A Provincia do Pará de 22 de junho de 1947

Domingo, 22 de junho de 1947 . ~ No mundo dos livros ingleses Copyright Reuter-Feature com excl11slvldad1 parB A P.ROVINCIA DO Pf.BA' :neste l! lSt:11.do LONDRES - Dois dos melho– res l!vros recentemente publica– dos em Londres !oram autobio– grafias completamente diferen– tes. Uma delas, que é nova e– dição de um trabalho apareci– do pela primeira ve:z.- em 1883, é a historia da vida do propr!o Anthony Trollope, agora com uma introdução de Charles Morgan. Foi publicado por "Williams & Norgate". A ou– tra é "Ploughmam o! the m1;Jon ", de Robert Serviée, que narra sua vida de e11eo– cês de nascimento e trovador do noroeste canadense, edição de "Ernesto Benn Ltda". Trollope, o novelista-agente de correio, que adorava. a e– quitação quase tanto quanto calcular o dinheiro que ganha– va com seus livros, é hoje um dos escritores mais lidos da In– glaterra, encabeçando toda uma l111ta de autores vitorioanos. Mr. Chartes Morgan acha que es– ta autobiografia pode muito bem ser o trabalho sobre o qual des– cansará a imortalidade de Trol– lope. E' um_ h! torla detalha– da e leve de uma meninice po– bre, seguida de uma carreira na qual Trollope escrevia u'a mé– dia de _10.000 palavras por se– mana dispondo-se a escrever um numero fixo cada d1a ("redu– zindo a arte a uma formula") até conseguir o equiv:i.lente a melo milhão de libras esterli– nas. Espirituosa e picante, escri– ta com cintilante "humour" e sutis observações sobre seus companheiros "Ploughman o! the moon" o!erece um fasci– nante estudo do fim da Era Vi– toriana, numa cidade escocês& na qual o Sábado era sagrado mas onde a vida nem sempre era monotona. A formação do autor, através de poemas de a– mor e de ódio e de baladas todos de pé quebrado e aos mon~ tes, dos versos sobre a vida ca– nadense tais como "Dan Mc– Grew" e "The traill of "98 '"' que o fizeram mundialmente fa~ moso, acompanhava sua vida como funcionaria bancaria, cow– boy, vagabundo, e, finalmente, gerente de banco e novelista de sucesso. Multo acumulou durante seus '70 anos de vida e é realmente uma pena que o livro apanhe somente u'a metade. o "Ki– pl!ng do Canadá" fez da histo– ria de sua vida um conto tão Invejemos buliçoso como nunca chegara a fazer com suas bit.lactas. P11-ra sua. ultimã novela, Mii;s Phyliss Bottome voltou ao ce– na,io de seu ant110 grande su– cesso, "The Mortal Sterm", .um asilo de lun~tlcos. "The lifeli– ne", publicado por "Faber & Faber Ltd." versa sobre um e– pisodlo flcticio de espionagem na Austria, terminando de ma– neira completamente tantast1ca, quando os . nazistàa dio sumiço a um grupo de cavalos da Esco– la. de Equitação ~panhola. Apesar disso a c:í,l,'acterização e sobretudo o cuida.do dlspen5a.– do às cenas do asilo, onde tra– balha o e11perto espl!l,o do Mi– nistério do E~tef!or, fazendo-se passar por paranoico, torpam o livro uma leiturà. excitante e al- go opre~l:va. · Denys '\1'11.l Baker é um dos mais promls~res novos escritores e depois do suceeso de "The W h t te Rook" oferece-nos "Worlds Wlthout End", edita– do por "Sya.lván l:'i°fl.'5S Ltd.". uma coleção de 20 historietas, que exploram toda a gama de emoçõe$ com grande facilida– de e tato. M o d e stamente apresentado como realidade e :sem nada de ficção, "South to Freedom" do Honoura~le T. e. F. Pr!tt!e e do Capitão W-E. JS<lwards, pu– bUcado por "Hutchl50n", será naturalmente a. melhor historia. de aventuras durante algum tempo. A afirmaoAo feita pelo editor de que pMll&t'á para o grupo das historias classicas de evasão, parce ter bom funda– mento, pois conta a historia da viagem para Schaffhausen, Sui– ça, de prisioneiro,s de guerra a– liados. Apresentan do fatos do maior intoresse sobre a vida nos campos-prisões, "South to Free– dom" mantem o leJtor sij6pen50 ao longo de todas a1 paginas, e é verdadeiro. Menos emocionante, mas bas– tante Interessante, , "Cómmis– &1oned B11,rgees" pelo tenente 'frevor more, R. N. V. R., e(11ta– do por "Hutchison". Australia– no e jornalista, Biore impressio– nou-se tremendamente com os homens dos "Comand~" que iniciaram as invasões aliadas da Noruega e Burma. Ninguem até agora se dera ao trabalho de escrever wbre a "Frota es– quecida ", que teve uma luta cruenta, sem nada de roman– tlco ou brllhante. BlOl'e conee- • o piano Poema de um cetico Romeu MARIZ Da Academia. Paraense do 1'et.-a1 Que inveja eu tenho de pia.no (~ue indentimento que ele tem Que imensa fhos,;fi:i, a .:.ua : ' Canta mtnutos, dias, toào ano Ali junto à p&r de . orde convém :Por ..iue sair à rua? • Asi,lm ne~ss!tav,i de cortejos, n ~,..Nn ló\l :fPõuL\ ..,.,..:i-.: l guru um resultante bem inte– ressante. O brigadeiro D. A. Sandford foi o "homem misteriosos" que entrou na Abissínia, formou um exercito nativo, ligou-o como um todo eficiente e com ele a– judou a expulsar os italianos da Etiópia. Antes da guerra, era fazendeiro nos arredores de Ad– dis Abeba. Mrs. Sandford escre– veu a historia dos anos anterio– res e posteriorres à guerra, re– la.tanto como o Imperador se empenhou em levar a luz para acquela sua terra de trevas - "Ethiopia Under Baile Selas– sle", publicado por ·"nent'.', fornece grande quantiõade de valiosas informações sobre um povo e uma terra desconheci– dos. Tendo descoberto que Wil– liam Shakespeare, ao lhe ser dada uma palavra como par exemplo "milhafre", ele a asso– ciava a imagens as mais evtra– vagantes e Incomuns e pontilha– va varias frases de suas peças com extraordinarios agrupa– me:r..tos de ideias, Mar. Edward A. Armstrong escreveu "Sha– kespears's Imaglnatlon", edita– do por "Lindsay Drummond Ltd. ". mesmo para os eruditos e estudiosos de Shakespeare, es– te livro será refrescante e ins– trutivo. Tentativa algo semelhante é "British Fairy Origins" publi– cado por "C. A. Watts Ltda.", escrito por Mr. Lewis Spence. Mr. Spence esmaga todas as crendices pue.is com a sua afir– mação de que as !adas são rein– carnações dos mortos. Seu me– ticuloso e habil livro seria mais cativante se um respingo ci.e "humç,r" pudesse ser encontra– do em suas 200 paginas. Oportuno, bem escrito e equi– librado é "World Powrr and Atom1c Energy, por H .E. W!m– peris, editado por "Constable". Antigo diretor de Pesquisas ci– ent1!icas do Ministério do Ar In– glês, Mr. Wimperis analisa a re– perctUISão da bomba atomtca nas relações internacionais. Tra– ta-se de uma monografia em que podem ser apreciadas a ela.rezo. técnica e a integrida– de. Um estudo dos males do na– cionalismo exagerado, é "My– ths and Reallties in Eastern Eu– rope ", editado por "Lindsay Drummond", de autoria de Walter Kolarz. E' um estudo dos mitos subjacentes, das cren– ças nacionais e das lendas an– tigas e novas mostrando sua in– fluencia sobre a diplomacia e a polltlca internacionais. Fazendeiro de sucesso e um dos expoentes maximos do radio e da novela Ingleses, l\1r. A . G. Street dedicou-se à economia e aos dlficeis problemas da lavou– ra em seu livro "Ditchampton Farm", editado por "Eyre & Spottiswoode". Numa época em que o Interesse mundial está vol– tado para o problema da ali– mentação, sua produção e cor.– SlJlllo, o livro de Mr. Street é tão importante quanto oportu– no, quer pava os leitores técnt– cos, quer p:ua os leigos. Um quadro inlmitavel da In– glaterra entre os anos de 1895- 1945, é encontrado em "Seen in Perspective ", de Percy V. Brad– shaw, editado por "Chapman & H ". tl!;ta f o ' ra.d~ "W 1. PROVtNCIA r,o f'A NOITES DE S. JOAO Jorge CAMACHO (Para. A PROVINCIA DO PARA') S!\o Jofto, São João, meu bom São João, Q tru te1Ppo chegou e a tua noite esperada, l!:ssa noite ff'liz, bem feliz tão feliz l~ Que a.rdc •;repitante em fogueiras sem fim Nós s11bmbios distantes c'a terr11. querida como l'lwmaR de amôr multicõ>:·es e belas•. Cnl".>ôclas bonitas contentes te esperam F~::t•;1do p1 omessas ardet1tes de amôr, Entcrraudo, rro!undas as f~.ca,; afiadas, Nos troncos inocentP.s de mil bananeiras Que, amlr;as a sorte da l{enLe, :revelam. Passa11do fogueiras, pulando e cantando, Nes1;~ l'toite que é tua, bem tua, só tua: SJ.o ;rc.ão , São João, meu borr: São João, Tua q.naC:.ra. e festiva, é feliz. devotiva. No •:éu bem luzer.te fulguram as estrelas r:'1v1,1an1.u no ar bailam balões multicôres 1: os :ror,uetes estrondam fa,z;endo barulho Nos oa,iC:(.ls da gente. Os b\1.11bás com as suas danças e as suas Catartnas, J ais Frane1rros l.,arbac 1 .os, fumando cachimbP E a11 c·1mtig~s da ter::a alegrt&. dos terreiroa,. Bct.-klas 1egionais da nosra !llma cabôcla, Ah;:.í., nnm::rn(.á, taucó. e açai Q·;e nas cuias se bebe el'l" gc,la.das felizes. :;fto .:o~'J, São João, meu bom Sáo João, •ruas fc;nuei:::as de amôr. eno!n,ndo e casando, 1:api1~es e n:oças cor.tentes dlzendo: "São João disse Sã0 Pedro confmUúU Que você era. mint,a n9iva Que Nosso Senhor mfmdou", Tetr. ~l)l•h•J e poesia. Os bat.i;::m'1s nas chamas quentes das fogueiras Nn. ti;a 11olte São João noite tua só tua, s'no momenws de ertcant,l e que deixam saudade. ::p.o Joii.o, São João,_São Joãc ~o minha t~p:a, Desta 1nmha Amazouia misteriosa e grande, nc tótos, de cunhá. de sacís e de lá.ras, Sflo J"oiio dos arraial.$ pequenin')S distant-ep, Oncle a vida é mais bela, onde a noite é ma,is pura.a L: c,nr!c. ao -.::alor imenso 1a$ fogueira.a, Os r.oru,_r;óes da gente vão ardendo, arde:µdo, E depois, n,eu São João, noite alta, madrutm..,..da, Nas t'inzas que murcharam, quarteirões afôrá, A sa11C:ad~ d11. noite querte e 1nesqueclda, ~e m_'n sonho que passou, de uma promessa. a~ , De t1iii sor,ho que passou . de uma promessa a• I ~s.sa grande saudade infinita e grandiosa Qü1> 110 1.-~ito da gente há. de ard~r tod,a a vida, ~\ caminho do céu, buscando a imensidade No rástro h:minoso de um balão. à-ão JÕ~c, São Jpão. _ E' a tua noite f:lão Jaao. Ot.íidns - Junho - 194':f O ATAUDE ARTE E LITERATURA - Página 'r NOTAS DE UM CONSTANTE LEITOR O PECADO COM EXISTENCIA Candido MOTTA FILHO (Copyright dos "Dlar1os Associados") s. PAULO Maio - Agora que o pensamento existencial rompeu o estrei– to circulo de alguns espir1- t9s perturbados pela fUoso– fla. para entregar-se à cnrio– sidade da. cúltura mtd!a, através da literatura - vale a pena voltar a nossa aten– ção para Dostoiewki, (tue é um dos grandes angustiados do romance contemporaneo. Temperamento essenc!al– mente trágico tinha Dos– toiewki, o sentimento de tu– do o que é mortal, num gráu extraordinariamente eleva– do. E por isso tinha, em alto gráu, o sentimento do peca– do. Ele se a.presentava. como o melhor certificado da exis– tencia. }Wmana. O pecado é que define o homem.. o mais desgraçado é sempre um ir– mão nosso, irmão no pecado e- não nas virtudes. A virtude é uma aapiração do homem para deixar de ser homem, a.o passo que o peca– do o coloca dentro do ~eu mundo. Ele aceitou, de uma certa forma. o que escreveu Krierkesgaard: - "pecamos quando, perante Deus ou com a idéia de Deus, ficamos desesperados e não queremos ser nós mesmos". O pecado, assim, está nas entranhas da existencia., co– mo umá perpétua objeção às conclusões intelectuallstru-:. Viver é pecar e pecar é ne– gar as possib111dades da vi– da. Com o pecado a vida não é uma história, mas um ro– mance daquilo que Camus denomina "o pensamento humilhado". Há no caso de um infeliz, que nos f~ lembrar esse ponto de vista de Dostoie– wski. Aliás. todo caso infe..: liz lembra o escritor russo. Esse infeliz permanece du– rante vi: ç.te anos, isola.do, na Penitenciária, onde, dentro. do maior conforto, sofre a compressão artificial da dis– ciplina. do cárcere. Depois de ter reconquista– do a liberdade, atira. um dia contra uma mult!dão ocasional, ferindo várias pes– soas. Passára pelo manicomlo judiciário e era facil, por is– so, a explicação desse gtsto. Mas a explicação que ele mesmo deu embora mais complexa, é que er3, r(-al– ~ente, a verdadeira.. l!:' que, ainda uma. vez, quisera con– fessar - repetindo - o crl• - ---"'"A•d-;J são vale mais como ex(\1·cl– cio de sinceridade do que co– mo arrependimento. A confissão é tida, (!Uaff sempre, como uma recompo• sição do prumo-psiqulco perdido ou disperso. O bo mem que se confessa, nu ato admiravel de ofert,ôr1 de si mesmo - procura.. &.n tes de tudo, sua persona'tda• de perdida. O pecado é uma. negação e, principalmente uma negação da virtude h u mana. O pecado mortr.l des trói o homem em sua f:S.~~n eia. Dai resulta que o ato d confissão é um ato de cu ou, como o próprio étimo d palavra está dizendo, é um declaração, UI?l,8. revelação. Quando João (XX, V, 22) dizia que "os pecados s~rl remidos", não só encar9. a arrependimento do ho111t1 livre e consciente como a d ceridade do homem envotr. do pelas tramas obscuras destino. · o homem que se conft= identifica-se consigo mesmó. Por isso é um homem que H refaz -· em espirito - à cus– ta da própria carne. E' o ho– mem renascido no perpétuo milagre do Cristo. Quando sofria a lêde confissão, Rousseau, por ti veri:, padecia da sêde de Ee sincero. Para. o atonnentad de Genebra, como para Dos toiwslti, o que deve sobrepu jar sempre, no ato da ctinfl11 sã.o, é a sinceridade. Soh influencia inegavel de Rous seau, o romanttsr.nb pode se considerado, porisáo mesmo um confessionário unlver ,al. A sinceridade seri!. conquista da vida pela ver da.de exposta "sine cera". homem sincero encontrar a sl mesmo, encoi).tra.ndo universo. Em torno dos 11ml tes traçados pela hipor rl sia social da. civilização, ha via as mãos livres do homo selvagem, traçando o rot"'lr da liberdade. A sensação d sinceridade assumiu, em Do:i toiewski, proporções ime sas. o homem, imundo pel pecado, encontra. a reden~ã que o torna inocente e nú como nos primeiros dias Oenese. A obra do escritor ru assemelha-se, assim, ao ges to desse pobre alucinado qu confessou, repetindo-o e público, o crime que lhe er, imputado. O que Dostoie-.i,.-.k escreve - realtza ou pens

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