A Provincia do Pará 25 de Maio de 1947

Acacio ac eco Candido Motta FILHO (COP1l'l;b~ doa OIArtot ~oa) $A.O PAULO. Março - !,.. ediça.o monumental diis obra~ <le }.;crt de Queiroz 1•1i1 prcporciouando mais uma lei– ,.,.1,·a dn f!rande romancista p,.,r– t a:nf--;, Çr mo Eça de Queiroz é un.1 1J::;cr1tor ouf- não sai d~. mo– da e cujos roinar;ces jamais per– dem o caraler de universalida– de, tudo é pretexto para retê-lo ou comentá-lo. O :seu mundo confunde-Re sempre com o das nossas recordar,ões e saudades. Revivemos certas paginas ele "A Reliquia ·• ou "As cidades e as ~c>rrac··. como de algo que, efe- 1•·amn1.t e. se passasse na ,rida. E 1iin hã c:ia qu~. diante de uma pa1s;;gem muito ensolaraõr,. e festiva c>tt diante de um aconte• cimento nmndanr, 'da nm;sa me- diania burgui:sa. não i10s venha à mente, ,,n,as e terrivelmente humanas, r,uar-. numerosas e ex– presro,•rH; cn.1tur11s. Cmi,o todos e~ artistas clefinl– tivos, E ça de Queiroz é sempre um reno,ador do~ grandes tP• ma~ da esist••n(!::i. Nde não ,,ale €ó a paí~agem nítida e <:olorida ou a figurr,. humano. bem dell– nead?.. NPle q ,Jc pouco o roman– ce t>m r.L Mas " oue vale é a riquem dP 1 ('nJ'.,., QUP nos pro- 1>0rc·1or1a. n cada lnstante. como se d(•r;tro de~se art,ista pode10- so ('',t1 1 ·psse. efetivamente, um ·e!h" pensador, endemonlado e terriv~1. Numa aldeol!'? po1-f.uguêsa es– t.t\ s,~mpre uma r-omunidadP hu– m(ma, com 0~. f'eus :rroblemus 1?randes e mesquinnos. As ve– lhnf• aldeã~ portug iesas. reco– HHdaf e (·amlas, não são !"Ó por– tuguesa~. m:,_,, sl\o prrr~nças hu - m"na!; cc,nheddia , ,·m todof % lugares onde :1 ,·1· ::1z.:!cao che– gou. Os tipos intl'. ·' <'llêes e ego– listas. perversos e desfrutaveis, or. padres de Leria, os ,1anotas do Café J\.1:artinho, os literato~ pro- •incianos, Ol:l elegantP.s das reu – niões da manr::âo dos M.Has. a~. figuras qlle rodeiam "s 1:acilr. - ções àe Gonçalo MPnde~ Ra– mirf'~, são problem:;,s que apai'e– cem. ,;:ondições humanas chela~ clP mi~ti>rlo, muito embora, t an– ias veze&, cheiag de ridículo. Para Eça de G>:eiroz '-'· vida ·i,e sempre con1 intensidade, per diversas for mas. Ela pode ter ;:,, poderosa <;;nergi11 dos an - t-eµassados de Ramires e sent.i– mento como a de seu desc1m– d.ente. O fato /. que ,•1ve, com seU1' problemas. suas angustias, teus ;;onhos e desesperanças. Depois de ter feito o seu lu– mínoso passeio pela vida. Eca de Queiroz regress'.1., em pensamen– to e na .saudade, à. ingenuida– de e à f1'escura da terra natal Nem Londres, nem Paris, nem a. '!'erra. Santa, nem Cuba, nem o Egito e os Est;ados Unidos va– le:rn. com suas diferenças. suas riquezas, sua ostentação de po– deres. o 'tiue valem os casais das :;;erras portuguésas. P A,ra a maioria de seus criti– ccs esse retorno foi, de uma cer– ta forma. o recuo explicavel de um espírito, quando já crepus– culava. Era uma espécie de vol– ta à infancia, pe-la saudade; um rerolhimento de um artista, aensual e exuberante, quando ,e viu tão somente envolvido ,elo~ desenc~ntos. Mas. quem medita. de novo. (':Obrf' t.nrlo n rnteiro de Eça de Queixos e assim aprecia a sua obra no seu co1:1junto e ~ diante do.,; olho11, deaf1le.nêlo, ,s e ll S q 1l a d J'. o !, !; e U s dra• mas e .seu,; person gens, sen– te quP. de viu a Ylda como ela ihe aparecia cheia de contrast.i!s (• 1>arodoxo1-1 de ve.lol'es negàti– vos e positivos, tudo vivendo ao me!!mo tempo ,:iisputando os lu~ gares. o bem ao lado do mal, a diferença, e a, ln.diferença, o pa– dre Soeiro e o pE1dre Amaro, en– fim llo mesmo homem, o Q0• mem. multtplo que vivia em Da– masco, em Carlos da. Maia, em ,racinto. ~ssim, a volta larga que se ve r,o caminho de Eça de Queiro;,;, não ire faz só nas "Cidade~ e li~ serras·•, mas se faz a todo instante, no enredo de todos seus romances, na. psi– cologfa de suas criaturas. Perde-~e com isso. uma noção <le um tratado preestabelecido. Chega-se mesmo à conclusão de oue o homem não caminha no tempo, mas vive muito mais do espaço em que se coloca. Os seus movimentos não têm rumo. Eles F.obem e descem ('omo as bolhas de Niachac!o de Ats1s. A vida não é um caminhar ma~ uma ger– minação. Nasce como uma plan– t.e.. E se a plant:. pensasse como na imagem de Spinosa, ela pen– !la:ria taml:lem que ei<tava cami– nhando .. . Quando Eça de Queiroz está em Paris, envelhecendo e doen– te, ele s:e srnt.e com uma plan– ta q'l!e de fato não andou. Tu– do que viu aconteceu, suas gran– des pmoções, suas ternuras. suas terríveis mnl!cia~ e perversida– des. €stava prern à terra por– oue ele. efetivamente. nê.o an– dara . mas germinara: seu es– pirita subira a.lto corno um re– puxo e caira àe novo se <:onfun– clindo na unidade germinal d::t natureza. Só lhe sobrara n estranho_ d ~ ,ua con~ciencia que dera o Ellli;,l de suo vigilancia, a -,ua capaci– dade de tram,fnrmar a vida em obra de arte ... Ai ê que re~idia. para Eça de Queiroz. o rentro do mtstéd o humano. O homem {> um nni- 1r.:1.l qul' ge expressa, E'. antes de tudo. um animal que se co– munica cozr. s.eus semelh:m~es quP não vive. mas convive. To– dos os dramR3 e t,ra~édias pro– r?.m da insuficiência dessa co– municação ou cin conflito dessa comunicação. -S,:- os homens sou– be~sem de seu destino não ha– veria tragédia alguma. Mas. co– mo os homens dlf!cilmente se conhecem e assim só superfi– cialmente se comunicam. como os homens não sabem comuni– car com franqueza e têm um meclo misterioso de dizer o que sentem - surgem as grandes desditas, a desgraça de Amélia ou as de Maria Eduarda e Car– los da Maia. de Luiza e seu ter– no marido. A. vida germinando. toma cons– cií'ncia de si mesma, mas não pode t-omar conhecimento de seu destino, que é traçado, como nas tragédia::; gregas, por deuses 1mplacaveis à untca vitória que o homem consegue é pela. expres- 8ão, pela aua capacidade de se fazer entender, pelo seu esforço de ~air um pouco de si mesmo. Por certo que todas essas eva– sões custam grandes tormentos, porque provocam contlltos, Màs ti~ a causa. àaquelas tres rli• ;as que desciam pela 21ua tMri:. ta. Tre.,; ~as que surairatn na, ~"~ tar(\~ ep, que t<>da. &n– ~n!I- do Ipanema foi 11l'ocurifr JaéJanta. ?ilélania, a D1Prta, a degvirgi– nizada, aos quát.oI"ze anos, a fé– ttda Melania q~e ainda estava d!;! pernas abertas como quando fora encontradri., tres dias de– fhA1. 's.no capintal de Padre Bu- 111.lelania, de quem os olhos ser– vtªm de pasto aos u:rubl.l8, de quem o nariz era um formiguei– ro, entrando e :saindo formigas !\Uma labuta sem fim. A Mela– nJa, de peitos mordidos, de cm- o homem não pode detxar de viver senão em coriflltos. Por isso, Eça, de Queiroz que foi espirita mais luminosÓ da .lfngua portuguesa, que soube ex– pressar-se como ninguem, que soube, como poucos, penetrar no terreno das atribuições alheias fez da faculdade de expressar o seu tema predileto. Porém pa– ra ele, expressar não é só falar porque muitos dos que não fa~ Iam tambem sabem se expressar. A propria conduta humana é uma forma de expressão. A maneira de vestir é uma forma de definição humana. Tambem os gestos, a maneira de olhar e de- sorrir. Eça de Queiroz- não era só um elegante requintado. Ele era muito mais do que o "snob", porque a maneira de se vestir f. para ele uma maneira que o homem tem de definir-se e de comunicar. Preocupa-se ele, com elegancia de Jacinto, de Carlos da Maia. de Fradique Mendes. :Mas se preocuoa tambem com as maneiras de trajar de seus rontemporaneos. seja ele um Ramalho Ortigão ou um Eduar– do Prado. Note-se. por exemplo, como ele veste. em seus roman– ces os taciturnos P. os hipocri– t'-!s ! Note-se. como há uma e,:-.1ta correEpondencia entre os trajes do velho !':!ala e a sua sever1- dad:! aristocrática! Nos seus retrato~. os trajes nifo representam as épocas, mas rep:esentam as almas. Os ho– mens se apresentam de confor– midade com a sua vo:::ação tem– peramental Por isso. o retrato d'J Conselho Ac:i.cio exige de– terminadas t!ntas. como o do Conselheiro Pacheco. E é aí, com essas duas figuras imorre– doiras. que vemos :i.inda mais a~sinalada a preocupacão de Eça de Queiroz pelo mundo ezpres– sional. Essas dua5 criaturi5 se expressam admiravelmente hem. Uma falando e outra não falan– c!'J. Kierkeg,ard que fez do signifi– cado da expressão um dos ar– gumentos de sua angustia, diz cpe o mais seguro dos mutiamos não é o do silencio, mas o da parolice. Nlnguem se revelou t~.nto quanto o Conselheiro Pa– checo. Não precisou dizer uma palavra para ser o que foi. Seu silêncio era. de fato, fecundo, criador maravilhoso do seu imenso sucesso. Na ironia de Eça de Queiroz não ha·Jia o desejo de apresentar uma caricatura, mas impotência de um espirita diante de uma :realidade desnor– teante. Enquanto o pensamento proclama a virtude da inteligên– cia na vida dos homens. No caso, homens do Brasil, homens de uma sociedade hibrida, mestiça. cheiQ, de raizes a.merindias e africanas e náQ a__pena11 euro- .pétas. agir ao ~ema11 que, na1J1e1~ skulo, serviam de chapéu. A chuva e a lani.!!. aprisionando a, c,dade. Durante uma semana, cada casa era uma prisão. Na Fazenda, major Tiopompo começava. a sentir uma trlsteza amortecer-lhe 0$ nervos, torna– lo lerdo, moroso. As suas per– nas não estavam inchadas nem inflamadas as 11uas mãos, mas, ao andar, majo!" Tiopor.apo sen– tia-as chumbadall. Meiimo ao se– gurar a asa de uma xicara 011 dedos ardiam como se, em cada. um deles, um panaricio esti– vesse nascendo. E veio uma ln– sonha que lhe tirava o apetite, prestava-o durante todo o dl!a na cadeira de lona. Nem a chuva, nem a lama ti– nham culpa na4uela tristeàa. Longe de sua Fazenda a tro– voada fazia estragos. Apenas molhadas as suas tex– ras se perdiam de vista, enrai– zàndc;>•lle nas touceiras de mi– lho, embranquec4;11do-se nos ca– puchos de algodAo, dando seiva o troncos que ••iitendlam b~ para frutificar pinhas eiiot:. meB. Qual a razão daquele l!Qfri– mento ? Qúal o motivo qlíe o forçava a se distanciar dos fi– lhos, da mulher, até mesmo do nitrato que o espdho da sala lhe pedia oferecer ? Aquela depres– são aniquilou-o para sempre quando 11e viu forçado a tre– par numa cadeira e enlutar o espelho. Agora sim. Podia pas– sar defronte dele, olhar, càn– sar-se de ficar olhando-o ~– que. então, sem nenhuma, Iyz, estava evipretec:do naquele }¼– daço de pano. E major Tiopompo sentiu os labios ~e abrirem. ficarem, por um instante. adocicados. Terri– Yel engano ! Não demorou aquele remor!I() a recrudescer, a atravessar, de CreilJ não dizer novidade ne– nhuma repetindo Q.Ue por trás da instituição consideravel que o futebol tornou-se em nosso país se conden~am e se acumulam, há anos, velhas ener~ias psi– quicas e impulsos ir,ac1onais do homem brasileiro, em busca da subllmaçf-',o, Essa sublimação es– tava outrora apenas na oportu– nidade para. feitos heroicos ou ações admiraveis que o Exer– cito. a Marinha e as Revolu– ções mais ou menos patrioticas abriam aos brs.sileiros brancos e, princiP,almente, mestiços ou de cõr, mais transbordantes de e– nergias animais ou de impul– rns irracionais. Dessas energias e desses impulsos, alguns eram de sentido sadista, outros msso– quistas Uns exibicionistas, ou– tros narcisistas. o que, hones– tamente reconhecido - pois tais elementos se encontram à raiz de algumas das mais belas expressões de bravura, de heroís– mo e de valor até hoje pratica– das pelos homeru de quaisquer cor, eondiçã.o ou cultura - não importa em desconhecer-se a grandeza ou a beleza desses fei– tos sob forma. das sublimações que atingiram. Isto quando essas energias e esses impulsos, em vez- de assim se sublimarem ou de se satls!à– zerem com os espcrtes ou os quase esportes rurais dos dias de festa, ou dos dias comuns, dó– minantes no Brasil patriarcal– as cavalhadas, as coriida.a a– trás de bois, as caçadas, as pes– cas, as noites inteiras de samba ou de dança extenuante, as lar– gas caminhadas pelos sertões e a caça aos 1ndio11- -1.a4AWV 1.,;a..a:q·ca.1.1.u,•.t voando de l'WI acima. Cem metror, mais, a Prefei– tura < onde se realizavam as sessões de jurí, estava compac– ta, gente se equilibrando no pei– toril de janelas, trepada em cai– xõe11 de cebola. Na cadeira de réu o sacristão absorto, indifer.?nte a tudo agui– lo, de cabeça calda como se de– sejasse dormir. Quando o Juiz lhe perguntou onde estava o seu advogado, se tinha. alguma declaração a fa- 11er, Davino limitou-se a abrir os olhos. Nem uma palavra em sua defesa. Nem um gesto que pudesse amaina't' a repulsa dos Jura.dos. Comum era o réu abrir a boca, cair num pranto de fazer dó. Davino mais l\ugeria u~ brqn– ze,qu~ na cadei:-a. houvesse ~n– tado, um ornam<2nto entre aque– las paredes bolorentas. Nem· uma palavra, nenhuma cont~a.– ção muscular ao ouvir as tre– mendas ac~ações que o escfi– vão l!a nos autos. Apesar do ca·valo correr mw– to, quando major Tfopompo ~e apelou, já haviam os Jurados lle pronunciado. Começava o Juiz a ler a sentença, citando artigos e parágrafos do Código Penal. De pé, Davino .escutava 11, ~– te11,ça de trinta anos, sem per– ceber-se de nada, corno se o que ouvisse fosse uma de,clára_– ção de um P}'emit, q\,\e a 1t1~f:. palldade acabava d'e lhe cõil– ceder. - Trinta anos frisou o Juiz. Nesse instante·major Ttopóffi– ro empurrava, acotovelava, pr!L• guejava. aquela gente que ll'le interditava a p:1:;.,agem. Aos berros mr.jor Tiopompo se acuaou ! Conseguira. C'hPgar ao llaláo. E defronte do Juiz pediu que a sentença fosse para ele. Para ele que havia amado Melanla, seduzindo-a ap~sar dos seus ~– senta anos, arr•Jchado-1he o pee– coço no momento em que o amor era orgasmo, Então, Davino se enfureceu. Libertou-se daquela indiferença e protestou. Protestou como quem se vê roubado. Protestou impondo respeito à lógica. Fez ver que Melania não se iria en– tregar a um veiho como major Tiopompo t- e apontou para o peito arfante de velho), um ve– lho careca que, de amor, nada sabia. Entregou-se, sim, a ele. Davino, que sempre a amara, que daria a vida para obter aque le amor. E a todos convenceu alegando que, r..c bauzinho de flanctres de Mf'lania, f0ram en– contrados bilhetes que ele lhe escrevera. Novamente feriu o peito do velho com o dedo afir– mando: Esse velho enlouqueceu 1 Aquilo não podia continuar. Era um desrespeito à justiça. O jui11 reclamou ..sHencio. E fez um gesto a dois solc.ados de Poli– cia. Imediatamente os soldados torceram os br~ços do major Tiopompo cai-regando-o para fo– ra, aoi, empurrões. Major Tiopompo não resistiu ! Impossível sob,eviver á,qu~la ln– juiittça ! Fora Davino que enlouquecera. por não poder .,me,r Melánta. • Davino - que se convençera ser o senhor de Melanta quãn– do, na verdade, apenas em SÕ– nhos ele a possuira. E numa tarei.e, quando todoa da far,enda colhiam espigas ver– des para cangica de Sã~ João, major Tiopompu selou o cavalo. E foi-se pela g;;rganta de dois morros »ara nunca mais voltar, Bhlgança ao trono do Bra– sil; no segundo alistavam-se os nativistas mais exaltados da época, sob a chefia do padre Batista Campos. Os restauradores combatiam o presidente Machado de Oli– veira, aspirando o seu afas– tamento da Provincia. Esta– vam por isso rejubilados com a chegada do desembargador, que vinha ·da Côrte para o govêrno do Pará. Os Filan– trópicos eYam contrários à. transferência do poder. E como Mariani estava no P!>rto, mal alojado, sem sâ- 1>'.er o que fazer, ante a híta dos partidos políticos, os Ca– r~mufüs resolveram prote-, ger, armados, o seu desem– barque.Tornou-se, desse mo– dp, grave, a situação ria éa.– iH~l. O cor~nel 1'4acha,do d~ 0}1- veira aparentemente dlS~– ti> a cumprir as ordens dá, Regência, determinou à Cà– riiàr'a. Mun1C1pal que desse po,\ise ao seu substituto. Tuào nãô passáva, no entanto, de RY,J"a fâr~. Os restauradores .s.ãblam qúe o presidente es– ~Yil. de bn!.çós <lados ~ ~tis~ Çampos. Que a r~:. '<1'º arre~entaria no momén– tó propicio. E dlspuzeram-ç_e a rêagir. Espelharam-se pela cidade, escôlhendo os pontõs e$trat~icQs para as eventua– Udaaés. O ne_gociante Jgà– cu}im Afqp.so Ji:tles, e~béle• C,:iUo à rua da Cadeia., hQje O(inselhetro João Alfretlj, mantinha em s.ua casa, um jcupo de correllgionários ár– tnàdos, incumbidos de prote– ger o desembarque de Ma– ritmi, Machado de Oliveira soube do fato. Mandou inti– mar o negociante a entregàr as armas. Jales negou-se a cumprir as ordens e entrou em conflito com as !orças do govêrno. Toda ~ rua dos Mercadores, da Praia, tra– vessa do Pelourinho, de São Mateus e dos Passinhos. en– cheram-se de atiradores. Era esse o pretexto ansl,o– samente esperado pelos Fi– lantrópicos para enfrentar os Caramurú.s, numa luta decisiva, afim dfl afastar a possibilidade da mudac1ça de govêrno. Desse modo, teve o delegado da regência de re– troceder para a Côrte, con– t inuando Machado de Oli– veira na presidencia da Pro– vlncia, apoiado pelos corre– lígionários do padre Batis– ta Campos. Pouco tempo du– rou essa amizade. entre os dois homens públicos. Desavieram-se ambos, por motivos de interesses políti– cos, e sem mais aquela tor– nàram-se inimigos irrecoii– clUavei.$. No "Publi,cador Amazoni– ense" e no " Des:mascarà.ao :r'' JernaJs da dtteção de Batis~ tá C~mpos . e do advogado 4Etônio Félicia~o da Cunl'í.a, trocavam os dois rancorosos adversários, os mais pesados in'stiltos. Líbelos tremendos contra a dignidade de cada qual dos COl'ltendQ~~ ,V'j.nham à luz da. Depois de uma notte de cogitações, o coronel Mâchá– do de Oliveira mandou cha– mar a Palacio, o tenente 纖 ronel Antonio Corrêa Seã:fa. comandante das armas. Precisava discutir com o seu auxiliar, assunto de ex– cepcional gravidade. Quando o comandante das armas chegou à sua presença, Ma– c~ado não perdeu tempo efu rodeios: - Coronel Seára princJ,– pJou ele, mandei chama::-fQ para deliberarmos sôbre uma resolução que tenciono ~– :qiar, no interesse da estab1I1- dade do meu govêrnp. - Há alguma cousa de grave, presidente ? - Sim, de multo grave ! E Machado sento'u..'.ifu à cabeceira da mesa onde cos– iíimava despachar o expç.– diente do govêrno. Depois de breve silencio continuou: - Coronel, o se_n!tor n~o ignora o que tem féito o p'a.._ dfe B~tista Carnpos, para in.e incompati ~J.µz ;i,r com o i;t,~o e as autoridades ec-leslãstr– cas desta terra. Tudo tem sido '1,prov~– do para me ferir, dit'ef.àme'!r;. te. Pois hem, achei àgora UJ.11 meio de aJ:,abar ~ vez Cfl!Jl o decanta<io prestigio desae padre. E chegando-:-se ll?,ais para perto db seu interlocutor, o P,_residerite d~~o'u trá.n~par.e– cer, claramente, as suas in– tenções: - Esta luta entre restau,– r~dores e nãtivistas, precisa ~r explorada com. inteligen– cia. Há rumores de que o du– que de Bragaµça pretenqe regressar ao Brasil para u– surpar o trono do filho, p n;çisso amado imperador D. Pedro II. - Presidente, perdôe-me a a franqueza-retol'quiu sgá– ríl,,-ma.à não acredito êm sémelhantes boatos! ... - O senhor não acredita? Pois saiba que é da Côrte que nos chega a noticia sen– sacional, e que não podemos pôr em duvida a palavra da Regência! Seára não replicou. Seria melhor deixar o presidente ·concluir com calma o seu pensamento. - Pois bem, coronel Sea– ra, o meu plano é este: esta– mos às vesperas c!e comemo– rar mais um aniversário da nossa independencia políti– ca. Farei realizar festas cívi– cas em toda a cidade. Festas ruidosas que despertem o en– tusiasmo popular, revigoran– do o sentimento patrtótico do povo. - -Muito bem, preside:nte l\{achado de Qiiveira, a sua i~ia,: é magnifica ! - ·Sim, mas ainda temos cousa muito meHíor. E o presidente, ~a espsc~– tiva de uma vitoria !uítflt– nante sôbre o s'eu grarl<ie adversário político, revelÕtl (C<>n_ii!'~~~~- ~~rilw-J para Michigan, outra pa.ra Ph!ladelfia, outra para WM– hington, um rapaz la para ca– sa, no Canadá. . • E alguma~ ainda se davam ao luxo de des– can~ar uns dias na praia, como veranistas atrasàdcs, antes de voltar para seus lares ! ... Mas tudo isso é índice de pro. gresso. E Miami está crescend0 yertiginosamentf', acreditant1.o– se que dentro de poucos anos sui:t população ultrapasse o mi'– lhão. · Traçada a régua e esquadrg.. Miami tem seU3 quarteirões tli.~ bem delineados que, do alto d•f um avião, mais rarece um gran– de tabuleiro de xadrez. Partj_n– do de uma certa avemda, tod~s as outras seguem a mesma dire– ção, o mesmo acontecendo à~ ruas, que são perpendiculare!J às avenidas. E, como é u -;acla a. numeração, em yez de nome::. o estrangeiro pode movime,uir-se facilmente, sem receio de per~ der-se. Basta c,ue saiba orien– tar-se, pois, as numerações pa;·– tem para Norte e Sul, Este e Oeste daquela avenida e daqu~la rua principr.J. E, em mntéria rle orientação, ate mesmo um mr.. lecote faria. inveja aos nosi,cs escolares ! o centro comercial 6 muito grande mas, per càúsa do tu– n.,srno, um dos ~ caros dos E$tados Unidos. D1ferentement.e do nosso costume, em Miami. como provavelmente, em mui– tàs outras cidié!es da Américe , gr:ande paitte <io comércio não :fécha aos domi,ngos, mas cada casa num diferente dia da iie– niana; e os "dtugstores" - ca– sás onde se encontra desde <1> remédio até à rou:pa - conser– vam portas aberta.'I até certa. hora da noite. No nmior esta - 11elecimento cles~e gcnero. •~!ll. Miami, o "Red Corsr, .,_ tiv{:ntçr– a grata surpresa de encom::u uma patricil!, i;ervindo num ,:e,, balcões ! Carló,~1, miudinha a te mesmo para o comum da mu– lher brasileira, ali está h~ dr:;t~ anos. Atraida pelo deslur.1bra– mento norte-american1_1, deix,,"a o Brasil decidia11, a enfrentar a i-.ventura. Gostou, empregou, ee. casou com um cubano, ambien– tou-se. E hoje vive satisfeita n3. nova Pátria, afeta aos seus há– bitos e ao seu idioma, falando já, pela falta de prática, nm português que i,oou aos nossoi; ouvidos como o nosso inglês r;('– ve soar aos ouvidos de um ame– ricano. Em Miami, 9.ilá!, encontrn– se a todo inst;1:::1te pessoas fa– lando espanhol, pois é grande o movimento entre esse pr-rt:, e as ilhas antilm,nas, princi,)al– mente Cuba, e em varias rmr;ar, de comércio pocie encontrar-i,.,, uma empregada falando espa– nhol. Muitas i<ão as age;1ciaz turisticas, a co'ividar o ameri– cano para um passeio à tel'• ra da rumba, tentando-o com cartazes vistosos, onde Havana é lindamento apresentada em tecnicolor. E P intercâmbio é realmente grande, hoje que o avião encurtou, ainda mais, a pequena distânc:ia entre as duf,S cidades. Miami, porem, i:abe entreter o visitante mesmo dentro de ca&. Seguindo a técnica americana, tudo que possa. servir de atração, é logo tratado com esmero e aRresentado ao visitante da ma- 1rêiia mais mteressante, obrl– ■mdo-e e 4:eltmtK~ Ulte coisas llfmples l' fazendo eom que sua. fantasia lembre • Fló– . da. como uma terra ohéia et1 ~ • resas.Jlt~~=~

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