A Provincia do Pará 08 de Junho de 1947

Domingo, 8 de junho de 1947. > PROVINCIA no ---------- ---- - ----------------- ------------·-- - -··- - A America- como ela é -=-ginn PESCE (Para • A PROVINCIA DO PAR&,') Na. verde.de, o turista. passe. um mês em Miami, e não acaba. de visitar todas as atrações enu– meradas nos folhetos! No fim, porem, o que mais impressiona não são os jardins públicos, com suas belas flores, nem o Zoo dos macacos, onde há. a extrava– gancia. do visitante ficar, enjau– lado, enquanto os chicos pulam livremente, nem tãopouco a Fa– zenda das Aves Raras, onde ve– mos coisas assombrosas, como o ganso que tem cabeça e pés de perú, o passara com uma corôa dourada, a galinha que põe ovos azues e a ave que ande. sobre a água. Essa curiosidades todas, afinal, são obras da Natureza, e já. estamos ma13 ou menos habi– tuados a esper,ar coisas assom– brosas dessa fada, que é pode– rosa e indecifravel. O que mais impressiona, em verdade, é algo creado pelo ho– mem, cuje. obra, por necessitar esforço e inteligencia, merece maior admiração. Referimo-nos às chamadas Ilhas Venezianas, que o homem "plantou" na Baía Biscaina, entre Miami e Miami Bea.ch. Reza a Historia que Miami Beach deve sua "descoberta" ao coqueiro, pois em 1870, quando um certo sr. Lum e seu filho visitaram o lugar, ficaram tão entusiasmados com a quantida– de dessas palmeiras, que ali cresciam em esta.do nativo, que resolveram instalar-se, tentan– do uma. industria lucrativa, pois que o côco era, já naquela épo– ca, grandemente procurado. As– sim, em companhia de outras duas faml11as, compraram aque– la11 terras, começando o desen– volvimento das 1ll1as. Como em toda empresa, hou– ve obstaculos, revezes e desllu- 6Ões. Entretanto, quando um fi– nanciamento parava, outra aju- ARTE E LETRAS Remarque a 1;, grid Boraman • A associação dos nomes do grande romancista alemã.o, e da mundialmente famosa estrela l!Ueca, nesta noticia, está. desde loco justificada pelas noticias que nos chegam de Holywood. Realmente uma nova, companhia cinematografica americana - a Enterprise P:roductions - já terminou a filma gem do cele– bre romance de Remarque - " Arco do Triunfo" - que será estrelado por Ingrid Bergman e Charles Boyer. Aproposito, sa– be-se que só no Canadá. e nos Estados Unidos já foram vendi– doa do livro cerca de UW0,000 0llem.plares, e que pelos direitos ela filmagem Remarque reeebeu aproximadamente cinco milhõe de cruzeiros. O filme que cu.,tou à. eompanhia milhões de eru1;;i– roa. será ridigido por t.ewts Ml– leatone e Ingrid Bergman, ao que d.lzem os maliciosos cronistas da terra do cinema, aparecerá pela primeira vez em malllot numa qena, razáD pela qual os estu– dJos resolveram que esse maU– lot seria o mais caro do mundo, Os direitos da tradução do famo- romance. f,:i:r. .adouiridos da aparecia. E surgiram nomes que ainda hoje a Flórida lemlõra com veneração, pelos beneficias recebidos. John Coll1ns - que tanto se dedicou a Miami Bea– ch e que foi o primeiro a enfren– tar o arrojado projeto da cons– trução de uma ponte entre Mia– mi e as ilhas a qual ficou sendo a mais longa ponte de madeira do mundo, naquela época. Tam– bem Carl Fischer que, pondo sua fortuna a serviço da ilha, permitiu terminar essa ponte, quando os outros recursos aca– baram e, depois, muito trab11-– lhou pelo desenvolvimento do lugar. Eles n!i.o sabiam, então, que es– sa ponte iria ser o marco de uma nova éra; mas, por ela en– trou o Progresso, iniciando o que hoje vemos. Dessa historia de Miami Bea– ch nasceu a historia das Ilhas Venezianas. Pois sua construção !oi iniciad. em 1920, quando Miami Beach - que tomavn impulso a olhos vil;tos -, já. não tinha mais terra para todos a– queles que desejavam construir E então, o recurso de que lan– çaram mão foi, ,antes de mais nada, "construir'' uma terra. indo buscá-la onde não podia ser aproveitada! A idéia parece simples; o trabalho, todos ima– gl;1amos o que terá 11ldo; o re– sultado - ~ uma. obra indiscu– tivelmente maravilhosa. Ai estão elas, em pleno d.?Sen– volvlmento, e nlnguem diria, ao ver os lindos palacetes e as lar– gas avenidas; ao ver as !ilas de palmeiras e a infinidade de flo– res - nlnguem diria que, um dia, is.~o tudo não passava de terra adormecida no fundo da bafai ..• O homem, porem, aprendeu - e n ã.o àescança. Tres "caw;é– ways ", que levam do continen– te às ilhas, dão passagem, dia– riamente, a milha.res de carros, E um quarto, o "Riekenbacker Causeway" já está em const.ru – ção e breve abrirá as partas do mundo a ma18 duas grandes ilhas que, muito provavelmen– te, irão se transformar em ou– tros belos balneartos - quiçí Vlrginia Beaeh e Biscayne l;Jea– ch, tomando o :qome das ilhas - servln<lo de novos centros do tlll'i~no. Todas essas pontes são, sem eiúv1da, um orgull\o par a enrenharia americana. Mas, nas pontes não poderia haver plan~ ta!, nem flores - -oo:rque "pon– te" não é "terra':. E então as pont~ foram reduzidas ll.O mi.. nimo, apenas para permitir que a navegação contiQuasse e a baía nii,o se transformasse em lago: . Ma.e, perto das margens, fez-se um caminho de terra, num prolongamento da costa que vai juntar-se à.s pontes. As– sim, a vegetação entra, exube– r nte, oomo ao ativesse plan– tada. sobre a propria agua. Ainda hoje, ao atravessarmos os "causeways", vê-se que no– vos aterros estão 15endo feitos, modificando a confirmação das ilhas, q e mais d mais er ·- eem. E o homem, orgulhoso de sua obra gigantesca, Pode d{ier que tá· d is u OUA TRO so [O S DE ALPllONSUS DE GUIMARÃES FILHO . - X~VNI - Ando com um mêdo doido da loucura, De enlouquecer, palavra: en-lou-que-eer Abrir os braços para a noite pura, Colhêr a lua, para não morrer ..• Como promessa, a vida me tortura Al.phonsus Filho, como irás viver ? Sou.como o bêbado que no céu procura A estrêla que lhe deram e foi perder ... Alphonsus Filho; que será do mundo? Guerra> desgraças e os jornais gritando E o vento uivando como o nunca-mais J (Ah! se eu partisse como um vagabundo E na1:- estrarlas f ôsse iluminado Tudo que é treva, que não pi·e;.;ta má. 1~ !) -XXIX- Que o amôr me possa dar tudo que espero.· O afago que não cansa, o aflito e esquivo Carinho que se faça mais sincero Quanto o meu corpo reclamá-lo vivo ..• Que me dê a alegria de uma infancia Molhada de um abril fresco e macio. Que me t raga um perfume de distância, De fruto , fl6res, sombras quentes, frio . .• Que o amõr me seja a luz doendo em lent as Oscilações de adeuses na montanha . .. Que o amor me seja a escada, o meu pomar. O pouco, as madrugadas friorentas, O corpo claro, a voz, a febre estranha, E o reino, o reino para além do mar ..• Solicitado sou por mil mulheres, Pelos olhares que se entregam... Vejo Que· quanto mais em mim cresce o desejo Mais a mim mesmo docemente aderes. Dizer que és mil não digo. Se puderes Decifra o que pressinto mas não vejo. Menos te escuto, tanto mais almejo Tua presença; bom será que esperes De mim um amôr. sempre tumultuário. Sou teu somente. E de tal forma o sou Que o amôr que às vezes se aparenta vário E' mais firme que o sonho em que me vou. E' teu sómente o amôr extraordinário Que a tua ausência aos poucos fixou. Quando nos completarmos, que esta chama Que acalentou a ausência, permaneça. Triste de quem, amando, apenas ama, E não se lembre como não se esqueça. Triste de quem, amando, solitário, Desamparado sinta o seu desejo. Que amôr, com ser inquieto e com ser var:v,io, Fica num reino que nem sempre vejo. Tudo é caríc\a se esperamos. Pulsa No olhar marcado pela dôr o afeto Brusco e febril e doido e palpitante. F; amôr em voz de paz ou em voz convmsa, E' t ão sómente o pálido objeto Aonde nossa atenção se faz constante. G. B. S .. MUSICA PELOS ARES l,ONDRES - A muatea pelo rAdlo moqff!éou o ~úblí~Q Ali. IngJá.tel'l;'a. QUalldo eu 11anha,va a vida como orit1co de <lellCer,– toa e óper&I! em Londres, 1'i 60 anei., atré.s, ouvi, eerto. vez, Ul'l\A f do BeE:thov ~. l'lr um George Bernard SHAW ,eoutando trechos desses auto– l'A ao P:l&nO com minha Irmã quanto à Nona Sinfonia, su11,s execuções eenstltuiaJn aconteo1- mento■ emaordiná.rias, sepaPa– dos J)O!' an de intervalo. e,. _ co~, _ os _programas de ter Porter, que ~ que eu vou fii,zer ? Quero ir para Blrmiu– gham, mas trouxeram-me para Clrewe": nlnguem Be im.Portava cow. Birmlngham ou Crewe, mas tpdo o mundo queria dansar ao délloioao ritmo da vc:,!!l ,Je Marie, .__.,___ - -~----- ....- .a..a,,. A exeeuçãp orti.1Jestral de Vau– ilJl~l e Williams, dos autores Byrd e Tallis, é de uma hal'lllo– nia. deliciosa. Poderemos dizer o mesmo do eoro da B. B. C. lutando desesperadamente pa– ra ler ~~ trabalho original desses A'.RTE E LITERATURA - Pãglna 7 ---- Carta a Jaques Flores Hormino Pinheiro, autor do presnte carta a .•acques Flôres. o festejado autor de "Panela de Barro", apesar de não frequen– tar habitualmente as cownci& de nossos jornais e revitas, foi, to– davia, um .lidador da imprensa . nos idos da antiga A PROVIN– CIA DO PARA, como noticia– rista, reporter, articulisto inci– sivo. Possuidor de virtudes inte– lectuais alicerçadas por selecto– nada cultura, Hormino Pinhei– ro é um completo homem de letras, além de erudito cultiva– dor do vernaculo, com as finas qualidades de cintilante "cau– seur". Tendo publica& n•1merosos trabalho8 Jocalízando, assuntos de socialismo amazônico, de que é um grande conhecedor, nli.o poderia deixar de florir o es– tilo desta interessante missiva com o sabor pitoresco do folclore ·paraoara, ate,3tando assim, a dutilidade de seu es– pirtto, observador e profundo.– mente regionaltsta,. ao apreciar as páginas luminosas do poeta de "Cuia Pittnga": "Meu caro Jacoues. Um abraço Recebi a "Panela. d1;; Barre". Saboreei os quitutes paraenses nela contidos; embora traga também, iguaria alienígena, a fartura regtonal sobnipuja. e satlsfaló. Deus queira que o teu pen~ dor literário não descambe, já. à aproximidr.de da 1d<\de pro– vécta e mesmo junto a.os cori~ teus da Imortalidade. Há tão pouco gosto nos letrsdos de hoje pela expansão e carlnho dos costumes da terra que dà– nos inquietação o desapareci– mento de um folquelorista. ~– tive e especialmente com o tra– vo humorista que tú tens. Dos que, .10 Parâ de outrora . fizeram literatura, dois nossoe costumes, dois ctêles, um não era paraense ,ruvenal ravares: outro, de tempos mais recuados, português dL: origem, Francis– co Gomes de Amorim. Ambos fixaram em verso e prosa, poêma e romance, a vidii. ca.– bôcla do Vale Ama:aónioo O último no segundo tômo do dramalhão da era rcmâ.ntica "Ced;ro Vermelho", e que é o glossârio da obra, encaixa, vo– lumoso questioné.rio com divul– gação explicita de profundo co– nhecedor dos costumes de nos– sa terra. E' peµa q1,1e m4i~ pouca gente conheça P.>anciíl'éo Gomes de Amorim. Um outro prendeu,, tam~m. a minha <ttenção: "'ómpllio Jucá., num livro de crõ:biô~a "As Ilhas", publicado ai por 1910, e cuja edição é hoje com– pletamente desapareci1a. E!!,te é um dos volunws mais precio– sos do folquelore par11,ense. Vêm, dep,.1is Teixel:ra Mar• ques, o espirituoso autor qe "Cartas à Cun.é", antecipad'o p;,r Ildefqn.w 'ravares, o lio5110 i;au<ioSv Ma.rabi. A divulga~ão dos costumes nativos é -.ima valiosa liçã'o para a gente nova. :Ei;ses costu– mes vinculam à posteridade a existência do nosso regiom1lis– rrio, pela graça e. do\lura das suas narrativas, pela revelo.ção dos ditos chistosos dos brocar- na ao reborm, da ubá. Aguenta o "tempo". Desce o ,;eu rio (sim. porque subir é para os tr0uxas) Desce o teu rlo co 1templa as margen;; maravilhosas espreita o pano– rama ineguavel, atraca r,as ri– banceiras festivas. aln·aça as tuas cunhãs encantadoras, bebe o teu cachiri delicioso, vára os forrós tenta1ores quebra o teu lundú seducento ~ requebra o teu retumbã.0 anhelante, entra de cacête ,10 frevo bravio, dá as tuas cacetadas másculas, in– vade os put:mns rumorosos das casas de farinha . descasca e rála a tua mandióca, ~spremt> o teu tipiti, côa mas,;d na tua urupêma, wrra a tua farinha saborosa, põe fogo à tua pane– lo. de barro, cozinha a tua ma~ niçoba, volt::i. para a tua ubá. e continúa descendo o encantado rio, abarrotado de tanta coisa bôa. Porém: se, à noite, avis– tares "para os lados de baixo" um grande •laráo, encosta na juranduba, abre uma brecha no mato, petisca a tua chispa, dá braza à tataiúca, amarra a. ubá ensarilha o ja~Jman e arU:a o teu tijups Náv conti– núes. Aquelt, clarão é a luz da Cidade e a Cidade fa 'á, o e§• quecimento de tudo o que tü sentiste na tua éra m1Jta.. Com um abraço do •1íalbo • sincero amigo de sempre, Belém, 1.' de maio de 1M,. (a) HORMINO PINHEfROn• ARTE E LETRAS "Chama e Cinzas", rom.anoe de Carolina Nabnco. "A Sue~'. sora", quarta edição do ta.moso ramalice de Carolina Nabuco. que tanta celeuma despertou em face das acusaçõe!I quo Ge fiZo• raro à autora de "Rebeca", de ter plagiado o livro da escrito• ra brasileira. "Evolução da Poe– sia Brasileira", sei1,lllda edição por Agripino Grieco, cuja.a "Obras Completas" estão sendo apresentadas, e das quais o li• vro mencionado é o segundo vo• lume. "Brasil" (Interpretação da formação social brasileira co• mo processo de amalgamento de raças e cultura), o mais re– cente estudo de Gilberto Freire, escrito diretamente em inglês e traduzido por Olivio Montene~ gro, que tambem é, o prefacia– dor ela edição brasileira. Essa obra do ilustre soclologo, que já retornou aos seus trabàlhos par– lamentares, aparecerá na Cole– gão Documentos Brasileiroa. "Disraeli e Oladstone, por D. C. Somerwell, estudo biografi– oo a apereeer na Ooleção, o Re– rnanoe da Vida. "O morl'O dos ventos uivantes", o celebre ro– mance de Emily Bronte, em no– va e admiravel tradução de Ra– quel de Queiroz. Devemcs asi;i– :qalar, aliás, que essa nova edi– ção do grande romance apare– ce precisamente no ano em que se comemora o primeiro cente– nario da sua IJ ~blica5.ão na In-

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