A Provincia do Pará de 11 De Maio de 1947

- j Domingo, 11 de maio de 1947 Canto a m,m mesmo \VALT WHITMAN 1Trad1.1çfo de RUY GARATA, para z A. PROYINCIA DO PARA") Quem vem lá ? ' Faminto. mistico. desnudo . . . quem ~ aquele ? Não é extranho que eu tire minhas f1r".'.J d::i carne · [do boi ? Porém. que <§ um homem na rJalidade ? Quem snu ? Quem és ? Tudo quanto se assinale como meu drye-; r,u assinalar como te,1 porque senão perdes o tempo escutando minhas [palavras. Quando o tempo p::i.ssa vasio e a terra não ;,, mais [que esterco e podridão, não posso ficar chorando Os gemidos e as lamentações. para os invalidos: e o conformismo para os parentes longínquos. .Eu não me submeto. Dentro e fora de minha casa ponho o chapéu como lme agrada. Por que hei de rezar ? Por que hei de inclinar-me e suplicar ? Depoi:; de esqua.drinhar nos alfarrabios, depois de consultar aos sábios, cte analisar e precisar ':l calcular atentamente FJ que o melhor de mim está entranhado aos meus [ossos. Sou forte e sào Por mim fluem sem cessar todas as coisas do l runi'1erso. Tudo foi escrito para mim e tenho q11e decifrar a oculta significação dac; 1. escrituras. Sou imortal. Sei que a órbita que descrevo não pode medir-se com lo compasso de um carulnteiro e qul? não desaparecerei como o circulo de fogo que ftraça um menino na noite com um carvão aceso. Sou sagrado. E não torturo meu espírito nem para defender-me, 1 nem para que me compreendam. Nas lPis elementa1·e'i não pedem compreensor. E depois de tudo. não sou mai~ orgulhoso que os [cimentos sobre os quaes se levanta minha casa. Assim como sou existo. Olha-me. Isto é o bastante. Se ninguem me vê, não me lmport0 e se todos me vêem, não me importo tambem. Um mundo me vê; 11 maior de todos 05 mundos: Eu. Se chego ao meu destino agora mesmo, o aceitarel com alegria. se não chegar até que transcorram dez milhões de [séculos, esperarei. ... esperarei alegrementf' tambem. Meu pé est,á encravado e enraizado sobre rocha e rio-me do que tu chamas dissolução porque conheço a amplitude do tempo. RUAS DA CIDADE CONFRONTOS E CONTRASTES Ernesto CRUZ A PROVINCIA DO PARA' · o quanto em ll.ules" possue, fu ndam.entalmente. o estílo ria pintura r!e interiores que é peculia1 aos holandeses do século XVll O GENIO DE VAN GOGH Raymond COGNIAT (Copyright do "Serviço Francês de Intormaç ã.o". 1>speclal para A PROVINCIA DO PARA'). p ARIS - Maio - Com um Há já algu:n tempo que discussão, ter t.1 ferir seu intervalo de alguns dias aca- amigo com uma navalha de bam de ser inauguradas em pela necessidade de dese- barbear. Rzgressando à casa Paris duas exposições de Van nhar, pintar, de se libertar corta certa a orelha com a Gogh. Uma de pintura. no numa obra de car .ter pes- navalha. Havia algum tem- Museu de l'Orangerie. e a soa!. po que sua razão vascilava. outra ele desenhos e quare- Encont~a na 1ida senti- Esse gesto extremo é causa las. na Biblioteca Nacional. mental tantas desilusões co- de seu internamento num Esta dupla manifestação mo na vida religiosa. Esta hospício, em Saint-Rémy, atrai elevado número de vi- tambem apenas lhe traz de- onde encontrará um pouco sitantes. Apresenta. entre cepções e fracassos. Seus im- de calma. outros aspectos importantes, nub'J~ r"!o r·,,. •:t ·.: ' Van Gogh pinta sem des- o de mostrar obras quase R~d_,_;,, -- · :;,· canso, obras vibrantes e se- quasi desconhecirl.as na mento, recurso e capacidade renas, sem morbidês, quasi França, procedente da céle- supremos dos grandes artis- poderiam% dizer que sem in- bre coleção Kroller-Muller. tas como ele. Essa solidão quietaçãu, se não se rbser- e da menor. n';ü::; )'&" : 1e1 terrível é talvoo necessária vasse. em .mas ,1t·1::f-1aC:as interessante, do sobrinho do a 1s !l'en;n ~'l!. •. r,~ "".é·: viol,mtas. em suas harmo- artista, o engenheiro Van um mundo fantástico, cuja nias de côres, certo arreba- Gogh. expressão perfeita e exalta- tamr:.nto, como o entusiasmo Esta união de organizado- da devem encontrar em si de alguém que encontrou a res holandeses e de admira- mesmos. maneira de se exprimir com dores i: ,. r ,e é muito Em 1886, Van Gogh aban- toda a liberdade. oportuna no caso de Van dona definitivamente sua Em certo dia de julho de Gogh. Pelo nascimento e Flandres natal. vem resisdir 1890, Van Çlogh dirige-se pa- muitos aspectos de sua pin- em Paris, na casa 1e seu ir- ra o campo, senta-se ao pé . ..,_ . 1.r- mão Teo, o qual, até o últi- de uma árvore. dá um tiro dês, mas realiZO'l na Fran- mo dia. lhe dedicára a afei- no peito. A bala deparou ca a 'Jane essencial de sua ção mais vigilante e eficien- com uma costela. Van Gogh obra. aqui encontrou sua ins- te, permitindo-lhe viver fora volta para o hotel, deita-se, piração, sua técnica, e, tam- de preocupações materiais, pede o cachimbo e morre, al- bem, sua doença e a morte. crente no valor dessa obra. gumas horas mais tarde, de- A história de Vi~Emte Van que será realizada sem ou- pois de dizer a seu irmão : Gogh é tão exem;"lrr, ou~ se tro estimulo material, pois "Sempre haverá miséria na eleva· à categoria de slmbo- Vicente Van Gogh não con- terra". l~-. " r,r·ri.e1·i::,. c-.c ., tu:::it'la no segue, em vida, vender suas A arte de Van Gogh não é martirologio de nossos herois telas. tão extraordinária e única contemporaneos. A partir desse momento. como sua vida. Ele é. como A mocidade de -an Gogh Van Gogh descobre a pintu- Cézanne, o que certamente passa-se em :::ua terra natal ra moderna, a côr dos im- teve maior influencia sobre tnaceu em 1853) junto com pressionlstas, Seurat. as gra- o rumo da arte contempora- numerosos irmãos e irmãs, vuras japonesas, todas as re- nea . O tributo oue hoie lhe ARTE E LITERATURA - Página '1 __ ..,,.. INSTANTE DA ILUSÃO l. Poema de BRUNO DE MENEZES SINTO Q\}E NAO TE ENCONTR.'.:-:.::.L A?ESAR Dii:: BuSCAR-TE NUM.A SO:'.'·:.:::00~,:,~.O _; (ES.ivii.;DII.'A. EM TODOS OS VENTOS, EM TODOS OS MARES, EM TODAS AS AS ENTRE AF' NUVENS E AS ESTRELAS, MINHA ALMA E MEU DESEJO DOIDAMENTE TE BUSCARAM. E NUNCA MAIS FOSTE ENCONTRADA 1 NEM MESMO ATUA SOMBRA MATERIAL OU ~~G,1,V&.,, NEM MESMO O RUMOR DOS TEUS PASSOS, A FRAGFANCIA DOS TEUS CABELOS, A LUZ ABISMAL DOS TEUS OLHOS, A TUA VOZ DESMAIANTE E LANGUESCIDA, PROCUREI-TE NOVAMENTE NO TURBILHAO DA VIDA, NOS VERSOS DOS POETAS ANGUSTIADOS. NO RITMO LIBERTARIO DOS POEMAS SOFRIDOS, NA PAISAGEM CEREBRAL DAS INSPIRAÇÕES CREADORAS, NO DRAMA DOS HOMENS INTERIORIZADOS, E NEM MESMO A TUA SOMBRA HUMANIZADA OU IMPONDERAVEL, --- .f\ TUA IMAGEM DE LUA SONAMBULA -- ENCONTP.FI PARA REMIR OS MEUS SONHOS NAUFRAGADOS . . '. PORQUE ANDAS DISTANTE E DESENCANTADA DO MEU MUNDO, INSTAVEL E EF1l:MERA COMO A INCONSTANCIA DO TEU SEXO, .• DOUDEJASTE POR TODOS OS QUADRANTES IMAGINARIOS E TE PERDESTE NA SOLIDAO DAS NOITES LONGAS .•• DEIXASTE, POREM, O RASTO ESTELAR DO TEU VULTO. FASCINANDO OS MEUS OLHOS MELANCOLICOS, CHAMANDO AS MINHAS MAOS OBREIRAS, OS MEUS BRAÇOS AFLITOS, PARA TOCAREM A TUA MIRAGEM SATANISTA.• , FOI Sô ISTO, MAIS NADA, E FOI TUDO 1 PORQUE HA' UM SILENCIO NO AMOR QUE NOS MARCA A LEMBRANÇl., QUE JAMAIS TORNA A VIR EM MINUTO SUPREMO 1 -- E' O INSTANTE DA ILUSAO EM QUE O CÉU ERA NOSSO i •• • A EXPRESSÃO DE ARTE DE l<A THERl~JE /\1\ANSFlELD "Cada vez que falamos de ar– tf! de um::i maneira mais ou m2- nos interessante. ponho-me a desejar de toda a minha al– ma destruir tudo o que até hoje es<ireví, para clcpois recome– çar". Eis como se refere Kathe-. rine Mansfield, no "Journal", ao processo de creação da obra líteraria quando essa idéia cen– tral se associa à Arte. Não se trata propriam•.-nte de "vacila– ção'" ou mesmo "dúvida", mas dessa "inquietação" em busca do ideal, de qualquer coisa que ..,.,.,.. .fl--- A --1-..---- ----- - Cecil MEIRA (Par& & A PROVINCIA DO PARA') até da pena com que escreve: "Deus queira que esta pena escreva bem. Sim, parece-mi:! que escreve" Somente no ato de tocar na pena já sente ar– repios pois sabe o brutal es– forço que irá fazer para con– tar mesmo uma pequena his– toria ou para ferir um fato qualquer. Não diria quf' isso em Ka– theríne Mansfield era um de– sejo de ser "0riginal ". Acho– a pura para se,: assim, ou pen - sar assim. Antei: uenso oue m,- balho, o meu desejo nP. perfel• ção, a minha ansia de um l:JbD mais concienclo~o ? Serei cu e.a - paz de de dizer e.sta paíxá0 qU sinto, est8 paixão que sub~'.itut a religião porqt1<> é a minhu rr• .iigiã o... que substitui a compa - nhia dos outros. porquf' sou eu que crio o~ meus companhei- ros ..• que sub~tit;.ii a vida, pn. • que é a propna v1oa ? Sinto- me às vezes tentada a aJ0elJ1ar diante d0 meu trabalho, e : dr– rá-lo, a prostar-me. a fica, um tem_po indeflnid, , ê""•~;i....,.;.;:;......1

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