A Provincia do Pará de 22 de junho de 1947

Página 8 ----------------------------- - - - ---- _ ._ ___________ ------------· -----· -· A ~~OV!NC!A bô PÀftÀ ----------------------·--·-·-- Oomfngo, 22 de Junho de 1947 --- • • ot1c1as Um poeta romano disse· "O que ií d!l terrivel na pobnza é que a faz o homem ridículo". Isto é, 1m dúvida, um exagero, poi3 ~e pobreza não é rldicula senã .. o ~ando não sabe supo:tar--se gnamente. O algodão só é ri– culo quando quer nivelar com cêda. A questá-0 está em não querer .ir do meio racial em que se ve. Uma pessôa de modesta po– ~ão, que vive entre seus iguais, tá representando o papel con– niente; mas se pretende, por ida.de , impôr-se em outro meio tá exposta a sofrer humilhações ~loroims, por menos orgulhosa te seja. E' verdade qup se deve •sprezar as pessôas -1ue consi– .ram um crime a mediocridade r fortuna e que avaliam os ltros pelo traje; mas 6 sempre tm evitar-se o seu escárneo. Existe um modo dP, ,;cstir-se modéstia e com graça que re a maior elegancia. Ba'lta zer um estudo demorado para e:binar as nossa,s nf':)essidades ~ os meios ele que dispomos. Os tecidos leves são graciosos requerem menos dinheiro na a aquisição e menor cuidado feitio. Os tecidos pesados exi– uma bôa modista. E' melhor o D da Moda economizar em tecidos e na quan– tidade de trajes do que nos fei– tios. Um vestido bem talhado se– gue a forma do corpo e se valo– riza; um vestido mal cortado faz perder a elegância. Não convém nunca exagerar oc feitios de moda, em nenhuma par_ te do traje: nem muito aperta– dos, nem demasiado largos. Um dos detalhes cm que mais se nota o exagêro é nas mangas: le.rgas demais to:-nam o braço de– sajeitados; muito justas mostra– mos defeitos porque, geralmentP.,os os braços não têm uma forma- J?er. feita e só os braços das estátuas podem ser modelados de acôrdo com a estética. O decote é perigoso para as mulheres que passaram da pri– meira juventude, porque a ma:-– ca da velhice se grava no colo mesmo quando o resto do corpo ainda se conserva jovem. Por isso as mulheres de "certa i.dade" de– vem renunciar ao decote, e, tam– bém, as moças magras, de peic Pnrugada e amarelenta, de ombrc:-r salientes e ossudos. Desde que e clecote é invocado como necessári: em algumas funções de etiqueta. sempre fica o recurso de difarç:i– lo com tule ou renda. o que ( muito melhor que apresentar um aspecto desagradável. s EI,EGAN'l'ES - Estes dois lindos modelos que deveram ser ta– lhadu::;, em fazenda delicada, são muito próprios para a esta– ção que se ar,roxima. As mangas três quartos realçam sua ori- ---- ginalidade ---- CONSELHOS UT EIS Se você quer rejuvenescer d€1Z anos em vinte minutos: uma gema de ovo, cinco gotas de glicerina, cinco de amonia– co, cinco de sumo de limão, uma pitada de Corax. Estenda esta pasta no rosto todo, ficando meia hora sem se mexer, sem falar, retiran– do então com agua morna. * *. Use o pepino, pois esta ver– dura tem as vitaminas da be– leza. O suco de pepino aplicado na pele produz côres novas e [grande 'beleza ao rosto. gante, não usa mais do que al– gumas joias. O acumu~o des– tas, dá a impressão que são fantasias. Muitas joias, fica bem nas ciganas. * * * Pela manhã deve-se trajar, de preferencia, vestidos claros. O preto, o azul marinho e ou– tras cores são aconselhaveis à 1 tarde e à noite. * ... As louras devem usar nos la– bios baton de tom claro, leve, enquanto as morenas devem t11lar um baton "mandarlne" ou 111"1,~, •• ·O ATA Li DE O PEC A D O... 7.ª pag.) beJ' como estou (Conttndação da 1ethna pa~.) tinha em bom estado quilome– tros e quilometros de cerca em suas propriedades. Na vih, entendeu de cons– truir. Carns, naturalmente. O mais afto edifício da rua do Comércio, o único no gênero, aliás t:st:wa sendo feito por ele. Tinha - e p::ssue, ainda, se não o derruba::am - três pa– vimentos, e o· povo que nomeia tudo, crisrr.oa- o de "o rnhrado do velho Jeca". Quando se plantava a cnmieira, os amigos passavam ao largo e olhavam para o Joca, trepado, no mais alto andaime, radiante, coisa c:ue roucas vezes parecia acontecer em rna vida. Henriqueta tam– bém aparecia : vinha avisa-lo da hora r~o almoço ou do jan– tar. Grit:wa, de baixo : - Está na hora, ó Joca ! Orgulhava-se do homem. Ti– nha vontade de subir até onde ele se achava n:as havia a es– cada e o povo, em bah:o, a transitar poderia ver, se olhas– se para cima. o que não deveria ver. Era a única coisa, blvez, que Henriqueta não fazia, não que o friozinho de um de3ejo lhe não espicassasse o gosto de ser con:o o seu homem. · Ora, a poder de serem iguais, feitos um para o outro, e';que– ciam m1.:ita coisa ou encobriam propositadamente a verdade : .a diferença de idade, a aus<:_ncia de filhos: mas uma rnlidao_ a dois não é propriamente solidao: é um arremedo, que às vezes traz feíicidade. No meio desse labor, ano após ano, a esquesitice do Joca se prosunciou uma vez de ;11odo singular e peremptorio. Surpre– endeu a mulher dizendo-Ih'! : - Sabes que já estou bem maduro e que este meu velho coração já bateu_ muito. Pre– cisamos prevenir o futuro. Bo– tei tudo no teu nome: as pro– priedades, o gado, as casas da rua. Quero, agora, que me pro– metas uma coisa. Henriqueta ouvia aq~~le r_e– pente do marido, meio sena, meio espantada, - ora, para o que dera o Joca, estaria giran– do, estaria mal~co. ele a quem a. velhice horrorizava ? E só teve que perguntar : - Que queres que eu faça ? - Tú ... tú has de. me pro- meter que nunca te casarás ou– tra vez. Riu Henriqueta com aquelas palavras. , - Estás bobeando, Joca. Que idéia mais besta ! - Esclamou, numa gargalhada, que era ao mesmo tempo um remoque. - Mulher, falo serio. Não costumo orincar, tens a certe– za ! . . . Prometes ou ná-0 pro– metes, - Se insistes... (novo riso) - mas que to!lce, Joca ! - Prometes ou não prome- tes? · - Prometo : jamais me ca– sarei com qualquer homem de– pois de ti. Joca colocou as mãos peludas sobre a mesa, em descanso, co– mo quem acabou de selar um entendimento no papel. Em se– guida, tornou.: - Resolvi, eu mesmo, cons– truir meu próprio tumulo e para isso já reserve! o pedaço de ter– ra no cemitério. Vou fabricar também o meu próprio caixão. Tetmõso, secarr~o, m~!o cabe- gada calamitosa e aziaga, quan– do Henriqueta despertou de um pesadelo. Era mais ou menos meio dia quando o farmaceutico João Alfredo espirrou pelo beco da · Pimenta, fazendo uma ce– leuma dos diabos e juntando gente: - Mataram o velho Joca ! Como foi como não foi, o ho– mem estava morto. Encontra– ram o cadáver, com dois furos no peito nas proximidades do sítio do Riachão, uma das pro– priedad:os da mulhe,. O nosso Joca ou caira numa embosca– da ou topara duelo a bala co::n alguem, cie quem ná-0 se soube quem fosse até hoje. !evando a pior. :Maldou-~e. Maldou-~e muito C:oa Cazuzas, mas quem sabia, quem tinha certe:!a ? Agcra, toca a enterrar o mor– to. Pela brdinha, rnia da fa– zenda pa:a o cemitério da vila que era perto, um cortejo d.e gente g:o~sa, co;nprimindo-Ee r,obre os despojos do desgra– çado, com ar perplexo e curioEo. A viú\·a, agar:ada a uma das alças do ataude, trazia os olhos secos e o rosto duro como pe– dra. Os grandes e pequenos do lugar, gente como polvilhe, ar– rebitaram-se para o caminho e ali estavtim a ve.:· ~e o homem ia ser mesmo enterrado no atan– de e na ~epultura que ele pró– pr!,:, con~t111ira com as mãos para sua última e wutaria mo– radia. Pob~e Joca. ------------- ••~!-~!',::,::♦::♦:· "'"' • ........ "I,♦ ..._. V ._.._O+"'AA .~:::-::-::•~ ~ Dr. ARMANDO i:! 1 !j PINGARILHDti u ~ :: médico especialista em :~ iDoenças de crianças;j i•! Consultório: Sto. Antonio, 68 :_! fi1Em frente a Farm~cia e. santon):.! ::: Residênci,: Gentil Bittencourt, i:i :-: n. 41 - Telefone: 2958 i.: i·: consultas: das 9 às 11 e 4 à1 ~~ i~ da tarde. 1: }; (1739 ::: ~::•:: ..::~::-::~::-::-:: ..::•::>.:•:!•!!·!!·:!•!}:!•:: ..::•::~:; (Continuaçã.o da continuando em sentidc di– verso, em consequencia. do pecado. Dostoiewski desesper::, va– se com essa eternidade cul– pada. Esta faz do h,Jmem um ser subordinado pelo c'el"– tino e ele não s_e conforma– va ~om a subordinação. E' que para ele, há semI-rt o problema da liberdade e c!a vontade. Por isso, falando de Kierl:esgaard, escreve An– gel Vassalo, como se alUL:is– se a Dostoiewski: "La Cln– ciencia de la culpa, objeto c!e la angustia, conduce a r'uns– tituir-m en "infinitamente," culpable". Na ra~c do problem~ do destino reside, portanio. o problema do bem e do 11'&.l, isto é, o problema do p<Jcll.do em toda sua plenitude . Quando discute çom .º l.,1s– po de Tijon, Stravogum co– loca o problem~ c_omo re .º extrai::se da propna e::-'.pen-;– encia pessoal: "Tudu is~o e insensato, mais do que :n– sensato", diz ele. "~' .o meu próprio "eu" sob van, is . as– pectos e não outra c-c-~a. Quando porém, emi)rego esta fr;se, você certame_nte pensará que ain-9-a d1:v1Jo, pensando que nao so1'. tu, mas é O próprio demomo . Tiion lança-lhe olhar in– terréwativo. Insiste: '·F. &h 1 - da agora você o vê'~• E, f.' n– do de lado a questao dJ. que se trataria de uma alu,?1r.a– cão mórbida, acrescenta : '~Você continúa a ver uma uma imagem precisa?" "E' estranho", responde stravoguin, irritado, .. "que você insista, quando J ;1 , l~e disse que o vejo. Sem_ du}:1- da que o vejo: e veio ,uo r s A Fábrica "Guaraná Simões"' para suas secções de garrafas e guaraná, está admi– tindo, desde que apresentem se~s documen– tos de reservista, trabalho e saude. (2128 vendo VQe cê ... " - "E' mais veros;,irntr", diz o bispo "que isso seJjl produto duma enfermidudil, muito embora ... - "Muito embnra?. - "Os demonios eYistPm certamente". A rénlica de Stravoguin é nervosâ e veemente: "Creio no demonio, creio canm1;cn.– mente num demonio peeso::.l E' não alegórico ... " o diálogo conti.núa nP~se diapasão sombrio: "Podê al– guem acreditar no n;:.i bc,, f,em acreditar em Deu-~?" Stravoguin arrasta-:oe p~Jo crime como alguem que : c·n– tisse uma estranha safü·fa– cão · em l'.l.nhar a !Jr(,,1ria carne. Quando confr::rn seus pecados, está com a alma na bôca, sincero e f1"f0- luto. Ao bispo, que lhe ouve a confiscão atormentada 1· o interroga rnbre a natur,~za moral de suas erenças. 1f'S– ponde: "E;:;cute-me, flaàre Tijon: nec2s$i,to perdoar a min mesmo. Esse é o mE-U objetivo, todo o meu objeti– vo". Stravoguin falava a seus olhos pareciam ilumi!~a– dos como num extase. Só assim, bem o sei. dsss.pa· ,e– cerá essa visão. E' po~· f'sse motivo que busco os sr.fri– mentos sem limites. E os bu::co em mim niesmo". A sinceridade de Sr,ra',o– guin era de tal forma ines– nera.da oue Tijon se e:gue: ~'3e vccê acredita que p<'de perdoar-se a si mesmo, al– r ancar o perdão neste mundo por· meio do sofriment0. se aurescnta com fé essP. pro– biema, então você é um crente integral! Por que e~– tão está dizendo que nao acredita em Deus?" E' que, para Dostoie"\\"kl, o pecado é a existencia e a wa negação, uma prova '.3-bs11rca cta união entre a vida e a morte. !OSVALDO SOUZA ADVOGADO (:a usas civeis, em geral: Inventá– rios. testamentarias, liquidações. etc.. Esc.: Manoel Barata, 78 - altos. FONE: 2072 (2048

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