Folha do Norte: Suplemento, Arte, Literatura - 1946
• . • • . ! ' t 1 .... .,,,,,~D~o;_;:m;i;;n~!J~º;;·;,,;2~d;;e~;;j~;n~:-;;h;;;;o;,,,d;;e·,,;;:l;,;9;,;4;;;6;,,,,,,==e=;;============,:,::e::F=O""L=a:=A= D=0=N=(?!::,:R=T=E== =====•~=== 7 ~~1·=~=,/J\~;,:::- ·f:,=,·~• = = = ·==~· ."",. ""f""·""1t~·-/ f=':;J~\\,,;',.,.·!=-·~,,,,-.'e!:P\Í:e:·,:,,;·~;, 1 i""h=J_=· ·,. ~ __, •= 1 , ..., ~__,,....., 0..,,,.......0._..:,~-<..-.o_.o~•_.,, ta t.rêmenda coJJ1 as forças in• l\"l\.,. - ......... ~t,.JlÇf!i ,.\ .:tl...:ti Jênc1a -.1.e um hotnero feio -sô– bie · o- coração de uma ·1null\er formesa; Belisárla dansou uma, duas: muitas · vezes com l o es– critor: o riso de zo1nbarias se foi escondendo· o brilho mofa– dor dós olhos, se foi transfor– mando e a admiração do talen– to daquele home1n transmudava a caçoada em respeito. o respei• to em simpatia, a simpatia em devotamento que -a morte apenas engràndeceu. Meses' após esta– vam casados, tão profundamen– te fun<lidos alma e cor<\ção,_ 9ue a moça formosa de Cap1var1, re– solutamente, caminhava ao lado do homem criticado e mal en– tendido, assistindo-o com a sua coragem, entusiasmando-o com a sua energia. suavizando-1he as horas de luta com a sua ternu– ra, oferecendo-1he toda a obla– ção de sua inteligência ao pon- .-.., _ ,_.,-....-...-.~,..._,.,._,,._,_,,~•-·•--<-•~~~~.,._., i co1~cientes da natuPcza.. a p1·oce- lãria parece não gastar esfor.ço A VI .do EA Obro De Julio R~beiro ·ti W~1~~;fil~~i: 1 ~f;~::ii:ff um pipilar de triu1úo". E' a A JULIO •, procelária. que Teófilo J?ias can- ( CONFERÊNCIA PRONUNCIADA POR JOÃO DORNAS FILHO EM HOMENAGEM tou nos belos alexandrinos Lns- ~IB~IRO NA ACADEMIA J,VIINEIRA DE LETRAS) 1 ~~fg<>s no panileto de .ruuo Ri- Panfletos que de 1887 em di- ( CONCLUSA_O) -••-"_,,_,_,_,,__ ---~., ante, escreveu em São Paulq ~ • -O-il•~,~o--•n~o• H com alguma regularidade. Pro- - to· de por ele sacri:f.icar a sua propria crença. ,seguindo 0 o · nu– ma religião que não fôra a de sua ·niância. ur~ onta.va --me 1 então, depõe ainda Silveira Bueno, que mo– ravt1m na rua de São Caetano, próximo ao _Seminário .Episco– pal. onde lecionava Sena Frei– tas . De tal maneira estavam exaltados Ol>- ânimos com a ·po– lêmiea nos jórnais, que o casal tlustM mal podia sair à rua: apontavam-no a dedo, paravam par a melhor observá 0 1o e os me– nino.s abriam esbugalhadamente os olhos ante o homem que ti– vera a coragem de afrontar a soci edade do tempo com o atre– vimento daquele romance! Ape– s ar de tudo. nunca odiou Julio Ribeiro ao- P. Sena -Freitas: se– parados pela religião. pois era protestante: sepa-rados literãria– m~nte, nunca lhe negou entra– da e1n sua casa. permitindo que o padre o visitasse quando. já muito enfermo. em Santos. es– perava O'i, djas da 1norte. E aqui vem . muito de propósito. um ponto que ·· é necessário esclare– cer; depois desta visita, escreveu Sena Freitas que Julio Ribeiro se convertera ao catolicismo, ínvocando, em suas dôres.. a Nossa Senhora. Isto foi imagi– nação api:es-sada de quem dese– java a vitória espiritual, já que não pudera conseguir a intelec– tual. quando pela pena se bate– ram na imprensa . . Toda cordia– lidade fôra mMtida nesse en– contro d.os antigos polemistas. Evitou o enfermo o debate re– ligioso: o momento não' era pa– ra tais discussões e não seria1n aqueles p,adecimentos físicos que iriam mudar as convicções de quem . moralmente sof'rera muito mais, que atrave_;;sara cri– ses profundas de dúvida e :i:'!e d escrença, voltando sempre f; !é que lhe viera do berço. .Julio Ribeiro não se fez católico e morreu lúcldo. dentro do perfei– to- domínio de suas faculdades, protestante, embora liberal, tão liberal ao ponto de receber, no séu fe1tO ae ·agõ'nja, a querrrtãii; to o _atacara-Sena Freitas" (1). •1l - Esta informação não é exata. .Tulio Ribeiro nunc-a mais falou a Sena Freftas depois da 1 polêmica, e morreu ateu. Her– mes Vieira, no seu estudo bio– crltlco · de Vicente de Carvalho ("Vicente de Carvalho - o sa– b.iã da Ilb.a do Sol"), comprova .;,sta verdade quando relata: ".Ju– lio Ribeiro estavit a finar-se, quando o Pe. Sena Freitas, seu antigo qesafeto, <:r foi visítar. :Naturalmente, qulz o Uustt·e sa– cerdote ~<?nciliá-lo com a .religião no dec1S1vo instante do seu trespasse. Mas, além de ateu mpenltente, como ele 'mesmo sé classificára, Juli'o Ribeiro vo– t ava solene · aversão àquel e sa– cerdote, em virtude de desinte– ligências havidas entre ambos. Em pleno viço mental, apesa.r de estar quasi agonizante, ao autor· de ..A Carne" não escapou a in'tenção do Padre. que nem siquer pôde falai' de religião n a presença de .Tulio Ribeiro, - porque este não lhe ccnsent..u v a enunciação de palavra algu– ma. De sorte que, mal Sena Freitas saiu, ele mandou cha– mar Vicente de Carvalho, incum– bindo-o de desfazer, caso t'.ll se • verificasse, qualquer noticia que ~ pro~alasse depois da sua mor– te, s6bre sua conversão. Desa– p~recido .Iulio Ribeiro, . popcos d1i1s após apareceu um artigo de· Sena Freitas, • dizendo que o grande escritor se havia, r1os seus derradeiros instantes. cc,n– ciltado com a Igreja . Vicente, conf orme prometera veio cumprit a pro1nessa . E fê; lo ind,iscutivelmente, com uma e levação de idéias. Refutou com delicadeza as palavras do arti– culista, mostrancto a inteiriç;a p lenitude das convicções filosó– ficas do morto, e provando "que a noya tendência intelectual de Julio Ribeiro não o afastava das ,concepções :f.undameritais do na– turalismo monista, e que a sim– patia do ilustre pensador pefo budismo cientifico, longe de· ser u_m sentimen~o religioso. ex,,1 um s~1nples movimento . de curiosi– dade : f.ilosó.fi.ca , nada lncompa– tlvel com as suas idéias de 1na– terialista". E tão bem funda– mentada, e criteriosa, e lúcida, e austera foi a defesa de Vicen– te, que o Pe. Sena Freitas não voltou ao assunto". (Pags. Z44- A5). Outro episódio interessante que Silveira Buenô-~evela é o de um fep!>meno de materialização e-s– pir.ita, verificado com lloracio tava fechado. Uma ~arde, ao cair da noite, _passando. pelo edifício da redação, viu Horacio de Car– valho que havia luz na sala: al– guem deveria lá estar. Oil'igiu– se à casa dê Do.na Belisarla e perguntou-lhe se havia 1nandado alguem ao j9rnal . Dian,;e d.a res– posta negativa, pensou em la• drões e, tornarido a ·Jhnve do prédio, voltou para ce,'tificar– se do que havia. Ao chegar à porta da i;edação. antes de abrl– la, espiou pela . fechadura : lã dentro. de costas voltad,1s, al– guem 'lia um jornal.- Qncrn se– ria? Observou melhor e pare– ceu-lhe que fosse Julio' Ribei• ro. . . Mas como? Não tinita fa– lecido' há semanas,? Tornou a olhar. e então o estrann◊ v;si– tante se foi voltando para a por– ta, ' lentamente. e baixando o jornal que lia, olhou também ele para a 1nesma fechadura pela qual mirava Ho.racio de Carva– lho· os olhares ,;e el\CO.(ltr:u-2m, se 'reconheceram. Na lin~ia d'e certificaF•se b'em do q !.te lhe ocorria, 1nete a chave na porta, abre-a entra no recinto, n-ws o encontra às escuras, apag,ido o lamoeão, tudo silencioso. F/ira miràgem, auto-sugestão, pro,e– ção do que . lhe. passava no espí– rito. engano enfim tio se\t p~i– quismo já adrede preparado por tantas leituras. nessa constante esfera de rnist.ério e de sonhos da teosofia e do oeultismo? Não me proponho a discutir o lado · religióso ou cientifico d o assu11- to: sou apenas narrador. repe• tidor de narrações ouv1das a Dona Belisaria Ribeiro. o mais verídico repositório .das tradi– ções de seu. espóso ilustre ·. Julio Ribeiro morreu a 1 ° de novembro de 1890, como sempre vivera, isto é, combatendo in– dormidamente, . corajosamente, vlrilmente, porque, no dizer de Origenes Lessa. ninguem podia ter ·meias· atifude.s diante dele. "Mesmo porque as suas atitu– des eram, sempre definidas e ra– dicais. Teimeso, altivo,, indepen– dênte era incapaz de t'ransigêri-. cias 'é de concessões. Viera ca– minhando sozinho. Sua vida era uma luta contra todos, sustenta– da c'õl'!r'"ó' 'a'prumo-c-quixotesco de quem precisava de inuni-goi; pa– ra viver, e, pàra o gosto da vi– tórJa. precisava-os mult.iplicados e engrandecidos, figàdais no seu ódio. , "Os meus inimigos", "os meus ·detratores". "os meus ad– versá1'ios'' são ~s expressõei, mais :f.reque!'tes nos seus e_scrj– tos. ll:le esta sempre na brecha, na liça, na arena, na . estacada, no, campo de batalha. Imagina~ ·se de lança em riste, de viseira erguida. de azorrague em pu– nho. Espanca, esmaga, tritura, apavora. E ' o 40 mosqµeteiro. ' D•Artagnan" . Jullo Rtbeiro expirou em ex– trema pobreza l1'a casa do por– tuguês Homem Bitencourt, em Santos, onde está sepultado num mausoléu, talvez meio ar,•ebi– cado, mas nem por isso inexpres– sivo: "Consta de uma lápide 'dé mármore branco, tendo em rele– vo, nos captos, ramos de 1·osas: no centro desen,ola-se um pe– daço de pergaminho com dize– res; no plano inferíor, · em re– levo, então as obras do finado - "Gramãtica '.Anàlitica", o "P a• d r e . Belchior de Pontes" e "/' Carne". No topo d a campa ele– va-se uma coluna de mais de dez pés de .altura, c·om seis pla– nos. O soco da coluna é de mãr– more preto. Ao rez-do-chão fi– ca o ossuário". Da sua obra d~ escritor, de que Ver lssimo. e outros crfticos -prenunciaram vida e.fêmerá e ligeira, falam as . edições e mais edições da "A Carne", realmen– te grande e duradoura. Da sua vida de homem permanece o exemplo d~ coragem, de digni– dade e de força que ele se1npre soube manter em todas as vicis– situdes- da sua tormentosa exis- , tência. . Mas a ogerisa ·que tomara a Sena Freitas permaneceu irredu– tlvel após o . incidente daq\1ela · crítica infeliz . Bem antes da su.a morte, quando perdera um de seus . fi)ltos e Sena Freitas lhe escrevera uma e.arta de pe– sàmes, Julio Ribeiro ,lhe respon– deu: . "Recebi o cartão em .que _y. revdma. me dá '.'Sinceros pês<!c– mes" pelo falecimento de meu filho. Não agradeço êsses pêsa– mes, não posso aceitá-los. Agre– d i do, ridicularizado, ferido em meu melindre por v. revdma. exterioridades de -éortezia, ·quan– do em meu coração Jav·ra fun– do' o r./i\llcor, é façanha diplómá– tica qu.e se não compadece com a minha lealdade· de ânimo. Sou franco, franco em toda a ex– tensão ·da palavra, francq até à brutalidade: a. minha franque– ia leva-me a dizer - ab9rreço, detesto tanto o sr. padre Sena F-reitas quanto outrora o apre– ciava. - .Julio Ribeiro-. - Julio Ribeiro, e "A Carne", em 19'40, atingia a 16 8 edição. E há pouco tempo uma editôra .pau– lista teve a feiiz idéia de reunir em volume as "ProcelâTias", · as "Cartas sertanejas" e a polêmica Sena Freitas, obra esparsa de jornal; coligada com perfeito r i– gor e edições essas hoje inteira– mente .esgotadâs. O "Padre. Belchior de . ~oxites ·• foi também reeditado entao, em muito más condiç.ões gráficas. entretanto. Estreando no romance com êsse livro, Julio Ribeiro j á de– nunciava os grandes defeitos e as notaveis qualidades de fic– cionist a que iria revelar na "A Carne". E' uma nar.rativa de fun– do histórico, tendo como persona– gem central a figura do jesuíta a que os índios de En1baú cha– mavam de Ab:iré-Tupã (o padre santo). Iniciado em 1872, se1n certa continuidade, pois foi pu• blicado incompletamente em fo– lhetins num jornal de Sorocaba, ·o romance padece de certa de– sarticulação, de certa indecisão no concatenar da intriga, de .::er– to empastamento de estilo ine– vitavel em obras éscritas desse modo. •Mas é, inquestionavel– mente, um tomance de notavels méritos e que ainda., hoje se lê com agrado. Ele mesmo confessa, no p ró– logo, que o escreveu para u,na edição <le 150 volu1nes, 'incine– rados depois de reservar apenas seis ex~1nplares para a nossa memória e que o seu romance foi elaborado "sem 'plano as– sente, -se1n seg.ui, r escola, sem pretensão de espécie alguma, só e só para encher o espaço de um periódico". . · Foi terminado em 1876 "às furtadelas, em pouqu.iss1mas ho– ras arrancadas quasi às la):>uta– ções duras da vida'' e não Jhe parecia gi;ande coisa. Achava-o nrr1 ro.)"Aance essencialmente hls– tóriéo, apesar de alguns anacrô• niSmos que julgou necessãrios à riqu-eza. da_fabulação e de algµns personágens- e-episódios. fanta– siados e inseridos com o mes– mo fim, como a prófissão de fé protestante do padre Belchior. Talvez repercussão de simpa– tias sectaristas. pois, como ob– serva Manuel Banq.eira, .Tulio Ribeiro, "católico de criação, a leitura da Bíblia fizera-o pres• biteriano como a razão mais tar– de o faria ateu. Era protestan– _te ao temp.o de "Padre Bel– cillor de Pontes" e o protestante se sobrepôs ao ro1nancista". José Veríssimo, que julgou com pequena simpatia e nenhuma compreensão a obra de Julio Ribeiro, dizia desse romance que nada nele proporcionava a ilusão do meio e da época em que se desenrolou, o que facilmente se contesta, t pois se notam em vá– rios passos da novela os sinais do homem que lera Pedro Taques. Gaspar a Madre de Deus, Si– mão de Vasconcelos e outros cronistas coevos da ação. Romance tirante ao heróico e ao grandioso. com todos os re– cursos de ribalta usados pelo romântico com grande dis– pêndio de zarcão e papel go– mado. o "Padre Belchior de Pontes" jã revela, todavia, 9 realista nato que se afirmai·ia em "A Carne''. As suas descri– ções são minudentes. diretas, obje tivas, como esta escolhida para exemplo por um dos se.us penetrantes analistas. E' a des– crição de um jaguar: "Era uma massa f ulva, beta– d a de negro, aveludada', movei, rojante. Informe, sinistra; . uma parte mostrava-se na claridade da luz~ outra perdia-se no som– brio da lapa. Na; extremidade vlslvel havia dois olhos !{ue olhavam. Quedou-se por um momento, escutou. observou. Depois, soltando um rugido que ecoou pelos montes con10 o ribombo do trov.ão , emergiu de i.tm salto e caiu de pé, firma– da em quatro valentes patas, Foi ,uma transfiguração: esse tura dos o1hos. Não pôde. O celária", e "Carta!> Seri:anejas". vulto qu~. cosido ao solo, era membro paralizado recusava-se são no gênero o que de melhor un1 ,ncmtão indistinto, tornou-se, à ordetn do cêrebro. Tentou o se fez em ling.ua portuguesa. ereto, um sober~o animal. mesmo com o braço direito, quii emparelhando-se e às vezes ul- Largo de peito, delgado de va- mover as pernas: igual impossi- tra_passando as "Farpas" no vi– zio, robusto de jarretes, tremia bilidàde. Tentou sacudir a cabe- gor e no desasse>.mbro em expôr de ferocidade e prazer, como se ça, fechar e abrir os olhos: sacu- as idéias. lhe pereorrêra os membros uma diu a cabeça, fechou e abriu os E foi quando revelou a outra corrente voltáica. olhos. . face da sua doutrina - o sepa- . Com a_s pupilas contraídas pe- Passaram-se alguns 1ninutos. ratismo de São Paulo. Queria la luz do sol, escancarando as .. Tentou de novo sacudir a ca- São Paulo, Paraná e Minas se– fauces sangrentas, açoitava ·os beça, fechar e abrir- os olhos. parados da Federaçã~. argu- . ilh ais com a ' longa cauda, e pre- · Impossível. A paralisia era qua- mentando com os elementos an- parava-se para a luta. si co1npleta, quasi tofal. E não tropogeográflcos que nos distin- Os paulistas reconheceram a sofria dôr, constrangimento de guem. "lviesologicamente, etno- fêmea do jaguar". · espécie alguma. A um canto do lopcamente, genealpgicarnente. Da mesma força do "P,adre forro, aranhas domésticas fàbri- nós somos- um povo ã parte . A Belchior", agora tingida de' um <:avam as suas teias: Barbosa chamada "Província de São P 11 n– fundo Jlrico que é, aliás, um disÜnguia-lhes bem os movimen- lo''; co1n seus tratos Í!Uensôs de dos traços mais imp1·essivos de tos hâbeis das · pernas, longas, es• terra roxa. de -uma fertilidade "A Carne'', é .esta descrição de guias, verdadeiros dedos de tí- inex.tingúivel; c_on1 seus vasHs• uma alvorada: sico. simos "ste!)pes" q:ue estão a <:'13• "Um clarão tênue aparece no Veio uma mosca e pousou-lhe mar ·por ovinos, caprinos e bo- levante, alarga-se, invade o céu; na face: com uma hiperestesia 'vinos que os _.Povôem; com suai suas tintas -suaves passam. por que chegava a ser um padeci- -ninas inesgót'áveis de .ferro. ele todas as gradações da morte- mento, êle sentia o prurido le- hulha, de cobre, de ouro. de côr, pm:purizam-se, ianilnam- ve das patas do inseto. Quiz en- prata, de tudo, à espera só e só se . .. Segue-o um listão de ouro rugar a pela ao rosto par.a afu- de uma explôração inteligenlt afocelado na 1:éla; as estrelas em- gentá-lo, não pôde. E a percep- para ·que jorrem tesouros; com pàlidecem e somem-se. a treva ção de tudo era clara, a inte- ós seus rios caud-ais, tão pi.scê,. dissipa-se. a sombra aclara-se, os ligência perfeita. sos, quasi como o 1nar - a cha · grupos desfazem-se, as •árvores -0', pensava ·Barbosa, não po- mada "Província de São Paul(>" , se destacam, a folhagem verde- t:er eu- ditar a algue1n o qu·e em basta-se a si prôpria, não prec,- , ja... " . mim se estã passando, descre- sa de estranhos. Nós. .l?aulis tas, Já era. evidentemente, o rea- ver o gosto desta morte gradual bem como nossos irmãos minei– lista minucioso e terno. o ena- , em que a vida esvai-se como um .ros e paranaenses, S'omos gent e morado rude e afetuoso das ·es- liquide que se escôa. Que sou eu muito d1versa da gente do Nor– plêndidas descrições da "A Car- neste momento? Uma inteligên- te gue nos governa. Te1nos tra– ne'', porént sempre o realista eia que sel),t.e e quer. presa em diçoes, temos· hábitos, temos vlsceralmen'te marcado pel a um invólucro mo.rto, cativa em costumes - noss9.,5 só · - desco– gar1·a que já fazia a iortuna li- um !;>loco inerte . O espírito, o nhecidos, incompreensíveis a té terária do autor de "Germinal". conjunto das íunções do cér.e- -no estrangeiro, ao norti~a. Nos– Mas, coino observa n1uito íina- bro está vivo. dá ordens; o cor- .só sangue é outro - em nossa mente. !vfanue1 Bandeira, no seu po está morto, não obedece. Te- máxima _parte descendemos. da discurso na Academia, quando nho u~ pé na existência e ou- colônia fidalga, que, em cirCt!nS– Julio Ribeiro adotou mais tarde t~o no não ser. Alguns minutos tâncias especlalissimas, ítindou, os processos naturalistas de Zó, ntais, e túdo estarã acabado; -sen1 nesta capitania de São Vicente. la, "não o iez por indiscreto mi- sofrimento. sem dôr. Já anteve- Martim A:fonso de Sousa... " met~smo, vassalo de novidades jo o "nirvana" . búdico, o nepoú- A tese é fraca, brechada por festejadas". S.e os adotou. foi so do aniquilamento.. . · um se,n número de falsos e con- porque eles correspondiam à ver- . . . Mas, por si, nada podia traditóri-o<? argumentos, eivada dade pro:f.unda db seu tempera• fazer: enclausurado no · corpo. por um particnlarisn10 que des– mento sensual, franco. robusto, à como o 1ep idóptero na cdsállda, tôa das grandes linhas que ca– sua inteligência ávida de ciência, estava impotente, estava a,ai,quf- ract.erlzam uma democracia -re– ao seu est1lo de expressão rude, l ado: nem siquer lhe era concé- publicana. Mas a paixão é vee– objetiva, direta. Juho Ribe!_!·o. dido o consolo triste de pedir, mente, a vontaüe é forte. e o era em "Padre Belchlor de P-on- de implorar.· o perdão da po.bre espírito é ineonverstvel. Para.. tes", um naturalista a que a mãe, da misera entrevada, a submeter o problema escravagis– "~"'<>td'éz:a.J iterária do tempo im- ..,quem a angústia cui·ava em um ta· à sua doutrina, deforma . a puzera a mêií talioode romão.ti - momento . reaHcJ·ade e tem ar.,eurua"4r&RJ!?' ca. O natura11sta já se trai ·em -A .placidez da morte sem dô~~~c-. en1 re1açad""a: ' p"fõvinci& centenas de breves anotações. da ..a\O.l:te pela-t>-...liAia dol' n<>G" "tlo- Rio de Janeiro: , como na cena do esfolar da pre- vos m.01rores, converteu-se ein "O erro da nossa iaveura tern · sa, quando- o cão, "repleto de um suplicio· atroz. pavoroso. pa- sido fazer causa comum co1n a carne. lambia por postres o- :fo- ra c4ja descriçã,o não tem pala- lavoul'a que J?O:t "mnitos anos lhe cinho besi,ntado de sangueira", vras-~~m humana. seFviu de modelo. com a lavou- como .nas passagens numerosas _l'v1orto e vlvó.rTtltto-;.tnorrera: ra da prov:itt.9ia do Rio. em que abusa dos tempos téc- so viv1a o cérebro. so v1v,a a As condJçoes da .zona que nicos de guerra, de fls!ca, de~. co_!lCi_êncla, e viv:ia P/i\ra a tor- <;_.011stitue essa p rovíncia são mui- anatomia" . tui-a. · _ .to outras e1n rclaçãi:,""'às '"t\-ossas. O "Padre Belchior de Pontes" J?or que nao ter espedaçado o O seu clíma senega)esco. a i11~ é o prenúpcio _fo-rte e pro-funda- crau10 com uma bala? gratidão relativa de sua terra mente marcãdo do rude, belo e A paraUsia invadiu os últimos vernae!ha. as sitas .1nuitas des– viril analista das desventuras de redutos do oi:ganis1no, o cora- "vantagens físicas não corisente,o , Barbosa · e Lenita no romance ção, os pullnões, sístole e diás- nâo permitem que o trabalhador mais discutido e talvez dos mais tole cessara1n, a hematose dei- aí se estabeleça, ai -se nxe. 1'i– lidos da nossa literatura. xou â~ se fazer. Um · con10 véu. rar o escravo á província do Rio · abafou, -escureceu a inteligên- serJa matar-lhe a lavoura". "A Carne" não é o modelo Ir• repreensível do romance . realis– ta. mas não é também con10 o queria Veríssimo. "o parto mons– truoso de um céref>ro artistica– mente perfeito". os seus maiores defeitos são até mais da escola e dos seus processos do que pro– priamente de Julio Ribeiro. e , dentro da relatividade que rege as coisas de art e, é incontcs,:i– velmente o que de mais alto, mais be1o e mais duradouro se escreveu no Brasil (1) . A cena da mactunba de .Toaquim C'lm– blnda, o castigo de "bacalliáu" , infligido ao feiticeiro e o s2u linchamento pelo fogo, e, ~obre-– tudo o drama· do sulcidío de Barbosa pelo "curare". silo pá• ginas eternas em qualquer lln– gua em que fôssem vasadas. -:u– jo poder de sugestão dificihnen– te encontra paralelo na liter:i– tura luso-bl'asileira. A morte pe– lo "curare·• é descrita co1n uma minudência e veracidade tão profundas e angustiantes, que chegam a crispar-nos a imagi– nação: "Barbosa nada sentia. absolu– tamente nada. Quiz ver a cesu– ra, tentou chegar o braço à al- eia de• Barbosa e êle caiu de . . . "Falando com 01nbrida.– v~z no son6 profundo de quem de,. sen:i que nos embaracent pre– n1ngue1:11 a_corda... " conceitos tradicionais, erros Jn- 0 pa1saip.~ta, tanto como o se- veterados. a _província de São guro e n1t1do gravador de a1- Paulo da serra .do mar para o mas, é · também em JuUo Rib.ei- · interior , é ~constituída pelas ba– r.o uma qy_ali.dade das mais sa- cias do Paranapanema, do riQ Ilentes c v1vas. e o grande so- Pardo, do Tiet~ e do· Mogí-Gua– pr~ lírico que varre os seus pai- çú;. o que não é isso, não é Sã:o nélS fazem dele um estranho e Paulo" . . . "A linha divisória na.– impress ivo caso na literat\tra re- tural corre e.ntte •Mbgi das Cru– alista uni.vers·a1. Zola e Flau- zes e Jacarei ~xatamente por bert, por exen1plo. levara1n ao onde o vale do Tieté separa-se extremo o an1ôr da minÚ'cia e • do,,-vale do Paraíba, a- 3 grãus do detalhe, como aliás todos os de longitude oé:Ste do meridiano realistas, mas em J-ulio Ribei- do Rio de Janeiro. Essa · zona ro essa exigência de escola era com.o parte integrante da zonà temperada de tintas ardentes e fluminese, obedecendo às mes– enamoradas, de uma simpatia mas leis fisio-sociológicas que a viva e cG!eante que dá movi- esta regem, é: e necessariamen– mento e vida à paisagem, ao te deveria ser. • escravagista: só contrário do tom frio e metódl- coagida, pc)a íorça -abaudonat·á co de relatório que paralisa e ela seus· escravos. , ." ,congela os ~painéis de Flaubert "Procelárias", "Cartas Sertane- e Zola. jas!' e "Uma polêmica Célebre" são trê;i obras primas do _gêne~ ro, e so Tobias Ban:eto no Br;)– sil e Camilo Castelo Branco, en1 Mas, o panfletã rio politlco é a faceta mais impressiva da rica personaliâade de J'ullo Ri.be iro . Po~ugal, se lhe podem igua lar no 1mpeto e na veemência com "!UE; sabia acutilar o adversário. l'vl.a1s que o fnólogo e o roma.ncis– ta. o :polemista ent- Julio Ribei- 1'0 é . o traço ft1ndamenJal .do seu ,.,oderoso espírito . - ' r----·~-~-, 1 OHomem Que Passou... - l 1 Abro a janela e olho a rua enevoada. A noite estã cheia 1 de sombras largas e a lua passa fiando, no · t ear cinzento - E' ela a linha-mestra, a cotu.– na dorsal que dá forma ao seu espírito inquieto e vibTatll, que determin•a, que caracteriza. q:ue marca indelevelmente toda a si.iã õ6rã e tõàãs ãs süãs ãítlü– des. Até na admiração e no pa– ne~irico ela se mostra lniludi– velroente, e ~ sua vida. dlãrja, no .comércio de idéias e opi.niõ.es entre amigos c;la casa, está eh.eia des$a .con:f.01·maçã·o in,elutà vel do seu carater. Que isso l he trouxe amarissi– mos desgosto.s. atormentapdo-111.e a vida inteira e até abrevjan– do-a desgraçadamente. não resta a menor dúvida. Aquela lucidez, aquelà agudeza di,, espb;ito, aque– la ·sede insaciavel de desvendar e saber, se tivessem a tranqµi~ lidade e o sossego fecundo .que criam as grandes ollr,.s, a sua pa~sagem pelo mun'.do seria 1nar– cada por u,m sulco dificil de líer atingido por qualquer escrito)' .Senhores! Muito' pálido e fugi- 1 dç Céu.. . ·As arvores me parecem noivas de cabeças em- 0 fj poadas.. , • Um vulto surge à .esquina - retardatario boemio dos cabarets. Spnol e,nto, passoii tardos, vei&- ele cheio· de vjnho, ! • a~·tomatlsado detr'bl:!ijobs. dPassou as horas el).tr~ mulheres J:>o- nl as e copos ans or antes, olhal 'l.do a vida pelo p risma 1 i material das coisas. Não tem vaidades e 111:!111 se esc0nde no i ! labirinto enervante ·da hipocrisia social: E' um homem vul- gar, um ¾ornem que gost'a de mulheres sem as fixar no • - ca,ninho por onde andou. · .., As noites oferecem sempre .uma coleção variavel delas - perturbadoras dos sent idos e donas soberanas de bolsas... Aonde o levará essa despreocupação tipica ,.,do destino? Vai dor,nir, tal1rês. A aurora não tarda. , da hng1.1,a. . · d e Carvalho, dado então a ex– . periênclas cardecistas. Conta Bueno: 1 "Julio Ribeiro falecera. O jor– nal que dirigia, em Santos. es- A discutídissima capacidade literária de J'ulio Ribeiro. no t q_ue êle realizou no campo da ficção, é um caso que não me- 1 rece ser .debatido, pols o tempo -------- ------- - , se encarregou de mostrar que o O violo l he q:uebrantQu as energias, mas e le se consi– dera feliz dentro da realidade palpitante que os outros de– J?lora,n. Detesta o sact·iflcio d& amor e foge às mentiras do sonho. Para ·a sua -concepção bestialisada, a alma de todas as- mwheres é como a alma de todas as noites~ impenetra- vel e ctt1el nas surpresas. . . . Acompanqo-o nesse avanço pesado, formulando esplri– ·tualmente indagação em tprno do transêúnte, pslcoloirta 1 estranha que se -n:ão apercebe da curi osidade profana. Mas essa conformação espi– ritual era nele uina fatalidade vis.cera!, _orgânic-a,' irremovivel. Ele era assin1. nasceu assim, for– mou_-se, célüla a célula, dos atomos que deve1n palpitar no selo das oudas revoltas ou no boj o dos ·!ielâmpagos siderantes. "Procelária'' é .bem um ·simbolo da · su·a alma, ·e é por isso o que de n1.aís :fortemente ,1?aracteristi– co -se admira na sua pequetul e inolvldavel realização literária. tivamente. .como convém a. uma p1llestra entre homens d.e espl – rito. e bom g9sto e ·que tãó bem conhecem a vid,a e a obr.a de Ju40 -~ibt;i'r_o, esboce~ ull).a fia gura hternr,a das m,us r icas e cativa~1lê's da no~sa história marc.adamente núneira p e 1 ,; .ampr da cultura espiritual e pelo. am.õr d~ t~ r.ra e éla gente bras1le.i1·a. cuJo zelo o Jevou mais de \tma vez ;'!O excesso e à de– masia . ~ . sobretudo, mineiro ê~e. o :foi também pelo bra~rio es– I?Jr~to de lipérdade ,nas S\U'l,S 1Pats a_m)?las formas, - republi– Cl!no liberal inconversive(, qúe nao_ _apateu sicfuet nma vez a S';la lança e1n ptesP.nça da tira– nia. fosse esta pólitica ou 1·eli– giosa. espiritual 011 soei.a i , 1'1o;al ou econôn1ic.i, Cl'E:'Sc ~n.do na QOSSa admü:a1;ão n>?sta lloni. ma– tin~l em que o seq poderoso e-s– pira~o espane;ttria triuntante quaiido a1rhas irmãs da ·sua gi:~n~ de al~a esmags1n v~rihnente e ~efln1t1vament e . pa f,•ce, d <} ter• 1a tçdas as vergontne$ do óhi;c1-1c– rant1srrie e, da fôrçn. <la tit>ania e do vilipêndio mofai.,. • autor de "'A Carne", cincoenta R IO, via aérea (A. U.) - Vai anos · depois de morto, continúa &ér _lançada, nos próximos mais . vivo e procurado do que dias, pela Editora "A Nol- muitos escritotes que ainda t e", a segunda edição do livro atravancam as prateleiras de. 11- "'Literatura Portuguesa", do ilus- vraria à média de dez volumes J:i"e eacrllor Fidellno de .Figueira- por ano. do. u ma das mais autorizadas vo- ''Pádre Belchior de Pontes" já •e• da c r ítica das letras portu - conta cinco edições, a mair,r pesai e um d01 seua grandes parte feita depois da morte de • Vejo-o desaparecer e fecho a janela. No meu quarto .não há um copo de vinho, siquer. E ' pobre. Da parede e1n– poelrada, apenas uma velh i~ ima oleogt·afia de Venus re– flete as tentações do -homen1 que passou . . . Aonde irá ele? A madrugada resa no rosario tremente de ê'ontas do orvalho e a lua continua fiando, fiando no tear cinzento do Céu. . . l • THO~Z mJNE:,___ • Era o homem da luta e da re– frega , onde que., qué elas se es– boçassem.. Alegrava-se com elas, J?tOcurava-as, atiçava-as com um ressurnante prazer él.e cruzado medie.val.. E· o procelária.: • A · íúria devastadora dos V'i\galhóes, as lufadas tesas do vendaval h.ão lhe detém o vôo pl.(fante. Na ~u- ----·-------- R IO, via aérea (A. U.) - ·O editor Zélio Valverde acaba ,, de lançar em edição "6ni~ bus" (dois volumes) as obras completas de Adelino Maga1Jiãe1, que criticos de prestí g(o con;ide• ram preçul'sor, no .Brasil, dos ,..,. pra-realistai; europeus, •
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