A Provincia do Pará 20 de julho de 1947

Pág·na 12 A PROVlNCIA DO PA !t A Domingo, 20 de julho de 1947 ■ ■ ' De um heroi fu da vo da 1 a ■ pr me1ra guerra e mundial do o As costas Je ·•João Francês" encontram-se complef'1lmente tatu&du. Nelas vemos um desenho do punhal com que assa.utnou sua espôsa· um _de'!Cnho do ros~ de sua genitora, outro de 1ua. espósa. e um ~ canoa em que fugiu da Ilha do Diabo, além de diversos outros, notando-se, também, diwersas frases Receb ido na Academia o Acebispo etropolitano A colenidade de ontem no Teátro da Paz - o~ oradores No "foyer" do Teátro da Pa:1, a Academia Paraense de Letri.s h cmenageou, ontem, em sessão especial, a D . Mário de Miranda Vilas Bôas, arcebispo de Belém, Ulll dos oradores sacros de repu– tação nac;onal. Ao mesmo tempo o nosl!O "Petit-Trianon" prestou 81gn1!!cativa homenagem à Aca– demia. de Letras do Sergipe, da qual D. Mário é membro vitalício. A sessão de ontem teve carát~1 . eolene, tendo comparecido . ac T eátro da Paz, altas autoridades civis e militares, homens de letras, :figuras destacadas de nossa socie– dade e grande número de pes– soas. menageado, pela Academia. Re– portando-se à Academia Sergipa– na de Letras, e aos filhos iluetreis oaquêle Estado, falou o acadtmi– co Paulo Eleutérit, Filho. O "imortal" Romeu Mariz pro– feriu, a seguir, interessante pà~ Iestra, cuja integra damos em cutro local desta edição. Para agradecer. falou, em seu nome e no da Academia de Ser. gipe, D. Mário V!las Bôa.6, que proferiu importante dl.scurso, re. cebendo, ao terminar, inúmeras palmas. FATOS POLICIAIS • A • • • a assassino a esp 1 1one1ro Hoje 1 Jean Marie Babais é simpfosmente "Jo iio Francês", um pacato e trabalhador cidadão do Marco - Desilusões de um ex-combatente pc>!a glória e vida da França - A fuga - Vida entre os "urubús,, Acompanhado do totogra.!o, dll'I• IJlU•se o reporter ao be.lrro do fll{a.r– co, onde, na traveaaa Angustura., t191, loca!l:i;ou a res1denc1A de um ex- de• tento da mala famosa celonta cor– recional do mundo, a terrlvel Ilha do Diabo: Jean Marie Rabals, ou "João Francês" como é conhecido naa lm~l.ações pel~ vlzlnhos, que llle evdotam u mrespeito e uma aml• zade sem par. Disae-lhe claramente do objetivo que me levara a tirar• lhe do aos:,ei:o em ~ue ae encontmva, e a maquina !otogratica ali etavea paar o comprovar. "João Francês" acendeu um cigarro, aspirou, e tflm titubeloa ou rodeios, !alou clar11-– mente ao reporter, num portuguêa mucarto, em tom de voz regular: - !latou com muito sono, a1ora mesmo tentava dormir. Meu tra·be.– lno se prolonga até altas horas de noite, e multas vezes venho a pé pa– ra cu&. Não me nego a talar-lhe, rntretanto hoje é lmpoasivel, terça– feira serà melhor. Aoplrqµ novamente, e pude ob,er• ,ar-lhe lào taces. Aa f&cee de um !o• ragldo da Ilha do Diabo. "João Francea" 6 um homem de &7 au05, està abatido pol& Idade e pela vida que levou, com as faces completa– mente enruga.das, qul!.l!1 sem dentes fl o corpo magl'O. Entretanto, sua vo:z; 6 altiva e a sua força é a mes• ma dOI aureos teml)Oll de eua moel– rtade. Sua.e pernas, braços e peito ee– tão cheio de tatuagens, feltu pelc:,s sl'.'us compe.nhelroe de presidio. Ela Jea.n Marie Rabals. "NA.O VA' ME PREJUDIC,\'R" Novir, telltatlva do r41por~r. novo recues do entrevistado, acedendo fl• 1,;;.lménte. O "flash" funcl0?\OU peja r.rlmelr& vez, e "João Praiices~ ini– ciou o realto de sua lmP?1161110lll)nte historia, dl:z;endo ao rei>orter com ~ltlvez, n= tom que demonst.rav11, suplica e ordem ao mumo tempo, com 01 olhos ra:z;011 de agua e aa mio, tr~\\1-J: - Por favor, não vé. me prejudicar. Olga a verdade pelo seu jorn11,l, 16 a verdade, mu :,:ião me prejudique. ]!l se 1s8o acontecer, elml)re-ae de que não voltarei com vida para a I. ii.o Diabo. Não é d!oao que tenha med-0, me.a elm da mv.11an~11- do tralam•n– to que melJS COJ.ll1&CldOII e ~lrtllhoi me d1spen~am, que.ti todOI dfJ8«>– nbect,4ores de pormenorea de mllllie. história e que me têm com multo acatamento • respeito. N&o quero Que ,ua report&gem. me v4 cauear r;reJuizo, q1,1e laeo vi !11,zer com que mous vlzlnh011 e a.mlgos me olhem como 11hnp1es trapo hiunano, eomo crtmli:ioao da pior. eepecle ou, mee• mo. como •um pobre dl1;1bo que tu. l!lu da Pior colonta penal do mun– do, porque, para mim, o pa•1Mo morreu, 'jli, me regenerei, ohje vivo para mim e i:nl!llla mulher, trabe.- Report,agem de OSWALDO MENDES Fotos ,te Carlos Pinto Quan4o Jean Marie Rabais, ou "João Francês", como 1 con,hectào pelos seus amigos, m'.3 pediu num mixto de suplica e orctem, com os olhas razos de água e as mãos tremulas: " pm favor, ndo vã me prejudicar. Diga a verdade, pelo seu jornal, .~6 a verdade, mas não me prejudique. E, se isso aeon· tecer, lembre-&e de que não voltarei com vida para a Ilha do Diabo", fiquei penalizado, e muito relutei em escrever esta reportagem, onde é mostrada a dupla vida de um homem, que de herói da primeira. grande guerra mundial, em poucos mi– nutos transformou-se em assassino de sua própria espôsa, na defesa de .ma própria dignidade, tão friamente ferida. Jean Marie Rabats, perte_ncente a conhecida familia de Vichy, sua cidade natal, jovem estudioso, formou-se em edu– cação fitJica e, como soldado de França, lutou durante todos os quatro anos da prtmetra hecatombe mundial na linha de frente. Ao retornar ao lar, oncte esperava ser aguardado com ansiedade pela mulher que desposaar viu que friamente fôra traúfo, sua cUgntdade conspurcada, e praticou o primeiro e o único ato mdu de sua vida. De lá para cá, sua viâa consti· tuiu-se em. um verdadeiro martírio. Foi condenado a 15 anos de prisão, na colônia correcional da Ilha do Diabo. Fugiu . Regenerou•se, e hoje é o "João Francês", do bairro do Marco . com permanência. deftnittva no país, trabalhando com afinco. para o seu sustento e o de sua companheira de há 16 anos d. Lina Araufo, demonstrando ser um homem de bem, de ira· balho e um. exemplar chefe de familia. e ,ia?1hando uma nlnharle,, 2 <'fU· zelros por dia.. Comblnamo-noa. o começamos a engulir dlatlam~nte duas ou três pepitas de ouro, que catavàmos, depois, no depósito sa– nltirio, coelcionando-as, . Juntan<!o, cm pouco tempo 30 quilos de ouro, que em prev, vend!Q,mos por 15 con. tos de réis, ou seja, 15 mll cruzei;oe. Com esse dinheiro, compramos rou– pas, redes, comtda., calça.dos, .reme– dJos e tudo, enfim, necessario a tu– girmos dali, o que fizemos, em c.om– panhla. de um cearense, que ai! tra– balhava hâ multo tempo. Fomos de– fcunciados, e a.traz de nos velo Lind com quatro capangas, todos a ca valo, e armados até os ·dentes. Em pouco nos alca.nçave.. Esperamo& e pergunta.mos o que desejava. Res– pondeu-nos Lind de que ha.vlamos roubado, houve réplica nosstl. de que o território era do Brasil, e que ele era eetrangelro ·como nós. Começa– mos a lutar, e, subjugados pela tor– ça de seus capansas, fomos amarra.– dos e conduzido~ de volta. Ma,ts uma kntatlvo, de liberdade, perdida. Pre– sos numa barraca, passamos varios dias t farinha. seca e agua, til.o so– mente. Nem glquer vlamos a lUll do dià. Farinha e a.gua. Numa noite, reunlmoo nossas torças e,. derruban– do a ja.nela, empreendemoç nova fu -– ga, iniciando nova epopéia •- com os temlvels lndlos "Urubus". CACIQUE DOS "URVCUS" - O "!lláo vá me prejudicar", pediu o ex-rletento d:1 mais famosa e temi– v~I ciolllma correcional do m ando, a I lha do Diabo, ao repórter, num misto de súplica e ordem Jea,n Marte Babais, ou melhor, "Jodo Francê.~" ndo se {urtou de falar l'tO _repórter na humilde barraca. de' porta. e 7aMla, de iua propri.edade, e onde reside, no Marco, relatando o que abal..xo a.presento, ou se;a a. história cruel, impressio – nante, real e dram4ttca da vi®, de um homem que perdeu a liberdade para salvar sua dignidade, e que pôs a vtda em rfsec; para rehaver a liberdade. A vida de Jean Marte Rabais, profesaor de gtnástica e herói da grande guerra mundial de 19'4, DETENTO JORGE M Jean Marie contlnúa aeu relato: R tr t ra ª-º d o V·, me t n:S:~ª tt~~: !~~~iitf~: : 1 e:~%~~: ees u u s o n o lndlos "Urubus". que noa aprlsloni.- E 5 tu d an t .. , I d d ram durante mais de dois ll'le808, Ji n e p en en t e estava.mos em 1925. Enquanto Jor. ge conquistava a. Z1mi1?:ade dos in- dios, a ponto de se tornar cacique, 1 Organizadas comissões e tomadas várias 11',ando até &ltN hora, da madruga- ex-combatente condecnr!l,dO com a casando coni a filha do Tuchaua, e ~ da, anm de conaogulr o pio de cada l "Cruz de Guerra", declarou: "Seu que hoje a)llda deve ocupar aquela providências - A reunião de ontem dia. Não aou o detento Jean Marie !llho não pode ser condenado, ml- posição, caso contlnúe vivo, eu e ' Be- Rabal1, aou o "Joio l"rancês" do nha senhora". Minha mãe chorou de bê", fugiamos, empreendendo uu~ts . Marco. alegria. Foi aberto inquerlto, 0 dono uma auda.cloee. e perigosa fuga. Sal- Con!orme hav1amos noticiado. Ee:ictio Sales e F11ávio Moreira; fleUI oUloe estavam marejados, . do estabelecimento comercial teste- mos semi-nús, e, em breve, esta.vamos . realizou-se ontem, à tarde, na para assinar o Manifesto da Co– oua.11 mãoa tremulas e a voz ln!lexl• munhou e provaram que o crime I sem um trapo s1quer, p:ira cobrir o I residência do universitário Ar- iigação Democrática Paraense - vol. ! tora premeditado, tendo sido co.ide- r.orpo, completa.mente desprovidos de 1 , mando Mendes a anunciada reu- Armando :Mendes e Egídio Sales. QUEM ERA JE4',N MABIE 'RASAIS nado a 15 anos de trabalhos t.:irça- tudo. Durante onze _mezes vivemos nião do Movimento Estudantil NOVA REUNIÃO Jean Marte Ra~a nasceu a 3 de dos na Ilha do Diabo. na selva vlr!;lem, nus, comendo o I d d t üt - n · Após O universitário Armando 5etembro de 1880, na famosa cidade NA FAMOSA COLONIA PENAL que pudesse ser digerido, bebendc> & n epen e~ e. agrem çao po 1 1 • de Vlchy, fllho de OUb~rt Re.bats e Jean Marie seguiu para a 1 nals ..gua do chão dos i"a.p6!; debaixo da I co-part!dária, que co11grega os Mende.s havei' comunicado o que ill!senle des Gutte. Eatudç,u na So- !amosa colonta penal do mundo, chuva e do i:o1. Um an.; de padeci- estudantes de nosro Est.ado. afim havia ocorrido na última reunláo cleclad.e 1:,,lonalae, em p,-r!a, onde, jo- jul;ltamente com varias de:z;enas de mentos ts:uals aos d& lUlQ, do Dl,i,bo, 1 de serem debatidos assuntos dr da Coligação Democrá tica Pa• vem amda. :recebeu seu dlplom~ de outra,; condenados, onde h&v!a um ma.s o a,tenu~nte de estarmoe 1tvre11, relevância, que concernem à ,:;ua. raense, à qual comparecera. como proteaaor de gtn&atlca. 0 que explica pouco de tudo: advogados, professo- completam.ente livres. E nÚll como I reorganização e rees trutur ação representante do M . E . I ., foi a ti;,rça e & r~lstenc1A !laica adail- rell, mUltares, médicos, funclo!'111rlos, estava.mos, chegamoa a um!l, peque. m nha posicionist es·'a marcaâa. nova r eunião para a ravei. de qqe a.ln .~. é poaa. . uldor. A· operarios, trabalhadores braçais, va- na povoação ao ~ara11hlio, ond11 o, na ca pa O • • a "' • !lm de l)(l(le:r le.:l!lnar sentou ;,raça I gabundos. Gente de to~a especte, povo estarrecido pelo espetáculo que dual. vindoura quarta-f eira, às 20 ho• para obtcír aeu diploma de qulta.ção com ou sem diploma, com ou Eem lhe proporcionamos a mal-grado, qu& COMISSOES ras, no mesmo local. inUltar. 1 culpa. Eram condenados i morte no si nos mata, atirando pedras . e uban- ORGANIZADAS . BatavamOG em 1914. Detla&rou a degredo. <lo terçados, paus e o diabo. l!lxpll- l'riltlelra beca.tombe mundial e com Hletorla o nosso entrevistado: camos, a multo custo, o &lgnlflcae\o as primeiras tropa.a a aesuir' ara a - Comecei o ano de 1919 n& Ilha, c!aqullo, e roupa e comllt>l toram- llllha ·c1e frente, utave. Jean P Ma.rio trabalhando nú ou quasl !s,so, com l!Os proporci.onado,. Om:~egulmos a.bal.t. C:ol\\o Primeiro sargento lu- algema11 e 'Qolaa de terro de 20 qul- canoa de pequeno port,;, e retorna. tou no "1etor 17", urna dM mais en- los em amboe oe pés, debaixo do mos á. cidade de BragallÇ!l-, onde cou– carnlç&dae frelltee do luta. Foi con• sol, da. ehuva e da chibata dos guar. segulm011 trab&lho n& fabrica de se• decore.çto com a "CrtJz de Guerra" das, vivendo quas! á mingua, numa lo de um alemão, receutement• ea~– e dua, v- cite.do na Ordem do promiscuidade absoluta com tudo. beleclda.. Corria o a.no de 1930 e a dl& "'elos atos d h I Assl.Bti a sulc!dios de toda esp..,c!e, revolução estava em pleno apo.;eu. tl.., · e ere •mo que :praticados por aqueles que não agu 'I' 1 1 · 1 n sa ,:,n Côu no camno eia luta. onde 4!n'ltAVAT"n l"J n A.t.tvot-rn. A nuA nn t'\A,.{; li';;~:I~~: :~s ~°;ª d:poJ':e~da.::. 1J Com a presença de grande nú– mero de estudantes dos cursoJ secundários e superior. teve ini– cio a reunião às 16 horas. sendo debatidos vários assuntos. trava– dos diversos debates. e, por Um, orga,nizadª' as seguintes comissões: organizadora. - estudantes Ar– mando Mendes, Camilo Nasser. Ei:ridio Ba.les. J:aym e i-cessat, Ameaçado de ser suspenso o tráfego de hondt~s RECIFE, 19 <Meridional> - Foi debatido na Assembléia o caso da. Pernambuco Trammways, a qual ameaça sm,pendei· o tráfego de ondes, a ·irtir amanhã, se

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