A Provincia do Pará 27 de Julho de 1947

\ Domingo, 27 de julho de 1947 A PROV!NCIA '00 PARA ARTE E LITERATURA - Pl.gtM f CONTO AS BARBAS DO PA Bernardo GERSEN Ma(IU!nalmente, o Pai apro– ~lmou-se do espelho. E, como tutn t.odll3 &a manhú, põo-ae • considerar a face p&llda cor– tada de ru,a.a tu.ndaa e trlltOI, a boca crtJpadamente amarp, o queixo ossudo, o queixo ru• pado, nú... Uma :mpr..-ão penou de vergonha. Nlo, nlo conoegula famlllrl%ar•se oom aquela face sem barbaa, lqutla face d..plda que não era dele. Sentia a ft.lt.a de al,umt. 001&& - era oomo .se o uveuem re• !Zldo, mulllado, decepado num membro. As veus acontecia• lhe rodar Incertamente pelo quarto &Ollt4l'IO, e dàr e(lm uma cara e.strLnh& que, paarnt.dv mente, o fitava por detrá4 do upelho, De quem eram lqUelU felçõea enxuta.s, tri.tu e des– nuda.a ? Prtnclp&lmonte dNnu• da.a ? Uma .. pkle de pudor do· minava-o diante daquela lm.a– gem quaae obocena, demudada, violada no seu &eel'elO e lne• !ave! mJjúrlo. Ali estava outra vos contemplando a fl!tonomla ..tranrelrt.. Aa oobrantelh.al ~:,Ju~n:,3;1;":íu'I:= ~v:a~r:c. ·~O&~·~~: profundos, machucaooo, velados por uma branda nevoa cheta de nom)glU. Olhoa au.sentu que olhavam para longe, que viviam Jcmce, dentro de perdida.a terru remo– ta.a.. . nrou do bol!o o e110Jo de óculol e abriu-o deva,ar, com mão tremula e fervoro.n. Por alguna lnalantu obMrvou o aeu oonteódo, oom apaixonada devoção. Em seguida, com extre– mo cuidado, PAI'• não maroar aquele ser fragillmo, retirou-o do nwJo e deecanaou-o na pal– m.a da mAo aberta. E entAo abraçou com ólhar ent.mecl– do a madeixa de 11do!oa f!OI ~%~~ c=~~::~ baa... Era o que lhe r. .te.ra ClM vaataa barbai. Aquela reli• qula de flót palpltantd. anima• doa de um 10pto uqui,110 de t1d11'nclt. IO!lt.Arla. AQUela re– Jlqula que truta em 11 a eúen ela do paaaado. Que dlsla <IM ruelas do gueto, ao anoll.ecéf de aàbado, quando \ltl&I C10Ce– men1e ml1t1eu tremelutem, u Janelas de cada oaaa pobrt, li oanláva OI rravea cani.oa ht• bralcOI, HCUd1ndot, pltnOt de !ataJt.smo, •• elevando em od· roe mtlanoólloo• no c.mplo de Iarael .. . Eram 01 rcaloe du tua, barbas ielenu.. . llram também ot reeuis. aquelta flOt tranatdoa, de mala de melo -4- cuui de vldlL verdadelramenta Judaica, Pl~u mat.s uma vn a tma11em deenuda. no .,pelho lnoxoravel. P' u ou demorada• amente, eúpucantemen':!t dorl• damente. li) J)OUCO a pgUCO o et;>elho tol-ae embaciando, a :~f:1::en:aae:m: a~~~~ uma aaac mutui fina. Que nom uma orlança . enver,onhada, o PaJ amauou aa J"tlmae com •• -la• da mllo peluda , .. De 1&ql'lticl0, em aacrutcto, oonaontlr em raspar ae b&rbeAI. Que pudera ftJtr? 'l:ltava na América, Miava no Braall - • no Brull nl111Uem uaa bar– bu - E' ant.l•hlJlanlco, hl, Cll!aora o tuho, mala nlhO. - 1"1011, feio, t'al. acreacentara o filho mal.t moço. li realmenui, notav.. no, parental um certó e(lnttrangunenu, em apruen!A• IP a J)Nl6u deaoonheoldt.e. Jílapdo, »-aeu a evitar a aaJa de vlaltal quado havia sente de tóra. Picava no quarto, eur– vado eõbre o livro de oraç6tl, aJhetoe aos rt.tot • la convtr• !::. \:a TI= ~ ~~~• N't Cllalla nada a nln,uem, maa aquUo lhe dota fundamente. MNmo N qulMra abrlr-tt com aJguem, a quem podia dlr.6-Jo t Senti&••• um eatnnho num mundo eat.ranbo. Nem - 1llboa reoonheola malJ. OI filho• &n• davam de cabeça deacoberta, &la• retadol NlllPrt, fal&Ddo quue oomenta tm portua,ih. :me por– lugu!s ~ entendia. ..tavt. Vl· lhó para aprendtr outra Unaua. Nlo aabla uma palavra de por– tu,uat. 86 Q\l&ndo se dltl;:lam a tle, nu raru veza em que se lhes apre.sentava ocaalio, murmuravam em voz Mlxa, qu.ue enverconbadoa, u.maa p&• 1avraa prc1te10ru em lCIJJh. Pa– lavra, uoolhld.as, amavel.l. gen• ti!, m.aa que machucavtn'l pelo 10m em que eram pronunciadas. A tllha, eua, raru vous a via. QuaddO vinha de visita à ca,11, do tubo mal& velho, nem en– trava no ~u quano. Plca.-a llal?aru!O e(lffi l OOfl aóbre vesti~ e modu, dllcutlam -· aõea de cinema - e dtepedla– M Mm t.O menó& deixar um cumpnmen10 ao puaar pela ~ do MU qu.art.o. No quart,o d\:.'."'=m.:a ~~~'J: ~~; ninCUem. 11'4 tinha TOnt.ade de ounr ntnguem, hon-Ortravam– no a, ruu beruJhenw e ~– tll. Picava no quarto com OI P.Quooa llvroa hebratooa que aouxera da Btll&tabla. >.. \'e· - ta 1 11nama para u ora– çOee da. manhl: MAS a tlnato– •• fitava Jonae, nu111 blfrro distante que exle\l bonde e óntbu,. TI~ U llnatóaaa no Brá811 v1v1am qlllU = de• aerlal. No Braall a, &n• davam demaatado ocul)MU,, nAo ttnhim ttml)O t. perde eõm re– zaa IOlaa. E a alnagoga trl!te, aDeocloaa, esquecida. Maa nem por IJlo tle deixava de frequen• iá-Ja, Qu.aw 104.aa a.a man!IA4, aobraçando o um, dê oraçõe& e o taleth, IOmava o bonde na esquina para tr ewnprtr o -aeu dever. Aof. Mbàdol, POr~m, nAO oon.seguta tm-lo c.1mo querta. A atnagoga flcaVtt, longe, em bairro dbtante, e aos 5'b&dot :.e~elig!A~~ro~~l~~J~- ~~: oobrla 01 ombro. curvadol, oom o talet/1 branco, bOrdado • ouro, e a taoe Tirada para o o~~te 1 punha-• a recltat &1 pnocao oomo ,. dll'f91'& no umpJo. Pela Janala aborta do quarto av1.ttavam-1e outra& cuia de apartarnentoe, 1ublam clt ruldot cont11101 da rua lulnul tuota • thlla dt 101. a:te niO Via nadi, nAo ouvia nadl. OI oll)OI aeml• cerradoe, embevecldame1ue, co• mo em extaN, o Uno dt *I• nu amareladM abettO cfJanta d.ai VUl&s blrblt rflfllOIU, e) Pai aaoudla•M flf'WOroaamante entoando a Ut.anta hebraica. AI· 11m • manhi tocfa. U. p&ta c1 meto-d!&, fechava o livro dt oraç6ea, enrolava culdMIOaa• ment. o 14l•tll • aata Cio quatto para &!maçar, AJmoçava na ~ poata fartamente, com o tllhcl mala velho • a tamuta. Rubro, suado, o tubo n,a1a \lt• lho talava dt ce,6clOI com a g'~':me~ 111 n! c:.. 10 0:.~ Java , ri• com tle 1ar1.C ,oatooaa. D!Mt oerta vu: -HenrtQue, vai dar um abra– ço 00 Vc,y6. .Num lnliallte, o rtso oon,elou De - lllllrio • nodlooo 11a crt&n911. Que nem fl6r que oer– ra u ~u. a ,Olpe Cio vento, o rllO tranamuclava•M numa oareta tela ela ,uai.,, Mal obe• dtenta, d- cio COio Cio pai t aproximou-Ili do Avó. O Avõ 10rrta o aeu oorrào apaaado por tnt.u u barbai e,peuu e ltn• tamente, t.lmldamente, ..t.ndeu :vo'."~r-a n~::-~.=: 1 4:.; melo d• a&la, • brlu grande& olboa mldroao1 • p0a.,e a en• cari•lo num mlato de contu• IAo e curtoaldade. . - Võ tem bltba... Võ tem barba feia ... O oorrlao definhara nos lablos delpdoa do Avõ. Veudo, 1a- 1uejou alguJJIA$ palavru de animação. abriu os bra90S com uma aoJJcltude desajeltad•, maa cheia de ternura. EntAo o new fugiu num berreiro: - Papão.. . blcho-papf,o... O pai recebeuo- nos brac;os r1u, rtu, riu a nAo poãer CANÇÃO PARA AS menin~s d~ Sousa Cruz Ary DE ANDRADE (Para A PROVIN014 DO PARA'l NA TAR.DIC CANSADA MENINAS DISTANTE - TAO PERTO DE MIM t - ME PR,ICNDEM 114:EUS OLHOS NAQtrm.E BAI.OAO. SAO AOIW! JC ARISCAS. TALVEZ POS6EM ROBAS. SJ: ROSAS BOUVESSI: MORKNAS COMO BSTAS, COMO ICSTAS DE CARNE. 1 PASSANDO NA PORTA MEUS OLHOS SE ATIRAM • ALEOR.ES PASSEIAM NA PR41A DO SONHO, QUB IE' s.MPRE MARRON. QUEBELAA~ I OH I LOUCAS VIAOENS NAQUELES PA1SES, APENAS SONHADOS, NA TARDE, AS TRES BORAI MAO& VAO CRESCENDO ' TORNAM-BE PASSAROS BUSCA DO AJWMA QUELES CABSL08 A BRISA POSSO!!. - MENINAS, CUIDADO 1 HA' OLHOS E MAOS, ERPBNTES, DBSEJOS NDANDo INVl81VEI8 E EM TORNO AO BALOAO N 'OERER A 06, ' M AS Q ANTO DE AIS. J: 111:LSZA, TERIO UI: O VENTO NSOIJiNOIA I' l'STALA- \ mais. Encolhido no canlo, aca– brunhado. o AvO remofa a aua dõr surda e ISOl!tàr!a. O filho sacudla•se. derramava rtsad.a.s gordas e gelatln6sas - e as ri– sadas se Infiltravam no pellO do ancião 09mo râpldaa a.Jttne– tadas pungent.u. - Oh. perdõa, Pai. Ma.s foi tão 1cnado !.. . "Papão . . . Bi– cho-papão ... • Rui ainda uma sugeriu que o Pai raspaue as barbao.. . · Multa& vues, à tude, o an– cião descia para uma visita à cua coinerclal dos filhos. FI· cava lluma rua movt=tada, utevti sempre cheia de fregue– aee. Atarefados, º" tllhos oor- ~~d~ ':ul.~~v"a,,';u~ reolbo adiante - nem aobrava ten1p0 para arreme-r-lhe uma palavra de pauagem. tle er– rava, num pa.sso incerto, pela }~~~:::,"~~i:~~i:m;~: gados consideravam aquela ti• gura austera de profeta antl~o. Quando anolteclá~ o Pai punha uma cad.elra na calçada, diante da loja e flcavi> vendo a mul– tidão circular. Luzes brilhavam foscamente Ili> longo da rua, grltavatn nu \'ltrlna.s, num deslumbramenlO llnlco. AlucJ– nadoS, automoveis passavam em c11Jparada. Bondes pejados ~•– miam furtosamenté !ló$ ttllMC JUJ14101. Até mesmo o ar, &a· turado de u 'a mistura de fuma– ça, gatolln& e chtlr'O& Indefini– vela parecia subverUdo pQr aquele dellrlo urbano. E 11, mul– tlcilo tránabôrdando como rio num leito .-. . . O Pai - na aua cadeira na Cájçad&. Alõ- ::!.ite~•l~a~~\~~J:ca; cefl(), aquele deafllé ln!lndãvel. Parecia 16, àuaénte. l!ldlfertnte àquel• fllndo Wll\ul(UOSó, lon– ge de mullol ano. • 4• multai !~a.a. AI barbú magnit~ a111Plamenta desdobrada.a pel<> peito amplo. E OI olhól paradOj, paradOi, volvidos para outi'u tard11, ofuacados por outraa lu– :rea••• - l'ouoo a pouco àqu6• Je marulhar la tunor-ndo lmpercepf.tvelmente. O ár lm– pnsnava-se de lassitude mor– na, U lUS61 amorteciam na rua 1C>ue1ada, llgelr&meni.. sono– lenta_ EntAo vinham a.a nor&a com 01 pertumea, envólt&s num MJJto da perfwnea caroe. Cum– primentavam o 11,nc!ão. l)Or ali<> - desapareciam QO fllndo do estabelec.lmenlO. O. net.Oo fica• vam brincando na calçada. Da– vam trinados &1ewre1. l"Orma– vrun uma r<J<1& oom u crt.ançaa da cua vlztnba e dan&aram, de mioa dados ,wna canc;lo ln· tanW: O 011,1 que hl ""' tU,t, ,ro tlldro e (111a qubrõ. O amor qru, hl me du11 ~o pouoo e ,. acobcl. Dentro dos olhares lmoVei. do anclão. as crianças radlan· tes dunsatn... - apo.rtçõff sur• tJdaa do mun40 uul da memó– ria. .Pac,,a t.fosueadaa, cabelOI ~""~~=- 113:~:a,~IJ,c~ fretc0a, viver novo e paJpltan• te - na calçada íranqulla, diante do Avõ de barbla oom– prldu. - De repente a menina do -risinho grita: - Olha o P&pal Noel. Olha o Papal Noel. Num lnstante a crt.ançada cerca a cadeira do Avõ • põe– .. a repetir : - Olha o Papal Noel. Olna o Papal NOf'l. &.tem palma.a, pulam, doida– mente, riem, riem : -Paaapalll Noeeel. Pt.t.palll Noeeel. O Avõ arregalav• olharea atbnlt.oa para a criançada lou– ca de contentamenlo. Nem a&•. b1a de que ge trateva. O portu• guea, não o entendia uma pala• vra sequer, deeconhecla o Pa• pai Noel. E aorrlu atrapalhada· menu. um 10rrtao lnt.rliado.. , - Que f Isso ? ! Henrique, Mols61 - venham d . O Ilibo mal! mOQO surgira à porta do estabeleclmenlo, •110 • aevero. - E vod também Eatenl– nha.. . Jã para deotro t.odol 1 AI. barbas... Veto dia em que raspou-as, oem nenhuma aolenldade. Não as flspou de wdo, 1SOmcnte pela metade, talvez um pouoo malJ do que a metade. De!xou apenu uma barba curta, em poota, que nem pera. E n&quele dia o P•I cho• rou. Nlnguem soube de nada, mas naquele dia chorou, chorou amargt.mente. A noite, dentro do ,iuarto 1SOlltArlo do aparta• menw, olhando llquelas madei– xa.a decepadas do oeu roslo mu– tilado. tomou-o um pranto se· nu e mnnso. As mndelxas esta– vam ali dlante dele, frias. Jrnó. veis, morta.s, - lrremedlavel– mente mo.rtar.. :i.ntretan10 - quem o diria? - algumas noras antes constltulam uma parte da sua carne vtbra,·am alnd.a com o mesmo sangue, a mesma ê.n.. sta, a mesma alma, sob as qual& todo êle vibrava. Era um pe<\P.• ço do aeu ser que ~ o.ctuwa A.li entre as suas mllos tremu– las. Uma porção da sua exl.5· téncla também em todn a ru11, Ulsténcla - n existência que vivera, que amara, e que trou– xera para o exilio. E ali Jazia, lnlntme, extinta . . . Bem que h..ltarn em vir para e, Bra.ol'.. Bem que pressentira que uma vida nova não era mal! pafl êle - qua.se oexa1enru-10. Sen· tira-se preso à oua caaa, então vazia, mas CMitl de tanta recor– dação em cada caolO, com ral– zeo fund!ls na terrn afeita e devotada da sua o.Ideia bessara– btana. Demasiado tarde para acoatumar-se a outrao e: <lst.ên – claa. Dentro dêle ..umcarl\ a selva que altmentarta ra!ies novas. Estava velho est.nva gas- 10. ~ os filhos 'bavlam In– sistido. Como Iria viver s6 nll aldeia-· ror.. o. mult.er mon,, os fllboa tudos fixados no Bra– sil ? 1 Que viesse, que viesse. Nada lho fo.ltarta. Eaperavam·– no terru rlc:ao e esplêncildas, - E num llla gelado de Inver· no, por entre a neve bra.nca que sllenctosament.é cala des– pedlu-ee d11, velna sinagoga que por tão longos anos frequenta– ra, arremeaaou olhares desespe– rados à praça deserta banhada na llvlda luz da madrugada - única praça da sua aldeia do seu univerao ! - e partir Para t. Am6rlc11,. - Atravessou cld&• dea m.agnltlcu nunca aotes 150· nhad.aa . Tranapõs rios e mon– tanha, em cuJo cume .. enro– lavam aa nuvens. Multas noites llllÕnea sacolejou em fundo su– focanu de trem de fronteira. Jamab suspeltata que houvesse temanhu terras, campos tAo Infinitamente ext<!llSOS, tanta cidade tnumeravel. Que o mun– do to"" tão grande ! O choque maior sofreu--o quando vtu o mar. .. Precedido dum uh·o cumprido e angustiado, o tre)l1 repleto entrou no ))Orlo. Foi o pânico entre as allhuetas es– curas de dois tran.saUAntloos, brilhava a face prateada do mar. ~ . oombrlo, maJeslO· u.meote tranquilo, o mar des· ctin.sava que nem um gigante tem1V91 prenhe de ameaças. orttos de pa \"Or encheram os vagões. Mães abraçavam os fi– lho.. Cttança.s se agá.rfava.111 às iala& das mies. Aterrorizados. os varões a.ni.sca vam olhares para o glgan~ tenebr= e fas– cinador tentando aquietar as tulhereo. O Pai, num canl<>. pu– ara_.., a recitar capltulos ler• voro101 do livro do• Salmos... Depob. ror1t,111 semanas lentai no bojo negro do !'!avio. O mar Jogava !urtosamente. pe&ad., nuvens fullglnosaJ fechavam oi hor!Jont.u. Na cabine abafada, ó aclão rolava no leito de !er– ro preso de enjõol terrlveb . Al v.-, quando o tempo perml· tia. debruçava-se na &lnurada • Mras e<quecld:1.1 ficava vendo aa ol \d.as do mar. Chegou numa tnanhi quente. de luz crua e violenta que atÁ lhe doeu na vista. E então, na ca..a do tllhO m11,f! velho, foi de aurpre.. em aurpresa, de de&· go1to em dOIBO&IO, e, o que é p!Or, de l&êrl!loló em aacrlflclo. Viu oomo os filhos - tão dlfe• renteo doa seu, fllho6 de outrora - lbtlam o eatabeléêlfMfilo ao& gàbodot ~ a.!mltO dia dà ctla.çicl blbllca e ãc) descanso blbl!CO. Viu ()jl neW edúoadOI numa vida pagã, tAJIIMcl .omenté llgr• tujUM, 6em ouvirem sequer uma p&Javra na llngUa dos an– t.epalladoa, aem aaberêm H(juer da oxlat.ênélà de um texto sa• arado. :tÍó aup,ema áfronte, pe- :~ :,1ÍI m~~ ~~':..,"'~: Ktppur - dia da Expe<Jlção, dia da.a procea, d!& penitente .:t• rogoe e de IMrrimlll, os fllho& lidarem com dinheiro no eat.e,• ~~.~:f;,~ d: ~~ac:n~: roe profano,, Viu, viu tudo - e calou. AMlm deoorreram m1M11 Jan-– loi de remor10, de calada re– Yolte. Remorao por ter vindo ~~ '::e:::Z.ª i!~1~º·vi~~ cotidiano. Por não ter dedica– do os derradeiros tem))Os à me– dllaçio, do eatudo dOA llvról aallf&doa e puros, entre os au1- tero& muros da sinagoga ve· lllata .. , Também o tu.ta sa• frer a el{la!Ancla em que os ti· lbo& lnoorri11,111. Cada pecado &>. fllhOA era tambép, um pe– ca4o dtle - que lhe conaumla o deaeJo JII arrefecido de 'viver. li na exlatênola do• fllho6 tudo ua pecado. At.6 meomo o ar que respiravam era um ar empes• tado . . . A.a ~..,.ta.s.felraa, . ao ~~~:~ª 6 a \';io~ªd~1:~: W-e1JeJd«l2<!_ U na .ide!& Mlú•· la biora, a, ruas. aa casa.a mor• riam para a vida ootldlana e vuJaar. Tn.nattawavam•ee mia· t.erloaamente, aasumla aparência IOlene de recolhimento e testa. Dentre um doce halo de reli• gtostdade que envolvia as coisas, ~(l:p%"~ta~~·:·~~~ d:n!~.•~!ude~~~ng~ ~ /,.. sabàtlcaa, derramavam mor– lJçamente na, calçada& deal• gual.t a aua luz Incerta e trt.s· looha. No Braall. nenhuma 41• ferença era perc.:'Jlvel. Na caa.a doe tllhoa, oomo em outras ca· aas de JudeUJ. nem ve11Jglo de aábedo hebraico. A nora ficava pollndo aa unhai ou atendendo a modl.lla. Na loja repleta, tranaptrando, oe tuhoa oorrlam de um lado para outro. numa azafaf11, doida. E dentro dêle e&Sa vazio, es.se d...,.pero, e– nostalgia fundll do doce 111· bado hebraico, cheio de tradl· çõea e de beleza. Oent.ro dêle esse sentlmenlO Imenso de oolJ• dão, de exlllo, esse apêlo de vozes dbtantes e familiares... No Brasil não havia salvação. Mesmo se q~ não poderia ~"ó"'~~ ·~ mo:1v'l!· ~1!:'~. o templo. as colaaa santas do templo, até mearno oTora, vi• nham Impregnados do hâllt.O profano, estiolavam-se ao con· tacl<> do ambiente Impuro.. . E o Plll passou a nutrir DO Intimo calado. um projeto teme• rárto. Apareceu-lhe a Idéia pela primeira vez quando, aos Ili.li· ques lndlrelOI -e cerradoe doe fllho.s e das noras, consentiu em sacrificar o reslO das suas ~ras ~.basoo-;;-..,~~~~ ~J mesmo aqueln cai'IC3tura de barbas desagradara aos filhos, parecera antl-hlglênlcn IM! no– raa. &Uusta os nel01. E a éle, o PI!.!, afigurava-se-lhe um sa– crtflc!O bastante modesto - para quem Já 11.z.era tão gran· des &acrtflcloa. Quando o bar• beiro pa.s..<ou-lhe pelo roslO a navalha lmplacavel, a Idéia bro– tou no Intimo com uma vlolen· ela quase dolorosa. Instintiva• mente. êle fez um gesto oomo para deter " "ção da Jlunlna. Mas recolheu o braço, Inclinou a cabeça, e, doctlmente entre– gou a face ao barbeiro. MU!tos dfa,;. depois, ant.u de adormecer. a Idéia tornou a sur– gir. A principio dllusa. esbati· da, e,pernnça longlnqua e 1D· tanglvel. Como para examlnA· la mals detidamente, para sen– tir que a Idéia não era um 150- nno, llCendeu a luz do quarl<> e p0s.ge a amnssã-Ja, a revol• vê-le. na Imaginação, como para dar·lhe firme.a .. . Sem 1aber como, havl11, descido do Je!IO, e pusere.-se a piscar diante da lma11em no espelho do guarda• roupa. Perocreu os dedoa pen• .ativos pela face lenta, deu vol– ta.a a Idéia tnsl!Unte, 10rnou a acariciar e. barba raspada. OS olhos pousaram nos olho• ne face a.scétlca. .Obre o pescoço cheio de reentranclas, de sulcos, de pregas e sallenclas. De den– tro do plJamn de listra.e, emer– gia o pe!IO qunse largo, ossudo, coberlO de pelos escuro• e grl• salh06. Atr6.> da IUlagem apa• recla um pedaço d& cama, o or1a<1o•mudo, a mesa. do outro lado da porta, com o livro de orações, a mortng" e um COPO J)Or cima da IOalha branca. Os olnos pousaram em tudo, mat.s não i.,mavam oonheclmenro, Iam aJ6m daquela, oolsas, ult.r•– paasavam aquele quarto estrellO de 150!telro... Quando apagou • Juz e voJIOu para o lello não conseguiu Jogo conciliar o sono. (OonUnúa Da ... p&I',) I Notas de .um constante ltltar O CAJUEIR·o OS M l TO 5 Romeu MARIZ !ta A.ead~la Paraen.H de Let.ru OOmo e fecundo o OaJuelro 1 Sempre em dupla concepção 1 Quando vem o Matury, Nio vem ao&lnho, não, Não ht no seu Na>cer. segundo ntm primeiro; Surge o fruto completo, FrulO, O&JQ-Ca.stanha, Urn !6 tllho dlleto. Um oonjugado que ee amanha No pêndulo de um galho. Que a fior cheJrosa perfumou Entre as tolhas. no agasalho. Na gestação que nAO fallhOu, Ondê o CasaJ cresceu, tambim cheirando, E Igualmente vingou . ~~:i: 'tn~ii°ec~~~- Quanta selva de,te aos Do!J, Acl8 Oemeos extraordJrtirio,;, Com os quae& anualmente Inundas O teu Regaço. os hõstlal'lós Oe tua Pé de Produtor l.llterneràto. 't'ú paréce& hurnano. em oonc1~111; A tu11, Festa de Fecl1nClldàde, Em perlodo certo. temi><> exato. E' geslO apou,otJCO a Pamona louçã, Uin _preito de Onicl!nela. Da Natureza à Veget.alldad•. No explendor de ruUla manh&. ·· ·· ····· ······ ············ ······· ••Õ••······· ··'· ··•; ••· Cajueiro ! nacé6te OOm o privilégio da! Utlllélades; Avultute, creõdte Na frasllncta das tuú recendêMlaa Êxalafit..A do caule, da folllagetn, D& resina ba!Mmlca do t.ronõõ . Tens o tanlnó quo oe 10nJt1ca, Tu ét mêdlclnal, tens excélêM!u, De uma natural fàrmaoOpé:I., Orecendo à tua vegel.&I Imagem, OOmo a que filai! produa e fi'lltlflca . Dentre a frutJcultUra que Potnõfia éultlva Tu és uma eJ)opéa. Til tena, Oajuetto, a pr1tna•1•, ó l)flvll6flé) De forte ação, perfeita Ação AIJvli . Teú dUPlcl fruto vem de um Sortilégio, o teu &UCO di vinhos capltoeoi, A tua polpa, doce sem Igual, O m.alJ óhelroao e tlflc), DOêe& de wna variados, ,. bot0iô6. TUa caatettha. 6 fios, 4 dellcâda améndõâ, OUJa cuca dl clleO que dauAttca, E oombU1tl~l que ae 1nnam1. 011\ando•a, pegando••• vendo-à, O P,Oprld olentlJtà ae edificá. .. Jl tllo ét mt.lJ, sbmente, oomó oult'õra, O OtJuélro Pequenino, clrtegadtnho de flore& 1... Quem mal! aúlm te ohail'IA ? Mamie, quando eu menino, Nelia doce cant.lga me efllbalâ~á. Pois, qul! para. Ela eu t.áil\liêm eti, eomo 16, pequénlno, alem de oe\ll alil6têl... AI 01Juelro amigo I OOn'lõ i. aenW IOfillaVl !. .. Oulrdemoi a Saudade lnaopllivíl 1 ······· ·· ········· ···· ··· ····· ·· ·'······' ·'·'·'''''' '..! ''' Meu OâJUelró I Continua á florir, Oont.lnlla a produçlo llléiU.tivel, No Pl:>ma~ dà NatlltUA, onde vegeta.a, onde vale viver, Cânt.ar, dOl'll'llr 1 Onde Vt.le tonhar, fuclndó 68 111taa Envenenadai, lóxlcai, Catlalháa, Oo "Homo-lillplla", anlmál r ,-vel !.... Plri-S.14111, • .,•.,. PRESENÇA DE PORTINARI Oswaldo ALVES (Pan OI "Dllr1oo -..SOi) Hi poucoe dlu li um exce– lente enaalo sobre Porllnari, eaerito por Léllo Landuccl para uma coleÇlío lngleaa . Vinte e pouca, pàglno.a quo conden1t.m de mOdo admlra– vel a grande peuon&lldade do pintor, o eentldo profWl• do de sua obra, e multo da sua vida laborloaa de homem que encontrou um caminho - e que lutou ob1tlnada• mente para não ae desviar dele . Nease estudo sério, eapon– tàneo e aóbrlo, o homem ~ o artlata ae fWltlem, caplendl• damente vinculados, para conaubatanctar um& conce– pção artlatlca e proJetar-ae por melo dela . Vemos o menino Inteligen– te de Brodowakl regozlJar-ae com a chegada de um pro– fissional convidado para rei• taurar a Igreja local. Aju– dando-o em trabalhos lnlll• gnlttcantes, empunha pela primeira vez o material que mais tarde lhe vai dar fama. Extasiado e surpre3o, tem a Intuição de que aquele aer! o seu m.aterial . Cedo, e por acaso, descobre aaslm o i,eu caminho. E' evidente que ha– veria de de~brl-lo algum dia . Contudo, para o Brasil, foi m~or que essa coil3Clen– cla artlstlca se revelasse ain– da na primeira lntancta. Dai por diante o menino de Bro– ·dowst.1 nã.o se detém mais . Compreende logo que é ne– cess!rto lutar multo e 11ue é extremamente dltlcll atln• glr o objetivo. Mu o talen– to e a vocação dão-lhe forças para persistir sem vacllaçi\o. O que Portlnari viveu de– pois, durante esse longo In– tervalo que precedeu as suaa primeiras conquistas, todos conhecem. Enfrentou coraJO·· sarnente a lncomprem1são, as dificuldades economlcas e os obstaculos que se Interpu– nham. Todos se lembram dele no Rio, pobre e oozlnho, ainda desconhecido, mas per– teltamente consciente de sua missão artistice. e tlel a ela. Jamais a coragêm e a deci– são o abandonaram . Prosse– guiu na luta e nunca deixou de pintar em nenhuma clr- • eunstancla, por mais Impre– cisa~ e arriscadas que lhe pa– rece&em as perspectiva,. O antigo menino de Brodowa– kl não parou . Sua obstina– ção, eua lntellgencla e a con– fiança na mensagem artls– tlca de que era detentor, de– ram-lhe a convicção de que , um dia esse grande esforço encontraria apolo e simpatia, compreensão e reconhe=t– mento, A fé, a conaclencla proflallonal que o tor• naram um aer privilegiado, danm-lhe o estimulo tio noceaairlo naquela fue mall ou menos tormento.la . Tra– balhava aotregamente, 18111 desr.leclmento . Plntt.va e aofria, alheio a tudo que J)U• deaae delVlf.-lo do caminho traçado . Algum tempo depoll colhe oe prlmelroe frutoe : menção honroea, vta;em ao BraaU e, por fim, o aonh&do premio de viagem ao eatranaetro. :,;n. tão, Portlnart, parte para a Europa. Vlalta a !'rança, a Italia e a Eapanha. !lxtt.11t.• se dlan te doa mestre, do J>&a• aado, eatuda-oa com amor - e regressa ao Brasil com o eaplrlto Inteiramente liber– to . Enrtqueee.ra a experien– cta, aprofundara-se ainda mala na arte e trazia um propósito mata firme, uma personalldade mala forte. Em breve se toma respeitado e querido . Seu mundo plcto– rico não terá mala Umlte1, pois o poder criador Imprime• lhe novos rumoa, que enrl• quecem cada vt11: mala o con– teúdo de suas telas . A evo– lução é conatante; a &nsla de criar e renovar, e o dese– jo Incontido de transpor sempre novas etapa,, obri• gam-no a procurar os mala diferentes recuraos tknlc~s. Portlnari experimenta, Joga com todos os elementos, com– bina técnica.a e motivo-, . E, audaciosamente, projeta -se para além de tudo Isto, se– nhor de sua arte, dono de to– dos os recura0.1, criando a lgo novo e admlravel. Agora, sua personalldade extraoral– narla define-se completa– mente, marcando para sem– pre o sentido profundo da sua obra cheia dessa grande– za humana, rica e tr!gtca, a um tempo. Dentro dele esté. sedimentado e&e patético eentlmento de solidariedade que se reflete na sua obra como um, bloco . E esse senti– mento dé eollC:arledade cm face da mlsérla de um épo– cr_. é tambem o aeu grito de reueldla em face de todas aa Injustiça.a. Mala algum tempo o teu nome se Incorpora entre os nomes do-, mestres contem• poràneo-,. Vai aoa Eatad,os Unidos a convite do governo norte-americano e trabalha na decoração da Biblioteca de Washington . Nova, expe– rlenclaa, novos caminhos ae abrem; mas o sentido da aua mensagem humana li eaté. definitivamente firmado . <\pesar dlsao, estuda sem- 1000W1Qa D& 8a, P'ilna) BRASILEIROS C~ndido Motta FILHO ' (ftaat •~-, à. PAULO, Julho - No te– marto ClU ltlve1t.1;"96e1 1111• tol6glet.a, um capttulo ebbre o problema btulleiro do mi– to aeria aempre tntere&aante multo embOra nem Mmpre tosae bem cuidado. Qut.l'ldo Mario de Andrade J)UbUcou_ Ma0UIIA.lma VlmOI neaaa ad• mlrâvel evocaçt.o folclórlct. um faaclnãnte convtte !)Irã o e&tudo da noaaa tormaçl•, ou deJonnaçãó mltolólllel, Pala de olvlllúçio trt.n&p1an• tada, ondê o I\Omém btanco esmagou todas as tõtmas que encontrou de re1lsteno1a ln• dlgena, Oi noaaos mitos para multot, não p1Uürl1m annal de tranatlgutàçllea apaaadu de mitos europeus dé põvoa– dores Crlst.Aoa. 11:nttetanto, õs tato1 nlo ,e pa.asar:u'll âüllll. A éónqulata da !.erra nlo foi tAo comple– ta como 1>11.reeeu â multotl Netae àrtãiãmento âparent1 ficou utnã te tatenêla mtate• riasa é fecunda qllé, âõs põll• co-,, tol éfivolvéndõ i) homem brinco. 1) t)Ot !Mo multã \leii! o oonqul&tâdõt apirecé come, um OônqUlatãdO, O illirldot dê camtnhõ, crtet.ào êvo1u1do, ci– vilizado e companêtrildo dlli exlgenélas da civilização, vai se ldent.lflcãndO com õ nuvo melo, A ele le entrefi\ndO, delx&ndõ•&e ltrãatat JielU suas faàélfiilólllll é diftt.1&114. A alrtli JirlmltlV!l é btavlã qué nele tinha morrido Pel• 8Usclta a fala lialm com li• ma.a lrmU. Ê.;õrevê Oà lllno Ricardo, ém aua "Mâroha patã Õê te", que "em tlóh , tacto com õ aelvagéltl, e éln· botá em luta com elê, o )lan– delrãnte adqultê t.àmbelh uma enorme cllf)acldade de reilteasãO &ô primitivo, aclo tatldo-lhê õs cioatuiflea e lnê– todos de Vida''. As vilas J)llmtlidíU J)êlo pãlâ afora recebiam, dêntro dê orfanleaçil.o J)ortUgue&a, eaaa lntllttaçlo ãelvac-em atrivea do Ir é vir doa colonlaaClórea Dentro em pouco o ol\lllllà. do é ó évoluldô eatlivam do mãos dâau. E com tuo, o a.,peotó s1n1111ar doa rn1to1 brUllelroa ou, l!\êlhor, a auo. rtqueaa atnaular.. Foi assilp, com grande curiosidade, que li, de um to• lego, o erande livro do Lull da Olmara Caacudo - "Oeo– gra.fla dos mitos brasileiros" O titulo pode ser lmprót)rl,> porque não sabemos bom qual seja, no llvto, a. do critério geogri!lco. N • tambem no livro uma cer• ta deflclencta de concluaõe, ..SOlogtcaa. Maa tudo la&(i nlo diminui o seu valor e o teu alto atgnlflc11.do no mo– mento at11&l da cultura bra– allelra. J:' bem verdade que ea111 deflclencla de fundamenta• ~lo aoclologlca decorre do próprio critério com que foi o livro coml)O$to. o próprio autor eacreve que a melhor • "a mais alta valia deaae 11- n-o 6 a perfeita auaencla do "explicação" quando recolheu o tabul!rlo. "Nenhuma onç& maneta nem cavalo de tres p6s troteia nos rlleoe pre– utabelecldoa de um& plcad~ eloutrln!rla". Mas o meu reparo decorre mais do titulo do livro e o critério que dominou na dia· trlbulção da matérl4. O que llgnttlc& afinal a "i:eoarafl• doe mito, braallelr01"? Me•• mo porque ee n1o di um de– aeJo de uma explicação ou uma Interpretação 10Cl0Jo– gtc&, esaa expllc&çã.o e eau Interpretação extatem. A co– me9ar Jogo peloa mitos ama, zõnlcoa, que ae fundiram e confundiram e oe que per• manece!ll mais vivos porque aão oa que foram levados em toma.-vlagem peloa retiran– tes do Nordeates e se conaer– vam nltldoa, porque ee ~– pandem dentro de um ambl• ente espiritualmente lmuta– vel, o espirita conservador doa homens do nordeste. Em Pernambuco, os mitos não perdem a ligação original com a fonte de onde proma– naram. Em AlagOaa, vivem os mitos gerais portugueM"s. Na Bahla, apesar de aua lm• pressionante cenogralla re– ligiosa, onde exlatlu um vo– lume Imenso de escravos. o, mitos de maior dlvulga,;ão pertencem aoa europeUB. o, mitos locais e aeeund!rioa si!l mo-,atco-, reconheclveta as procedencla.a na coloração complexa do entalhado. E aaslm, o autor vai dando resumidamente explicações, sObre a distribuição doa mi– toa através da.a regiões bra– sileiras. Poderia, portanto, com sua competencla, com sua cultura vivida, nos ori– entar ainda com mala segu– rança num doa problernu hoJe tido como fundamental para o conhecimento da evo– luçlo cultural de um povo ou de uma civilização. Para Ernst Caaslrer, por exemplo, & chave que abre todos os aegredoa é o mlto Este, que exercia um papel secundário aaaumlu a partir doa estudoa de 8chellln11, um papel decisivo. Toma-se com ele, o universo, um unlverao espiritual, um todo or1anloo animado e continuo. JC meamo que não te acei– te eata ou aquela Interpreta• ção, toda tentativa de Inter– pretação concorre para o e,. clareclmento do aaaunto. Co– mo se abre a naua capaci– dade de comprendo, depoll da leitura da obra de Fr11111er - "The Oolden Bouah"I • nem por tuo ficamo, adlt.1'1- coe ao q111 ele dlz. com ele Y&IIIOI mala a1'111, como \'&• moe mala altm com a "Prl• m.lUvt OultuN de T)'lor", OII com a, obru de um Lnt Bruhul de um J'r&nl BOM, dt um MÜ Muller 011 de WII- ' Oratbner, • quanto mata oom.plUO mata D\lltlrlOlo, mala llolS• co ou pr,101100 ae not apa– rto, o mito, ru6ea maior• i.moa para tetuda-lo, por• que 1n11avt1ment1 • ela um,, du mata antlpa e maJd9I ro~u da cl'111Uqlo hUJnà. na. lne;avelrneni. o compor• tatnento dl UIII PD•O dlanit ae 1eu1 dtuN1 • demoniOI. e.conde urna lllfll, para • nlo Cllzer IUTI penumenu, éõlettvo. Oautter ol'ltll a dl• ter que o mtt.õ 6 o 1lemtnl0 t!plco da Yldl Ptlmlt.lVI, 00,, mo o rito 6 o aeu elemtnlO dramàtlco. Luta da o,mtra Oucudo têi\te l dlllollld&de lmtna (lllntê de ~ mundo lncoMCUênte, alldêJO e f ruo. í! eaarevê que "para totma~ão ftlltlCl não • êlnl flllat A formllll lftlol lil l)ára que aê Orlaram~ ptr• &Unta êle. li reàJ)Ondt : - Não ti ível übtr-•. A• é olal, dada a palllvra IOI êUlldloeoi, fallllh. A ''ellJ)ll• õAOlo'' r&clonal • linda, , ma11 CõmPlhl e tremenda 11ue aa ptõprlu aven&utU clê um herol pôl)Ul&r. J:' pre• oi b tnlclal111efiÍê Otit, COfl• Oeder df.do1 111\élllatoa, I01I• tar éonvenoõo,. A tt n&o t bàalca aO r\l>a aa1urttôl 1'111• 11<1,1os ... ''. Er\tr '4ntõ, COM tõdõa -– HI f11Ja~értoa, éom todo1 OI Ceus disparate, e dlMonln• las, o mito ê visto, desde 10, 110, como 11rn !emento •• ldentltlõa9lo do hu111a110 Oe étr\ólojloa ê an~ro1>õló80I nlo escondem a aua aurprcaa ao Mcontrar o rne1mb 1)1111&• mento Iam nt.ilt reparUdQ éntre l)ovoa dlltantd, de ta• cu atrerentéa e tormaob orlglni\la. E nele vemot &ln• íll, atra véa do calor da, ,mo– Oõ a humanu, ll&O de tratl• co e dramllUco, que •• opera no reconhêClmcnto de for– ças e poderes, lndlspeOHveta à própria manlfe&tãçAo 4a vida. Com ele, um mundo amortecido e vaso adquJn, sentido e as coisas adqulrtln valor. 'l'ódoa oa Objetoa, toa do& oa acrea &crnAm lle• néflcoa ou m:lléfteoe, famllla– re, ou ho1tla, ameaç&Clort. ou to.aotnantea, Com eAse a.apeeto, oom - oapacldade de extlrtor!Ar pelo aagrado e i,.10 profano t. energia vital, o mito exer• ce uma poderosa açAo eom• penaadora naa deflclenltl ., tran1ttórla, orcantzaçõee hu, mana,, · Luiz da Clmara oucudo, togo de começo, n01 moatra como oa Je,uttas ao d-m• barrnr na terra ntvasem • deaconhectaa, procuraram a– nular o efeito do prlmlt.l'l'O, pela lnterpreta9ão prlmltln da vida. Ele encontra com Juruparl, o aenhor do culto mata vaato, comum a toda, as trlbu!J, tllho e emb&lxa40f do Boi, naactdo de mulher sem contacto mucullno, re– formador, regenerador, de ri• tos exteentea e de precauO(let mtaterioau, que foi ldentlfl• cado depreua como sendo ~ dlabo. Aallm, cinquenta anos de catequeaa eap&lharam p&ra Jurupsrl o renome d,, aatanlco. Alfm du crtangaa enatnactaa nu eacolu, o, ea– tecumenoa, oa lndlo1, de aer– vlço à população europ61o. acõrdea em ver no velhO deu& Indiano uma erandoza Infer– nal, a multidão de melt.lp mamelucos, curtboc111, mau& pia.atice. sugestiona'ltl e de Imaginação ampla, dlYUl«Oll o novo papel de JuruparC Achado o lnhnt;o, faltava o aliado. E eue aer provldtn• clal foi Tup11.n, que teve o aeu culto prestigiado em to• da linha pelo branco. O J)&lt recuava, batido e, éom ele, a crinça ee dlaaolvla no amara daa matas pan. conaervar-1.) a.t6 hoJe, ateatlLndo aua ee– pantosa vitalldade e,plrttua1- Tupan tez parte de todM u orações e aul:11. O padre MA• nuel da Nobre;a, Anehlei. A!plcuelta Navarro, Abbnil• le, Tl'levet, d'Eneux, com.– põem versoa, catectsmoa, pe,– çu dramátleal, hlnOI em louvor exclusivo de Tupan, Deua verdadeiro aparecido para contrapor-ae ao f&l8o Juruparl dos Interno, e ..i– vnr a.a almas para a eteml– dade paradlalaca". Os colonizadora nUak)loa ou não, o padre Nobnsa, Oll o huguenote Jean ele Lery aentem esse apelo para o mistério, como um ap61o â vida recompondo o NU JJM· prlo equlllbrlo. Aaalm • fu a tranafllllo do sangue eaplrltual. O mlt> ele Tupan abre camlDllO pua o cristianismo, porque_ 116 um ponto em que o p~ orll– tlanlsmo fala a WIIUINU daa prlmalraa ldad• "Tlldo lato, eacrne em llllt o lmllo de Antonio de 8' - perml&, o Senhor para que \'llll!,la& a COnheolIDllll&o 4- - J.lt . conatderalldo ,.,..,. 4 do ~ J:8'nc:Y; ta. ID· '8rwpCt, tlctouldaclOec\ tlD ehclo"de amor Jl1U 00-. de n011& tlrra. que eam • _,....oauo. Hor. ~OI dt ,~---

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