A Provincia do Pará 14 de Setembro de 1947

• PAgfna 10 A PRO VfjqC T t. DO FAffA 'Domingo, 14 de aet.:mbro de tffl - --- ----------------------------- Oual futuro do romance? Um poema de Pablo Nerudá O ano !Indo. um certo ndmero de escritores lnglesea maio ou lllfflOS repr...,ntatlYtllJ, Incluindo a minha pe5,1óa, roram con Vida– doa a responder um lnqutt!to acfrca do utado em que ae en– contrava a literatura tngUaa a partir da ruerra; devendo oa re– aultadoa ,u publlcadoo em !ran– ce., num ntlmero eapecial do Bortson . ~ tinham aldo u noasu leltura• favoritas durante a ruerra 1 QUalo e• trab&lhoo em proaa ou ver10. publlcadoa deode 1939 por rule CGN!deradoo OI melhores ? Finalmente, que– rerl&moa dlztt a noua oplnlio adrca do futuro du letraa ln– lJlbaa? Era empresa um tanto vaga e u reapcotu ur1am torçooamente aupertLe1all, atendendo ao eopa - ço que noa 'rõra concedido. Tal :,qutt!to porim tinha por fim tornar-se como que um primei– ro elo da ccrrente que llcarta 81 oostu da Prança e da Inglater– ra, hA tanto apartadu; dlr-ae– la uma upicle de ponte 8(Jley cultura, ,obre a eatrutu"A da qual, rapidamente <laborada, o repórter do continente poderia apressar-se com arrebatada lm– paclencla, a tlm de vaguear en– P.e nóo com prudente curiosida– de, uplrando o nouo ar. pro– nndo a nosaa emenda de tempo de ruerra e comparando-a com aquela que lhe era urvlúa no ,eu próprto r,als. ~m dúvida que tal lnquéito aerv1A uma bela lntençlo. Por veuo tenho per– runtado ccmlgo que UJ)kle de público terá ele atingido e de que ::1!ªép~~ pll:~':: :: crltoru não terão conatltu!do completa 1J111preu, e a~ que ponto 01 Jeltorea terão ficado pumadoe ao ducobrlrem que oa autorea de Alb!on IIUllo adm!ra– dca em Prança eram, ou total– mente lgnoradoa, ou apena.a menclonadoa pelos aeua compa– trlótu. !Ato porim é outro u- 111nto. TodOI quanto& contr!butram para eate queatlonárlo ae preci– pitaram com udõr ,obre OI re– aultadOI, uma vez utes publica– dos. Pr1metramente leram aa 111aa reapectlvaa respoetaa, depo!a examlnaram minuciosamente u IJataa apreaentadu pel01 aeus dlotJnto1contemporantos. Auto– rea há v1!d01oa ou, pelo men01, preocupad01 com a própria re– putaçlo; a!runa de5aes devem ter notado uma !mperdoavel o– mluão du auu obru entre os t.rabalhoa menclonadoa 11A lista O Shakespeare... (ConUnu~lo d.a t .• pa,.) cer a cronologia du peças, de traçar u •ronr.ea" . de deaco– br!r mais a re•pelto do teatro de Shakespeare e dos recursoe peloa quais aut.s peças ião adap– tadu ao palco, de elucidar a 1!gnl!lcação nu multas peçaa = t~::.:~~!!'~::i~'t-~. a1;; crlUca b!bl!o,ràf!ca e íextual o progreaao foi espetacular e oon- 10!!dado mais firmemente do que em qualquer outro tempo, :br~onc~ak~:. ~°" oe ••:~.~~ tado• alo evidente• se colocar– mos qu&lquer boa edição mo– dernA de uma peçt. ahakeapea– reana em conlronto com qual• quer edição de !DOO. Oraçaa ao trabalho de muitos eruditos po– demos ooncJuJr oom alguma ae– surança que OI textos dt. maior parta das peça.- são multo maio fiel> aoa manwcrltos de Sha– lteapeare do que muitos edito– res dos •6culos XVlll e XIX 11,usavam esperar. ~~:::'~ !~t: ~~ ~,:.': cio entre a erudição e a cri– tica rol. multas veze.,, chocan– te. Nunoa houve pontoe de oontacto enl.re Cõler!dge e Ma– lone, entre Swlnburne e Fur– n!vall. Ainda aaslm, o crltJoo Ideal de Shakespeare, malgrado nAo •eJa neoeuár!a ou prova– nlmont.e um erudito, não ~– ceaaltarf. do que os eruditos lhe podem enllnt.r. Ainda mais chocante • desastroso rol o dt– vorclo entre erudltoe e cr!tlcos e autor.. e produtores; Oar– rlck lo! di.cJpulo de Jobnaon e aeu amigo, mas Jobnoon não t.lnha Inclinação para o palco. O dh'Orclo !o! desastroso pnra· oe erudltoe e crlt!OOI porque toram e&J)IIUs de egquecer que SbakOllpeue rol um autor de S>eçu e pua OI atores e produ- :':·eFe'?~1e ~d-=a~~u•~ poeta Ellsabetano. E' alnal encorajador que OI eruditos e cr!Ucos estejam ago– ~ lnteressadOI na produção e .,preoentaçlo de Shalmpeare e que os produt.orea e at.ores nlo mala despre,;em ou Ignorem os eruditos e cr1U005 : ne.5les lll– t.lmoa anoe, dois eruditos de Oxrord e Cambrl(\ge !oram con– vidados a produ,.lr Shakespea– re e Webster para uma com– panhia proflsaloAal que dava apet6culos no Extremo Oriente de I.ondru, convite os.se . atm :i;recedentes, que honra erudltos e atores. 11:xl•tem ainda pro– dutor.. e at.orea que oolocam 111& própria exportem entre nós e a nobreu de Shakespeare e 6 ainda multo rara a ha blll– dade de representar a poesia dram.iUca de Shakespeare aem aacrl!Jclo do drama ou da poe- 111&. Ainda mais, necessitamos de mala produções naa quais os fUra00I de um pai'<() moderno aeJam ua&dOI oom lntellencla e beleza para Interpretar aa palavraa de Shakespeare, e pre– claamos de mais produções nas quais, oomo em aua própria es,oca, os atores tenham que fazer tudo com II aaslstnc!a ab– mente do cenl.r1o e da UumJ– nação. K\l.!tos frequentadores, polim, com cinquenta anoa de ex pertencia, ooncordulam em que Shakespeare é repreaentado mais lnt.el !gentemente boje em dJa do que o ~a em 1900 e oom mala rupelto pelo texto e aeu lllgnlf!cado. Deveraa, não aeri Ir multo longe dlur que o tex– to de Shakespeare é mais res– peitado boje .., dl:l DO palco que em qualquer outra época, à exceção, naturalmente, da de Sbakeapeare. O homem que fez mala que qualquer outro para levantar o padrão da produçlo abake,pea– reana morreu em 19te. Ele pro– prlo um dramaturgo de dis– tinção, Harley Oranv!lle - Bf,rlu!r to! também erudito, crl– tlcO, auior e produtor de gfnlo, oomblnaçio unlca ele dotes que talvez aunca mais ae repita. Du· r ante aeua úl~!mos anoa abete– •·• do teatro, mu durante ea– ~ JMafflOI anos escreveu Inter• pr~ de Shakupeare que preatarão õtltn<>s •erv!ços aoa produtores e a;orea de maJt.os ano. do porvir, por Rosamond LEHMANN elaborada por colqaa que oon• sideravam amlgoa e entlo, te– chando-ae num 611ene!o reun· tido, po rcerto puuram de par– te o .xi.w, volume. Apenai uma quantidade di– minuta mtre a grande ma.ta & de obr-U publicada& Capezar du ~• do papel) recebeu obr-U pqbl!cadu entre "" traba– baJ1- oon.•Jduadoc oa mellu>– r,s; albn dlsao, aõ uma mino– ria d&Quele1 que oontrlbulram para o !nqutt!to Incluiu o ro– macce naa obra.s mala lindas durante a ruerra. E, mamo a .. 111 minoria quaoe se voltou para "" romanc!stu do aéculo de,e– nove; provavelmfflte aempre ae urla mantido f!d a tais a.uto– res. Pela mJnh& parte, z!ão con– •Jco multo betr. compreender porque é que a guerra bavl& de modlt!car tio extraordlnarla– !llfflte goatoa e bibit.os !lteri– rloa Jt formados ,a náo , er na medida em que a rulna, a bru– talldade e a desintegração de uma ~ aumentam automá, tlcameni.o a nosaa tome da absuação e con,oto espiritual exlatentu na poesia, e t&l.-ez que tambem do equfilbrlo e ob– jetividade proprlos aoa trab&– loa blltórú:oa; náo talando utá rlaro da alteração Introduzida pelo rato de todOI d!aporem de menoe tempo para 1er do que dispõem vulgarmente num pe– rloclo normal. A pergunta : em au& oplnl!o qual ,uá o futuro da !lteratur& lng!eaa e quata aa suas poul- ::~1a:~~~opl',;::,.oco.:ntr'!.':it tórlaa. Alrumaa daa peaeou ln– t.errog&daa most.rlfi&m..,. pro– fundamente Jügubrea, lna!stln• do em fazer notar a croacenta ~lllgartdade, decadfncla e a– narquismo da 6poca que &tra– v......,,,. e tildo •~ ao ponto de profetlz&r a extinção total da arte de escrever; outru de– Je!taram-,e num bonançoeo op– tlmbmo e comedida esperança; e anic1& outros recUM.arm pro• uunclar_,.. Eu l!z parte deste lllt!mo grupo e ainda hoje u– tou convencida aer esta aUtu· de a mais aenaata. Por veu.s aa profecl&a voltam-se contra o profeta. Dlrtcterlzn é uma pa– lavra borrlve!· que cheira a pseudo-clffltla ·e corta cerce quaquer !dila de verdadelr& cuJturt.. Cooa!dero tal palavra tão horrenda oomo o hábito a· tua! de lér artigos acerca dos livros em vez de ler os prõpr!OI Uvroa. Quuo se tem a tmprea– do de que andu a apurar quais aa dlrecàJze.s " 1tlf1'IT ,e tornou, por •! aõ. numa eapé– c!e de profl&sio. Recordo-me de ouvir a um profealOI' de lei· tura de uma du pequena, unl– ver&!dad,. americanas, que velo :1rviJ':,';~ª~': :f~tr~~ uma taae a propõslto do roman– ce, que deatr!nç&r qu&b a., dlre– lTUU " ltlf1'lr era a aua espe– cialidade. Em compensaçlo, nunca ouvira falar de Marcel Prowt. E lembro-me também, ao rebentar da guerra. com que al&rldo e floreado& alguna do- 11mAUccn pol!t{oo-Ut.erirlos e /cztdl1re.s de manllestoa aalta– ram a u,tnalar u rotaa a &e• ruir. enunciando quais os aa- 1untoa acerca de que convinha escrevtr, do moco a oontrlbulr eficazmente para o eef~ de ruerra . Felizmente para nóo, a dei– peito de tio anlmooos chefes e a despeito doa pesatmi.taa, os e.5crltorea lng)e.,es posa u e m p e! o menos, Vitalidade e lndependenc!a de esplrlto au– !!c!eneta para resistirem a to– daa as tentaUvaa feitas no aenUdo de arreclmenti-Jos e tomá-loo vulgares. Muitos de– les, aempre que u c:ln:una– tanclas tomam pooa!vel a crlaç&o l!terf.11&. oontlnuma escrevendo conforme lhes pare– ce. Creio que DÓIS podemos aventurar a afirmar que "" ea– crltorea booa, ou mesmo aqueles que eram simples promessaa noa anoa anteriores t. ruerra, pu– seram a escrever meJ.bor: quan· to aoa miw escritores continua– ram a escrever de maneira In– terior. Al,uns outros, bons e maua, cesaaram por completo de prod\a!r. Voltando porém ao romance, cuJaa condições presentes e ru– turas, !Ao, em principio, o aa– •unto jleste artigo, o caso 6 que ainda nio apueceu qu>.1- quer grande romance de guerra, neni aur11!u nlngubn que oom– puwae uma b!stõrlo com peso moral, emocional e Intelectual <;ue nos sat!s!aç&, a nós que U– vemos uma exper~cla que du– rou oe!s anos. Sem dúvida 6 excessivamente cedo ainda para esperar tal coisa. Talvez que 6Soe grande romance ,·enba a ser crlto. Se realmente lhe tõr dado nucer, Julgo que n&o aen!. na Inglaterra mas em qualquer outro pais cuJos habi– tantes tenham suportado um aniquilamento oomum colossal e. em oeguJda. uma resourrtl– çlo - ~ t.lplco mito tlo !e· cundo para os escr!torer atra– ,'é\ dos tempos. Seri em Fran– ça ou na Alemanha ou, talvez um belo dia, na Rtwla. Na In– glaterra nio foi de.5tlno nooso - ou talvez nossa ventura. eo· mo &rt!staa 1 - !leu expõoto a uma t.otal destruição do espí– rito e & uma regeneração. Afa– dlgámo-nos atrav6s de um tú– nel lntermln6vel, sufocante e repleto de mult!dio e de tempoe a tempoa avistamos c,s rostos dos atacantes Uumlnados por 1elampag01 lúgubres e ardentes e ainda noutros momentos o tunel rugiu e tremeu oomo se !osoe de.5abe.r e oepulto.r-n01 a todos, e agora els-nos de novo !óra da conluaão. Mas o que conseguimos n0$ e para onde nos dirigimos ? Ain– da não sabemos ao certo. Nes– tas condlções, muitos dos ro– mancistas .. tio aporenumente a voltar-oe para oe tempos que melhor oonheceram - l,l&ra o clima onde a Imaginação pode expandir-ao e edll!cu, no melo de cenas que lhes utAo na me– moria e entre simbolos ante– riormente eatabelec!dos, exacta– mente conforme fizeram, na maior pute do• cuo.,, duran– te o perlodo de luta e contw,ão em que &t.raveu4mos o ttlnel. BMes eacrlt.orea olham para a. proprla Juventude, como Eve– lyn Wau,b na •Volta a Brl– deahead• ou, oomo Sir OSbert. S!t.well e William Plomer re– conatruem as auas vldaa paas&– daa eacrevendo auto-biografia, ou então Inventam alegorlaa e dAo J.araaa ~ rantaa1a. JW&a OoQlPton-B~ pm - a1Slni o esperamos, contlnuatf. lmpertut.vel a edl!!cu uma bela estrutura. "educad!na" em Yolta du 111N com~ domh• tlcaa, subl !m.es e oontundentes. Ex!st,o oontudo uma excepçio a bae grupo de •escap1staa• • Henry Green. em dois roman– ces •caught• e• Lovlng" , pu– blicados durante a guerra, oon– aeguJu vazar a •ua exper!~– cla recente, o =tado direto da guerra, no molde que lhe era adequado, m!StO de poesia e realhmo. Trata-se de um ar– tista pr!mo1'0e<> e. no melhor •entldo, de um art!st& d<» 005· noe,os dia.\. Pelo mmoa, con– aegulu dar uma !dila da fpoca, no aen tldo de revelar-nos de ronr.3 evidente - artisticamen– te tmndo - a wenc1a. a fragmentação de tudo quanto D06 rodela. Para de, aS!!m como para alguns poetu, a ae– mente germina fortemente por toda• u !Cldaa c:os «.oom– bro5. Tam~m me recordo d.e UIT.a hJOtórla de EUzabeth Bo-.,en. · rn r.be Square· (No Jardim Público) que, numas poucu péglnu, e\'oca com ln– crfvd pungtnc!a as vida.& er– rantes 1113& Intensas e penona– llzada.& de um punhado de gen– t.e numa caza, em Londres, melo deotrulda pew bomba.,. Qual !efá o ruturo do ro– mance ? Não 6 pergunta a que eu poS5a responder. E' mais aalular para o romanc!sta en; rtquecer o próprio esplrlto do que ter op!nlões aaaentes aõb:e aa COI!"-' : principalmente de\·e evttar 01 aerm6u . A !unção do romancista e permanecer per– meável, aberto, recebendo por todos oe aeu., .. nt.ldos e facnl– dades aa co!.!u, e retransm!– tindc>-aa num eatado. . . - co– mo descreve-to 1 - num eatado uaaz paradoxal. tendo o esp!– rlto a um tempo repleto de dú– vida• e de convicção. QuAJquer plano ou t!stema que tracemos, quanto ao futuro da literatura de ficção parece-me eululr dois elementos lmportant.!sslmoa !m– poasfvela de adivlnhar de an– t.emAo : primeiro, a natureu e ta lento do romancista; aegun• do, o aapecto da ,ocledade den– tro da qual ele terf. de mover– ao e que é !orçado a refletir . Terei pola de !lmltar-me a dl· ttr-voa umas qu&ntu !mprea– sões e augestõea•absolutamente oonttngentes. E . M . Porster afirmou, creio, que sente atualmente a !mpos– albllldade de escrever romancea l!iec/à:, ~~ ~•:os ~~Is~ sa instalar aa aua.s pe.raonagem. Elltretanto 11.so nio slgn!!!can\ multo slmplesmeni.o que terá de cr<ar·ae um 11~•ro d!ver:o d• romance aurca de pessoas que nlo poeauem !ar oonaUtu!do ou que, multo slmpleemente, nio Um lar ? Para mais. a guerra provou que a v1da Intima daa crtaturaa ae man~m. ainda oom maior lntenaldade lnter!Or, de modo a compensar as vtolm– clas exterior.. e que o desejo de 1o0brevlver e recoD!trutr au– mm tam na medlda em que ~ de opor-se t.a torças opos– tas de dealntegração aoclal; e, feitas as contas. a b&ae do ro– mance dti nas relações entre u dlnnaa per,ona!ldades. Não pertenço ao númen> daquele• que prevfm a extln· çlo gradu"1 da vitalidade emo– cional e confi.!too morais es– !orçando-ae por atingir um M· lado de Iluminação pslc:olõglca lndoro e lnslp!do. Na ?Mdlda em que noe é dado entender de música, de pintura. de teatro, de clmcla, de Jardinagem de cozJnba ou de Jogos. mais no, sentimos Interessados por ta!.J assunt.os e outro tant.o deve aoontecer no que ae r~er• t.s crltauraa humanas. Qu-.n~, mais ae ducobre tanto mala forte é a noasa curloaldade. O laboratório bUIJl&DO ainda oon– tlnúa aberto a todos e não aef1\ por esteo tempos mais próxi– mas que se t.omarf. posalvel ca– talop.r o derradeiro espécimen arrumando-<> dentro de um ficheiro. E enquanto !.aao ae torna poa&!vel, a vida e as lõrça.s que lhe aAo oonu-irtaa, o bem. o mal - por mult.o tem– porla5 que sejam aa formaa que lhe atrlbulmd5 - a felicidade, a dõr, a morte, contlnuam a ser mothoe a dlspoelÇAo do es– crlt.or. Albn de que as desco– bert.aa e experlmcla., doa eape– clallatu em pslcolo111& aõ po– derio ~uxlllu o escrlt.or, que aeJa capaz de criar, a com– preender slmbolos, recordações. e t.ambém a entender as deter-– minantes pro!unda.s das aç~ da.s cru,turu, oo!&a que, por certo, enr1quecera a cena hu– mana, em vez de esterU!tá-la. Os Jovens escrlt.ores deverto recordu-oe que nio é prova.– \'el que escrevam obra• de pri– meira categoria antM de atin– girem um completo desen,'01- vlme.nto. i: frequente que t.a, coisa nlo aoonteça senão por volta dos quarent.a anoe e. ai· gumas ,-ezes, nunca chega à acontecer. Tambem d•verão ter pre– sente ao esplrlto que um ro– mance 6 trabe.lhoso de escre– ver, não se trai.a de estrondoso Jomlli!smo, nem de •oclologla, nem de patologia nem de re– portagem de crime ~clona.J. E nada há mais peno50 do que um bom rouance pesmna– mente escrito. O romancista deve ter um cuidado enorme c:om as p3.lavras que emprega. com as frases. com a ma.neir& oomo exprime uma Idéia, com rada um dos parágrafos de per d , com o ritmo da prosa que, pode nAo •er tão subtil como o da poesia mas que, embora me– nos ooncentrado, di qu&Se tan– to trabalho, senão tento, como e ver<--o. Aclm4 de tudo, o ro– mancista deven\ escutar acu– radamente o que u pesoos dl– ~em e a maneira como o di– zem. Ter um ou·vtào apurado para o dlll.Jogo é tio raro oom:i essencial. Sem Isso. o romance f1c::irA morto como uma rez ab&Uda. Tem de existir, para o ro– manct,,ta oomo para qualquer outro artista, uma espécie de foco lnte.,.no. Aquele ou aquela que o não desco,mu ou que se !ecusa a ter a po.cléncla e concentração de esplr!to neces– sárias para lhe permanecer !lei, Jamais produzirá uma obra de arte, por mals brilhan– tes e férteis que sejam as suaa Idéias quant.o ao enredo e per– sonagens, Os autores que dis- põem pua os seus romances de um plano perfeitamente claro e são capazes de contar "o enrêdo" com todo o .por– menor desde o primeiro mo– mento, podem realizar Cou não> -•--~wa1111a-– amostra de úpero realismo so- cial, mas que nada terá que ,·er com o romance obra de arte. Para esta última eap6cle de romance acontece en ta– mente aqullo que 51.lc.ede com a poeala - a •ua gmese e & Ima– gem, ou a IIHle e Imagens. que 6e acamaram na ma.Ma de ma– terial acumuJ>ldo &dentro do tal foco permanente. nlatente dentro tio autor. Quando chega o momento (nlnguem pode dl– ur QUADdo ele chegari nuu a aua vinda pode O<T aWdl!ada por uma ~péele de pa.,,.h1da– de que conTem cultivar). ta1s !mageru começam a tomar for– ma. a iluminar-se WDa5 às ou– tras_ a c:ondenu.r-5e a formar entre !1 rela.ç,ões tne,peradas. A> pe.-;onagena prtnc.'plam a imerg:tr, a anunclar 05 uus nomea a revelar aa respecth·os rOl !t.os , vcrz.es , lnl.en; ões e des– tinos. O autor não tn,·enta os caracteres nem 06 conbea logo de lnlclo. V!o-se-lbe revelando gradualmente atrav~ dt_su con– •lcção repleta de d úv!da& de que Já atrta !alei. São as per– aonagen.s que têm de provocar o enrMo e atuar. nunca o con– trirlo. Vlri'lnla Wool! oontou-me um dia que a gmese do !.eu !lvro •= Waves· CA5 Vagas>. derivou de uma espécie de vi– a!<> de •um peixe ,ottenndo uum deserto aquático• 1 a melo d.a obra deparamos mesmo com a fraoel e que o ritmo da ,ua expresoão tio nota ,·e1 e, ao n,eamo tempo monótono. pelo andamento invarlà\·el de pro– claalo, der!vo•l d& ob:!ervaçl o a que co.sw.mava entregar-ae na sua varanda, vendo mover– se 06 besouros que saiam da escuridão at1'&1tl05 pela luz do candieiro aceso. Sempre Uve a Impressão de que ·Tbe Passa– s• 10 Ind!A • deve ter &ido con– ce!bldo oom a 1mpreuão de 6co OUVldo l1A4 grutas (dellne&MS depois do romance). Tal afir– mação náo PI-""' oontudo de Impressão mlnb& E atrO\'o-me a afirmar que OI romances de outros autores que admiro, tais como Ellzabet.b Bowen, Henry Oreen e Grabam Greene, bro– taram !~ almen te de uma Ima– gem central ou de um grupo de Imagens. Admitindo que Isso poaaa ter qualquer eapéc!e de lnteruse. poderei acreacentar que o meu último romance •Tbe Ball&d and tbe Soure•• aurglu, pelo menoa tão fundo quar.to poooo· analisar a sua longa ooncepçlo, de .,algumas reco, dações de !nU.nc!a; de uma oollna verde tendo uma lsreJa no tópo, um Jardim oom uma porta exlgUa, o trecho de :: =:'âe ~~t:,.':,,Frt!~~ do um açude & meto e. vendo– ae uma pou.sada na.s aua.s mar• rens. Tala !magena por qual• quer moUvo absolutamente dea– conhecldo gravuam-ae na mi– nha memória há mu !t.os anos cnmo o local onde, um belo dla, eu fula acontecer qual· quer ooi!.a ; Junta-se a elas, uma outra visão <cuja origem e.aqueci por complet.ol , const!– tuJda por uma figura de mu– lher envolta num caaaco negro. Tomando este exemplo, nio pretendo afirmar - Insisto nea– te ponto ~ que eu tenha con– aeguldo o meu Intento. Qual Intento? perguntarão - o ln– tento de qualquer romance oompoato com aerledade: • ~ nposlçlo nio poética de uma verdade poética•. (Estas pala· vru aAo de Ellzabet.b Bowen.). Acabamos de lançar uma vil– ta de olhoa, eopero que não ex– ceaa!vamente vasa e mistice., aõbre a!rumu daa qualidades e procesoa n=.ssf.r!oa ao autor que pretende aUnglr a meta a que atráa me reler!. Existe, no entanto, um oull'O fator que ainda ~ão mencione! e sem o qual todo aenao e b&usem ln· telectual se tornam vlloa. Oro– mancbta deve aer capu de &IIUlr o próximo. A su a gro .n- !,":pa= ~rn~~m ~r.ra- r.: e!. o que acnUram os gran des romanclot.aa do aéculo dezenove; olhem para Jane Au.ten, Oeor- 1• Eliot, D!ckel'.ll, Tbackeray, Mra. Oaskell, Trollope, Hudy; e tambtm podem p0r a vllta nos eacrttore. russos e trancea.ea Importantes. Se o fizerem, a verdade que enuncie! tomar~• · i evidente. Todoa eles crtUca– ram oa seres humanos, rtram à aua cuata. condenaram o ieu máu proceder ma.s aenUram por elea amor e acred!ta.ram neles o b&.,lante para r.erem capazes de dota.r os aew be– rols e bero!naa com uma estru– tura. moral tão vlgoro1& que o tempo não COl'.llegue atecf.-la. E' essa rozõo, est.ou oonvenc!– da. porqu.e, durante a vloten– cla e horrores d11 guerra, 81 peosõu aens!vels ee volt.aram para os romances dessea auto– res do 1)3SS&dO. Nilo, Insisto oõ– bre e•te pont.o, pelo ccnsõ!o e noté.lgloo p:azer que pudeste de r!VIU' da contemplação de uma socled•d• calma e ordenada. E' que as pe.,s&.s nece.u!tam de conviver com crl11turas que pos– sam a.mar e admirar, mats do que podem oomprazer-.-e na companhia dos seres empobre· tidos. Incapazes de mo!orldade mental, esulp!dOS, neurõtlc,,s que enchem cs romances atuaJs. Quem poderemos citar. desde que Mr. Forster cessou de es– crever r0mances, que slnta. pela bum,rudade devoção bastante para tornar-se Clpaz de cria!' personagens de envergadura ? Maurtce Barlng? - esse sente por Deus Igual devoção. Vlrl[l– nl& \Vooll ? - sim, de fato, ,ent!u amor bastante por Mrs. R:unsay, por exemplo Sem dú– vldll que outros escritores exis– tir!<>, um ou dois mais. EnO'e- ~!°'r~i =:"g~r~~.':. ti~ 1 ~ Karenlna. a Jullen Sorel, per– sonagens dignas de todo o nos– '° amor 1 Sim, é esse o ponto crucial : bA uma falta. borrlvel de criaturas dignas do nosso amor. Até que o romance de novo as traga a~ nós, conllan– tc e conl!&ndo-no-las -de todo o coração, tal como uontes aoontec!a, pormanecerâ mcsquJ– nbo e frio. ainda que possa manter-se contundente e bn– lbante. ARTES E LETRAS O PRDUO DE ROMANCE DA ACADEIIUA Conquistou o premio de roman– ce d!strlbu!do pela Academia Bra– aUelra de Letras. este ano, o es– critor mineiro Cyro do• Anjos, com o romance ABDT.AS . Consa . grado pela crlt!ca, de•de n estrél~ com O AmanUense Heb:nlrc, com,J uiµ dos mais or!glnab ronunclstuo ~roa, "71'11 .. .Q)oe. .. Jlll· bllcar ABD!AS, confirmou em de– finitivo as , uas qualidades de tlc . c!onl•tn. cem que hoje optem 01 laur61s acad~mlcos, (Tradução de MARIO FAUSTINO para A PROVINCIA DO PARA') :li A 1 •• 'M. E'S UN C ARROUSSEL VACIO EN EL GEPUSCULO Aqut este.,. ror. mi J • b1e cuerpo frente aJ crepúsculo :JU!: rn nta àe on •s n 5os el clelo de la tarde; -nlc..,tras entre la nlehlh los árboles obscuros se Utoert..1, y saier ,. denzar por las calles . io ! C" S"! .001 q ! P estoy aqu.J, n1 cuando v1ne n\ ,-<Jr 1•1• la Ju n>,'l e.e! St>I lo llena todo me r-asta ,;or, s-•,1u r f·e:.te a mJ cuerpo triste IP lnmen •dad ,,. = •!•lo de luz tenldo de oro. ta .nn1eLr.h r::,jej ad de un Sol que ya nn existe, eJ trmen=;o ..::anavP: de- 11ma Uerra ya mue.rta. y fr .nte a .,,;; a.•t· a !•..; nunlnarli.:; que tlnen el clelo, Ja lr.men,;!dad n• m: ~!ma bajo la tarde lnmensa . (Do ·'C'r•pl S('i;!/.;-i,). A ROI\TDA DOS LIVROS MINHA ALMA E" UM CARROUSSEL V/1.510 NO CREPUSCULO Aqui es•,0., me•· r~tr! rorpo defronte do crei,úlculo que tinge de 01.<ros rul>,os o céu da tarde: enqranto no m~ic, da r,ebllna, u árvorts eacuru llbrrfam ;,e e s itr- dn1 c;ando pelas ruas tsã.., sei oi,rquc estou aqui nem qubndo '1m nen. pons11• a lm rubrll do Sol tudo p~netra· ba.sta-II'e ~•ntJ trent-. ao meu corpo triste .. .,,,nJ!rll'o de um r.,·u de luz pintado de ouro, a lm• nsa ,ermcl'1,d"" dt um Boi que jf. não existe, o l:nenso ,.artá, rr (!~ mr.a terra Jà mo!'ta, e t!ll fl"-.l"le às lurrunirlu astrais que Ungem o ceu, a \roens,diio dt minha alma debaixo da tarde Imensa GRA CILIANO RAMOS Monte:: BRITO (Pua OI ,.DU.t101 Auocladoa,.) Ao elf,ud9r a..s metageometr!as de Riemann e I.obatchevslcy, nas rela.ç'lk:s tntte a c1encia e a htpote.st, 1magtna Polnca.ré.. a viverem oobre :;up~rficfes de cu.r\'aturn ~nstante, setts de dua.s d.lmell!ões - animais "lnflnlment piai..• . B então ~ta que espaço poderiam oonceber umetbantes seres, destlt.u!dos de es– peuura . Aqui está 3 Imagem que nos ac:de. mal franqueamos o portal, desoe mundo, Impregnado de um deaespero branoo, que é o mun– do da f!cçlo do sr. GncUlano Ram:1 CObrOll - 5 volumes - Livraria José Ollmplo Editora ~ Rio, 1947) . A gente que 11 vaga e sofre, t6o viva mu do mesmo paaso tf.o triste, !alta quo.J. quer coisa como uma dimensão, uma dimensão talvez moral, oom que de começo nAo atinamo, mu!t.o às claraa : uma dimensão capaz de dar-lhe, em comum oonoaco a plenitude da oond!çãc. humana, que é o nosso bem c: mo 6 o D0.5SO mal . Que, 1ntens,– f!cando a• no as dores, perm!t.e por Igual noreçam entre ela.,, u olegr!as douradas de uma «perança ccmo a b!stõrla aln·.a nlo vira . Que, avivando o conhecimento da• noa,,u ln&uflr:en– c!as, nos Impele contudo à ação na certeza de que, pu. alim de nós, a.1110 maio: e melhor exlate que e precl!o alc&nçu . Que tm suma e por laso mesmo, Uumlnando o futuro e tevelmdo um sentido à nossa atividade, nos abre um caminho para e5ca– parmos precisamente a esse orbe de cinza onde a vida, fechada aobre si própria nos eatre!toa limites em que o individuo é o fim do Individuo, ae reduziu a um pe•ade!o gratu!t.o e 10!1tirlo. De certo, náo poder!am01 chegu de chofre ao &11U1go dessa re1J!dade, que o romancista errueu ,obre a realidade primaria e me!aoool!ca de um melo social dado, em nosa& 6poca ; não.. Ar. profundidade• ~ m a.s auas leit como ~m aa ,ua.s vias. Há, no caso. trilhas que levam lá. E' de mister, pois, ••gul-Ju r.e queremos ver e ouvtr de perto o que nos tntereu a, a nós, que :if estamos trimbém. ora. ma.ta ota menos, com a.s nossas aflni• dades e dlterençaa, tipos ou partes am:J&dos e palp!t.ando na massa Inseparável da usl!tencla e da co.mparurla. D!.scuUndo num prolongo as aua.s aels personagens que andavam '"ln cerca d' autote", Plrandello aludia a duas cla.!Ua de, escritores : um.a., que narrava ou dc?&Crevia pelo gosto de de.screvu ou de na_rrar: outra, ao invés, que buscava na narrativa ou na deacr1ç.Ao um aent!do p3rt!cuJar da vlda . Aquele., atribula apenu caráter b!st.õrtoo ; a es,es, caráter !IIOSó!!co. E, mais, a posa!bU!d&de de um Vlllor unlvenal. Como diria Plrandello. o sr. Oracll!ano Ram<ls "tem a desgraça de pertencer aos últimos" : a desgra.ça, está visto, porque pensar e fazer peD!ar 6, ••m dúvida, um ~m~ d~f.1::~e~~ ~ÕS ~~rbr:~l'()~~ 5 e~ ~~=~r=: i 10nibra amàvel da sua arte de crlodor? Iremos m&!s Jcngo. N a apuencla desae deaeapero branoo, que Jà nAo Juta. porque nAo v6 razão para lutar, bt de certo a oonstat.ação de uma cat.astrofe; & oonstataçlo de que al,uma coisa acabou debaixo do sol. De certo. Todavia. bà majs e mul– to mais do que Isso, ainda: hi - e é a velha "&ngu!s ln berba• -há uma advert.éncll\. ?.~s que uma advertnc!a, u olharmos di– reito - bf. uma demorada.. uma fulgurante Uuat.ração àquele oonselbo leonino de Wr!tman : Whoever you u e, clalm your own at. any buard 1 Tbeae ahows or lhe eaat and west. are tame, oompared wltb you; Tbese !nmense mendcwa - tb<>!e !nt.crmlnob!e r!vers - you [ are lnmense and !ntennlnable aa lhey : You are do or lhe who Is master or m!.ststrcsa over t.hem. Marur cr mlstrc>s ln ;vour own r!gbt. over Nature, elementa, ( paln, paaslon, dlssolutlon ! Els donde rl>d!ca, a n0&10 ver, oom a oont.radlção fundamen– tal. a s!gnll!caçAo lllt!ma da. obr• do sr. Oraclllano Ramos : ele ~ em cena um mundo cem que nAo conoorda; põe-no e, slmplesrAente, propõe-lhe que reconheça a. aua condição de mo– ribundo Imenso. mas moribundo . üto e : leva-o ao espelho e concita-o a que r.e reslgne a morrer de vez. E &11lm 6 que no, vemos, subitamente, diante de um estranho cspeticulo - o .._ pet.áculo do criador a minar, com uma cncarnlçad> lucidez. a propr!a cr!eção.. . Por que ? E' obvio. Porque, na certeu de que o funda da realidade é a prõpr!:-. mobll!dade, d!alet!ca e plur!!lnear, acredita que no ..10 dClla realldade que retrap. e profllga está Já pronta para desabrochar outra realidade que, negando-a, deverá aboone-lt. e aubstlt.ul -la ; cutra realidade sem a qual, notemo-lo desde Jogo, nio restará mais que uma salda - o caos. Ora, o caos não é nem uma salda ; é a pena daquele que, em tempo, não 50\lbe mudar para subsistir oegundo u leis do movlment.o unlveraal . Traduzamo, Isto tudo por outros termos e taremoo, 11A obra. d> romancista brasileiro, a lnd!oação revolucionário de que para esse moribundo - que é o mundo burguh - se abriu a Impla– cável alternativa : cu morrerà ou iuá mort.O. O desfecho, po– rim. !l!!guTa-se-no& :mpllc!t.? na expertencla blat.õr !ca : nunca vimos. com efelt.o. um moribundo 111Grrer conc!entemente pelas propr!as mãos. Dai a concluaão. JY.:r ventura terrlvel, maa nem por wo menos lnexorf.vel. Reoonhecentlo que tem agora, &Ozl nho, o direito à vida à vida que varia maa náo estanca. aquele outro mundo aquele mundo em devenlr, nlo ac deteri, não pen– so.rà sequer em se det.er . em face da tese de que procede. - •rn An!ang es war d!e Tat", diria Goethe oom o aeu ar ollmplco àJ vespe.ras dessa sangrenta t.omada de ber&.nça. E nós, então, nos, cs aeres que Jt não somoa OI "lnllnlment plats" de Poincaré, erguer-nos-emos. poderemos erruer-nos, aci– ma de . um espaço meramente bidimensional . Nosso geometria •erã cutra geometria, que náo aquela que nasceu eobre auper– f!c!os de curvatura oonstante. Nós. os terea que temos u di– mensões todas que fazem a plenitude da condição humana - 6 evidente que, a&Slm, nAo deixaremos de dlst.lngulr. naa ent.rel!– nbas dessa ficção, o reflexo da palavra vermelha de Whltman : Wboever you are, cla!m your own at any haurd ! Essa aberta para a esperança. quo exlate e lampeja na obra d ) sr. Gn cUlano Ramos, sendo a expre&!llo da 6Ua opoolção à roc!edade capitalista. deovenda-ncs uma Jucilante perspect.!va : é o movimento da b!st.õrla; é o movimento da natureza. O ca– rnter dlaletlco da existeIJcla. Dai, oomo do topo de um alcantil. vemos pauar a Juztr. eterno maa mutavel. tranquJlo maa dlverso. o mais velho e o mais longo de todos os rios - o rio de Hera– cllto. E' ela que estabelece o contraste - fecundo porque dele decorrert a negação - entre o exausto mundo, que reproduz e condena, e o mundo na.scente que •11gere e almeja. . Sem ela, não haveria mais que uma Ironia grat.ulta de cetloo, que eaque– ce a melanool!a mal comportada do seu ceticismo sorrindo da perdlçã.o de uma época; sorrindo da proprla perdição. Não; não subsistiria, r.em ela, a contrad!çã.o a que al11d!mos: Jogo, não subsistiria o movimento . Não •ubs!st.lrla tão pouoo. c:om a uni– dade e a luta dos contrAr!cs. a própria essenc!a d11 d!aletlca materialista porque ,erla pretender, na imagem de Engels, "conservar na mão a maçã. Inteira depois de ter-lhe primeiro comido a metade". Isto, sim; Isto. cremoa, é que é. Negar à obra do sr. Orac!– l!ano Ramos, com o horror ativo a:, presente capitalista, uma ré a bem dizer dlnãm!ca no rut.uro proletário da terra, ..ria na verdade ve-la apenas de um lado; não seria, pois, ve-ta . Não é posslvel reduzir essa f!cçã.o, assim oontrad! t.õr! a e revoluc!o– n4rla. a uma representa.ção pasa!va, e puramente unilateral, de uma real!dade que o crh,dor, então, se absteria de Julgu. Por uma parte. Importaria em apagu-Jbo as entrel!nbas, por outra, em anular a ação reciproca entre a crlaçlo e o criador. E que dizermos. depois, da sua oolocaçlo na categoria !los cara.cterea 1!Josõflcos. óe Plrnndello ? Els p,rque, ao considerá-lo o sr. Alvaro L!n• lfm "!nlmlso da humanidade''. não podemos atribuir semelhante Juiz<>. enganoso no seu radlcallsmo. senão a uma extremação no f.ngulo de visão de cJa,se cposto àquele de que, só e só, seria poaslvel descobrir • .-....r a ..,. •*· dtllereta ma. oonstante, que ai ae des– cerra para o dourado celeste das estrelas. Expl!ca-se. Sim: explica-se. E não é custo!o. E' exato que o sr. Ora– clllano Ramos não se. llm!ta a mostrar, num quadro modtsto dt orovlnc!a, com aquela caoac!dade de unlveraallzaçio da obser- vaçio de Plrandello - e que oons!ste em deaoobrtr um _. partJculu para a \'Ida - a decadencla da burruez!a como clal– oe, decadencla !mpl!clla a mlude na desoorrelação entre o Q111 ~~~~ ! ~~~ ~~e·oo~~~raq"ee rf.ª~:, "u::, ~~~ a c:ndenaçlo, que é uma maneira de i;ltrajar a condenada. llu, a ,·erdede 6 que a bur(Uezla não é ainda a humanidade; 6 11111& classe. Lembramo-lo, e lembramo.lo oom rrequencla porque el& .., deleita nessa oonf•il<>- Fora da burruula, há mala cluM: bà mais humanidade . Ora, t. vista d!a10. 6 p06alvel ficar com a humanidade aem ficar com a burrue&!a; 6 poaa!vel e, em nsrs, 6 fo1"(ll0. Não é cutra a poa!çlo das lmenua malor!u da IID– dern!dade . E rol o qua fez o ar. Oraclllano RamOI. A cluae dominante, porlm, boje como aempre, tem, o aeu mo– do de entender u cola&1; tem a aua pa!ool<>ala como a aua !deo• toai• . l,'lloch notava Jf. que lhe apraa •tender à. eapic!e aquJlo que lhe dls rupe!to, a ela e a ela so. Destarte. a ute que ae ergueu oontra um grupo - ,> aeu 11rupu - ae errueu •1p10 facto", ersue oontrn a burrue&la apenu ae errue oontra a burrui,ila; ma•. o penumento burrub não ace!tari eaaa l!m!taçlo. N&o; nunca E, Jcglca no ..u 0O(lamo, d!ri então que • arte que M erguo oontra um 11rupo - o &eu grupo - ae errue "IP.'0 facto•, contra a eapécle. Um arguelro no 1eu olho direito e , !m!nencla da cerue!ra para o mundo todo; uma 10mbra robr um pr!vl– JéJ!o ..u. mumo que ~Ja o menor, 6 uma ameaça teneb•<> t. própria perduraçlo do homem neate vale de Jf.anm::., mb\11nar que, sendo tão vasto. tem t6o pcuoos donos abaixo de D u,. E ai temos porque, paasando Ufflll eaponja ,obre ll opodção Inerente à obra d, ar. Grac!l!ano Ramo,, em que de uma parte o trabalho ascende e de out.ra parte declina o capital, vem a cri– tica conservad(lra. entre norea e pa\maa. clamar que tudo eati multo bem : apena.a - 6 pena. - por toda ela circula, como um fundo negro acompanhando uma forma bronca, a aelva de um !)CMlmlgmo que MI um •!nlrnlc<> da bumanldape• lolll'arla ae– gregar. Não 6, c:mo vemoa, uma nota critica: não. Z' a quei– xa de um grupo que, ferido na tmena!dade cios aeua !ntere.ses. gralha viciada no prove!t.o doa ducu!doa do pavão, !&•la 10ar • roar fa!Eo, t. meta lua da aua Jonga tarde, 1' da aegunda enco,\A da montanha por onde desce para ,empre com 111a ruia e HU peu~t::."im'"::;•Baurat. !naenalvel ao pa~I revoluc!onf.rlo de Voltaire, põdo· afirmar : • Mala U n' a pu dea .netauon•. &er!• JU.5to permltlrmCs o mesmo, aqui, ao penlamento da r~çlo f Nilo O crmioa. No prefacio, 6m que faz as hOnras da. •. lal aeua •bf:retles". Cihe.atertor nlo treplda em UMterar, peuou e eu eotou no 1e11 número. pora qu•m a coisa ma • • tlca e Importante no homt1r l 11 ,cu pen , d• vlll.A acbre o nnl• verw". Nada mala natural. por con-....mnt 11 • qu, dfl?mo, a m"\or lmportanc!a, Inicialmente. a:, p:nt' ele vl31a do ar. Orar.Ili no Ramoa, afaatando re,o!utamente do caminho o que quar Q•J seja que no1 pareça rruaeamento ou nial ent.~nd!do: ela ai. P •· to Isso podertamo1 remontar eaaa mesma oorrent'!Z& e, num re• aumo 'trtaar · numa obra multo un•. ele nca df. uma !maaem do decllnlo Úpltal!ata; em contrute. deixa subtendlda. a J)O&• &!bll!dade de uma trana!onnação 10e1a1 - meamo porque, fora eu a nio bf. outra 10luçlo para o dueapero branoo que Invadiu e aÍlora decrada e tortura o DOIIO tempo. Se, polo. noa revela uma ruinaria revela-nos também uma eeperança. Não f, aalm. um derrot.!Jta• 6 um revoluclonf.rto. AJ ti, se não noa ••!IP· namoa. o sentido profundo da aua f!eçlo . - E oomo tal, nl• tidamente unlveraallal&. ..... A,ora, valeria a pena notarm01 : da!, por uma almpiel - 'j vaçio dln•mogen!ca, peculiar • arte, que 6 um &latem& eaptela de representações, não nOI cuatarla tirar, com um Ju!zo de valor, um conjunto de move!a e mot!VOI para a ação - º•~ 11,&fªd~= - ..gundt. um llm rlrorooamente determlnadlt, Nau ,.. , E' onde ae encontra a palavra que ele tem a dizer-no, . OUvl•la– em01; atender-lho, porffll - lato f, Ji. outra quutão. Certamente, ouaa per10M11ena alo - rt!pel.!moa. prevendO uma objeção - aAo de modo 11eral. como OI atrea de duas dl• m•naõtl OI anlm&Ía "lnflnlment. plata", que Poincaré 1011.oG r.obre aquelu aupfff!c!ea de curvatura conatante du geometrtu niio euc!ldeanaa de Riemann e I.obatcbevaky. Metmo qU311do 10nbam aegundo o llm!t.ado 'licance on!rlco de duu ou tréa ta– nebrosaa vlaceru aubaltemaa. Poderia, porém, aer de outN modo 1 Não· nAo poderia aer o.mão aaa!m. Não lll> a razio. como o grtu de deoenvolvlmento d" ru&o, 6 um produto ,oclal : 11111 resultado da tnteraçlo entre o Individuo e a comunidade. Seria ab..urdo porque oontradlt.6rla, ualm, que uma ,ocledade pobre e atra.uda, como eua em qu• ae movem aa nruraa do sr. Ora• clllano Ramos, prodUZIUe por li meama .erea altamente dotll– doe pela nat.ureza e pela eJenrlo du auaa preocupaçõea e ._... a!dadea. A lnconformaçlo do ártJsta, que ae revela na aua atttudt de e.pinto em relaçlo a eue preaente atual, oondu-lo t~e:– denação - con<I~ f.lacre ao ~er. mu em Yer...... • vel, !mpllc!t& na a eont<,, de modoE ~. umaem =- W:: tormaa Uterirlal e nervo t o rtao. o •_, armas. :e:· porque não concorda com ele, nem oom aua tt.ernl• 7,11çã.o - a ,opa no mel. entlo, para a burguezla - que ele. ft,u• rando-o em mela dual& de crtaturu, o expõe ao nouo rtao~ noaso rtao ou ao ll0IIO deadem. Ora. expor ao ~!..~ nala. ao deadem, 6 e,ip« à morte: porque • graça ........,... - · Aqui, perguntar•DOl-&o, que culpa ~ ea&ea pobrea lrmloa -– SOS de aerem o que alo ? • ,_ -·•· Nenhuma; pota, não ae trata de culpa. Trata-ae de_.. - aérlo : trata-ae de moetrar que, no aeu mundo. que 6 o ~ do deseapero branco, tudo estf. CODIUffl&do. 86. OU eles ....,.... OI olhoa pan o futuro e aceitam, com a aua, a tralllform&4:io da terra ou então o caoa lri 111~do. 111blndo aempre, 11W mlllcUlr no aeu marulho o bOmem que nlo r.oube mlld&r para perma– necer. Sentido de uma homenagem (C011UD11■~ fia t.• t&,.) Só a dar enobrece e ~ ~rand• (e 6 pura ~prende a amà-!a que a (amarás um üla . Então da seri tua alegria, E aerf,, e!& aõ, tua ven• (t.ura... - AI porém. faltou-lhe a me– moria, e por maior eatoroo Q1l8 1!z.esse não conaegulu o poeta pr~~:tÁo que do meto da "6!stenc!a alguém lfllOU : "A vida é vi - a toQlllra (que pua... - verso que penn!UU o . poeta oonclulr o - toneto •Sofre -- • d;=..~ Sem um srlto aequer, tua [,raça. 11:noeff& em ti tua t.r!ateaa [Inteira. Z pede humildemente a Deua [que a fac& TU& doce I tonatante CODI· (panhelra... • M&s quue nlnl\mm ouviu o f~ cio belo IODlto. pou SOdol qumam aaber quem tinha dadD a Bandeira • "de!U" que lhe faltara. Teria sido Alceu Amo– n110 Llmâ o grande critico da aua cbra, ali presente ? Ttrlll &Ido o poeta portu,uea AntonlO Botto que embrulhado num 111'0110 capote, deacera de Sallta r= l:!!11e~~ o e:" : OOnd~, que posa\ll em _.., cr!to, nos aeus fa- •A:l– quhos Implacf.veia•, ~ .., doa o• poemaa de 1 Qual nada quem o soneto era um zenove anoa. p faculdade de a!dade Cat.ollca, memoria perm oonclu!r ..,.,...__ verso Po tod daa cbado à p ma a que !eira cio. trar • aua uma •

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