitos fenôme- Ur entre os idiomas·, mas todas nc,s, tais como a tradiéão da lin- sentido ,próprio, inconfUndivel, gua, sua forma, sua sintaxe, os que as separa entre st. Se pu– :tat-0s P.5icológicos tão bem es- sermos em observ;ação o idio– tudados pe;tos linguistas do s,é- ma portuguêj: com o idioma la• culo passado, enfim • um sem tino, partilnos' do principio ine• • , torquivel para afirmar: a Ungua latina é uma Jingua morta, a lingua pottuguesa é uma lfngUa viva. Manifesta. se af, nessas simples expressões, um· mundo de diferenciações, porque cada idioma apreciado em sua parti• cularidade se distancia de ma– neira notável um do outro. Se Indico, por exemplo, as prepo• s!ç6es ou advérbios latinos_ hei de encontrar neles úma estru• tui,a. uma fotrna, absolutamente dispar do idioma português. Não poderia ensinar as mesmas pre• posições - latinas ou portuguesas, porque são distintas em seu n<i– mero, distintas em seus' sentidos e distintas em sua forma. Rã, portanto, com o decorrer dos S:ê– culos, uma separação brutal •en– tre as duas línguas, isso •somen• tuguesa falada 8 ffCl'ila no Bra-- viva todos os seus amigos e. admiradores. EnamoracJ.o da Am~ 1 11. A lingua é I a mesma, e zônia 1 tanto nos s4:us mis~érios se embebeu, Q.ue o al~o »oe~ acompanham O rtt111o da ltngua que ~le s~mpre fo}, se de1:'ou. ab!!_orver pelo na!~rallsta e~ os dialetos existentes em Por- que Sf! transformou. Sua 1nsp1Iaçao· e sua sensibilidade eran, tugal e 110- Brasil. Hã na rea• de fino quilate. E o troveiro era Inconfundível. Como ~ -i.J.dade um dialeto e um sub-dia- bla eoµipor uma trov.a! Nos "Desoantes", ao lado de-AdelmaJf teto português como hã dialetos Tavares, Moreira Cardoso, Silveira Carvalho e Manuel MOQiP e sub-dialetos•brasileiros. Mas· o· teiro, todos baeharelandos em 1907~ ano em que veio a p~ dialeto não pede a estruturação blico, representou a figut-a central. Máu. grado o encanta.meu., da ungua, não exige esta força to pelos mis,térios ~ª- planí~ie, e '·pelos' ,e~tudos da. suá flor~ t extraordinár-ia qu.e unifica, sis• fáuna, .o poeta;_ adm1r:i,vel nao se apagou 1nteJramente. E' v~ temat!za e dosêia um idioma. dade que, sentão, era raro escrever versos. Mas, às vezes, ablit Desta forma, não se p6de falar da. se assentava à sua l!screvanin~ atulhada de · revistas tf em Ungua. 1braslleira, pois di:c:er vol,!lmes ci~ntificos.! e da pena lhe escorriam com a mesmál tal é desconhecer o sentido inicl;al tluencia e mspiraçao, delic1osos versos. Dir-se-ia que o poeic do termo lingua e fazer triste cón- se acordava e1 saudosõ ele si próprio, em lindos metros canti fns-ão, originária da Ignorância, tava · · . . - 1 com o i:lialeto ou sub-dtáletos, Sua última composição, ou melhor, penúltima, data. &t o bom senso ·entretanto nog março éle 1944. Com aquela pronúncia, em que se_notava ;;· ma:ada ver O f~nômero sob ou. longe sotaque de nordestino, sempre muito compassada, C .f<!.'s:::,..<ç:,;;.ç,::,,<::::-;:.::::::;·;-=:::::,;-<:;:·><::::-;;_,:::~:::5~,'.S:~_::::::,._:5:::::,.,s;=::::::.<5_;:::,,_~,.;.,::::;~9.,~· te para falar no vocábulo e no tro prisma. Não se póde negar ft los me leu essa. -pequena obra-prima que é O Meu ''Ba.ngu 't qüe o idioma P.ortuguês se tem em que resumiu em formosa:S imagen_s e versos, perfeito" • t.rllnsformado grandemente i:ro sua vida. A tarde estava bela, o que ainda mai,11 realçou o enii< Bral!'ll. o fato é evldeate de- canto do uoemeto. Solicitei-lhe o original . para publicar, nã4 ma:ls e escóndê-lo seria cair no podendo meu pedido ser satisfeito, por já, o ter remetido a4il mesmo erro dos que afirmam filho, dr. Antonio Carlos, em Fortaleza, e ao irmão, dr. li a exl~tênci·a de uma lfni,'>.ia bra- Estevão, no Rio. Tive de contentar-me com uma cópia-; . sileira. E' :lm!gãvel que ó idio- aes versos foram estampa<(os no suplemento de ''O Povo", NOTA BIOGRÁFICA: . rna r,ôrtuguês, por motivos com• quela capital, em janeiro do ano passado. Mas. os leitores vii· plexos, oriund011 de causas v4° eonheeer ·e apreciar O Meu "Banguê", que vai adiante tr~' ri -.is tenha ee transform;;ido erUo: através dos tempos, most!'ando Este engenho ''Banguê" que trago dentro em mi~ Os-Que Colaooram termo, sem entrar no complexo problema da sintaxe, que seria um mundo a estudar. o simples :tato de dizer-se uma ttngua morta, e outra lbagua. viva, bas- ,, " tarta para Pvli em relevo a 'idéia jé t.oJe :uguns sinais de uma E que tem a felçáe> nova v:talidade. Contudo, não De wn coração, . ' 1 Na -FOLHA - -, - - ~ - - .. ~ ~ 1 - - - - • , - ' ' ' de independência dos dois idio• m.as . Mas, se saimos dê~ campo de observação, e entramos no ou• tr.o, isto é, Ungua portuguesa e Hagua brulleha, vamos encon– trar exatamente um campo mui– to dl!erente,, e não bá motivo pla1.U1ivel paira falar agora em llhgua b ra • i leira. ·Por que língua bnsUelra? Onde as for• se pC,cle negar que o idioma em Anda ruim. , • p , r tµgal tambéin se enrtqu~eu. Já ·nJi.o tritura bem as canas da e"1stên~. \ to1rou novos }1UIIOI, e ent•ontr~ Que hei de_ fazer, porém? Ter pa-0ienc.._l se boje vitaltzado, embora sem. r Está velho. Cansou. · as ·grand~ proporções que se oi:,- Ninguem há que não canse. servam no idioma portuguêl E ele que, sem para.r, j:i tanto trabalhou. f.alado no Brasil. E' l6gtoo e :t Justo que de!feanse. · natural que oe portugueses, che• As -canas que moeu f6ram ~o variadas gando ao Brasil, sentiram-se pós,. &, -por vezes, tão duras, que as moendas suidos de um estranho comple:llo, Não podiam deixar éle ficar estragadas. • -, - Haroldo Maranhão nasceu em Belém a 7 éle agosto de 1927. Fez o seu curso primá:rio no Colégio Yplranga, nno– mado instituto de ensino paraense, hoje extinto, cie d.ir &- ' · çio- .du conhecidu educa- , mas pr.6pr.lall de nouo idioma, onde a sua estrutura. a sua sm• , taxe, onde o conjÚnú, geral?· Nada eXiste q_ue· não seja a- mes– ' ma. UJ11111• Jk)l'tagaesa, h cate– gorias gi,a:matleail sistemat;fza• da• :nas ,ramáticas portuguesas são as mesmas eJCistentes :nas-gi,a- a necessidade de ettar pelo no- Talvez até agora, inda. não tenham fendas, me inttm'eras coisas- que 1aqui ~ Mas, por certo, depois cie tão longa moagem viam e não e,cisttam_ absoluta• , Bem gastos hão de estar os dentes da engrenagem.- mente em Portugal. l!! fõram A principio. somente o meu "Banguê" moia ·- aos milbares 011 nomes apareeen- Cana branda., macia... · , ,_~,:,,_,ffe;;}~'ftJ#.$-~f,&..;}1(t@i,'',-~ :'' dMorul X:Consultzelo I,obaio e • ., •;',,:-1,f-t•;~!:° :'Y? h •,;•§»• (; . •... ~~;,;e.~.... • . .. . . ar 8 0 • a- C!) ••- cu•~ • -.,Z< ' •• .-.,, :1,;. ' • ' i~.:Vi:~· : . . . -· -- - : >'. ,'WA/lfj}i' _, , ,. ··,f.! :-;/ (: ~ :' ~ de humazildades. ciclo : @-j '· .·, ,,Wzi. · .-. - glnulal, 14-ll:> no Colégio - : • : _, • • ;: ,;_;•'- <· • Moderno, tendo em· l!lff representado hM estabe- ~ leclmento de emhlo Junto ao 1º Congreuo doa Eatu– dantes da AmaaôDla, l'ea– llzado em Manáus, onde apresentou umll tela 116bre , o pepelc:ultul'al .da lmpren• .- ~· " '• .. , ~,.•. ~ 'Í,; . ,;, - ,@mc, ~:1_..• • &_.'.~'/.! • 1:Wh~iq; sa. ..Nease mesmo colégio fol presidente do Grêmio Ci• vlco • Llterá:rio, no seu pll'lmeiro IIDO. de funda– ç$0'. - ...,.,,_.--, Em 1941 lnlcloli a SIIB -: 'rida jornalistic:a. fundan- ' do e dirigindo o jornal e•• r Haroldo Maranhão - • I tudantil "O Colegial", que , • fol o .periódico ntudantino de maiol' duração no Esllldo. Por algum tempo foi redator da FOLHA DO NORTE .. aendo atualmente aecretúlo da FO– LHA VESPERTINA. Tem colaborado em diversos , jonia.ls ' doa Estados, eacre.– ...endo presentemente, ein.. caráter efetivo, para "O Povo•, de Forta1e,a, "Jórnal Pequeno", de Recite,. e pua a FOLHA DO NORTE. ' :~ .. E' aluno do 30 ano do' c:urso cltulco do Colégio· Estadual "'Pae• de Carvalho", tencionando pw,Ucu, ainda ell1e ano, o 11eu livro de estl'éla. • Dentro- da Poesia há os grandes poetas, de forte e dura– doUJ/a significação, .que marcam na vida literária a im– P!~Sãe da sua passagei,n; e há os pequenos poetas, as meudas mariposas que gravitam em tôrno de modelos ou Jle eseelas. Em relação a estes últimos, não tem a menor expres– são a sua obra. Nenhuma é a sua influência. Muito relativa é a dose de poesia que se escôa nos seus poemas. Mas, no en– tanto, encerràm aos olhos da multidão de leitores medíocres um curioso fascinio pessoal, conseguindo criar ão seu redor uma aura ·de efêmero triunfo, sugerindo a falsa impressão de uma inexistente vitória literária. :tsses poetas menores, de que o parnasianismo se constituiu-o clima ideal para o seu flores– cimento, hoje rareiam, existindo apenas uma éu outra remi-. niscêneia evocadora de uma époea infeliz da poesia e da li• teratura. · · - Mas se, por um lado, é perniciosa a sua sobrevivência, pelo mau gôsto que poderão inspirar, por outro encerram a utili– d~de de cpnstit~r matétil'\l de _contraste,:servindp-se ~ara se– parar a boa poes1a da má pqes1a, a sub-literatuf"á da literatu– i:a. Talvez possa parecer meio irrisório, tendendo para o ane– dôtic.o, isso pela idealização que ordinariamente se faz do bom leiter, habilitado a localizar a poesia onde quer que ela se encontre, sem que precisemos pô-lã em evidência ao lado da falsa poesla . A- realidade de que se reveste 'o. problema da Poesia no Br~sil, porém, admite e exige mesmo a existência dos maus poe-tas. Ainda que isso possa parecer estranho, com pretensões a paradoxo. Os quase vinte e cinco anos da escola moderna em nosso país têm mostrado bem claro uma incap)l– cidadé tri.stissima de entendimento eni face do que é, na rea– lidade, poesia. Os nosso.s verdadeiros poetas (não' o Olegai-io Marianno, nem o Raul Machado... ) os nossos verdadeiros poetas. têm um círculo de leitoi:.es muito :restrito, donde a sua limitadairradiação, fato que só póde atentar contra a nossa .in– teligência e a nossa cultura. Por isso- mesmo, repito, é que se torna necessária a pr-esença, na vida literáría, dos poetas me– diÓ~:: Para que se veja; no prestígio público que obtêm, a dose de incompreensão do leitor comum em face <'kl. poesia dum Manuel Bandeira, dum Carlos Drummond de Andrade, ou dum Murilo Mendes. - Aqui fnesmo no Pará, por exemplo, posso assistir a um es– tado melancólico de primitivismo em r elação ao que de: v er– dadeiro se realiza, prese:ntemente, em matéría de poesia . Ain– da estamos muito recuados, com os ouvidos surdos da orques– tra parnasiana. Daí não ser possível ainda alcançar ·o signi– ficado e a posição; na categoria liter~ria, da poesia do meu jovem companheiro Benedito Nunes, , o nosso conterrâneõ · que vem executando um trab,alho impossível de encontrar re– percussão num meio empoeirado de século XIX como o nosso. Por onde se vê, nitidamente, uma falta de preparo para aµn– gir a revelação ampla, de largos · panoramas, e por isso mes• mo perturbadora; de u1'il poeta que .se desprendeu do seu ho– rizonte :pessoal e das bitolas oticiaes do "lirismo funcionário público". Alvaro Lilis fixou com lucidez _êsse estado de inapti• dão dos não iniciados, observando que "a poesia em estado de liberdade toma · aspectos fantásticos, supra-natu:raes, ilógicoJ1, desconcertantes, e por isso é que os-homens mesquinhos .ou me– dieeres ficam tomados de pânico e de estupidez quando a con– :templam sem a devida pFeparaçâo". do, ora para .designa?' .r1011, m.on- A. eaninha "Creoula.", deHeada, tanhas, escarpaa, ilhas, ora pa- De- minha meninice alegre e descuidada• TINHA QUE SER.-.. PAUtO MARANHÃO.- filho Meigamente, plange um sino dWant., religloaamente..• • Tem qualquer coba de 1lngullll'f E' o alno pande da tor:re de . Santa Clarin~ do templo do Amol', ' • chamu por todos os camlnhoa, denfro do coração fremente da noite, teu nome e o meu. pata dumos éoineço ao J>O- romaneo... - na tN.°"9aão húérmma doa dias. . .... ............................................. Oh! SBDta Cl.ulnda, . :minh'alma para tL ee transporta e Junto ao altu de tua boca te bendJs.•• ............................................. -· E a y~s, de bl'Olllll8 dlSI ffnha que Ml'. •• tJnha que aer. ... • , ,. • :-.c>.-.ci-••_.,_,,....~~Hllll9>-()-c>-.~~ . . - Haroldo Maranhão - Ora, uma reação desastrada no espírito dos lei.tor es ante a surpresa de umà poesia ilusoriamente trivial, infantil, tôla. até mesmo imbecil, era coisa de esperar-se fatalmente. Eu mesmo previ essa geral animosidade do publico dia.>ite dos seus poemas, manifestando a Benedito os meus receios, quando me trouxe a sua primeira poesia para puhlícar na FOLHA. Por sínal que era um poema sobre o Inverh8, esboçado_atra– vés de um ângulo inteiramente pessoal, com um palpitante colorido de realidade. Ainda me recordo de um verso, o mais característico, em qu,e êle dizia, num flagrante subjetivo, que "as calhas já estão cansadas de pingar" ' Sou o primeiro a eonfessar ser ainda muito prematuro qual– quer juízo crí~co a seu respeito, num_a tentativa de delimitar– lhe un:i campo de observação, pelo qual possa ser estudado. comparado e · classificado num dos vários departamentos da poesia. Ainda é cêdo. Processa-se, naturalmente, na sua téc– nica e9trutural e nas tendências psicologicas, uma :ta~ de for– mação, que se definirá mais tarde em linhas distintas e vigoro– samente traçadas, marcando-lhe uma personalidáde literárià roe busta e, então, amadurecida. E' verdade que a geraçãe de hoje, como já se observou, não se inicia .no exercício intelec– tual ' com as indecisões~e eis titubeios de um estreiante das ge– rações -passadas. Começa realizando qualquer cousa de defi- nitivo e 'Concreto no terreno das ideias. · O caso Benedito Nunes, por isso, ,não é o de "um menino que promete", ·como se diria a um romântico precoce da ge– ração de Casimiro. É, antes, uma realidade evidente, palpável, · construindo jl\, uma -obra vincada de indivuiualidade. Aquele trecho dQ ;eu "Poema do solitário" é alguma cousa de um · poeta que se sente no seu verdadeiro caminho, transmitindo– nos c9m desembaraço e personalidade a sua mensageni poética: I "Quero ir ao encontro da ult4ma estrêla, Quero passar além de todos os sóis ,. E olhar o que :ficou E ollaar o que , virá. 1 Na noite chuvosa não há equações 11em matemáticas impertinente&. · ,mas o canto do grilo - ç,uebcume da g,rama ensopada". Visual, penetrante, tem olhos r,a:ra enxergar emoções sin– gelas e ocultas que a nós outros escapam. Um detalhe, banal, . -- Depois, a -mocidade velo ,rindo. E, vindo a, mocidade, também velo, Num mundo novo estranhamente llnd.o; Nova fase de ·vida, novo anseio.– Foi então das moendas e~cluidá. A mimosa "Creoula.", a rulodice Grandemente por mim apetecida - Na minha menidiee. Tinha. chegado a quadra venturosa E inesque.clvel da e.xistencia humana. E aí o meu "Banguê" moeu a capitosa, A soberba. e ideal cana "Caia.na", I A ~na da Ilusão, dó amôr, da fantasl::::ª :.•=--..;..•.__ Do .~nhó,-4a ei.per~ e • da-poesia. .,.- Finalmente, chegou ela vida a luta insana,. _...Jtel.egando ao passado· a "Créoula" e a "Catana,". 1 ~ -logo o -meu "Banguê", num ritmo voras, • PassGJ1 a tritur:llm · 'Podas as canas. dos eanamis Que o destinó me fez atravessar! El.. a.ssim, nu.pla sequencia eelere, e,i;pedita. • Foràm trazidas pelos ."Cambiteiros" A ''PêojÓta'', a "Salangô", a "Fita" E a. dUl'a "Cana-rôxa'' dos, aee.lros. E êle, sempre a 'môer, moeu-as todas~ , Todas aquelas e outras mais ainda, Nessa moagem prolonga.ela., infinda, "-- Em que as moendas quasi ficam doidas! .• • ..., E, enfim, que resultou de tanta aüvidadef Desse-esforço sem par, que foi que lhe ffeo11f Moendas estragadas. . • E a saudade: 8 bagaço das canas que esmagou! ' aparentemente destituído de poesia, ao sabôr da sua visual dade assume aspec,to inedito, insuflado de uma vida diter , - te. Um!i rua. Quanta porção de lirismo b1ocente e tocante · descobre num "Trecho da Conselheiro Furtado"! A gente dl - g~ ' até a entreparar, comovido, 1 diante da eclosão surpr - dente de. um guadxo novo, chei-o de claras perspectivas, que d nossa visão estreita não pudera atingir: - , ,, "Parece uma l'Uruzmha de vila do interfor a. ·conselhehie !!Henciosá 'que a linha de ,bonde Jláe alcançou. _ . · • Passa 110 lado_ do velho cemitério, _onde os moi:tos de mil oitocentos fazem pouco do século vinte... Passa ao lado da Soledade, •· < ~ gue -fica' tão só de.ntro da noite com o sino cansado batendo batendo, -ost moràdores já viram o Conselheiro puxando a corda do sino. Jme 1 quer missa, quer reza ,quer que capinem a ruazinha calada. De dia a rua é das crianças , de toda -a molecada que• vem da .Pratinha. Sobem papagaios · curicas cangulas. que ·ficam dansando no céu brincando com as nuvens distraindo "seu" Furtado". . • • A!r reminiseênc,i~ de imagens, que lhe ficaram talvez <'l'íl leitura d~s simbolistas, afloram-lhe sob um sentido :renovad~ • "Um primeiro clarão é o bocejo do sol''.. Por tsse traço irônico da sua }!)Oesia, como aquela .sua ou~ imagem • , , ' -'.Acende• apaga acende a,paga aqui ali O vagalume dirige o trânsito noturno", podér-se-ia fidii\-lo, talvez, a Drummond de Anfuade, em cu:Ji ;poesia, revestida de um , doloroso sentido de ,humou.r, há às vezes explosões de saudável ironía. A qu~stão-, porém, de :filiar Benedito Nunes a esta aq àquela- familia de poetas é, repito, obra para C> :tutttr•ó, coni o robustecimento das suas atuaes .possibilidades. E, depois,, não s6 o poeta,_mas o temperamento de romancista, também, que é Benedito Nunes, ganharãQ em proporções e. teôr com C>tt anos que virão. · . Por ·enquanto, a nossa atitude deve ser de esp.ectativa, eon,. templando' a ascensão ·sere,.na desse jovem astro, que 1 teµi de ,;ubir muito e muito ainda. . UVR0S RECEBIDOS:. - ''.O Hato Fl~za•, de Culos Lacerda, "De Napotes a Paris" (comos da vida expedicionária) de CelJl'o F\I> tado, e "A Campanha da U.D.N.ª, de Virgllio de Melo Franco. _; •

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