Folha do Norte: Suplemento, Arte, Literatura - 1946

. • 2 a P' . . . ag1n a FOLHA DO NORTE -· J)omíng~, .26 de m:aio de 1946 ==- . ' S. PAULO; via aérea - Hâ TRINTA ANOS DEPOIS, ANITA MALFA·TTI RESPONDE A MONTEIRO LOBAT.O: •Slonan.te M.oneu Plllwu... ~ G trinta anos, uma · jovem de· sin- 1 quadro, a palheta e as nntas guiar talento realizava, em São --· . . ---- -· adiante dele, no quarl<;, de en- ~aulo, umá ,exposição de arte ,_ 1 fermo. Nos ultimos anos. Da moderna. A primei.ra exposição . / / · . Fi~vi, que era um dos 1nais no• de arte de vanguarda qua se efe- · . . ' taveis escuitores do mundo es- .tuava no Brasil. Na cidade pro- Vi.nciana, o seu grito de rebeldia, / se não teve a força de um escan- · ii~Fo~~f~;i~~i~~~;fJ:~ª~~ RAN ü' 1CA. OU.MIST I FICADORA'' ;f~g:~~ir;ir~~1l~}:~:rr1~ fatti era pouco mais do que uma grande públ co, é inconsistente. adolescente. Voltando da Europa O artista é um só. Se ele tran- e dos Estados Unidos. onde es.. ~~,•-----------~.,.. , ~-,.-.,~~--º • ª - "- 0 ,- ··f sigir com o espirita COJt?f:'cial e tudara pintura, a menina-moça , i fizer. encomendas_ de. acô_.p c'?m deciâi.x:a e1<p&r seus trabalhos em A --Primeira Exp_osição De Arte Moderna, No B11asil. Em 1916 - Mario De Ãnqrade E O Soneto ! o gosto do fregues. có.mo se prn- nossa capital. Pendurados os qua- i tar ou esculpir fosse qua!9uer dros, num pequeno salão da rua ·Em Louvor Do "Homem Amarelo" - A Comovente Morte De Ernesto De Fiori, Um Dos Maio- , coisa ·como preparar .uma feijoa• Libero Bàdaró, • era• natural que res Escultores Contemporâneos ·- "Se O Autor De "UrupêsH Pre fere Escrever Como Camilo I da à carioca, então não será un•. sobre aquele . brado renovadQr I - artista. Será, quando· muito, um11 · caísse ª tempestade · da in:cóm- Ou Imitar 11,:faupass ant. Que Não Nos Sirva De Exemplo" , i Emília estouvada no pais das ar- preensão.. M:on~iro I;obato, indo i I tes plásticas. Se eu fizesse artei ver a exposiçãõ, . não gostou. E ! . , - comercial, como ·poderia, de1>0is. insultou a artista com um de- ~ - --------• - ____ ___ _ ..,..______,__,_ _ encontrar força para fazer a- ver- saforo que ficou celebre ....,.. o seü -, , dadeira arte? Não. Não e-xist'9 actigo intitulado "Paranoia ou - "Já lá se foram trinta anos, nhou com a bordoada de Mon- trinta anos, E. se é verdade que - - Mas o sr. Monteiro Lobato um.a pintura para vender e ou• mistificação?". Anita Malfatti não hein? Quanto voltei da Europa, teiro Lobato. não estou rica como o sr. Mon- afirmou que em geral os artistas t.ra para enriquecer O patrimo– er.a nem pa;,anoica nem mis.tixi- estava ,animada· de um P,ropósito - "O artigo dele causo4-me. teiro Lobatõ, vivo tçanquila e modernos m.o;rem na miseria, nio artístico_da htnnanidade. Nã<» cadora. Era apenas uma artista ho~1estó: contribuir, com uma antes, uma dolorosa surpresa, feliz, neste meu retiro .da rua que nlnguem adquire os seus há dois Portinaris, rião há dois consciente que procui;ava .viver,. parcela pequenina emliora, para tanto mais quantó havia lido, ·Ceará. Nunca me afastei do meu trabalhos : . . •· . · Cícero Dias, não há dois . Lasar no d ~;ntA~ da arte O seu tem q\je de$emos um passo à f.rente, . antes, uma serie de trabalhos de ideal. Se vivemos uma época que - "Isto é bobagem, n,eu caro. segall, não há dois Brecher·e· t . o s º"" - · · ' · · - num testemunho de liberta,.ãd .de Monteiro Lobato se não me en- difere. substancialmente. · dos Pergunte a Portinari se ele não po. mordida pelo anseio renova- Y • artista que se biparte, que pinta dor. Lá se foram trinta anos. preconceitos superados". gano a propósito do estilo. ··em tempos que se :foram, está claro v.ende os seus trabalhos. Pergun- 00 esculpe. baboseiras para ven• Hoje em dia, já quase ninguein - Sua exposição foi bém com- que o autor defendia uma tese que a arte deve exprin1ir essa te ao sr; Gustavo Capánema der, e obras de arte p_ara guar•:,,.. mais se escandaliza com a. arte preendida. na época? que me pareceu avançada. Quan- diferença. Hoje em d i_!, ningue'Jn quan,to ele pagou pelos paineis e dar. não é . a rigor, um artista. , contemporanea, Ela venceu em - .''Houve de tudo. meu caro. do li o artigo áspero c.ontra mim, mais escreve como J:Salzac. · Ou pelas decorações feitas por Can- E ' um comerciante vulgar . com<> • toda linha. Mas Monteiro Lobato Desde a pancadar ia do sr. Mon- tive uma grande desilusão. Ma- como Sá de Miranda. Nen1 pode- dido Portinari. no Ministério da tantos. que vivem vendendo suasi Insiste e persiste na sua velha teiro Lobato até aos elogios com- nifeste i o meu ceticismo a ,varios mos pint{lr como hã meio século. Educação. Interrogue Bruno mercadorias de carregação nas idiosinci:asia. Não mudou. E' 0 preensivos de alguns . criticos lmigos. E, afinal, compreendi que a não-ser coroo pesquisa a titulo Giorgi e procure saber quanto exposições de todo O mundo·· ... inesmissimo Lobato de 1916. A mais argutos/ Lembro-me bem a arte moderna independia do sr. de experiencia. Se o sr. Montei- ele ganhou com os bustos que _ Mas voltemos ao caso de Dei sua "Cart.a ao Pr-çeito" é .filhote de que Marlo de Andrade, mo-· Monteiro Lobato para existir. ro Lobato prefere escrever como figuram no Ministério da Edu- F' • - 0 • vend· s - espiritual de "Pa~nola ou mlsti.- cinho a-Inda, •visitou a. exposição Mesmo pôrque eu não .inventei Camilo. Castelo Branco ou imitar cação". . t/i~~~h~~~ ci:_ue na ' 1 ª seu • ficação?". Anita Malfattl, tão em companhia de dois amigos. a arte moperna ... Aliás, não ~Iaupassant, isso é lá com ele. E - E os seus quadros? , _ "Não vendeu porque tiã<t asperamente at açada pelo con- Examinou quadro por quad ro. E, guardo odios. '.Esse art igo de Lo- que não sirva êie exemplo. Cada - "Os meus quadros? Graç.as a quis. Ele Fiori ei;a 1.1m esquisitão. tis.ta. continua fiel •aos seus pon- às tantas, abriu a bocarra nu1na bato, escr ito hl\ tantos anos, é um .faz o que pode. E não o que Deus , nunca encalharam. Vendi Tendo feito alguma ~onomia, tos de vista artístlcos. E ai está, gargalhada rumorosa. Estranhei. u1na poeí;a dellquescente na mi- quer. De. mim, ·direi apenas que tudo, ou quase tudo. Inclusivé os pode tlar-se ao luxo de fazer ainda hoje, exercendo nã1> ape- Procurei saber a razão por ·que nha vida de artista. Ele, na ver- v:ivo e continuo vivendo .a minha .mais avançados, os da fase ex- arte pela arte. Tinha um ciurne nas como pintora, "'ltlas tambem achara gràça naquilo tudo, 9ue dade. não me prej udicou. Pinto época. Fui e continuo sendo sin- pressionis.ta. quando eu procura- danado ·dos seus trabalhos. Expu– oomo p.rofe:ssora de p~t•Ira, 0 era multo serio. Mario, ' porem, e ensino pintura há mais de cera. É jamais fui "snob". .. va alcançar certos efeitos de ve• nha -os, mas não os vendia. a nã<> seu nobre e fecundo apústolado não me explicou. Confessou-me, --------------- - ---------------- locidade, exprimindo, de qual- ser que pagassem O que ele pe– educativo. Na história do Moder- apenas, que tivera uma forte im- . quer forma. ª inquietação espi- dia. Tanto é verdade que deixou. nismo. cabe-lhe todo um capitulo pressão. Uma impressão que êle --:-----.--•• ritual que antecedeu a guerra de com um irn1iio, toda uma cole• heroico: 0 capitulo empolgante ainda não poderia disciplinar 1914-1,918. Aliás. essa história de ção và.lio.sissima, que bem pode- da precursora. a través de uma opinião momen- achar ' ·que só é bom o que se ria ser mostrada aos paulistas, . . tanea". • · p - D vende com facilidade configura, numa exposição conjunta. reáli,- A P ROPOSI TO DA ARTE O HOMEM AMAREL.O oem 1 ' o a meu ver. uma opjntão menos zada.. por exenlo!?lo, sob o patro~ - MODERNA - Alguns dias depois - .acr es- 1 · sensata.--Quase sempre. mais vale cinio do Departa1nent9 de Cul- No seu palacete. à rua Ceará, centa Anita Malfatti - Mario de utn gosto do .que seis vintens. . . t ur,a". entre quadros dos velhos tempos Andrade voltótt· à •exposição. Qual_q\Jer artista tnediocre, que e obr~s inacabadas, Anita Mal- Muito serio, procurou-me. Havia transija com O goS t o õos imbecis. MUSEU DE A RTE MC>DERNA fatti falou sem .maguas a regpei- feito um soneto. em louvor do I e faça uma arte beiro compor- E Anita Malfattí encerra com· to da nova onda anti-modernista "Home1n Aínarelo". Um soneto tada, iSt o é, fotogi:afia colorida, estas palavras a sua entrevista: · que se levanta em Sã'!t Paulo. parnasiano. em grande' estilo, que Quero ir ao e ltlco ntro ,d,. ú Jtim 11 eatr&Ia. veruie seguramente a sua tner- - "l'.1as não vamos perder tem- - - O sr. ~on.teiro LoJ:>ato ficou guardo religiosamente até hoje. Quero pasaar além de todos os s ola cadoria. 'liav.erã sempre algum po com o ranço reacionário e em 1916, a despeito de tuclo -. Aliás, o "~ ornem A!plareto:,. E olhar o que ficou "nov~au riche" com verba sufi- com os D'Artagnan do acade1nis- quanto ocorreu. de 1916 a esta pertence à coleção MarioJde An- E o lhar O que 'Virá. ciente para encher os seus apo- mo. o qual ficou. para usar o · t .,,, fa · , c d d d - é · • , 11 , sentos de mulheres nuas. peixes . 1 d f ' l par e. .;.ue zer. a a um pensa ra e, nao isso. e tne'tais, marinhas quietas e pai- t1tu o e um 1 me que os cine- como quer. O s r. Lobato, em - "E' verdade. Mario, que era " ' • mas exibiram faz algum tempo, • 1916, .1fiánçou ao grande publi- um' j qvem ·estudante, pronto Na n,olte chuvosa n ão há equaçõell sageJ\S mansa.s de cartolina··. na noite do pa.ssado. .. Vamos co que de duas, u,111a, ou eu era como todos os estudantes, mani- ne m m atemáticos impertinentes MORREU PINTANDO cuidar de ir para a frente. o paranoica· ou, então, mistificado• festou o desejo de adqúi.rJ.r o mas o canto do !Jl'ilo - J:..obato aludiu a "um tal De. Museu de Arte l'.{oderna deve ra: E. afinal, parece-me que não quadro. Foi uma ·luta. O consé- ~ que ixwne da gram a e-!lsopada. Fiori'I, afirinando que ele mor- ser organizado em São Paulo ... sou, nunca fui n<1da disso. Ném Jhelro Antonio Prado tambem reu de· desgosto porque nunca A diseprdaucia do sr. Abrahã<> paranoica, nem mistificadora: que.ria. Afinal, decidi-~e pela III ~ vendeu um· trabalho em SãQ Ribeíro e a carta do sr. l',{onteiro artista apenas. Uma artista sin- o{erta de Mario de Andrade. •O ··Paulo... . Lobato devém, ao contrário d<> cera, que cuidou de viver O seu "Homem amarelo'.' foi ve°í1d ido a O grilo é um operário esquislto ·-''Essa versão infeliz prova, que se pensa, constituir um es- tempo e entregar-se, de corpo e prestações. o admira'vel polígra- que só trabalha de noite apenas. _que o sr.. Monteiro Lo- timulo para que continuemos ba- alma, à nova estetica prenuncta- fo - ah! quanta falta nos faz serrando c apim. bato, além de não conhecer ar.te , talhando em itról da concretiia- dora do~ novos tempos.. Eu, se J.\,Jarlo de Andrade; o grhnde, o ·· IV desconhJ?ce. ·por completo. quem ção da iniciativa. O Museu reu- tlvesse a mentalidade do sr. Lo- inolvidavel Mario de Andrade, foi o ,grande, o fabuloso De Flori. niria toda Uma docuurentaçã<> , bato. não anda,ria nunca de que valia por muitos "meda- Ace nde ap ag a u,cen de apaga aqul ali Além' do mais, a per.fidia loba- preciosa, colocando-a ao abrigo a.vião hem 4e automovel. Viaja- lhões" reunidos - levou. feliz, o O ...agalume db-ige o trânsito notumo. 1 teanà•foi, em ultima análise, um da destruição e d.o esquecimento, ri;\ sempre de diligencia, de t il- "Homem amarelo'.', E ficou me • achincalhe à obra de '.Ernesto De e às geraç,õ~ vindouras compe- buri ou de carro 'de' boi":. . pagando um tempâo.. . BENEDITO NUNES E:iori,'. que os homens realmente t i.rá emitir juízos seguros a res- .. \ E procura coordenar( suas re- "NÃO INVENTEI" . , cultos adrru'ram e cornpreendem. peito da nossa contribuição à "-1 ~ordações do passado. Anita Malfatti não se abespi- , , _ ..,...,._ ____ _ ___,.;..,__,__________ ,... De Fiori teve uma morte impres- evolução artística".. , f..************.**Jl'*************************~***************kk.***k!<*****.............. ~ .. ~ ......... ~ .. 'f.'f.'f.'f..\lJµ(..'f.)l.)f.Jµ(..)pl.'Ji.)l.)pl. 'f.ll l.Jµ(..'Ji.'f.ll'-ll'-'f.......'f.lll..... ~ 1 1 -Mas, não aproveitou. Você se parece com os estômagos··dispépticos; que não assi– milam ~ alimento. Puxe a seu pai. É raro que me vejam na rua sem um l ivro ou jor– nais em J?aixo do braço. "Seu" ~aujo. ave– rigúe, por favor, se martelo é só martelo. Araujo leu no dicioll4irio: , · - Martelo: instrumento ,com uma cabeça de ferro, encaba:da em hástea de páu rijo. · Serve também para achatar fe.rro. · , -Não contínue ! interromp·eu Emílio. Casa Martelo I Estou· ouvindo os comentá– rios: "casa onde o .freguês -entra inteiro, por seu pé, ·e de onde sãi achatado, em padiola !" A lembrança veio do hosoício. Chega a sua vez, Araujo. Você deve ter mioleira equili– brada, porque é mais idoso, se a sífilis não a 'éstragou. ..,, · Pereira de .iµauj-o já t inha o nome in– mente: -C?sa Netuno ! • -Casa Netuno? repetiu, Emílio, visivel- ~~~~~#>##-~....,.~~~ Pessôa que viaja por toda a parte, acomo• MORTOS.DO1\1:EUCAMINHO ' ~~ .. ~ ~ ·...,.......~~ • 1 ~ CONCLUSÃO DA 1.ª PAGINA pernas :fracas, um pé solicitando vênia ao outro para passar adiante, como diria J an– Stm., receioso de escorregar nas . cascas de manga ou de · banana das calçadas. Trazia . ao ombro o chapéu de sol, seu companheiro .i_nsepai:ável, . em qualquer estação, como se portasse um fuzil de guerra. E com o humil – de objeto, de abrigo de tafetá e cabo rúst i– co, afugentava os càchorros suspeitos, remo– via detritos perigosos e resguardava-se do sol e da chuva. . Sabia-se, geralinente, a causa da ojeri– za de Costa Taqúe ao Barão. O poeta, que tinha alguns macaquinhos no sotão, ·enamo– ·rara-se, à rédea solta, da esposa do titular e êste derriço lhe acarretou, como consequên– cia, um clister de malaguetas, que o Barão, no con:11ec~ento do desvario arrioroso, p,or comun1caçao da esposa, lhe mandara .aplicar. Bricio, vizinho de Costa Taque, fo'.i o ór– gão_de difusão dct vexame, que os jornais ca~ laram. ••• dando. se aos usos da terra · alheia. Pessôa que... - ... que tem galhofeou Emílio. bicho carpinteiro, afinal, - Justamente, convieram todos, impreg- nados de alegria. Estava• ganha a partida. Leal expeliu da alma agoniada um suspiro de alívio. -Só hã uma coisa, obtemperou o . capi– talista da razão social ·a surgir: afigura-se- 1ne que o negócio é de ciga no. Hoje aq1.ú . amanhã .acolá. Os presentes acharam que não. A fadi– ga e a fome resolveram, por fim, o ímpasse. Leal solicitou permissão par.a um esclareci– mento mais lato. Derramou-se: - O nome vem aopintar. da faneca. Ar– mazens Cosmopolita ! É como quem diz: casa de toda a gente, casa do orbe . inteiro, na qual poderão prover-se homens de todas as falas, castas e pigmentos. · O parente pôs-lhe embargos à fluxão vocal: . \ 1 mente desconfiado. Por que Netuno ? Acho o nome estrambótico. Consulte o"tira-dú– vidas". Zézinho foi quem deletreou: .- Netuno: nome de u,m deus pagão e de um planeta. . O .deus tem por cétro um tri– dente. Domina · os mares. Filho de Satur- no e irmão de Plutão. · _ Era o comensal mais querido da . farm1.ia Emílio Martins. Não ·se ·1he admítia o direi– to de faltar às refeições. · Esp erava-se que chegasse, mas, quando· passava da hora, ha– via rugas em todos os semblantes. O seu es– tribilho provei-biál, na conjuntura, era êste: "Não peço que me esperem. Na minha casa também .se come". • A ninguém tratava sem remuneração. Voltand.o dã janela ao círculo onde se debatia a c-0mplicada questão, que há quatr,o horas procuravam' resolver, o velho. Emílio ponder.ou, firmando a áestra espalrnadã na espádua de Leal: - Então você, ".seu" Antonico, que se tem na conta de ~let.rado, fracassou •m isera– velrnent~ ! - Não' bote mais na carta. Se os meus . amigos nada têm a opor, consideremos a ma– téria liquidada, •congratulando-nos reciproca– mente, por haver parido a montanha. tstá , ' batendo meio-dia: . ' ; - Quem são esses ? ...:.. Deuses da mitologia, como o .wtro, -Que' apito tocam? . Araujo elucidou: - Sattµ"no agriéulturava. Plutão exercia a alta magistratura no reino do inferno. · - Pare ! Pàre ! bradou Emílio, fóra das estribeiras. lma.gíne-se o tremendo esc!n– dalo ! Dar a um ai-mazem católico o nome de um ·sujeito cujo irJAão administráva as profundas do infei-no r De sorte q~e a nos– sa casa, funda<l.a por homen~ tementes ao Senhor; seria uma su.cu.rsal do inferno ? ! O cléro não se dignaria comprar-nos um ;vin– tém 1 A ·santa Madre Jgrêja, justamente melindrada, romperiá conosco! , Em nada quero me parecer com o atêu do Bacelar, quf.' numa noite de trovoada, -jantando em familia . pediu ao diabo que , lhe enviasse um raie pa1·a acabar . de comer o bife, porque p.ãc havia mais arroz! Não estou disposto, no último quartel da vida, a ser amaldiçoa– do por Sua Santidade e 'escornado pelos· Os própl'ios amigos pagavam metade dos honor{lfios. lj:ra hostil à pra~e do seu coléga Deoclécio Correia, que, quando .o cliente não tinha dinheiro, se tazia pagar em espécie, chegando a casa· com· o caleche atravancado de galinhas, p·atos, carangueijos, ovos, algui– dares, ·paneiros 'de :t;arinha, jabotís, etc.. Da cancela do seu consultório, na "Farm.ácia Minerva", pendi~ ~te_aviso, .em letras gar– rafais: "O dr. Br1c10 nao .receita de graça". ' . :ll:le · e o velho Emílio desavinham-se quasi todos os, pias, na hora do alm,oço, fre– q.uentemeóte durante a sobremesa, recon– ciliando-se, contué!o, antes ·ae se seRararem. - Tenho na memória uma se:xt.ilha impie-· dosa, que reproduzo adiante, com a qual o satirizara o poeta repentista Costa Taque, pai do ,advogado Pena e Costa, e cujas nume– rosas produções se encontra~. inéditas, por descaso .ih.justificável dos filhos. Raras ve– zes_ escrevia os vérsos caústicante.s que as suas inimizades ou antipatias pessoais lhe 'inspiravaín. .. 1 meus . .. O Leal, depois do pito que lhe desferira A ·crua ·morte, cansa.da , o parente, fechara-se J;lum mutismo sombrio. De tanta vida ceifar, Dando leves embalos à "bolonha" onde se Disse a. Jaime ;Po~bo Briclo: repetenara, para carpir o insucesso, limita- - Vai à terra cl inicar . - va-se a ouvir, sem escutar. E ~eva por companheiro Eni.llio Mai;tins, que sofria de bronquite· Zé da Mata Bacelar. • , asmãtica, aspi rou profundamente o ar, num - · lo)1go hausto esb;iduloso. Foi, em seguida. Zé õa Mata Bacelar.era o Barão da Mata à janela, verifica,r se já vtnlia, _Para o almo- Bacelar, médico baiano, aqui do1niciliado, ço, o eµ:. Jaime Pombo Br1cio. ;:ll:ste andava. com residência ·onde é , atualmente, a séd~ da habitualmente, pelo meio da rua, a passos "União Espírita", e tio do dr. .Tosé da Mata curtos e cautelosos, no cambaleio das suas Bacela;r Junior, clinico homeopata. .· • • Leal, espicaçado na sua vaidade, que era maio:114do que êle, empertigou-se: - Fracassei, não 1 O sen.hor é que é di– fícil de contentar ! Eu estava, agora mes– mo, cogitando de outro nome. - Pois desembuche ! Será vergonhoso que tenhamos de re<Íorrer a estranhos. Diria logo o "seu" Brício. língua de nalmo, q,.,,. a nossa firma de'leria .ser Cavalgaduras & Cia. Limitadas. Cascalhou uma de suas risadinhas Ga– racte~isEicas, pipocadas entre -OS lábios, onde Persignou-se sumariamente e chamou a filha - filha única de homem viuvo e rico - e manifestou-lhe o seu desejo: . - Dona Maxizinha Cera assim ctue, algu– l}las vezes, a tratava) podemos almoçar ? :ll:s- ses senhores participa.rão da nossa .modesta "boia". Chegará·'? - Or.a, ·papai ! Chega e sobra, graças a Deus, respondeu, alegre e airosa, a ~oça. Maxizinl:).a é, hoje, esposa ,do dr. 'Sulpi- pa.rec1am nascer. O ambiente amenizara-se, cio Auzier Bentes. Naquêle tempo, igno-· rava se a futuro marido existia. Mas, casa– mento, e mortallia no céu se. talha. Entre .os convivas; via-se, já, o vultozinho meão e animando O atarracado do dr. Brício. Entrara de manso e sentara-se disêretame_pte, fóra da área .rui– Le.al, que enunciou: . - Armazens Cosmopolita ! mopolita ! Que fal, hein ? ,' Casa Cos - dosa onde se agitava o problêma, fungando o sestro nazal, que o prenunciava a distância. · Entretinha-se, sem dizer palavra, em re– passar com as pontas dos dedos bre– ves e 'teminís- o õigode hirsurto e . decaido, que quasi lhe ocultava a õôca, bigode que, quando o-- dono tomava _sôpa, tinha de ser chupado. Era o seu maior t rabalho, às refeiçõe;,, desembaraçar-se do intr":50 . Não sé in"~ntara ainda a moda,. dos pelos ràpados. A proposta foi receb,ida com frigidez e ·reserva. Leal empalideceu. ·ouvia-se o re– chinar do ·'l)eixe que est;iva sendo frigido na c'oZJinha, e cu~a fragrância vinha até a varanda, onde ·os consócios se achavam reunidos, para decidir. _ ~ . , Nenhum deles se atrevia a opinar, sem que o chefe falasse, primeiro. , O velh·o Emí– lio repetia, em voz sumida, por entre den- tes: .~ - Casa Cosmopolita ! Armazem Cosmo– polita! Casa , Cosmopolita! Armazens · Cos~· inopolita l S.ôa bem,. x;ião há dúvida. Mas, rigorosamente, que .é Cosmopolita? ín•quiriu. Leal consultou, à pressa, um do!i voca- bulários, e discorreu: \ -,-Cosmopolita: pessõa que pertence ao mundo inteiro, ou faz deste a sua pátria. . Brícío pouco comia. Peniscàva o ali– mento e chuchurreava a bebida, .como passa– rinho. Gôta a· gôta, porém, esgotava a sua ga1-rafa de Colares: Leal narrou-me, anos dep.ois, · o .aconte– cido, com a jocosidade habitual élo se.u tem– peramento. (Contmúa no pró.idmo domingo) • ' ·, ' '(-'f.'(-)f.•)(-.ff.. )l.fl ,-.-.'f.'f..~)(,'Pf•1t-•1t-1t-'1'1t-••·H•••• .. i;.i;.•JtP1-.,li-Y.Hi;..•H•••·••'lf-'(--.V)(,)(.)(, ...... lf.-. :Y.V.>l•HH~'I-Jl..'l-•)(.H~•••••••»-..-..i;...'t-H•i;..•v... '!1-..•••.. Yi;..)f.i;..V,..~~LAI-! . . ' •

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