A Provincia do Pará de 27 de julho de 1947

CONTO AS BARBAS DO PAI Maquinalmente, ô l'ai 11pro– __.irnou-se do espelho. E, como fazia todas as manhãs, pôs-se a considerar a face pálida cor– tada de rugas fundas e tristes, a boca crispadamente amarga, o queixo ossudo, o queixo ras– pado, nú. . . Uma impressão penosa de vergpnha. Não, não conseguia farnilirizar-se com aqu()la face sem barbas, aquela face despida que não era dele. Sentia a falta de algumA Cóls& - era corno se o tivessem re– z!do, mutilado, decepado num membro. As vezes acontecia• lhe rodar incertamente pelo quarto ~olltário, e dar com uma cara estranha que, pasrnada– mente. o fitava por detrás do espelho. De quem eram aquelas feições enxutas, tristes e des– nudas ? Principalmente dei.nu • das ? Uma espécie de pudor do– minava-o diante daquela ima– gem quase obscena. desnudada, violada no St!U secreto e 1ne– favel mistério. Ali estava outra vez contemplando a fisionomia estrangeita. As sobrancelhas hirsutas e pensativas eivada.a de fios grisalhos. 1,ó elás ainda evocavam algo naquele deserto. E os olhos - os olhos ca vado9, profundos, machucados, velados por uma bi-anda nevoa cheia de nostalgias. Olhos au$entes que olhavam para longe, que viviam lon11e, d~::.1tro de perdidas terras remo– tas ... Tirou do bolso o estojo de óculos e abriu-o devagar, com mâo tremula e fervorosa. Por alguns instantes observou o seu contoudo, com apaixonada devoção. Em seguida, com extre– mo cuidado, pa~·a não magoar àquele ser fragilimo, retirou-o do estojo e descansou-o na pal– ma da mão aberta. E então abraçou com olhar enterneci– do a madeixa de sedosos fios crespos, pos castanhos escuros com riscos cinzentos. As bar– bas. . . Era o que lhe restará tias vastas rbas. Aquela reli– ClUia de fios palpitantes, anima· Qos de um soprn esquisito de e. lsMm,ia sontd.ria. Aquela re– liquia que trallia em si a essen• eia d<.1 passado. Que d11lia dU ruelas do gueto, ao anoitecer de sábado, quanáo velas doce– mente místicas treme1utern, ts ja,nelas de clc>.da casa poln'I!. l!l gantava os graves canto he– brnic~s sacudlndos, plenos de fatalismo, se elevando eln CÓ• ros melancólicos no wmplo de lsrael. . . Eram os restos das tiuas barbas soleMS... Ern,m. também os restos. aqueles fiOI transidos, ele mais de melo 16• culo de vida ve1·dadairamc1Ue judaica. Fitou mais uma vez à imagem desnuda no e&pelho inexoravul. l'' i to u dilrnor&da– amente, supllclmtemente, dorl– damente. E pouco a pôuCO o eqpelho foi-se embaciando, & an-egalada 1magem I dilui <10 bontu.sam nte, oomo atrav4 uma ruie muito lln&. Que nem Bernardo úERSEN 110rnent.e em :r,c,rtugu6s. Ele i,or– tuguês não entendlã. JJ &te.va ve– lho para aprender outra ltngua. Não sabia uma. p1davra, de por– tugu!s. Só qµa.ni2o se dtrt;iiant a 61e, na.a tara.e vezes em que se lhes apr~entava oca:itão, murmuravam em voz bB-ixa, quase envetgonhaclos, umas pa– lavras protetora.s em 1t'!lsh. Pà– làvru escolhidas, al1'lavets, gen• tis, mas que machucavam pelo oom em que eram pronunciadas. A filha, e$Sà, raràs vezes a via. ~uando vinha de visita à . casá do fllho mais velho, nem en– trava nó seu quatro. Ficava. palrando eom & nora sObre vestldós e modM, d1Muttl!,m ses– sões de clnemà - e despedia– se som ao inenoS deixar um cumprimento ao passar pela portá. do· seu quarto. No quart.o êle consunua a rn-.1or parte dos d!M. Não tinha vontade de ver ninsuem não tinh& vontade de óuV1r nh:iguem, horrotlzava.m• no a rua& bàrulhentas e hoii– tls. Ficava no qua.rto t10m os ~uoos livros hebraicos 4ue Oouxer& da Besaa.rabtà. As \ré– ,_ fa à. stn&.iOi& para as ora– oOe.s da nianh&: Mas a ilnago– fa,. flcava lonp, nunt bairro dtst.a.nte que e,ciiia, b0nde e 6n1bus. TtlmMm a• •lnagoga11 no Brásll vMam 11.uasé llêlnpré dt• sertas. No Bra.&11 u pess6as àn• davam demasiado ocupada.s, não tinham teJnpó a perdê com re– zas tolas. E a sinagoga trist.e, silenciosa, esquecida. Mas ném por isso êle deixava de frequen• tá-la. Quase todas as manhãs, sobraçando o Uvró de orações é o taleth, tomava o bonde na esquina pàra 1r cumprir o •seu dever. Aos sábà.dos, Porém, nãó conseguia fàU-lo . côn\o 4Ueria. A alnagoga ficava longe, em bairro distante, e aos sábados a religião proíbe viajar. Que fa• zer ? Abria o livro de orações, cobria 011 ombros ourvadol, oom o fületh branoo, bordàdo • OUJOi e a :fa06 virá.da para o oriente, punha-li$ a recital' as - preces como se est.lvera no templO. Pela janela aberta do quart.o avi.stavam-se outras cash de aptrtatnentoll, subiam os- ruidoi oonfl,IS()s da. rua, twnu1tuou • eh.tia de sol. tle nãO via nada, não ouvia nada. Os olhos semi.. cerradoa, embevecidi\lllente, co– mo em ext.ase. o livro de pé.g1• na.à t.marelad.a• àibf:tto diant.e dll.l vastl&s bl\rb&a relillOtU, O Pái eaoudia· fervorosamente entoando a litana hebraica. As– s.lm a manhA. tocfà. Ld. para 6 me1o•dl&, fechava o livro de oraçõea, enrob,va ouidadõ&a· m nte o ia.letl\ e sai~ do quarto pGrlo almoç t. Almoçava na me$& po,ta tartàmentê, com o filho me.Is velho & a famma. R.ubro auad.o, o tilho D';!Ala ve– lho f~ de ne óetoa com & mulher. D14.u1 a pouco tDmav& o neto mmor no11 braç,oe, graoe– Java e ria, oom 6le gargalhadas aostoeaa. Di&&e certa vez: mais. Encolhido no canto, aca– brunhado, ó Avô remota a. liua dôr surda. e solitária. O filho sacudia-se, derramava risad!).s gordas e gelatln6sas - e as ri– sadas se infiltravam no peito do ancião ~mo rápida.'! alfine– te.das pungentes. - Oh, perdôa, Pai. Mas foi tão i01'(!.d0 !. .. "Papão ... B1· cho•pê.pão ... " Rui Mnda uma sugeriu que o Pai raspasse as barbas... · Multas vezes, à. tárde, o an– cião descia para uma visita. à càS11i comercial dos filhos. Fi– cava numa rua moviméntada, é1tava sempre chela .de fregue– $e6. Atarefádos, os filhos cor– riam de um lado para outro, atendiam a(lui, assinavam um recibo Adbtnte - nem sobrava ten~ para arremeasar·lhe umá palàvra de passagem. :6:le er– rava, num passo il'lcerto, pela loja ampla. curiosamente, ,us– farçando um oorriso, os empre– gados cons~deravàrn aquela fi– gura austera de profetà antigo. Quando anoiteci~. o Pa.i punha uma cadeira na calçada, diante da loja e ficava vendo a mul– tidão circular. Luzes brilhavàm foscamente àõ lõngo dá rim, gr1tàvam nas vlttlnas, num deslumbramento único. Aluei• na.dos, autornoveis passavam em disparada. Bondes pejados ge– miam furiosamente rtos trilnos l\laidios. Até mesmo o ar, sa– turado de u'a Jhistura de f1.1ma– ça, gasollna e Chilirps indefini– veis parecia subvertido pQr aqu~le dêlldó urbano. '.m a mul– tidão transbOrdando oomo rlo num leitó esca~... o Pal ..... na sua cadeira na. caJçada. Atô– nito estupefato, t\ta'.va opaca– mente, com olhos :pàrádos de cego, aquele desfile inflndavlll. Parecia só, ausente, lndtfereute àquele íundo tumultüoso, lon– ge d& muito8 anos e de muitas léguas. As barbas magnificas amplamente dei!dobradas pelo pelfu amplo. E os olhQs parados, para.dos, voividos para outras tardes, ófuscados por outras lu– zes. •• =- Pouco a pouoo àque• Ie marulhar ia êsmótecertdo imperceptivelmente. o ar im– pregnava-se de ,lassitude mor– na, às luzes amorteciam na rua $0sSegada, ligeiramente sono– lenta.. Então vinham as noras com os perfumes, envõltas num háUto dà perfomes çaros. Cum– primentavam o ancião. por alto - desapareciam no fundo do estabelecimento. Os netos fica– vam brincando na calçada. Da– vam trinados alegres. Formà– vr:.m uma roc}a oom a.à crianças da casa vizinha e dansaram, de mãos dados ,uma canção in· fantll: O anel que tu me clest, -,4 vf4ro e que quebró. ó anwr que tu me deste era pouco e se acab6. Dentro dos olhares imoveis ___ .,tt__ - - _ _,a _______ ....;,__ infinitamente extenso.s, tanta cidade inumeravel. Que o mun– do fosl'le tão gralide ! O choque maior sofreu-o quando viu o mar. . . Precedido dum uivo cumprido e àngust1ado, o trem replét,o entrou no porto. Foi· o pê.pico entre as silhuetas es· curas de dois transatlânticos, brilhava a face prateada do màr. Imenso, sombrio, majesto• sarnente tranquilo, o mar des– cânsava que nem um gigante ternivel prenhe de a.tYíeaças. Oritos de pavor encheram os vagões. Mães abraçavam Oà fi– lhos. Crianças se agarravam às saias das mães. Aterrorizado$, os varõ.es . arri.Scavam olhares para o g!gantt tenebroso e fas– cinttdor tentando aquietar as fulherea. O Pai, num canto, pu– zera..,so á recitar capitulos fer– vorosos do livro dos Salmos . .. Depois, roràtn semanas lentas no bojo negro do navio. O mar jogavà furiosamente, pesadas nuvens fuliginosàíl fechavam os horizontes. Na cabine abafada, o acião rolava no leito de fer– ro preso de enjôos terrivel.3. As vezes, quando o tempo permi– tia, debruçava-se na, amurada e l\õras esquecidas :ficava vendo as ondas do mar. Chegóu numa manhã quente, de luz crua e violenta que até lhe doeu na vista. E entãó, na casa do filho mais velho, !oi de .9\ltpresa. em surpresa, de des· gosto em desgosto, e, o que é plOr, de sacrlfioio em sacrifício. Viu como os iúhos - tão dife– rentes do& seus filhos de outrora - ãbl'iam o estabelecimento aos sãbàdoi ~ sénl.ifO dia da criação bíblica e aó descanso biblico. Viu oa netos educados numa vida pagã, falando somente ni,r– tuguês, ~em ouvirem sequer uma palavra, na lingua dos an– tepàasados, sem saberem sequer d& existência de um texto sa- 1rado. li:, suprema àfronta, pe· éado maioi:, ma.is fUnda agonia, teve ócasia.o de ver no tom– Kippur - dia da Expedição, dia das pr&óes, diá penitente !ie rogO& e de lágrimas, os filhos lidarem com dinheiro ng esta– belecimento de portas e11oanca– radas, rindo e fumando clgar.. ros profanos. Viu, viu tudo - e calou. Assim decorreram meses len– tos dé .remorso, de calada re– Yolta. Remorso, por ter vindo pata esta terra de pecado, com Deu$ ausente, banido do viver cotidia.nó . Por não ter dedica– do os derradeiros tempos à me– ditação, do estudo dos livros sagtàdô& e puros, entre os aus– teros muros da sinagoga ve– tusta... Também o faziá so– frer a e;cist.éncta em que os fi– lhos tnoorriam. Cada pecado dos filhos ora tamWi:n um pe· cado dêle - que lhe consumia o desejo Já arrefecido de 'Viver. Jl na exillténoie. dos filhos tudo era J)e<lado. Até mesmo ó ar que respiravam era um ar empes- I ~otas de~m constante 1tltor _ --~ ~-- º CAJUEIRO Ü) IV\ 1 1 U ~ Romeu MARIZ 191, Academia. Paraense de ~tra.1 Oómo é fecundo. o Cajueiro 1 Sempre etn <1up1a, concepçãO 1 Quándô vem o Matury, Não vem sozinho, não, Não há no seu Na/Jcer, segundo nem primeiro; Surge o fruto completo, Fruto, Cajú-Ca1;tanha, Um só filho dileto, Um conjuga.do que se ámanha NO pêndulo de um galho, Que a flor cheirosa petfumou Entre as folhas, no ágasalho, Na gestação que nãó fa.llhou, ôndê o Ca.sàl cresceu, também cheiraneo, E igualmente vingou. ·············· .. ··············· .. ············ ·· ···· ·· ··· ··, Ca.jueiro ! Bemdito éa pois, tntre as i\rvores feôundas; Quanta seiva deste aos :boiA, Aos Oemeos extraordinários, Com (ls quae.s anualmente inundas O teu Regaço, os hostiarios Oe tua Fé de Produtor internerato. Tú pareces humano, em conciéncla; A ttla F~ta de Fecundidáde, Em período certó, tempo exato, É' gesto apoteotiéo a Pamona loU9ã, Um preii:o de ôniciência, :Oa Natureza à Vegetalldade, No explendor de rutila mànhã. ♦ ♦ ♦ ♦ ♦ ♦ ♦ ♦ ♦ ♦ ♦ ♦ ♦ ♦ ♦ ♦ e ♦ ♦ ♦ ♦ ♦ ♦ ♦ ♦ ♦ ♦ ♦ ♦ • ♦ • ♦ • ♦ o • 1 • o I o ,1 ♦ 1 t 1 ~ ♦ 1 ' t •;:.,• t ♦ 1 Oajueiro ! ~àcêste com o privilégio das Utilidade,;; Avultaste, creôeste N'a fragância das tuas recendênolas Exalantes do caule da folhagem, Da resina balsamica do tronco. 'rens o tartino que se tonifica, Tu és mêdit::ina1, tens exoelêndlas, De uma natural farmaoopéa, Crecendo a tua vegetal imagem, Como a que ma.is ptgdu21 e frutifica. . . Dentre a fruticultura que Púmona cultiva Tu és uma epopéa, Tu tens, êajueitó, a primasia, o pt'Mlégiô De forte ação, perfeita Açãó Afüvà. Teu duplo fruto vem de um Sortilégio, o teu suco dá vinhos capltosos, A tua polpa, docà sem Igual, o mais cheiroso e tino, Dgces de tons variados, saborc)ros. Tua castanha é noz, é dellcai;la amendoã, Cuja casoa da óleo que oau3tioa, 11 combustivel que se inflama. Olhando-a, pegândo•a, vendo-a, O próprio cientista se edifica ... Já, não és mais, somente, como outr'õt , O Cajueiro Pequenino, éarregadinho de flores !... Quem ma1s a.sslm te ohama ? lVlo.mAe, quando eu menino, Nessa. doce cantiga me embalava, Pois, que para ma eu tàmbém era, . Corno tú, pequenino, àlém de seus amot ... Ai, Cajueito amigo ! Como à gente sonnaYa f,., Otundemos à Saudade lnsopitâVel 1 •••••••••••••••••••••••• •• ••••••• o •••••• ' ••• ' • ' ••••• ·.:: ; • ~, Mél.1 OaJuelro I Continua a fiorlr, Oonttnua a produção inegull.lável, . No t>omàr da Natureza, onde vegetAta, Onde vale viver, çantàr, dormir, Onde vale sonhar, fugindo és b-ilt.as Envenenadas, ..tóldcas, canalhas. Oo 11 8omo-Lupus'', animal r t•vel 1 .... Par1H3e16m. aB-7-tT. BRASI LEIROS Cândido Motta FILHO (i'Ma 011 "D14rlal A11&oc!aclca") a. PAULO, julho - NO te– t'narlô '1as investigações mi– t.ológica1, um capitulo ~obre o problema braslleiro do mi– to seria sempre intereMante muito embora netn $etnpre fosse bem cuidado. Quando Ma.rtó dé Andràde publicou Màcunaima vimos nessa ad• miravel evocação folclórica um fascinante convite para o estudo da nossa formaçã. 1 ,1 ou deformação mltõlógicà.. Pais de clviUzaçii.o transplan– tada, onde o homem branco esmagou todas as formas que encontrou de re~ietencia in– digená, os nossos mitos para muitôs, n1h.1 passariam afinal de tranaíigutações apàgadas de mitos europeus de povoa– dores cristãos. Êntreta.ntó, os fatos nàõ se passaram assltn. A conqulsta da terra não foi tão cornple– ta como pareceu a muitoà. Nesse arrá.zamento aparent":J ficou uma resiatencia miste– riosa e !eounda que, áos pou• cos, foi envolvendo o homem branco. lii por isso muita veg o oonquistador aparece como um Mnquistado. ó a.bridor dé caminho, cristão evoluído, ci– vil~zado e compenetrado das exigencias da civilização, vai se 1dentit1oando com ó novo melo, a ele se entregando, debtando~se arrastar pelas suas tas0inaçôes e @antigas. A alma primitiva e bravia. que nele tinha morrido res- suscita e faia assim com al– mas irmãs. Escreve Cassiano Ricardo, em sua "Marcha para ôeate'', que "em con·• tacto com o selvagem, e em– bora em .luta com ele, o ban– deirante adquire taltlbem urna enorme capacidàde de régress~o ao prlmltlvo, ado– tando-lhe os costumes e me•– todos de vida' 1 • As vilas plantadas pelo pais afora recebiam, déntro de oi:ganmação portuguesa, essa infiltração selvagem através do it e vir dos colonizadores úentro ém pouco o oivlUza • do e ó evoluido estavam de mãos dadas. E com isso, o aspecto singular dos mitos brasileiros ou, melnór, a suo. riqueza singular. Foi assilll, com gtande curiosidade, que li, de um fo– lego, o grande livro de Luiz da Câmara. Cascudo ~ "Gêo- a :rs :t.fi ~. rln.c: n,it.1u: hl"'aC!iloi~.c-" nem por isso ficamos adstr!.. tos ao que ele diz. Co1n ele vamos ma!s além, como va– mos mais além com a "Pri– mitive Culture de Tylor'', ou com as obras de um Levi Bruhtll, de um Franz Bôas, de um Max Muller ou de um– õraebner. E quanto mais complexõ mais misterioso, mais llogi– cô ou prelogico se nos apa– rece o mito, razê>es maiores temos para estuda-lo, por-' que inegavelmente é ele t1ma. das mais antigas e mai r s forças da c1vili2iação huma– na. lnegavelmente u compor– tamento de um povo dililltt de seus deuses e demoniOB, esconde uma alma, para 6ft não dizer um pensamente, coletivo. ôassirer chega a di• zer que o mito é o elemento épico da vida pri1nitlva, oo.. mo o rito é o seu elemen~ dramático. Lui0 da Câmara Cascudo sente a difümldade lmene& diante desse mundo caó4'" lnconsi:iiente, andejo e f • dio. Ê escreve que "para t formação mltica não é i: • slvel fixar a formula inicia,. Ê para que se criaram? per~ gunta ele. E responde: -– :Não ê p0sslvel saber-se. A;t escolas, dada a paiavra aos estudiosos, falam. A "expíi– caçtlo'; raoiona1 é linda, é mais complexa e tremenda que as próprias aventura!'; de um heroi popular. l!i' pre– ciso inicialmente crêr, con– ceder dados imediatos, acei– tar convenções. A fé não ¼ básica só nos assuntos reU– gioeos ... •·. Éntretanto, com todos es– ses mistérios, com todos os seus disparate:; e dlssonan ~ oias, o n1ito é visto, desde lo• go, como um elemento d<1 identificação do humano. O etnologos e antropoiogos não esc;ondem a sua surpresa ao encontrar o mesmo pensa– mento elementar repartido entre povos distantes, de ra• ças diferentes e formaçõe órlginals. til nele vemos ain– da, através do calor dae ellló• Çtles humanas, algo de tragi– éo e dramàtico, que se gpera no reconhecimento de for– ~as e poderes, indispense.vels a própria manifestação da vida. Com ele, um m1mdg amortecido e vago adauire

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