A Provincia do Pará de 06 de Julho de 1947

todo o m $ de maio era. & noa– sa profeur,ra. Ttnhii. a voa doce e uns olhos bonitos. Não l!le ca– sara e falava muito no céu e de sul' corte, do ,.nferno e de seua rep,:obos. Sa.bfa, muitas r~~ e lia historlas tfa s'l,ntos. Qom ela, pelo seu metodo 1ntJtuitivo . de enslnar, farto d!> exemplOll, 11 os primeiros trechos em livro. A5 lendas de santos, cheias de mo– ral restrita mas forte, me trou– xeram o gosto das leituras e aos dor.e anos já. lia os folhetos, em verso, dos cantadores - de que o Chico Fidelis tanto gost11,.va - e a literatura do Almanaque de Lembranças. Até que um d1a D. P'lorlnda ia-se embora e eu curtia 811.U• dades dos seus cuinhos, dós seUs beijos maternal.a por nJUl– to tempo, nos eltos, nas l)Or• teJ.ru dos currais e. à noite, no 111lenc10 da red! D1acla e senti– mental. Rememoro os. dias que i,rl– ma Gertrudes acompanhada de tia Margarida, passara no en– genho, convalescendo de uma · pneumonia de que l!le leva.nta– ra por mtlagri,. Prima Gertrudes. era então multo criança; teria treze anos, no maximo. Morena e magra, de saude precaria, não era bonita. Os olhos traziam, no entanto, uma lntel1ge11cla l!lad1a e a.gil. A voz era nervosa e os la.pios se lhe contratam, qua– ae sempre, numa prega de gran– de ironia. ou de extrema, pie– dade. Desde esse tempa me ha– bituei a querer-lhe e a admt– ré.-la, na sua bondade, no seu espirita voluntarioso de perso– nalidade que se afirma. Lembro-me das leituras que prima Gertrudes !azia nuns U– vrinhos que levara consigo. Eram os contos de Andersen: "Os Cisnes Selvagens", "O SOldadt– nho de Chumbo", "A Peo.u1na Vendedora de Fosforas", "ô Pa– tinho Feio". • • Ela lia à mesa, após. a ceia, enquanto eu a ob– servava na :;;ua gracilidade de menina-e-moça, aturdido ao imeglrulr a distancia que nos 11eparava. Tinha eu, nesse tempo. quin– ze anos. Prima Gertrudes amava os passeios, as escapadas sob o 1501 crú dos campos. Enquanto me entregava ao desempenho de mi– nha rude tarefa. quotidiana, ela me acompanhava - nos cana– viais, no engenho nos currais onde os animais se amavam bru– talmente. Seguia-se sempre, por toda a parte, multo chegada a mim, abraçando-me às vezes de tol maneira que me perturbava. Então, timidamente, olhava-a de esguelha, e percebia que ela tambem corava, sacudida não 21el por que pensamentos recônditos. Foram de dois mes~s as suas ferias, depois dos quais comecei a (ler inquieto, a me rebelar con– tra o desamparo e a explora– çio com que me humilhavam. Afinal, aos dezoito anos, · deixei a easa dos velhos, sem programa e {em aptidã.o para a vida. De– resto, sempre enfrentei a vida de modo muito pessoaL desde• nando o seu lado utn e comodo e preferindo o ã.mbito' imagina- rio das idéias. . Penso ainda em quanta coita remota e apagada e levar1tou• me. Vou ao gabinete, olho o dor– so dos livros nas estantes, dou uma volta na peça, sento-me à carteira e começo a escrever, num bloco de papel, palavras desconexas: - Talvez - Um conto ~ qu!– lhentos - Hoje, talvez... - !s– é sorrível! - Imposs1vtl! - lmpossivel! - Hoje; não gel. - lloje talvez... - Hoje - Apago a luz e volto ao quar– to. Deito-me, fecho os olhos e procuro dormir. Conto: um, deis, tres ... él'j.ego a mil. Nada. "Ho– Je, talvez••• - E' preciso que eu --·--• -- -----......:...C..--.- -.- . o e arre!lio. De minha mulher nlo tive me.is notlclu: certamente evi– tava sair e eu não podia vê-la. SUrpreendt.me per duas ou tres ve,se11, em caminho de sua casa e voltava aem alcançi-la. Refle– tl&, num& inde<!tdo angustiosa. Oomo &eria lá recebido? Fica– riam ll&tlsfeitos com a minha prt!!ença? J!:.(nuJsar-me-lam ou me aeólherla.m eom ar condes– cendente? Parecie,-me, então, ouvir a voz do meu sogro, mui– t.o bonache1rão, fuma.ndo o :seu cha.ruto, a Qlhar as cousas do al– t.o: - Olá, meu rapaz! Você sem– pre a ! a1.er das s'Qas, hein? Eu aabia que . voc6 vinha. • . Leve a menina e tepha juizo. Que dia– bo! Ji não ~ mais criança. l– B a!ute-ae, os pategares metidos nas tiras dos SllSpensorlos, no seu passo peaa,do e muido, para o passeio costumeiro na calçada do jardim. · Não, não iria me sujeitar a tamanha humilhação! E voltava. confuso e envergonha.do. EnQuanto isso, mil diabinhos iam trabalhando e o meu in– ferno a1Illleo va da noite para o dia. Era uma tortura cons– tante e oonau::nptiva. Alimenta– va-me mal. Recolhia-me tarde e o !ono não vinha. Comecei a &e!itir falta d& mulher, do con– chego de seu corpo. O leito va– zio, a mm lado, era um mundo de evocaç&s. Mentalmente vi.a o desalinho das suas roupas n a intimidade; as rendas da cami– sa, muito transparente. sobre os seios alvos; a forma avolumada do quadril quando deitada de lado; o castanho dos cabelos fartos e dos quais se evolava um cheiro quente e sadio. - Que esta:·la ela fazendo? - pensava. - Talvez durma in– diferentemente ... ou queria vol– tar, queimada pelo mesmo dese– jo que seca a ga.rganta e tira o 110no. Uma. manhã, ao dirigir-me à rep artição, encontrei.a em com– panhia de uma irmã pequena, quando entrava numa loja. Não me contive e chamei-a: - Maria Lulza ... Parou, sem voltar-se e seguiu, re:::oluta. Esperei-a na porta. Quando safa, tomei-lhe a fren– te e cha.mei-a novamante: - Maria Lulza ... Fale comi– go! ... - Que é que você quer? respondeu com a voz tremula. - Seria prudente evitar encon– trOll •.. - Como vai você, Maria Lui– za? . .. Estão multo zangados co– migo, lá? A casa está. como vo– cê a deixou, · tudo nos mesmos lugares: as roupas, as suas cou– sas. - E num esforço, corando da minha fraqueza, acrescentei: Tudo depende de você, - E' inutil! Mandarei em bus– ca· de alguma cousa ... Joias ... Só do que levei: o resto é seu, não quero nada, de nada pre– ciso. Não quero voltar. Seria to– lice e... tão ridlculo! Digo quando estt em casa para man– dar· uma pessóa Não me procu– re. Adeus .•• · Lagrimas brilhavam-me nos olhos. Deu a mão à menina, que me olhava desconfiada, e afas– tou-se. ::->epals lhe escrevi um bilhe– te, do qual não tive resposta. Na noite desse mesmo dia, cada vez mais desnorteado, saí pelas ruas a me distrair, quando me ocorreu fazer uma vlsita à pri– ma Gertrudes, a quem não via desde a sua cl,.r.gada do- Rio de Janeiro. Ess~ lembrança me trouxe a impressão de que es– tava. perdido e encontrara um caminho. Encontrara ap,-.nas o caminllo; nâó sabia aon(\e ia dÍl.r, , . ~Dlel o onibus e a memoria ____._, . ....:. . . l\'unca mais a vi; nem l!& rua nem nos cinemas, em parte al– guma. Rompera em definiti– vo. Entretanto, tratava da minha transferencia para o Rio, a meu ver o unico meio de escapar a <'i'E'a embaraçosa situação. Na sala, após o jantar, em tor– no da cadeµ-a C:e meu tio, nós nos reuntamos e palestra.vamos. Tia Margarida. fazla tricó ou lia ro– mances policiais o que era a sua mania; senão, rezava, dissimu– lando o terço entre as dobras do vestido. Quando estava muito cança– da desembaraçava-se mais cedo dessa obrigação devota, para que, na cama, o sono não a surpre– endesse em divida com Deus e os santos de sua devoção. · Eu, procurando me aturdir, to– mava parte ativa nas conversas conduzia os assuntos, tornava– me ruidoso e brilhante. Discu– tia. com prima Gertrudes, muito culta e serena, as idéias mais a– trevidas sobre politica, sobre fi– losofia, sobre literatura. A lite– ratura er/8. assunto predileto no qual sempre discordávamos. Ir– rompiam discussões as vezes a– paixonadas, sobre livros e au– tores: exagerava a minha admi– ração por Gide, Joyce, Huxley, Pirandello; ela discordava - a.– mirava-os tambem; achava-os, entretanto, irritantemente inteli– gentes. inhum(tnos quase sempre. Meu tio, na cadeira de rodas onde a tabes o prendia, lia os Jornais e às vezes nos aparteava, chamava-nos tagll,relas e citava filosofes alemães. Aconteceu o inevitavel, o que seria de esperar, mas que eu, colocad m circunstancias des– favorave. do por;to de vista mo– ral, me recusa n a aceitar como fato evidente. Em certas ocasiões o meu a– lheiamente e:a tão grande, uma oni' 1 a pede paJxãc de tal maneiro me empolgava o espirita, que muitas vezes me imaginava os– cilan e e desamuarado como uma chama ao vento. Renascera de fato, a antiga simpatia que em criança, no en– genho. tanto me fizera sofrer e tanto modificara o meu carater. Amava a prima Gertrudes. A imagem de Maria Luiza ia-se esbatendo no meu pensamento. onde a sua penetrava avassala– dora e triunfal. Os seroes ~M casa dos meus tios já não era, para mim as melancol!us dos primeiros tem– pos, nem a convalescença amo– rosa subsequente - eram uma alucinação. Agora eu me tor– nava monotono, numa lamenta– vel atonta espiritual; fecha,·a– me num mutismo lrritante, ten– tando, embalde, esconder a se– certa tortura que me saia pelos elhos pelos gestos, pela fala; Impossível se me tornava uma convivencia com p:·<;ma Gertru– deo Tomr,va-n:e de forte enleio quando ela estava presente, fi– cava inquieto e abstrato se lhe ouvia a caricia da voz d:stante. Por fim, percebi que me evi– tava. Notara, de czrto. cs meus modos estranhos, a tristeza vee– mente dê que me achavEJ. possui– do. Sob pretexto de um traba– lho a fazer uma leitura a termi– nar, uma carta a escrever, re– tirava-se para o seu quarto e deitava-me na sala com os ve– lhos a morrer de despeito e de angustia. O seu quarto era contiguo à sala. Separava-os apenas uma pequena área coberta na passa– gem. Certa vez a percebi lendo junto à me;,a. Não se contive e, pretextando interesse na lei– tura, aproximei-me e fiquei por traz da sua cadeira, as mãos no espaldar, o busto inclinado pa– rá. a frente. A minha respira– ção queimava-lhe a nuca, onde havia. uma penugem macia e 1; • O""'•T--.,....,rnrni,r,••----~-.--- .....- - ,.,.,__...,_ _ ~, w&o;.vc. ~ ,-.,....,im1='"'.-'!"CJIIWll'110 de perctuiriçlo. Jamais exp~- p..lc() e OaUJeu, wna vez inat,, ri q11e lar 011 niorrer. rimentei sensai:ão tão vlolf!n t . Quam tal qu• dl~se qu n,o h avli. revcl'lllbllldade na hlltórla ? Finalmente com a fala num tanto prega, e~clarnou: H • lllm: há uma revers!b111dade relativa.. z• :por wo 6 ctue, pez-104.l- - Venho percebendo t udo.. , ment.-, os l nQ.ul~ldores voltam ao palco, Ao palco, i:>ola n$0: é sl!mpr" J6. não somos crianças. E ' pre- o pa.lco, • o palco da com.Sla, o tflbu.llal onda JuJpm os inquisidores. ciso reagir, pensar no que dls• !:55& volt& espnm, ~ a,.pre urci reeúo: tµP& reareesion apparente, p~ so poderia resultar. t t · Então confessei-me que a a- dJzermo~ com Relnacb. E' lmpofl a ~lo sen lmento da. decadencla, ria mava como um doido!. . . Pe- classe superior, e pela necessidade de reaii:tr para sobreviver. E ' :li, q1Je, di-lhe que vies~e comigo. Espe- perdendo a unidade de conciencla, pelo despertar da conclencla da cla,oso rava a todo O momento ser Inferior, o. sociedade perde •111:ualmente a unidade de carater e de condu- tranferido; partiria.mos, e dis- ta; em (,onsequêncla, a unidade no modo de representação. E tngre.-.qa tantes viver!amos e squecidos e nc. periodo vario e &iUdo da translçlo: uma como hlstollse social. Nessa. venturosos. qu&.lqu,.r coisa de cáos, prepara-se, com a tomada do pOder pela neva Recusou-se. Achava os meus classe em ascensão, o advento da nova estrutura de produção - N~se projetos inserum.tos, de louco! momento. podemos ver com os u()l!ISO!I 01h011 um espetáculo tão estranho No dia seguinte retormi à como a aurora. boreal: a aurora, da revoluç~. vida que precedera ao de mi- A !tcçãG, por sua vez, espelhando eua dlver1ldade, euJa substancia nha visita aos meus parentes - é uma dualidade lrredutlvel nas condições históricas então vigentes, se desventurado e inquieto. A mi- dlvers!fle.1 e se polariza prngre11s1vamente; 6 quando temos, num,~ con, nha transferenda não vinha e comltancla neceasár1a, representando a ele.111e em decllnlo, adversa li. eu vivi!!, em an~.icsa expectativa, amar~a verdade objetiva, o romance erocentrtco e, a pnr, repre11entand,o a. a escrever cartas idiotas, empe- clai,se Pm solevação, contraria ao subJettvtamo 11ldlvlduall8ta, o romance nhado-me com uns vagai; ami- gos do Rio, pedindo pressa, ale- 1oclocêntrtco. Não é t!plca, a respeito, a a.tuaUdade? gando doença. z que no Ocidente inteiro, atlnirtmog o dlvl5or de uuas de duas Uma tarde ao sair da repar- ér,,,cas e, a ficção, que participa do destino do homem, como o ho"llem se tiçã.o encontrei, ao pé da esca- divide: iom11, para a. direita, e :ruma p11ra o l)aSBado, ou toma. para a es- da, na porta.na, uma pessoa que <1uerda ruma para. o futuro. Numa ~ala.vr11,: avança ou reaite. Dividida me trazia uma carta. A letra do assim, e desprezadas as formi,.s lntermedltrlais por natureza 1nslgniflce.tlva envelope revelou-me a proce- 1 ,or O\,traE< palavras, tomada em sentido estatlstlco, a ficção nos mOfltra, dencla. era <·'lca um dos dois iirupos de tendenclaa adversas - o ,oclocêntrico e o - Está entregue, murmurei. erccênttico - earazteres dlJtintlvos, perfeitamente definidos e deflnlvels - Não tem resposta? }':mp., 1 ai.do a terminologia de Junir, po1ertam0& a.firmar que o erocen- - Não, respondi, guardando a triamo se Inclina para a Introversão e para e. eittroversão o soclocentrlsmo. carta no bolso. Saí dali à procura de um lu- Aqui. porém, ■e n01 apresenta um problema palco-social da maior 1m• gar menos frequentado ... Lem- p- .,ta1 eia~ é o problema das relações, nu plano da arte, entre a petcolo- brei-me de um bar, áquela hora gla do individuo e o estado da sociedade. ExPllquemo•nos. Num momento sem fregueses, no bairro comer- i-.,s1, ile• e num esl)aço BOClal dados, e sempre BOb o .tngulo de vle§.o da cial. Sentei-me a uma das me- mMla, a arte vinculada à cla~se quo suree seiiue o caminho o:poeto: foge sas, e U, açodadamente, uma exato.mente, ao mundo anímico. Que s!gnlflca Isto ? carta cujo conteudo não com- preendia bem... Do certo, o artista tem o seu temper..mento, c.JnjUnto de dlsposloOes Cerca das nove horas, esta- org1Dleas que lhe 6 próprio. e sôbre elllie temperamento se erige o seu ca- va a sós com prima Gertrudes, rater. r.o eent1d0 t.tleo: conjunto da.a duu dlspoalçõee pslqulca.s. El!lle ca- rat~r ó que slniru1arlzará a sua obra, Mas, essa reação ~slflslolóictca não no jardim de sua caSlj,. Tantas c>1pl!..:a fenômeno de pol&rt:zação artlstlca das épocas de transição: ln- vezes lhe dissera que ª amava t•• 7 ,,itidos para a direita, extrovertidos pari. a esquerda. Hã, pois, em quantas lhe pedira que vies.se comigo. Conhecia-lhe bem O ca- açã~ l:mP lncognitP,, que urae descobrir. rater, rejeitaria, sem dúvida, o,a, aLtes de aer artista, o artista é homem; homem, iato 6, um ser qualquer outra situação menos social. 1r.tecrado 6 dependente no seu melo histórico, :esse melo, todavia, di~na ou menc:> sincera. se é ,,no não é homo11:eneo: se é um todo não 1 1ndlvlslvel. Ao contrá.rlo. Ela relutava, apelando para a .::om'<'õ, -ae de po.rtes qúe se diferenciam no temPO e que, à medida que se razão inconsistente e fugitiva.. u,!er , cl,,m. vão perdendo a solidariedade ~ue a.a 1111:a subl;tltulda por um Lembrou-se de Maria :Luiza: P, tE<r, 1 .u;mo ascenf!!ente lrrevenslvel. ~ essa to contradição 1:i.trlnseca - Quem me dirá lie ela ainda que, de~,:ivolvendo-se, tart com que flua e mude " sociedade. o ama, se vamos faze-la sofrer? Você já pensou nisso?... Eu Pois bem; o artista, ai - pela sua orli:em, pela sua !0rm11,ção, tambem o amo ... desde criança. pela sua posição - est rá. :necessariamente preso a uma dessak Mas não confiava em você.. As partes - as classes - e com ela.. com ela só, se sentlrâ mais e mais suas noticias eram tão sem en- ,,fim. Jlflm . não só na acepção moderna, que dà i, afinidade o sentido de tuslasmo! em suas cartas, ne- ns.. ·t: r t de torçe.s que une: mns, na acepção antl,"ta, de pend,),' em co- nhumo alusã.:, velada nenhuma mum, , leva à combtna~ão. No 11entldo. que lhe atribula Boerhave, de esJ)erança nas ~ntre-llnhas! Fi- upla atn,ção proveniente mais do amor que do odio. Dela, pois da sua na:mente, ma.is por capricho, por clnsse - · sua de nascença ou sua de ado,;ãc - receberá ~le a direção que vaidade, do que por amor, ca- tomiué. ni. vida e o tmpulso que o conduzirá à criação; sua atitude diante sei-me ... Ele era frio, superfi- v ,-erso e, Joeo, diante dà. sociedade. a8Slm, será antes de tudo a att- cial - eu voluntariosa, egois• tude d, aua classe, ta. . . Tambem, durou pouco ... Dizia isto como q\le em in- Ent,.i, nto o p,-.,eesso de clsslparldade a()(;l&l que come,;a n::. dlver- trospeçáo. Con1;mltava a cansei- ~Idade da altuaç.1o em face da :produçãr, e acaba :i:ia .dlversldàde da ldeo• encia em face da resolução que JOgla em' face da realidade, _não atln:;:iu determinado i,;ráu de ac11ant11- irià tomar irremediavelmente. manto caracterlzaçã", apenas à classe dominante capaz de constituir Por mais que s~ julgasse liber- umn e<.i.clencla; i;,orta.ntó, só ala é capaz .&m\lem ~e imp~lmlr a ficção ta de preconceitos, tinha de ~ • oC.:, de ·representação. Loe;o porém que e.s forças produtivas, evo- romper: laços eternos, costumes IU!/1c1::1, elevam a elasae subordlnadA a 1ima Importe.nela :ponderavel na seculares. prndulf.O e, tpso facto, a uma ponderavel lmportanc-ta ,.. ideologia, ve- Gertrudes, perdôe-me. . . moo cr rr1, .se forma uma ~ova concepção do m1µ1do, et11 Qpo~lção à con- ma:; eu a quero t11,nto ! Maria c~p,;,\o r- bslstênte e.té ai. :Olr-ae-la que, da alma coletl\t ln esse, em que Luiza nada mai~ sigr.ifica para se en,, 1 1• ava in pose, uac,~ outra alma coletiva e é um dlflcll in fierl mim. Foi ela quem o quls. Há eu!! u.scei dialético d• eoectfl!!),Cla social E a e!!S~- ~u:.Uzação. tranaltó, outros sacri!iciós mais conside- rln mos neceESirla, é <:ue a ficção, cln<Ude. como a aocl3dade, clndld::. à sua raveis: minha tia, o velho d0en- •ri:, . , .. 8 -semelhanca, <111,r6 vtdn. e forma nc- plano de arte. te ... - Sim, há outros sacli'ifi- (.Jr, a1 clas~eis. .om o: homenr dcie.•dem-se Jo aot.:ment tambem cios!... .p~l11. fUkh, como os homens, as cla11ses pad,cen. tambem desse profundo Suas mãos entre as minhas r..nrr~.r. que pooerlltmos cha111ar alroto·a'A, .~lm, se é uina fonte de dor, estavam frias. Tive pena: p11.ra , tuc o mund~ o mundo que er-. sau, con.eco a deixar ·de se-lo - - Elem, não venha. Pense: por ,Tue n' lhe ft«ariam os olho.· ou não lhe volte.riam l!-S costas? não quero qu~ se arrependa de- T'a1. .. ficção, os grandes movlment<'lr, ~outrârlo~ e .simultâneos, co- pois. m.c q:or,'V .,as épocas de tranal~ão: a origem. a formação e a po:;lçã~ so- camo no intime · 1 • 1 nha hcr- ~•.:.t, ista, 0 Impelirão, paulatt:o.a?l\ente, com sua respectiva e.as.se, ror a cJ.ue ela rcct 1.ª 1 ,Já, , •+q.. •espeettvo luaar _ 06 polos e!l'l que se conceJltra, de um le.<lP, vamos no portão.j-0 smo, Interessado pela · comunhão com os homens e, do outro, fastel-me. ·11 ua reptJ.1158. • realidade, o erocentrlsmo. Ando alguns P&<•,- · que ela me ch!tma, dt conclusão a tirarmos dai? como se tivesse receio 'd•. E é c:tue a ,tii:nltlcaçãQ da obr"' de l!,rte, =• que ao e... a ouvisse. Volto. E ~ · T d badi1Ssima Chega-l5e ·•,peramento do artlstii., se ~utordtna ao cemport11rnento o mim e diz baixinho: na.Is prec\sl!,mente, ao comportamento da sua classe em dado da própria evo\ução: certame:t:1te, hà em cêna uma Ni;' !;~jeés;:;~~zTàlvei •ldu&Udade, síntese blopstcas do te!l'lperamento • do cara- tou muito nervosa!.. . ?i )!usa ·tp.!l\lencta do seu melo, será compelido -' escolher, •e:-dl!,de humana, llmltet correspondentes ao gráu de ~- (Contlnua na oitav. ,ce.~ldade, o própi1~ AA..:Q:lpoi. ~ l,')Olo ~! e>nde iit ~il- .. ..,. ·- :_._... -~--=--...:.. -.-~....!...- - .....1..- -,--- ----A-- cr.. ct6 tra e , stlmulando "ª funções t.,ue. com Tar:le, dlrlamos 1n– te~lolósleas, estlmularé. automa.dcamente. a polarização ldeológlea na arte e, por con11sulnte, na :flcclo, Els, ai, a no11~0 ver. o fundo <!s auestao: a elas.se dlrls:e a fl!'.;ção: lOJO, d!r• • homem, Dlanti, do homem, por c~e.,--uinte, a ficção tert\ sempre a. ri;l•ud, que tiver a elll668. E lstn nós o conhecemos. · Mas, hã mais. Qu.endo Kraepelln en1lobou em dua:; tormae tund&• 1:1~ntr. Ir oe compc,rtamento~ mórbidos - a psicose circular • a demencla precoce - c!elxou a Krettchmer aberto o roteiro, por onde iria generallzar aquela C:t!'tlnçlio. Com efelt~, no edudo da aller.a.ç!io mental, Kretschmer .1.\,•. J;.mttou a. ~stabelecer correlações com a. constituição tisica; foi multo além. E entreviu. ·através de uma Pscala de ,:radações, o comum que havta. na maneiro de ser entcr o normal e o anormal-aeparadoa a:pe nM, C:est~Tte, por modificações na ordeir da <iuantldade, .A.sslrn 6 que, na. SUB cJ~511lflcação dos temperamentos, cada um doa dois a que os reduziu o clclotlmico e o esqulzotlmlco - apresenta os três l!ráus que, partido dp aspecto corrente, compreendem o lnterm6dlo, e terminam na patoló– gla. Ora, aqui surs:e. precisamente, o que de mais surpreendente existe no■ problemas das reacôes entre a classe" a pslcoloia:la da arte. Queremos rete– rl•-nos a. laços de dependencla ou de eoncon ·ta.nela, r aSBltn podemoa e1p·t,,,•r• LOS, entre o estado mental do artista, tomando como grupo, a. posição social da sua classe num momento dado d:i sua evolução. E 6 pa~a. lsw que chamamos a. atenção dos nossos especlalu.tas - os Neves Manta, os ?-'f'l~re de Melo. "ª Araulo Lima: que nos dirão eles a respeito. l!iia verdade ee, com ânimo estatlstlco, olha.mos a ficção a luz da doutri– na. krttscherneriana, afigure.-se-nos vermoc que, enquanto o soclocentrls– mo G• •:vt Para a clclotina, o erocentrtsmo 1ncllt.a.-se, a.o invés, pa.ra a es– qulzotlmla. ão seria dlflcll, quiçá, urna verificação nesse sentido. A catec;orla esctul.zotlmlca, realmente, parece encontrar na ficção d& uação b1ir11:ueea do no880 tempo os dados, ~·asgos e notas que Kretscbmêr lhe t b :•Ç<,•U; parece enc·,ntrci-los, é cbvlo, come- proprlet !a.de , carater kcl– dental, • não como dlferença, cara.ter essencial, parece encontra-los, repl– t11:,mo, Ju ainda, se11Undo uma re11:Ularldc.dc estat!stlca e não, está claro, seg:,no~ um critério absoluto. AI com efeito, não se encontram os extremos da escala di&Uslca: a trk,eza de Sw!ft ou a alegria de Rat:elaii-. Nada, como na categoria clclo– tlmlca, da sintonia de Bleuler: ma~ um como melo termo, misto de reeer• va fl ée alsudc~, u~n vaii:o acabrunham,,nto comedid,), Frieza diante d&• quilo ci.ue lhe não toca e, todavia, capacidade de excitação diante de si- t1'n.~ões l!i adas ao Jeu fr,ro intimo. A propGs\to, eonvlrle. le'.Ilbrar a nua at!– i::de ea face do proletariado, como, alg, vetado pare sempre l. opreealio e a miséria, e em face, por outro lado, l'.ia rell!:ião ou do patriotismo, quan– do r F?od•> de alzt:m modo. E' onde podprlamoa encontrar, quam Babe, o ea:nlnh, pare d ;oberta da sensl'l11t,•,.,de e C:a lnd:fer•nça, l'Uja rela– çlo moa rarla a ptol)(lrção pslcotéslca, de Kretscllmer. Ad~11.ftla a ;u.,. permanente predll!poslção .>ara a fui,;a, pred1apoelção que far da. rte eroecntrlca um loni:;•, sonho desperto e multicor, d<l• nim,'I~ mundo d eomplexos em que pes& uma ,,ar11:a emocional esma– vadora, ! t• •lbe com Isso. ~o revés da arte soctocêntrlca, nitidamen- te cr.:)< ~ 11.lra. o coutado ViW da. realidade, de Mtnkowgkl. Els porque, enquanto a fkç6o da C8qUercta, lf.to é, a ficção ligada à clasae ope– rê.rht nwal, 111 bre II volta para o mundo, amoldando-se àl situações c,bjetlvas 1;; rcllemufo 011 aconteclmentoR exteriores, a ficção da direita, Isto 6, a ficção llcrn.da à cla&!Je buriruesa contemporlnea, se detem e H prende aus conJt1ntos ettavels d• repre.,entações, revelando a aua obe– dt,-nclEt preferencial as soUcltaçcee internnR. Els porque, tgualn1ente, en– quanto o romance soclocêntrico dt> um Slncl~ir ou de um Me.lraux ucnlbe a luta pelo petróleo 0,1 o dellrlo da be.rrlcada, o romance erocên• trlco de um Mor1>:an ou de um Glono escolhe, ao contrário uma experl• encla afe,tlva ou urna duvida religiosa.. Vista a.ssim através das aua11 tendenclcis, expresaas na flcçãc, a claaae ae ~ve'a como uma. unidade blopa!qnlca com seu comportamento pró– prio .. sua conduta diferenciada; unidade capaz, port,.nto de um estado de ten~ão definido em relação ao seu mele. histórico. .Destarte, enquanto a Côt:.iunlcabllld&de com o mundo, impllclta na. ficção soclocentr!sta, des• cobrt> uma classe que tudo espera e pol~ se acha em estado de permanen– te ~,;ceptlvldade, o aut!mno dB ficção erocentrista, ao inv6b. prOduto de uma ,ells!bllldade exarcebad& pelo ·contraste entre o que foi e o Q.UO se– r!, desvenda uma classe cujo estado de esplrlto, oscila entre o deeenH• no • n desespero. Mas, vamos ver o que dirão os especlallstaL... E, ac;.u:, que conclulmos, jA que é jueto concluirmos sempre - uma vez qu• para concluirmo~ 6 que pensamos? Não nos parece obllcuro. Do me~mo modo que o Individuo tem a 11ua pslcologla determina.da pelas condições sociais da classe, a classe tem & sua p5lcol1 ,::la determinada tambem pelas condições históricas da socleda.– d11. Ma!< estas oondlções histórica.a são antes de me.Ir nada, as condlçáes materiais de eidstencia. Delas dep..nde a sua posição no processo de pro– dução; e no concerto da superestrutura E' Isso ao menos o que nos moli– tra a ficção nas suas relações com ô homem - o estranho sêr que a criou. Essa. é a. razão porque, ao olharmos através dela o mundo de hoje, po– der;1os ter fé na htstórla. quer dizer, f.; em nós mesmos. Somoe, afinal o unleo deu& verd&delro, E, so a arte burguesa começa a ser, no seu horror l)a dorf:s da terra., um pesadelo num quarto escuro; um pesadelo onde 6 pr<>lbldo ao sol entrar - diante dela se erp;ue outra arte que tem a cora– ·gem da subjetivação da realidade. Ela sabe ver o homem do homem, se.be que o que Importa não é o Individuo, mero elemento constitutivo, mas o todo. E o to4o é a e&pecle, cada vez mais próxima da Integração e da !e– llctdade. Poderào os lnquisldó?es, ae:ura ilublr ao palco e deitar à.s ceias, " suas i;ent,nça.s; poderio. E dai? 'uma comédia tambem ~ escre,ve COIJl aaugu1t. Mas, i;nesmo na 11ombra que costuma nublar o solo sa:rado das eatacutnbE,.S, tlorece a rosa, a rosa. do povo, a rosa vermelha da esperança, AI, a !lcção soclocêntrica, .jqnto à rosa vermelha, tambem florescerá, flo- 1es~e,) vendo e fazendo-nos ver as cois11s. com o seu olhar possante, n011 seus o.évidos lugares. Assim bebendo de novci nas fontes da epopéia, ela, a nova aurora boreal, noa aJudart\ a dobrar, o coração bem vlvo o cabo da& 'l'orn,.tntaul .,, . •-..- ·· ···-------"-·"-- - ----·-

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