A Provincia do Pará de 11 De Maio de 1947

Gl) li i:C: O..UlQ confrontar aE, diferentes deno~ mlnaQ6es porque têm passado al– gumas ruai; de Belem. não àei– x:uá escapar como detalhe in– teressante. a perseverança dos contrastes. Parece que o legislador municipal toda vez que tinha oportunidade de ,;ubstituir o no– me de uma arteria pública. pro– cura,·a. de inicio, uma legenda ant-agonica. Na. maior parte das _1·ezes. a.s ra1JOes pol!tlcas tbl,ham constderavel 1nflu::nc1a nesse costume. Atentémos para estes exem– plos. Em 1842. ei;tavs o dr. Ber– nardo de Sousa Pn.nco na prê– sidencia, da ProVincla. Como bom paraense, cio!;O do progres– .so da sua terra, deternunou que a rua. da, ''BOA VISTA", que fi– cava paralela ao Guajarâ. fo , – se lim:pa. e aterrada. de uma A. outra extremidade. ~ Assim foi feito, tornando-i de~se modo a mais bela e atra– ente da cidade, oon!orme o pro~ prio Sousa Franco relatava. em um oficio ao presidente da. oa– mara. Municipal. Pronta. a ma. resolveu o presidente prestar no dia da sua inauguração. iuna homenagem ao El'. D. Pedro II. E deu a denominação de "RUA NOVA DO IMPERADOR", à tradicional da ''BOA VISTA". que era nos idos coloniais co_; nhecida como rua da- "Praia". Paralela a esta ficava a c'I!!. "IMPERATRIZ, que do caato das Mercés até à trav. dos "1' :r. RANDAS''. tinha o nome de · ua. do "AÇOOUE". Com o advento do regime re– publicano o governo municipal come,çou a dar nova denomina– ção às ruas. E velo dai C) contraste. A "NOVA DO IMPERADOR" passou a ser "BOtJLEV ARD DA REPUBLICA". A da "IMPERA– TRIZ", teve o nome -Je "15 DE NOVEMBRO". E não cessou a 1ntemperancia polltica dos edis belemenses. -A Avenida "2 DE DEZEMBRO" que era uma ho– menagem ao Pará à dáta nata– licia do Imperador D. Pedro II, íicou sendo "GENERALISSIMO DEODORO"' o proclamador da República. O largo da Polvora. que nesse tempo já era largo "D. PEDRO II", não escapou igualmente. à mania dos con– trast-es: foi "PRAÇA DA RE– P UBLICA. E os republicanos continuaram na sua irreveren– cia . com os decaidos ídolos im– ueriais. A travessa cta "PRIN– CEZA" teve o nome de Benja– min Constant. o fundador do regime. Tambem as travessas do '·PRINCIPE" e C:a "GLORIA'' que traduzià uma homeiiage~ à princesa do Grão-Pará, depe,ls ~1mhora dona Maria, 2a. Rai– nha de Portugal, tiveram as suas denominações mudadas para •·QUINTINO BOCAIUVA" e ''RUI BARBOSA". O mal, porem, não era só dos republicanos. O d.r. João Antonio de Miran•· da. quando presidente da Pro– víncia. fez subscituir o nome da rua '·FORMOSA'', antiga do ''PAIXAO. Foi isto em 1840. Passou a ser .,13 DE MAIO'' . Ne:;sa velha ar– teri1 de Belém, residiu por muit,, tempo o caudilho Eduardo An– gelim, chefe famoso da caban&.– fíOm. Aque 1a idéia de dar à, rua "FORMOSA" o r-ome de "l~ r ~– :Ml\.lO "', tradu.:. 1 ::1 1:m1, hcst11i– ca<lc ao JP~i'.J;- { 0 ° ca'Jan"~ - A data escolhida pelo pr•:sidt:nte :uranaa: :cm 11 11eno• minação d11 rt1a onde Angelim t.inha a ~ua casa, e onde i·h-1>u feliz por longos anos, era comt>– morativa do desembarque da.s tropas de Andrea, que comandou a campanha contra os revolucio– narios paraenses. Não podia haver contraste mais chocante. Um século decorrido depois da grande rebelião liberal estudadils como estão as ca.usas que deram motivo à luta. sem desdouro pa– ra os que dela foram partici– pantes,· jé. não é tempo de ser feita justiça a. Eduardo Ange- 1im ? Por que :ião se substitui o nome desga rua pelo do maior ca.ucillho da Amazonia ? A travessa de "S. MATEUS". que serviu nos tempos coloniais de divisa aos bairros da "CAM– PINA" e da. ''CIDADE VELHA", passou à denominação de "PA– DRI; EUTIQUIO". E' sabido que e.sse sacerdote, a quem não se pode negar pa– pel saliente na historia polit-i– ca do Pará. nem FtPnmre esteve de 'bem com a igreja: Dom Antonio de Almeida Lus– tosa, na sua. exce,ente obra deno– minada "DOM MACEDO COS– TA'' , usa das seguintes expres– sões referindo-se ao padre Eu– tiquio: " . nesse mesmo ano <1880) morre o desventurado pa– dre Eutiquio Pereira da Rocha, que tanto fez so– frer o Prelado e a Igreja. Em vã'l Dom Antonio ten– t-Ou chama-lo ao bom ca– minho. Mandou distinto sacerdot.e à sua casa, na última enfermidade, mas nada obteve. Após 14 anos de suspen– são, já velho, envolto nas malhas d:1. maçonaria. partiu desta vida para o tribunal de Deus•·. Ai está. mais uma vez con– firmada, a perseverança dos contrastes. Por que "'PADRE EUTIQUIO"' e não "S. MATEUS'' ? Não seria. preferível manter o nome do apostolo de Jesus na velha a.rteria divisoria das cida– des :wva e velha. como fizeram oi; nossos antepassados nos idos colonia1~ ? A rua ela ''MADRAGOA", as– sim chamada, porque, segundo anotações de Braga Ribeiro. ali. qua•,i à beira da mata,. viviam as marafonas, " hoje '' ARISTI– DES LOBO", Já tendo sido do •·ROSARIO". J.. travessa do "PELOURI• NHO", que ti7ava a sua denomi– nação do instrumento de supli– ci.o dos escravos. levantando onde está atualmente o mercado Municipal. passou a sP.r .. , DE SETEMBRO''. comemorativo da liberdade da patria. Varias fornm as ruas assina– ladas com nomes de santos. de ~•corda com a preferencia reli– g-iosa do povo, algumas remon- 1:ando ao ciclo colonial e out~as ~ ) \mpe:-iaJ . (JUe os administra– <lores municipais. irreverente– mente. tem mudado. sem o me– m,r respeito à tradição. A rua do "ESPIRITO SAN– TO•· passou a ser "DR. MAL– CHER'',Ade-S. JOAO" que da– 'ª do seculo XVII. tomou o no– m~ de -- JOAO DIOGO. A rua "NOVA DE SANTANA" é ago– ra ·'SENADOR MANOEL BA– RA TA·•. um dos historiadores mais nota.veis da terra. ., rua de "S. VICENTE~ ab, ta em 1676. passou a ser "' PA.:S DE CARVALHO"' e a de "SANTO /cMA.RC:" ~ ac-or& 11 ~P~t,:.t ~ut~ a ,":::ua .t:H.. ~~~u ue pastor . Em 1869 emprega-se como vendedor nuwa casa de gravuras. que alguns anos m.ais tarde, o nanda fazer um estágio em suas sucur– sais de Londres e Paris. Na capital inglesa sagre sua pri– meira decepção amoross, tendo de rern:nciar ao pro– jeto de se casar com a moça d que se apaixonára. Diver– sas viagens entre :.t Inglater– ra, França e Holanda come– çam o esboçar os contornos de sua inquietação, revelan– do menos sua instabilidade do que um misticismo re~en– te . Este misticismo não é. na realidade. senão, a imagem duma exaltação, duma aspi– ração a um mundo melhor, a expressão de sua generosi– dade e a necessidade que sente de chegar até ao máxi– mo de suas próprias faculda– des. Foi naquela época que pensou em se fazer pastor. a fim de pôr os atos de acor– do com as pa.Iavra· Mas os difíceis estudos teo 1 ógicos enojam-no de inicio. Aliás, nií,o é um or1dor suficiente– mPP.tP bor., nara P,p-h: com eficácia sobre a massa. como desejaria. Portanto, · man– dam-no evangelizar as re– giões mais pobres. nome de "VEIGA CABRAL". n '·Cabrnlzlnho'' que deixou fa– ma ua questão do Amapá, ten– do merecido unr sua atitude pa– triótica a consagração do povo brasileiro. A praça de "SAO B?..AZ" é hoje "FLORIANO PEIXOTO" e a de "SANTA LUIZIA", passou a ser "CAMI– LO SALGADO". Aestrada de "SAO JOSE''', aberta com o enseamento do igarapé do Piry, perdeu a sua tradicional denominação: é !)tu– almente "16 DE NOVEMBRO". Tambem a estrada de "SAO JOAO. já teve o nome de 1. 0 DE MAIO", sendo agora "SENA– DOR LEMOS'". O largo de "S. ANTONIO '' foi recentemente mudado para "DOM MACEDO COSTA ... O antigo "lar,;o de N' AZARE'" . muito embora a pcrseve,ança do povo continue m:1ntcncJ.o o nome primitivo é. desde longos anos, a praça "' JUSTO CHERMONT ''. O re!ho largo de "SANT_l\. LU– z:A" ;ambem chamado da --MI– SPRICORDIA •·. i:;or ter estado ;i_;.í, o .Hospital de igual nome. passou, desde 9 de janeiro de 1913, a :,er "BARAO DE GUA– JARA"'. A rua de ·•SANTO AN– TONIO" antigo caminho oue cc,~duzia ao Convento, já te,.:: o sc·c nome mudado para "SANTA MARIA DA PENHA DE FRAN– ÇA'' e "'presidente WILSON .. . embora continue com a denomi– nação primitiva. Dizia Ovidio que o tempo con– sumia as cousas. Podem as nossas ruas mu– dar de nome. Ali;umas. porem, hão de resistir à irreverencia dos homens. E' através dos seculos, mar-– tem-se nelas, a tradição. essa invulneravel tracliçf.o que enfren ta o progresrn e não se deixa abater pela picawta dos 1·efor– mistas. Y .l~QiU C H. 1:/t:l;HlCll,,. O súbito drama entre ele e seu amigo Gauguin deu-se em Arlés, em 1888. Após uma @ora-s, -p .-ui,1te1a. o que 11a ae atual e \dvn n essa· pintura. cu ja m ensagem n ão cessa de nos desl:lmbrar. Jaques Flores escreveu 11 Panela de Barro 11 Por Teogenes LIMA (Do Rio G. do Sul, especialmente para !\. PROVINCIA DO PARA") Tenho deante dos olhos. nes– te domingo de frio e de sauda– de, o novo livro de Luiz Teixei– ra Gomes <Jaques Flores). Só quem não teve .a felicidade de conhecer pessoalmente, de tra– var intimamente com o autor de "Berimbau e Gaita" poderia duvidar do sucesso ou naquilo que de bom teria de conter es– te seu ultimo livro - "Panela barro - editado pela Ader– sen-Editores, Rio. Nos seus mínimos detalhei:,, nos seus mais relvagen~ ndjeti– vos, o nosso Mark Twain indi– gena se revela em cada trecho, em cada página, em cada capi– tulo, em todo o seu mb~gnifico livro, afinal, o cronista honesto e digno de atenção. "Meu livro é simples, modes– to, sem pretenções", afirma des– .cuidado e honestamente o seu autor, em 11ma entrevista l'e– liz quP- concedeu ao "O Estado do Pará". Dessai, palavras simples. da– ras e despretenciosas se deduz o espirito ingenuo e bom, sem vai– dade e sem alarde, de que é fe– lizmente dotado um dos maio– res folquelorista.s paraenses. Estamos refrl:!ando. com cui– dado. os excessos do nosso ser.– r.imentalismo e da nossa amí– zade pelo escritor de "Vespa– s:ano Ramos", para sermos, co– mo pseudo~ critico:;, justos na acepção máxima da palavr:>. O cronista diário dos matu– tinos de Belém, tem razão quan– do explica que ".iá morn~.• em condições de se poder pegs.r, a peça é batida pela oleira com os nós dos dedos para saber, pe- 1:J som. se está rachac'.a. Pro– vavelmente qu.-i está bóa . . . " Sim. Que está bõa e em condi– dição de servir ~ ag11aáar e essa "Panela de barro" melhor ::.té do que as primitivas. feitas de casca de carepé amassaC:as com tijúco pelos índios do Marajó. O espírito ágil e perscrutadcr do cronista. a alma sadia, bóa e desprevenida do observaúor rnt:l e, finalme:1te, a prodig:C' – sa memória de que é dotado, ce– rno tambem o vastisssimo e se– guro c.onhecimento das C'ci~as da sua terra e do manejo di– fícil da lingua folqueloristr·. imensamente rica de termos ex– tranhos e propr:os, torna-o um principe na mattsria, que, vanta– josamente. honf,·tamente e com felicidade, esposou. Enfrentando as dificuldades tremendas que sempre encon– traram os escrirores do extre– mo Norte em editar os seus li– vros, graças apena~ ao seu ta– lento. pôde o '"velho" ,Jaques vêr coroado de indiscutivel cxi– to o fruto do seu fecundo traba– lho de inteligencia. E, como ele, quantos outroa 11ão guardam no fundo de amas gavêtas produ– ções interessante . sem poder pu– blicá-12.s pe·t.,,s c!ifict~ld~dcs cn– .,nntradas !óra da sua terra ri- ca e quasi ignorada, como esse Magnifico Marlo Couto e esse estupendo Brune de Meneses, c.om o seu "Candunga" ! ? Estou aqui assistindo, a to– da hora, falsos roétas, falsos ro– mancistas, falsíssimos escrirores, editando por intermedio das grandes editor:;,s "comerciais" do Rio. São Paulo, PoTto Ale– gre, " best-selers mirins" capa– zes de adormecei: um touro, en– quanto dormem esquecidos na poeira do tempo. ào silencio e de criminoso esquecimento, os nossos talentos idi!l'enas, cérne vivo da nossa nacionalidadde, da nossa língua, dos nossos cos– tumes, da nossa real e verda– deira literatursi rnbocla ! Para Jaques, filho legitimo <'las selvas am'lztmicas decanta– c :l.as peles '!)oetas ,isionários, o cabloco não é um heroi de en– comenda à maneira de que en– t ~ndem certos "amazonista11 " . c0mo bem i::.'\li1:ntou Dalcidio Jurandir cm rápido e sabto "plaquet" f!Ue escreveu sôbre '' C1üa pitinga" · ·•Jaques sente a ~vida do desgraçado. A cari– catura fica sa,,grando. dolorosa e· acusadora. E !l. paisagem tam- 1,em toma ums incalculavel feí– c;s.o humana" Pronunciando-se iam.bem sobre o :•utor de "Pane– la de barro", sob o pseude,nimo Je Thones, o jcrnalista Tomaz Nunes, explica que Jaques (;, tal– ' ez, n0 Pará, um dos poucos que não aceitaram ,a "sabedoria do silencio", isso apczar dos pre– calços da vida agitada e dura que a religião n!erece a,, intelec– tual paraoára. Eu mesmo tive c,portunidade de dizer, certa vez, na minha sccçã,J "Gleba Pa:ra– ensc" - public~cia semanalmen– te em uma das revistas de Mi– nas, em um dos meus despre– tenciosos estud0s que "se o co– ração fosse um.ii flõr, o do autor do "Panela de bnrro" seria uma t'osa exalando o p•,rfume da in– teligencia e da bondade". Ape– i:ar do seu jeit-J•J extr:mhameu– r.e reservado, isto é, aoesso à dis– ,:;ussôes estéreis e à inevitavel tesoura das rod::t!i, atarrachada– mente forte, sempre agarrado a um bengalão de massaranduba, exercendo funções públ:cas nu– ma repartição. c,ujo terreno é fertil em energia e dureza de atitudes, Luiz Teixeira Gomes nol;abelize-se pela sua extrema condescendencia para com os cue erram e a sua inefavel bon– dade e perdão para os quepe– dem. S'í:!rn desmerecer os seus ulti– mos '.livros, Jaques Flores, em -•Panela de barro" atinge, a meu vér, o climax da sua carrei– ra !iteraria. Ele desce mansa– mente à minúcias observadora– mente psicológicas da alma do seu povo, descrevendo com hu– mom· verdadelramente macha– deano aquela "pavuli:rcm de ca– boclo "gofü;ta " t mai, proxi:-no Contlnúa na 12.a pag.) superavel. de s.panhar o "espí– rito" e dar-lhe forma concreta, do que na genial escritora in– glesa. Digo "inglesa., pela sua <trte, por sua 1lngua. Na leitu– ra de seus pequenos "Contos", nas "Cartas", no "Journal." encontram-se tnúmeras passa– gens em · que se percebe, e às vezes apenas se presente, essa ansia do il!mitado, de realizar coisas tão sutis, quasi fora da verdadeira realidade. Suas pe– quenas descrições, seus quadros ligeiros, equivalem ao relance de um olhar, como se a vida e a arte nada mais quisessem do que esta pincelada rápida e Vi– i:a, onde a cor escolhida expres– se o ideal. Katherine Mansfield martiriza-se em procura dessa. forma aparent emente simbólica, mas que é uma paisagem real do mundo. Nada entretanto a satisfaz. De momento a mo– mento surge-lhe a indecisão, e ela mesma se lamenta num exa– me de conciencia. Els uma pa~– sagem do '"J(,urnal'", em que be.m descreve sua "inquieta– ção": "Faço a mim proprfa . 1:ma mais, a minha Eterna Pergun– ta. Que é que me torna tão cü– ficil o momento da expressão Jl. i;m·aria ? Se neste instante me sentasse para e1:crever algumas das historias que estão comple– tamente redigidas. completa– mente prontas no meu espirito, levaria dias e dias a escre-rê– las. E são tantas essas histo– l'ia,; ! Passo tantas hora,; a ru– miná-las que, se conseguisse triunfar do meu cansaço e pr– gar na pen a a valer. deveriam escrever sozinhas, de tal mollo est&o prontas até ao minimo pormenor. Mas o que falta é ati– vidade. Todos os pretextos me sçrvem: não tenho um canto P.i-ra escrever, não tenho secre– taria, a cadeira não é como– da. . . e, contudo, no momento exato em que me lamento, dlr– se~ía que surge, precisamente o local, a cadeira de que preciso. Não, terei, pois vontade de es– crever contos ? Senhor. Senhor, pois se é esse o meu único dese– jo, a única "solução feliz para mim"! Por um estranho sentimeri,~o, ou numa tentativa de dar expli– cação ao grande esforço da crea - ção artistica, há um momento em que Katherlne chega ao ponto de responsabilizar sua "inercia" à falta de conforto material. Mil.s ela sabe que "mente para s1 mesma". Ela sabe que a causa é bem ou– tra, e não falta de um local, de uma pena, de uma secre– taria ou de qualquer outro ob– jeto. Sabe no mais intimo de sua alma que não lhe basta sustentar a pena e "escre– ver". Todas as fibras de seu ser não reclamam uma sim– ples operação de rabiscar pa– lavras e contar uma ligeira historia. Há uma secreta an– sia que a esmaga inexora– v~lmente e lhe pede não um escrito, mas uma "obra dt a1·– te". Não importa o tamanho da obra, nem a vastidão da hlstoria; o que é preciso é q,ue a expressão !iteraria manifeste os mundos indecisos que vaci– lam ante seus olhos. E como fi– xi,,r isso tudo ? Els o problema. Como dar forma real, concre– ta, a esses pensamentos Um– pidos, claros e leves, que lhe passam rapidos como um re– lampago? Eis a dificuldade. Eis a tortura. Els e inquietação em que ela se debate, e que muitas vezes ~ faz desconfiar 1 '-U~i':I\.,... RSU~J- 1. cu~ moldes. Daí essas paginas que encontramos tão frequentes na escritora inglesa. cheia de poP-– sia, volateis, como se fossem mi– niaturas representativas de to– dos os nossos ideaís. Veja-se nessa pagina. tii.c> simples, quan– ta delicadeza: "Seis horas da tarde. Gosta– va de saber a idade deste velho caderno de apontamentos. As letras estão desbotadas e como quê dist.antes. E$toU no meu quarto, penso ria minha mãe e tenho vontade de chorar. Os meus pensamentos. porem, são belos e cheios d<! alegria. . Pen– so na nossa caso., no nosso jar– din1, penso em nós. as crian– ças. . . Penso n:J relvado, no po– rão, na minha. mãe a chegar a casa ... " Na desc::-içifo rápida. Katherine Mansfield nos suge– re tantos sentimentos, como se vê nísto: "De novo a porta se abriu e ela passou, dir-se-ia que para um outro mundo, o mundo da da noite, frio, '.mpenetr.avel, on– de o 'Tempo não existe. Viu, mais uma vez, a curva da esca– da, o jardim sombrio debrüado de h0ra p:i,lpitante. os grandes choupos nús do outro lado da estrada, e sobre rstes, o céu, ilu– minado de estrelas". Muitas vezes o que l!screve tem um sentido de 1·eminlscen– cia. O que se passa aqui, ali, mais ao longe ao.s i,entidos. Eles vibram, e ela então fala : "Dia pálido, silencioso: ape– tecia-me passear, num bosque muito longe d:i.r1uf". Ou então:' "Este céu de vaga.~ azues cre– me~. cim:entas. parede suspem:a sobw, um mar calmo, um mar morto. em que se ouve alguem remar, ao longe, muito ao lon– ge . , . E então ns vagas que se elevl'>,m elo, barr.a, o tinir da cor– rente, os latidos do cão de bor – do, t udo tem uma intensa res– sonancia.·•. Esta descriçà0 vale como wna formoRa miniaf'ura. Poucas pa– lavras, e ela conta toda a histo– r:a · "De novo aquele silencio que era uma interrogação. . . Más desta vez, não hesitou: avancou devagar, docemente, como se 'ti– vesse medo de fazer uma ruga neste ilimitado lago de silen-– cio e enfiou o braço no bruçr da amiga. Snrpreendida, esta murmurou: " Que delicioso mo– mento!" E ele: "Boas-noites, querida". Depois um terno e ap~rtado abraço. Sim, era isto, era isto com certeza o que ha– via a fazer". Su!l, linguagem muitas \·ezes é saltitante e ela gosta de dàr sentimentos vivos aos objetos inanimados : "A esquina da l'Ua. precipi– tou-se sobre mim um vento rá.– pido, alegre, impaciente, ctt~o assalto me foi imposslvel su– portar. Tiritando, avancei alguns metros e voltei para casa. Fur– tivamente, como um ladrão, in– troduzi P. chave na fechadura e abri u prota de,,agar, com to– da a cautela.". Não posso deixar de transcre– ver, nessa ligeira. apreciação so– bre a arte e expressão literária de Katherine Mansfield, em dµI?,:~ outras páginas, ambas en– cantadoras. Pertencem ao me:,– mo trecho, ao mesmo episódio mas divido, para que bein s~ compreenda a sua tenaz vonta– de de produzir, de escrever, pon– do na palavra todos os seus sentimentos. toda rua alma. Diz ela: "Serei capaz de exprimir al– gum dia o meu amor pelo tra- trp'• KatherinP i,or um rnoment se esque,:e d(I e~torço de expre~ são a1·tistica, ct,x; '-1"1lS sobressa1 tos, e languiriamenf.e C>scre\'c: ''M!'U Deus ! O ~ol inundr, céu ~ e o sol é eomo um;, mu slca que escorre desses f{rand l'aios de claridl1de... O vent tange a harl)a <ja,s :ll t'Ol'f~. dis persa pequenos jatos d<' musi ca ... Cadências leve~ trilos de licados P,;campa.m-,,~ d a fl1 TI'~ - •• A forma de 1: :1.da corol assemelha-se a um som . . A minhas mãos abrP.m-se com cinco pétalas. . Louvado i,e,ia Deus, louvado ~eja Deu" ! Es ,-0u confundida, <ieslumbrad;: ... E' demais ! Uma pequena mos ca pousou por engano na doe t-aça de uma flor de magolfo . . Outrora Isaias •ou fo, EllsPu ? subiu ao céu r:11m enro de fo go . . . Mas, com um tempo di vino como este e ~.eutindo-me li vre para trabalhar. como ~into que é uma viagem dessas par mim?'' Já um criticG de Kathenn Mansfield batlzcu-a ele essen cialmente feme1,in u. Ccmpma11 do-a com as outras mulhere,. d gênio, Madame <':e FlPvignP Madame de La P ayette ierian apens.s imitii.c'io o < stilo dos hc mens . . . e Mada1fü• cte Stae George Eliot., Geü::ge Sanei sã escritoras hihridas. Qmmto Katherine, nada dirso. A11en,c o simholo de tr,dP, :;i, mulh. rei, que perderam. imeleC'tun! mente, o "<'omt1lexo di> infcrior1 dade'·. Seria r,nra n6s o i d l!terario f1>tnenin o Kath Prme e" primeil·c f'nca :- 1iação mbre a 'I'e:rra cto Ycrd~.de! ro e únic.o esnirito da mulher .. , l E T AS - - ---- E A T A Livraria Joi;r..• Olunpio editar as ·'Ob. .aF. Complet de Agripino Grieco. ·-··XXX- "Anos d.e T ernura" t o tltuto do novo livro do au– tor de "Cidadela"'. A. .]. Cro– nin, editado pela José Olím– pio. --xxx As "Edições do Powi" J n – çaram um Hov0 11vro do re– porter David Nasser : "F':.!.l – ta alguem em Nurem berg" -– "Torturas da policia de Fe– linto Sturbling Muller". -xxx- () teatrologo Nelson Rodri– gues. autor d e "Vestido do noh•a'', escreveu um •,o'.'n drama. ''A•1io Negro" . que. possivelmente, serâ encenado pelos "Comediantes". - xxx- Ainda no corrente ano se– rá eàitado pela Livraria do Globo de Porto Alegre, o no– vo romance de Erico Verís– simo. - xxx- . Marques Reb elo continua trabalhando em seu novo ro– mance, "Espelho p artido". - xxx- Eugenio O' Neill não pode– rá ser divulgado por editoras · brasileiras. Portugal adqui– riu exclusividade da tradução àe suas pelas para a Hngua portuguêsa . tendo já s ido e• dit adas vanas em versos lt• vros de Henrique Galvão•

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