A Provincia do Pará 25 de Maio de 1947

Domfngo, 25 de maio de 1947 ------------·-•-·•--- '!-lõBI:E O MON'l'J\(E, 'TO CASTRO ALVES - - No jul- r;:-m1enw fina l do vnlor das maquetter. ao monument.o a Castro AlveE, expostas no hall do Teatro Municipal, foi conferido o premio lJ Humberto Cozzo. indubitavelmente, o niaior estatuário do Brasil. o maior psicológico e o maior pensador, ~ob essa fei– ção plástica. Não se dí"~ipa o prodigioi,o cerebro de Cozzo na elaboração complexa de sist,emas, na tentativa de um fim pre-estabeleci– <lo Cozzo d!'ixa girar a sua imaginação e alçar o seu espírito, semprP mquléto, no sentido de dar forma à- Idéia, modelando-o carinl1mame11te. com a propria alma até à expressão desejada: quasi divina mi. su:-;. realização final. Adaptando:,. cada têma a sua técnica propria, segundo a emo– ç,ão, o interesse B a natureza. do assunto; Cozzo se nos revela, ln– :finitc1:mente, rico, sob a triplice feição de criar. interpretar e realizar Assim, deu-nos na esta.tua do imortal poe1.a uma figura gra.– ciusa e alad11. l'omantica e sonhador11, de uma realização plas– tlca. kleallssima, cont.rl' l.standb com a nobre e seve.ra eloquep– cia do pedestal, em ciue, subsiste, dominante e 1mprP.ssivo, o iren– timento da Harmonia Deste -:;alentoso artista nos fala, pois, toda. a cidade do Rio. desdE' as grl:todes decorações mure.is do Mlnlstérlü de Educação até ;'1.1; Pracas e às Fontes, afirmando-se a sua. eruo.içiio nas mul– tiµJa,, m,mife,,!ações das suas genias concepç6es e 119, estranha originalidade da expressão do seu sentir. E. no i,eu Studio, não obstante a simplicidade de a11aeo– reta . ;:;>nte-se a grandt>za de um Templo - tal o dominio da. be– leza eterna que palpita na alma latente das suas estatuas, cuja disposiçáo t.umult.uária nos surge as palavras de Barbler a Miguel Angelo· "Ton ~eu1 bonheur au monde .!l.r, cfimprimer au marnre une grandeur profonde "· Port;in:.o. Sf' naquele museu de maravilhosa eJJtatuária, nos emocionn. "Revê d· Am.our •·. .nfl deliciosa magia do seu proprlo sonlv,. e "Puretti" nos c-omove pela sua simplicidade sintética. <'ln fece º"' "Tendres1<e", grupo envolver_te e emotivo. idealls– ~1mn rir, p.,tcologif!, ~em dú•1ida. a mais perfeita. das suas slnte– ses. parers-no:,, ouvir .. Chopin, parece-nos lêr "Smmain" mas -%ntimo~ nrinr.ioalmente Cozzo. Clotilde PEREIRA. Notas de um constante leitor A PROVÍNCIA DO PARA A SENTENÇA Conto de Breno ACCIOLY Sem poder libertar·-se daque– la visão sentia-se amortalhado. Cansou-se de e3fregar os olhos, de apertar as temperas, mas tu– (-:.0 continuava t'negrecido como C:antes. Lá estava aquele remorso a Yerrumar-lhe a consciencta. a ..·oubar-lhe o sono, chupando-lhe a face antes de torná-la livida. Defronte estava a cama, o guar– da-roupa, tres malas de couro crú se alinhando de encontro à parede. Estava o lavatorio com a sua bacia de louça. Estava a janela, onde tantas vezes ele ficava debruçado. Ainda esta– rn o relogio, mudo ornamento quebrado pelas suas propr!as mãos como se essa brutalidade impedisse o tempo de marchar. Estava tudo isso e mais uma garrafa cie cachaça, jogada no melo do quarto, vasia. Major Tiopompo não podia distinguir nenhum desses ob– jetos. nem mesmo vislumbrar o guarda-roupa. avançar para o teto tabuas envernizadas, semi– aberto. enforcando Cl!.l!ações. Se os ponteiros não estives– sem quebrados, a pendula pode– ria bater sincronicamente, em~ prestando um sinal de vida áquele silencio de coisas mortas. Sim. Silencio de coisas mortas, pois a respiração do major Tio– pompo mal aquecia o nariz. Era uma respiração fraquíssima, fria como a de um f;elxe, lembrando a de uma pessoa que morre de velhice 11em saber que está mor– rendo. ât!ngira o limite o so– frimento do major Tiopompo. Não era mais aquele desespe– ro que lhe raiava os olhos de sangue, obrigava-o a entreabrir os beiços para deixar escorrer uma baba que lhe envenenava o peito. Não era mais aquela in– quietação enlouquecendo-lhe os dedos, aquele suor lavando-lhe e rosto, colando a. camisa aos ca– belos do peito. Começava major Tiopompo a sofrer placidamente. sem ne– nhum gesto que pudesse denun– ciar a agonia do seu coração, Stlencioso, mudo como uma pe– dra, apenas derreando-se à me- 11a, o braço direito apoiando a. cabeça, a mão esquerda na me.,. ma paralisia de seu braço - Jo– gada para trá$. No outro la.do da me.w. wn castiç!l-1 empunhava um é'otd'eo de vela. As pernas do major Tiopop:lpo jogando as botas para a tteiite, ai! eSJ)Ql'.8S r01etando os tijolos como 11e fogsem eles flancos de um cavalo. Gradualmente deteve-se em · ~q~ as fà.ses do dese.s~o e, agora, seu w:trlmento presta-o n,mna posição de beba.do , qge .nem dorme, nem sonha, nêfn vive, nem se aproxima da :mot• te. Tal como se se quisesse ~– tê-lo numa fronteira que deliriii• ta~e esses quatro estados d'a.1- JWi, apenas atingida por aque– les que experimentam o sabor do remorso. E era um remorso qy_e judiava major Tiopompp, ~~~do; o ~ afastar-se. da. \Para 011 "Dlár1 oi Associados) bros mordidos, dt braços mordi– dos como se aqutle amor somen– te pudesse ser al' dentadas. Me– lania, a de vestido arregaçado at,é a cintura. sem· poder ver o clarão dos archc..tes, nem escu– tar que chamav1a1m pelo i;eu :r::-– _ ..,.J, p.rocurav~:. t ~-~u co :i.po c,.-J.e há tres dias não e.a visto. Foram os urubús que deram a pista. Se não fossem os seus revoos em direção ao capinzal, fausto festim dr carniça, nin– guem teria suspdtado e nada te– ria. alertado a curioside.de rle to– dos. E então foi quase toda a ci– dade acendendo tochas de sebo porque· no inverno o dia é cur– to. A meia légua podia-se ver urubús revoando. agourentos, aterrissando celeres em direção ao capinzal. ganhando em segui– da o espaço, nutridos de criança, digerindo entra!1has podres. Se o povo não caminhasse de– pressa nada mais encontraria senão uma carcassa de ossos, uma caveira, restos. Major Tiopompo foi uma das testemunhas. Suspeitavam de Davino, o sacristão.. Encontra– ram no bauzinho de flandres de Melania doze bl!hetes, todos eles de amor. Para que melhor acusação se ali estava a letra de Davinn ju– rando amor ardente, paixão de levá-lo ao ,suioidio se Melania não o aceitasse por marido ? Para que melho1 testemunho se o anel de Davino estava numa caixinha de prata, na gaveta de Melania ? Se foi encontrado um décimo terceiro bilhete de Davino, suplicando a Melania que pensasse bem, que não lhe rompesse o coração com aquela recusa ? Para que mais pro– vas ? A11sim mesmo foram arrolados quatro homens que, de regresso à.s suas fazendas. por varias ve~ ze11 viram Davlno trilhando o capinzal. justamente onde Me– lania era carne pqdre. Uma dessas quatro testemu– nhll$ foi o majcr Tlopompo que nem pettanejou. Foi logo con– tando tudo, respondendo desem– baraç11,do. contente, feliz, às pergUntas do Juiz de Direito. Naquela noite uma garrafa de Vinho do Porto ferveu-lhe o sangue. Dormiu sonhando mu– lheres nuas, dinheiro estufando, sacos de 10 arrobas, como Pre– felto demitindo os inimigos, :ta• ~ndo o diabo. Um grande ! Acordou ainda mais disposto. Durante seis meses podia-se ver major Tiopompo atravessar o lel'go da. !greja esporeando o ••..rusao.", to.rc~ do as. p .. ontàJ bjgode, arra néando do • léte bra.nco o "céb()lão ·• ~reava as horas ein alg • tnos aràbleOB. Ma.s em. junho uma trovoa– da desabou. li: a tefia, esturrl– càda., Virou lama. Uma ia-.. 9,µe escorregava (\91 morr<Js, l"mbta as ruas como uma llli• gúé. enorme. Uma Ungua. que não tlv~ tama{lho, de um ~---...._ .,,._ li<--·'" .........,.... ... (A' Amel!a Pontes Vieira) 111,do a lado, a cabeça, numa re– petição de marteladas como se compridos pregc,; estivessem sen do batidos. Doloroso ! Horrí– vel ! ll!steve a pon:o de gritar pela mul.h<>r. cham!l.r os filhos. E no : ..·-' ,..:..;s lavar aquela nodoa, desabafando tudo ! Desabafan– do sem omitir nenhum detalhe. para que todos ficassem saben• do como o seu pecado era ne– gro. Depois, cair de joelhos diante da mulhr:-, pedir-lhe per– dão, enxugando as lágrimas em sua sala. Desfalecer. Pedir a morte! Porem major 'lioporr:po , 0 stava sem forças, fraco demais pa– ra poder soltar t:.rr, grito. Ante:; de cair tentou aganar oR r~--– rns da cama. 'lombou pesado como um fardo, ficando c,.rr~ - te a noite estendido no chão, lembrado um homem que hou– vesse recebido t:m tiro nas cos– tas. Acordou tarde. Sol alto. E tre– mendo foi o seu esforço para conseguir arrac~iir-se até à me– sa, ficar derreado na cadeira, as pernas para ,1m lado, os bra– ços para outro. Naquele dia Davino iria ser julgado. As 2 da ta:-de, o Juiz de Di– reito começaria n sortear os ju– rados. Tresandando a suor fica– ria o salão do .::urí, mesmo que fosse do tam11,nho de uma pra– ça. Quem deixada de ver o sacris– tão na cadeira de réu, de ouvir o promotor reverberando numa catilinaria, se < m Santana do Ipanema não éxistia outra di– versão a não ser um circo, de ano em ano ? Se somente na ,•éspera de Natal a cidade toma– va um ar tão festivo ? Um jurf de um criminoso da– quela especie era a melhor dl~ versão daquela gente. Major Tiopompo, por sua li– vre e espontam•a vontade, fica– ria o resto da vida estendido so– bre a mesa. Mas aquele remor– so que lhe emagrecera os om– bros, afinara-lhe os dedos, fi• zera desaparecer de seus olhos aquela força. de iman - obriga– va-o a deixar " quarto. Dona Ingrac1a, vendo-o tio pálido, indagou: - Estás doente, homem. Por• que não vais à cidade ? Pede a Seu Coriolano um purgante ! Não se sentia bastante forte para desembuchar aquela histo– ria à sua mulher. Nem tão pou– co aos filhos. Certamente o amaldiçoariam, cuspiriam de no Jõ. Esperou que houxe.ssem o ca– valo para escanchar-se na sé,la e partir numa desabrida loué11,, De ventas abertas, o cavalo le– n,ntava um poeirão, suando, castlg11,do pelas esporas, pelo chicote dando lap11,das nas duas ancas. De crinas ao vento vencia atalhos, pulava. cercas, deixando revoltas as aguas do riacho. Talvez um "fordeco" não vep.– cesse aquela. distância em me– n.tu1.. t&amnn ARTE E LITERATURA - Página 7 Retrato Oleo 1 t José Guilherme ME:t'TDES (Para A PROVINClA DC L'.:..i.·) Ainda agora era noite e na noite seus cabelos voa,•am para lor.ge. E ern .omo um arco que atira flechas e as flechas voando, mergulhando na noite e o arco sempre rr;tezado e flechas v~lo?CS varando o véu da nÕíte, penetrando profundamente, E longas mensagens eram expedidas, baladas, madrigais, elegias. Soavam alto, vibravam o ar, as cataratas do espaço, e giravam. Embalavam a alma descuidada e entoavam distantes lembraças, .. E de assim repercutir se faziam tristes. Havia a melancolia infantil 'e mri0dias erquecidas, dias perdidos e sentidos suspiros. Ma3 o vento imóvel, passando poderoso, a tela desmantela. Os ponteiros da empulheta galopavam desenfreiados contra. a tela e o tempo, A madruii:ada rompe perfumada de maresia e amor. America .__ Como ela , e -II- Miami. antes de mais nada, é uma cidade alegre. Com uma população permanente de cerca de 250. 000 pessoas, o turismo, entretanto, doora-lhe o núme– ro de habitantt>s, transforman– do-a, de peque11a cidade, nessa babel mo:viment-ada, onde o mais difícil é encontrar-se uma pes– soa nascida em Miami! Considerada a nova Riviera, pela sua posição geografica, é o lugar escolhido por todos ·aa.ue - Regina PESCE (Para A PROVINCIA DO P-",l'tA') les que podem drtr-se ao confor– to de umas férias, fugindo aos rigores do inverno nortista E, nessa ,~poca, Miami Beach abre os portais elegantes de seus lu– xosos hoteis, que se enfileiram ao longo das !.)raias, à margem das avenidas e à sombra das alamedas. Miami Beach, aliàs, é quasi que inteiramente for– mada de hoteis, que se seguem sem interrupção e se o Rio pos– suísse a metade dos bons ho– teis que há na chamada "Gréa– ter Miami", reoolverla seu pr'b- O Cdpitão da Guarda Imperial Ernest_o CRUZ (Para A PROVINCIA DO PARA') O desembargador José Ma– riani chegou a Belém, numa hóra agitada de sua vida partidária. Lutavam ardoro– samente pelos principios po– liticos que defendiam, os Ca– ramurús e Filantrópicos. No primeiro estavam arre– trin-ig.nt .~drut n.C! -,.oa+..at1,..odn1"0Q l>_µblicidade para gaudio da população. Po~ém Macha~o de O_\ivei– ra nao conseguia vencer o padre, apesar de todo o pres– tigio que lhe dava a autóti– dade suprema de presidéríte da provincia. n .n,,a. -f'n-f7.l!'lt.~ _,..,..;~ blema de acomodações para os visitantes. O interessante é a d!fer?nr,a de preços que se verifica, con– forme a estação, pois no verão é possível pagr:r-se, em c?rtoll hoteis, uma diária de 5 dulares, que no inverno não se con:,;,1ni– ria por menos de 30. ou 35 ! Ll está, mesmo, o "Martinic;ue" -– o Copacabana Palacc> da praia. - que cobra diária de 60 dóla• 1es, para se ter o prazer de atra– vessar seu portão de colunata11 • descançar nas :mas enormes M • las envidraçadas .•• E' preciso salientar que a ba. giene é absoluta e nos hotets cr. mais luxo, como tivemos opoi"• tunidade de const11,tar, o hospe• de ainda tem a satisfação de encontrar os copos, j11,rra para. agua e aparelhos sanitarloe, le~ lados com uma faixa onde lf: "Isto foi l'Sterilizadó pa a sua segurança". Mas, não apenas ~s we l!Q• dem gastar, procuriifu -ô ll'!IG balneario da F'lórida: há, tam• bem, uma grande afluencia d11 Jjioças e rapaze<i de outros Esta– dos, que vêm tr11,balhar alf du.. rante o inverno, quando sabem que o movimento é grande. os empregos se encontram com fa• cilidade, e as gorgetas são dis• tribuidas genel'Osamente. Con– versando com as empregadas que nos serviam no restaurante e nas confeitarias que, geral– mente, frequentavamos, apren– demos mais est!l. particularida– de. E, como nós chegamos ,iur,,-

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